quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Não postergar a felicidade e o bem-estar

Dizem que Hemingway, Picasso e Matisse usavam Moleskine.
Imaginei Hemingway e Martha Gellhorn sentados em um dos charmosos cafés, que ficam próximos do Gran Canal de Veneza, cada qual com seu dry Martini e ele, devidamente inspirado, a escrever em seu Moleskine.
Ganhei o meu de presente e, por enquanto, ficará guardado na mesma caixa turquesa da agenda com capa tecida com lã, ao estilo anatoliano, e da caneta especialíssima pela história que representa. É a mania de guardar certas coisas para momentos inesquecíveis. O perfume, o cristal, o tecido, o champagne, a lingerie, o adorno, a bolsa, os sapatos, que ficam para depois. É comportamento que vem de longe, herdado, não constituído.
Aprendo que certos prazeres, por menores que sejam, podem ser usufruídos no presente. Mesmo porque o futuro começa no próximo minuto, e nossa existência é efêmera demais para postergar o bem-estar e a felicidade.
É uma forma também, de não esperar por momentos inesquecíveis, mas de criá-los agora, tornando-os bem mais freqüentes.

Preparativos para o ano novo chinês

Para bebericar e curtir os amigos, as refeições na Grécia, e na Turquia, também são servidas em pequenas porções (mezethes) que ficam dispostas sobre a mesa para apreciação de todos - comer bem e de forma variada.
Um bom copo de vinho, boa música, pessoas agradáveis e mezethakia são garantias para horas inesquecíveis.

O ano novo chinês terá início no próximo dia sete de fevereiro e, segundo o aquele zodíaco, será o ano do rato. O rato, tal qual o porco – javali – têm características bem diferenciadas do nosso entendimento ocidental.

Programo esta nova folia desde o tradicional reveillon. Neste ano, nasceu a idéia de comemorar o reveillon, o ano novo ortodoxo baseado no calendário gregoriano e o ano novo chinês. Rituais especiais e amorosos de passagem, com o regozijo e paz internos. Nada das habituais crendices e costumes. Precisa renascer por dentro para entender.


Babette à chinesa

Para começar, águas-vivas, ovos de mil anos, peixe defumado, saborosas natas de soja, nozes açucaradas, línguas e moela de pato. Tudo frio - e isso ainda é só um aquecimento. Uma fumegante tigela com sopa de barbatana de tubarão chega à mesa. Ao lado, um "steamer" de bambu mantém aquecidas as panquecas que envolverão o pato laqueado. Entram uma lagosta e um peixe.
Num piscar de olhos, não há mais vazios na mesa. É difícil conceber, mas ainda faltam um joelho de porco supercheiroso, um abalone (molusco caríssimo) e outro "steamer" com siao-lun-baos (macios pãezinhos recheados com porco) bem-arrumados sobre fatias de cenoura. Ao final, uma sopa de ninho de andorinha ligeiramente quente e adocicada.
Doze pratos em uma refeição? Nem sempre. Num banquete chinês eles podem chegar a 18. Ou mais. E, se a ocasião for o Ano Novo chinês, com início na próxima quinta, haverá ainda jiau-zi (guioza) e arroz.
A máxima é comer bem, não em excesso, e de maneira variada.
Provar bocados de tudo, como se estivesse beliscando, e compartilhar cada prato com quem estiver à mesa -aquela redonda, com o indispensável centro giratório. Não há pratos individuais, por assim dizer. Pinça-se o pedaço desejado, que vai diretamente à boca ou a um pequeno prato ou potinho de apoio."Banquete é uma tradição chinesa. Não é algo cotidiano, e sim reservado para momentos especiais", diz Liu Xiyuan, responsável pelo setor de cultura do consulado chinês em São Paulo. "É uma mostra da boa qualidade de vida da família."
A ocasião exige, de fato, condições financeiras. Na China, um banquete requintado, com iguarias raras, pode chegar a US$ 10 mil (quase R$ 18 mil).
"Comer bem faz parte da cultura chinesa. E a comida é muito diversificada", diz Paul Liu, 57, presidente-executivo da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico.
"No passado, as famílias preparavam as comidas do Ano Novo. Hoje, ninguém quer ter o trabalho de fazer o banquete em casa. Os restaurantes têm um cardápio pronto. É uma semana de comer e beber."
Ninho de andorinha - À maneira das refeições ocidentais, os pratos frios iniciam o banquete. Variam de quatro a oito opções servidas de uma só vez. O que soa mais improvável é comer peixe ou frango à temperatura ambiente. A seguir, vêm de seis a oito pratos quentes. Se uma sopa especial será servida (como a de ninho de andorinha), cabe à ela dar início a esta etapa -quem a encerra é um peixe, que pode ser seguido por fruta e alguma sobremesa.
O ninho, aliás, merece um capítulo à parte. Trata-se de um delicado emaranhado de fios construídos pelo pássaro com sua própria saliva (100 g podem custar até US$ 1.000, cerca de R$ 1.800). Quase sem sabor, é cobiçado graças à crença de que faz bem à saúde. "Dizem que quem come ninho diariamente vive mais e melhor", diz Liu.

