terça-feira, 7 de julho de 2009

Planetinhas isolados - a autoajuda não beneficia pessoas com baixa autoestima

Se tivéssemos real noção da nossa dimensão, se nos conhecêssemos de verdade, se compreendêssemos e respeitássemos nossas limitações - ao menos a maior parte delas, se aprendêssemos a conviver conosco e gostássemos dessa convivência, se aprimorássemos nossa melhor parte e com isso, cada vez mais desenvoltos, nos tornássemos capazes de sentir apreço por nós, sentirmos afeição por nós e passássemos a nos estimar mais, toda a carga externa que nos foi direcionada perderia força, valor e, com isso, efeito.
Não é fácil sobrevivermos às mães perfeccionistas, aos pais super zelosos e protetores, à inevitável tribo cruel das primeiras escolas, às rejeições de afeto, à competição desleal nas atividades profissionais e ao desrespeito geral oriundo da atual falta de valores, sem que, aos poucos, tenhamos nossa própria avaliação afetada e a consideração que nos dedicamos diminuída.
À rigor, os massacrantes padrões superficiais que aceitamos - e o fato de os aceitarmos é o mais triste de tudo - para nos sentirmos alguém (principalmente, para aparentarmos ser alguém) nos impõem metas tão elevadas quanto superficiais. Juventude, beleza, magreza, carisma, riqueza, alegria, desenvoltura, articulação, virilidade e simpatia, todas essas qualificações e mais algumas, talvez, nos tornassem capazes de esquecermos os dias que ficávamos do lado de fora da piscina do clube do qual não éramos sócios, dos bailinhos que não dançamos, dos presentes que não ganhamos, dos comentários destrutivos, do abandono e de tantas coisas que normalmente acontecem na vida de todos, sem exceção. O paradoxal é que para curarmos as fissuras internas e as feridinhas que ficam e às vezes sangram e doem, não optamos por aprimorar nosso conteúdo, mas por alterar a aparência, que, por si, é tão efêmera.
Com o conteúdo oco, sensível e triste a busca pelo bem estar interno aumenta e, muitas vezes, nos apoiamos no vasto material de autoajuda disponível (ou em relacionamentos equivocados disponíveis) na tentativa de fortalermos nossa autoestima. Como, você não é feliz? Você é obrigado a ser feliz! Os manuais de autoajuda falharam? (assim como os relacionamentos equivocados?) Então, você é um caso perdido. Mas, para quem?
 
Repetir pensamentos positivos para si pode acabar tendo efeito contrário ao desejado em indivíduos com baixa autoestima, afirma um estudo de pesquisadores canadenses. Frases encorajadoras e positivas a respeito de si funcionam apenas para quem já tem autoestima alta. Os pesquisadores das universidades de Waterloo e de New Brunswick pediram a participantes do seu projeto que repetissem para si mesmos a frase “sou uma pessoa adorável”. Depois, eles analisaram a impressão dos participantes sobre si. No grupo com baixa autoestima, os que tentaram este recurso de autoajuda se sentiram piores do que antes. Já pessoas com alta autoestima se sentiram – levemente – melhores após repetir o mantra positivo. Os psicólogos pediram então que os participantes listassem pensamentos positivos e negativos a respeito de si. Eles descobriram que, paradoxalmente, aqueles com baixa autoestima se sentiam melhor quando podiam ter pensamentos negativos a respeito de si, e não quando eram obrigados a se focar nos pontos positivos.
Em um artigo na revista científica Psychological Science, os cientistas sugerem que, assim como elogios exagerados, asseverações puramente positivas tais como “eu me aceito completamente” podem produzir pensamentos contraditórios em indivíduos com baixa autoestima. “Repetir afirmações positivas pode beneficiar algumas pessoas, como indivíduos com alta autoestima, mas sair pela culatra no caso das pessoas que mais precisam deles”, afirmou a psicóloga que coordenou a pesquisa, Joanne Wood. Ela destacou, entretanto, que os pensamentos positivos funcionam como parte de uma terapia mais ampla. A ideia de que as pessoas devem “se ajudar” a fim de se sentir melhor foi elaborada há 150 anos pelo médico escocês Samuel Smiles. Seu livro sobre o tema, que trazia orientações como “os céus ajudam aqueles que se ajudam”, vendeu 250 mil cópias. Hoje, o negócio da autoajuda virou uma indústria multibilionária.

Imagem de Alexandre Duret-Lutz

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