Há várias maneiras de começar este texto e eu não sei qual a melhor. Quero enfatizar o milagre, mas temo esbarrar na provável ausência de outros 152 milagres, que por algum motivo não teriam acontecido - e quem somos nós para classificarmos a existência ou a ausência de milagres?
Relembrei as informações aprendidas sobre o Iêmen e sobre Comore e é este o caminho que sigo.
Ao sul o Iêmen é banhado pelo mar da arábia e pelo golfo de Áden (entrada do oceano Índico, próxima ao mar vermelho) e ao norte faz fronteira com a Arábia Saudita. Sua capital, Sana, fica no interior e é a maior cidade do país. Em 1986, a parte antiga de Sana foi considerada patrimônio da humanidade pela Unesco.
A companhia Yemenia é a linha aérea nacional do Iêmen e oferece rotas para trinta destinos diferentes na África, no Oriente Médio, na Europa e na Ásia. Sua frota é composta por aeronaves variadas, dentre elas quatro Airbus A 310-300, corrijo, três desse modelo da Airbus.
Em seu site consternada avisa sobre o desaparecimento do vôo IY 626, com cento e quarenta e dois passageiros, onze tripulantes, mas não cita o milagre - talvez pelo mesmo motivo.
Comore é formado por três ilhas - Grande Comore, Mohéli e Anjouan - e sua capital é Moroni. O arquipélago localiza-se no canal de Moçambique, entre Madagascar e o continente africano, e nas imagens as praias de Comore parecem paradisíacas. Na ilha de Grande Comori está o vulcão Kartala, a 2361m acima do nível do mar, por muitos considerado o maior vulcão em atividade. Sua encosta é formada por vegetação cerrada, com sulcos criados pela lava. No século passado foram registradas onze erupções desse vulcão, que em 1977, destruiu o vilarejo de Singana e em 2005, causou a morte de dezessete pessoas e o deslocamento de 10 mil moradores de seus vilarejos próximos à montanha.
Num vilarejo do interior de Comore mora a menina de quatorze anos Baya Bakari, que viajou em férias com sua mãe para Sana. No último dia 30 de junho, a garota e a mãe voltavam de Sana para Comori no vôo IY 626 da Yemenia, que às 18h 45m (horário local, 12h45m de Brasília) decolou da capital do Iêmen e caiu no oceano Índico a trinta quilômetros de Moroni. Baya Bakari foi a única sobrevivente. Ela permaneceu durante doze horas, no escuro, agarrada a destroços do avião no agitado oceano Índico.
A dinâmica das águas desse oceano é complexa pela zona de fortes ventos, pela temperatura da água e do ar, pela salinidade e pelas correntes superficiais (não esqueçamos do sistema de monções aprendido nas aulas de geografia pré-vestibular), propícias a formação de tempestades. No Índico há registros da existência de grande quantidade de atuns e tubarões. O tripulante do barco de buscas que encontrou Baya Bakari jogou a bóia de salvamento, mas a garota não conseguia segura-la. Assim, o tripulante pulou na água para chegar até a garota e salva-la. A menina que não sabe nadar teve escoriações no rosto, nos joelhos e a clavícula quebrada. Seu pai fez o seguinte comentário: “Ela é uma menina muito tímida. Nunca pensei que pudesse escapar dessa maneira.”
Espero que Baya Bakari cresça saudável, feliz e não queira entender tudo o que acontece nesta vida. Certas coisas dispensam nosso entendimento.
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