Texto escrito por Janaina Fidalgo, para a Folha de São Paulo, em 31.01.08

Vocação para a coisa certa

A maioria dos médicos deveria ser mais eficiente, atenta, humana, respeitosa e solidária.
Às vezes, eles se revestem de dura armadura oxigenada e dispensam informações cruciais para o correto entendimento de qualquer enfermidade.

Será que presumem nossa incapacidade de compreender os males que nos acometem?
Hoje, a pesquisa sensata na internet auxilia aos pacientes e supre a deficiência de comunicação dos profissionais de saúde. Nenhum deles disse: Leva em média seis meses para se recuperar. Em média e seis meses, são informações cruciais, uma vez que cada organismo reage no seu tempo e modo. Aliás, a lacuna deixada pelos jalecos brancos, também foi preenchida pelo aprendizado contínuo do ouvir, sentir e entender meu corpo e ritmo.
Na minha área de atuação e por anos, defino a justa e correta margem de risco através da apurada observação e análise de cada caso. Não há como gerenciar riscos sem conhecer bem a unidade, assim como não há cura sem saber como é cada paciente.
Decididamente, a medicina não é ciência exata e bons médicos vocacionais são cada vez mais raros.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Mário Quintana


O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!

* * *

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais,
ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

* * *

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é
tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai?
Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga...
Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo
menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se
foram por terra.
Mas sei que vi, um dia - a
longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados
olhos um orgulho triste...

* * *

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em
cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

* * *

O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se ate não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!

* * *

Se as coisas são inatingíveis...ora!
não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

* * *

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...

* * *

Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dê o Céu... quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório.

* * *

A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

* * *

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

* * *

O luar,
é a luz do sol que está sonhando

* * *

O tempo não pára!
A saudade é que faz as coisas
pararem no tempo...

* * *

Os verdadeiros versos não são
para embalar, mas para abalar

* * *

A grande tristeza dos rios
é não poderem levar a tua imagem

* * *

Coração que bate-bate
Antes de deixar de bater!
Só um relógio é que as horas
Vão passando sem sofrer

* * *

Tão lenta e serena e bela e majestosa
vai passando a vaca
Que, se fora na manhã dos tempos, de rosas a coroaria
A vaca natural e simples como a primeira canção
A vaca, se cantasse,
Que cantaria?
Nada de óperas, que ela não é dessas, não!
Cantaria o gosto dos arroios bebidos de madrugada,
Tão diferente do gosto de pedra do meio-dia!
Cantaria o cheiro dos trevos machucados.
Ou, quando muito,
A longa, misteriosa vibração dos alambrados...
Mas nada de superaviões, tratores, êmbolos
E outros truques mecânicos!

* * *

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado-
muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalara
me quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

* * *

Em cima do telhado
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber porquê
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...

* * *

Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convem que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.

* * *

Sábias agudezas...refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraires
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.

* * *

Eu agora- que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

* * *

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais um necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

* * *

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Ele passarão.
Eu passarinho!

* * *

Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro
e leitor. Este não quer saber de terceiros, n ão quer que interpretem, que cantem, que dancem
um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...

* * *

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

* * *

Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem
distringuir as diferentes nuanças de uma cor.

* * *

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...

A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.

* * *

Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...

* * *

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

* * *

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

* * *

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

tem de ser bem devagarinho,
amada,

que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.

* * *

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

* * *

O amor é quando a gente mora um no outro.

* * *

- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

* * *

Um bom poema é aquele que nos dá a impressão
de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!

* * *

Se um autor faz você voltar atrás na leitura, seja de um período ou de uma simples frase, não
o julgue profundo demais, não fique complexado: o inferior é ele.

A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a velha-guarda que morre mas não se
entrega, não deve ser propriamente de expressão, mas de pensamento. Como é que pode
escrever certo quem não sabe ao certo o que procura dizer?

Em meio à intrincada selva selvaggia de nossa literatura encontram-se às vezes, no entanto,
repousantes clareiras. E clareira pertence à mesma família etimológica de clareza... Que o
leitor me desculpe umas considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto
antes, o alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última semana: Rio 1900 de
Brito Broca, Fronteira, de Moysés Vellinho e Alguns Estudos, de Carlos Dante de Moraes.

Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez, nem sentimos que
estamos lendo um livro: é como se o estivéssemos pensando.

E, como também estive a folhear o velho Pascall, na edição Globo, encontrei providencialmente em meu apoio estas palavras, à pág. 23 dos Pensamentos:

"Quando deparamos com o estilo natural, ficamos pasmados e encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um homem".

* * *

Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a
ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que
subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível
silêncio em que escrevo e em que tu me lês.

* * *

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

* * *

O estilo é uma dificuldade de expressão.

* * *

Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas... e moças na janelas
Com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su'alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de músicaUma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos...
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.

* * *

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

* * *

Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.

* * *

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...

* * *

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

* * *

Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando ele os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.

* * *

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

* * *

Sempre que chove
Tudo faz tanto tempo...
E qualquer poema que acaso eu escreva
Vem sempre datado de 1779!

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Garota realizada

Reunião marcada para o meio dia. Interessante chegar para uma reunião que começa na habitual hora do almoço, quando todos saem para cumprir seu reduzido intervalo entre as duas etapas do período integral de trabalho. Realmente, parece que o lugar fica mais leve e o tempo rende mais.
Para não me preocupar com o trânsito e onde estacionar o carro, fui de táxi e resolvi levar um bom par de tênis e meias em um saco plástico dentro da bolsa - para mim, algo inédito. Folia garantida. Assim, voltei a pé da marginal pinheiros até minha casa, pela avenida Rebouças inteirinha. Não sei quantos quilômetros, mas sei que levei exatos sessenta minutos nessa gostosa brincadeira.
Foi o desafio do dia, com a liberdade, não usufruída, de pegar um táxi em qualquer ponto do percurso, caso eu me sentisse cansada.
A sensação que tive foi de prazer. Feliz prazer com um quê de gratidão por ter seguido sempre em frente e chegado ao meu destino. Garota realizada.

Café e sonho, com creme

Mas você toma café com todo mundo. Não, eu não tomo café com todo mundo, nem vejo em todo mundo os seus olhos brilhantes, a pele do seu rosto vermelha ou ouço a sua voz inconfundivelmente amorosa, o aconchego de suas mãos, a fome da sua boca, nem as borboletas que insistem em voar dentro do seu estômago – tudo tão fora de qualquer controle.
Não, eu não tomo café com todo mundo, nem vejo o mundo parar enquanto a magia se firma embaixo do imenso ombrellone branco, apesar da chuva, que cúmplice, propiciou uma trégua. Eu não tomo café e não vejo a sua encantadora falta de jeito em mais ninguém.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Mães, filhas, filho e neto

Você sabe que sentimos sua falta. Nesta semana seu neto sonhou com você e durante o jantar ele contou com detalhes o que sentiu e viu. Foi um sonho pleno de significâncias, com um quê de previsão e esclarecimentos. Você estava bem e ao lado dele, como sempre.
As madrinhas do seu neto ligaram quinta e disseram que viriam na tarde de ontem, para nos visitar. Você sabe como preparo a casa, a mesa e as gostosuras que ofereço.
Seu neto foi um encanto, participou e conversou de forma tão carinhosa e correta sobre vários assuntos, com um tom de voz que cativa – eu sei que você ficou orgulhosa, porque você está conosco.
Depois, ele saiu para buscar a namorada e ficamos as cinco a curtir boa conversa e lembranças.
Agora, que escrevo sobre a tarde gostosa, me dou conta que estiveram conosco duas mães e duas filhas e eu a mantive o tempo todo em meu coração e mente. De fato, éramos três filhas e três mães, e você ocupou o lugar mais especial.

Tarde divertida

Marquei hora e cortei os cabelos. Já comentei como gosto de freqüentar este salão há décadas e encontrar pessoas conhecidas, interessadas e de confiança.
- Corte mais.
- Na frente?
- Não, o comprimento, mesmo. Considere meu queixo como parâmetro.
Tesouras nas mãos e a pausa para o espelho
- Corte mais.
- Não cortarei porque quando seu cabelo secar ficará mais curto por estar ondulado.
Acho que sou uma das raras que pedem para cortar o cabelo mais, mais.
Saiu volume, bastante volume.
Nada de escova ou qualquer outra coisa que o deixe liso, sem graça.
Cabelos lisos são sem graça.
Depois, resolvi conhecer as novidades em tênis para caminhadas e confesso que fiquei confusa com tamanha variedade de amortecedores, solados, tecnologia para melhor impulso, suporte para o calcanhar, couro, nylon com furinho desse e daquele jeito, formas largas e finas, cores, brilhos, feitos para caminhar na cidade, em trilhas, no parque e as várias tendências existentes. Ainda bem que desde garota sou fiel à mesma marca.
Quis respirar um pouco e procurei o clássico Gazelle, mas achei o antigo remodelado com cores que ofuscavam a visão. Conseguiram alterar o clássico! Por sorte encontrei um vendedor interessado, prestativo e paciente, que respondeu todas as minhas perguntas – mesmo as mais absurdas e, por conta própria, trouxe cinco pares para que eu sentisse nos pés as diferenças existentes.
Gostei do tênis que abraçou meus pés - o de forma estreita, segundo explicação do Milton.
Não resisti também a um modelo de couro escuro todo transado e diferente com os seguintes dizeres na sola: Whoever said let the best man win, forgot to ask the girls to play.
Sim, mantenho a aptidão para a negociação simpática e ganhei um bom desconto, uma camiseta e um boné.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O tudo em quarenta letras e doze palavras

O essencial desta vida, o que realmente importa e é a verdadeira motivação para todas as boas realizações possiveis, única fonte de tudo que é positivo de fato, resumido em apenas quarenta letras e doze palavras. A melhor coisa do mundo é amar e em troca ser amado. Não basta, nunca bastou e jamais bastará amar só. O amor é para dois.







Esta imagem é do fotógrafo Luciano Oliveira, confira sua obra:
http://www.flickr.com/photos/lucky_oliveira/

Hoje você ganhou flores?


O bem que você consegue fazer

Não adianta nossa percepção ou entendimento a respeito do que causamos nas pessoas, animais e plantas que se encontram em nosso convívio. É fundamental saber o efetivo resultado de nossa atuação, através da observação desinteressada e do retorno que nos dedicam. A planta cresce com cor viva, sem qualquer enfermidade e permanece firme, forte e bonita? Foi você que a plantou e cuida dela? Então sua ação sobre a planta é válida e benéfica.
Seu animal de estimação é saudável, valente, normal, forte, confiante, vigoroso, mantém sua natureza e instintos, obedece e não é agressivo sem motivo ? Logo, a convivência com você é positiva.

As pessoas com as quais você interage ficam mais felizes, leves, em paz, alegres, saudáveis, mantém seu vigor e força, produzem com satisfação e resultado, além de se sentirem mais confiantes e independentes ? Sem dúvida é sua influência que auxilia em tudo isso.
Triste é quando se observa o contrário, sempre ligado à verdadeira intenção dos agentes. Há pessoas que extinguem a natureza dos animais e os tornam mansos, medrosos, insalubres e limitados; assim como há as que exercem o mesmo efeito sobre as pessoas com as quais convivem.
Sem dúvida, é muito mais fácil manipular seres em crise e carentes. Torná-los mais dependentes, organizar suas vidas e centralizar o comando, mesmo que com aparente suavidade e sem que percebam as reais intenções de quem assim atua.
Difícil, mas difícil mesmo, é doar-se a ponto de não deixar qualquer marca sua negativa no outro. É deixar os outros realmente livres. Há pessoas que, infelizmente, exercem influência tão contrária que conseguem emascular quem está próximo.

Balões, pipas e gaivotas


Cães e seus donos

Como tudo nesta vida, ter um cachorro demanda considerável dose de responsabilidade para cuidar apropriadamente do animal, e para evitar quaisquer prejuízos que o cão possa causar a terceiros.
Reconheço que neste ponto sou zelosa, ainda mais quando meu filho se ausenta e o cão fica sob os meus cuidados.
O bairro no qual moramos é e sempre foi pródigo em cães. Lembro que desde minha infância, quando eu estudava na Cultura Inglesa que ainda se encontra no mesmo prédio, chamava minha atenção a quantidade de cachorros que passeavam com seus donos pela avenida principal.
Localidade com muitos cães tem três problemas iniciais: A displicência de determinados donos, a sujeira das calçadas e o excesso de pulgas.
Evitamos as incômodas pulgas não freqüentando a praça local, com o banho semanal, a casa bem aspirada e limpa, além das gotinhas de remédio que são pingadas no cogote do animal. Para a sujeira das calçadas educação, estômago meio forte e três saquinhos plásticos por dia são essenciais. Já a displicência de determinados donos é o principal problema.
Não deixem de segurar com firmeza as guias de seus cães! Sim, pode machucar e requer certa força, mas enrolem boa parte das guias em suas mãos e não permitam que o cão ande desembestado de um lado para outro da calçada e, muito menos, que ele avance sobre os demais animais. Sim, cachorros prescindem de socialização com outros cachorros. Cães estressados, enfermos, hostis, traumatizados, agressivos devem andar na esteirinha de casa e não compartilhar do mesmo espaço com os demais de sua espécie. Não existe esteirinha da cor e do modelo de sua preferência? Então, caminhe com seu cão em horários diferenciados e em hipótese alguma permita que sua filha, desmiolada e sem a necessária robustez física, caminhe na rua com o cão que tem quase o tamanho e o quíntuplo da força da infanta. Guias enroscadas somente em filmes ou em ocasiões especialíssimas.
Três perguntas costumam ser feitas: É macho ou fêmea? Como se isso, garantisse a manutenção de comportamento racional, além de ele é bravo? e sua variante: Ele morde? Sim, minha senhora, o cão é muito bravo e morde tudo e todos que vê pela frente.


Ontem, durante o passeio vespertino, encontramos dois pitbulls que caminhavam com seu dono. Como é mesmo a idéia da esteirinha?

Alimento sem desperdício

Todos sabem que o Brasil é um dos países que mais jogam comida boa na lata do lixo e esta matéria, publicada na revista SAÚDE, relembra idéias básicas.
É inadmissível o desperdício, ainda mais se considerarmos a fome que, infelizmente, ainda existe em nosso país e no mundo.

De 30 a 40% de todos os alimentos produzidos no país vão parar no lixo. Em países desenvolvidos, esse índice não chega aos 10%. Aqui, são toneladas e mais toneladas de comida perdidas diariamente.
Boa parte do desperdício ocorre logo na colheita e no transporte, mas os consumidores também têm sua parcela de responsabilidade. O brasileiro pasme! joga fora mais comida do que a que de fato leva à mesa.
Um estudo da Embrapa Agroindústria de Alimentos mostra que só em hortaliças, por exemplo, o total de perda a cada ano é de 37 quilos por habitante, enquanto a ingestão desses vegetais não passa dos 35 quilos no mesmo período de tempo.
Toda essa comida desperdiçada equivale a 12 bilhões de reais que o país despeja nas lixeiras a cada ano para se ter uma idéia, isso é quase metade do orçamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome ou 24 vezes o da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Estamos, literalmente, botando dinheiro e saúde no lixo.
Veja o que está ao seu alcance para mudar esse panorama desde a hora em que você seleciona vegetais fresquinhos na feira ou no supermercado até o momento em que os leva para a panela, e repare a porcentagem da produção de determinados alimentos que é jogada fora
NA HORA DE COMPRAR
Escolha os alimentos sem cutucá-los. Esqueça a velha mania de enfiar a unha no chuchu e quebrar a ponta da vagem para checar a qualidade dos hortifrútis. Os vegetais ficam machucados e aí quem vai querer levá-los pra casa? Sem contar que acabam se estragando mais rápido, explica o químico Antônio Gomes, da Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Na dúvida, na hora de escolher peça ajuda ao feirante ou ao repositor de estoque do supermercado. Eles entendem do riscado e podem dar uma mão na seleção dos produtos.

Dê preferência às frutas da época porque são mais frescas e duram mais, recomenda, ainda, a professora Jocelem Salgado, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, no interior paulista. Ora, se duram mais, menores são as chances de virarem lixo.
Pela mesma razão, fique atento ao prazo de validade de produtos industrializados.

Faça uma lista de compras e leve para casa somente e tão-somente o necessário, completa Jocelem. Por causa do (mau) hábito de comprar comida além da conta, uma família de classe média desperdiça aproximadamente 500 gramas de alimentos dia após dia ou incríveis 180 quilos de comida por ano! Em 20 anos, o total de perdas representaria o suficiente para alimentar uma criança na primeira década de vida.
O JEITO CERTO DE ARMAZENAR

Pequenos cuidados fazem dobrar o tempo de vida dos vegetais "Frutas, verduras e legumes devem ser colocados em sacos plásticos, transparentes e hermeticamente fechados, na prateleira mais baixa da geladeira, onde a temperatura é um pouco maior", recomenda a nutricionista Denise Meira, do Mesa Brasil, projeto do Sesc São Paulo que promove oficinas de combate ao desperdício por todo o estado. "Assim as hortaliças conservam o frescor e a umidade por mais tempo", garante.
Ah, não as lave antes de botá-las na geladeira. Acredite: a terra e outras impurezas ajudam a prolongar a vida do alimento. Além disso, gotículas que sobram da lavagem aceleram o amadurecimento. Também evite guardar os vegetais já cortados porque em pedaços ficam com maior área de contato com o ar outro fator que acelera a deterioração, alerta Denise.
Para conservar tomates por mais tempo, este truque é ótimo: passe um pouco de margarina naquele furinho que fica na parte superior do fruto. Mais uma dica: quando não for comer uma fruta inteira, ponha a outra metade dentro de um saco plástico na geladeira e consuma em até 48 horas.

Você pode também congelar os legumes frescos. Primeiro ferva 2 litros dágua. Então, mergulhe-os inteiros na panela e deixe por apenas cinco minutos. Tire-os da água e enxugue bem. Ponha em um saco plástico no congelador. Assim, eles chegam a durar mais de um mês.
APROVEITE TUDO
Utilizar os alimentos por inteiro é uma forma de diminuir o desperdício e fazer render o orçamento da casa.
Sempre que possível, aproveite cascas, folhas e talos. Muitas vezes, eles contêm mais nutrientes
do que as partes normalmente consumidas, garante a nutricionista Denise Meira. Uma pesquisa da Universidade Estadual de São Paulo, a Unesp, mostrou que a folha da couve-flor, por exemplo, concentra uma quantidade quatro vezes maior de vitamina C do que a polpa da laranja (veja a receita). Já as folhas de nabo, rabanete e beterraba são melhores fontes de cálcio, fósforo e vitaminas A e C do que a própria raiz, que é a parte mais comestível desses vegetais. As da cenoura e as da salsa são ricas em vitamina A e devem ser aproveitadas para fazer bolinhos, sopas e picadinhos. O modo de preparo de frutas e hortaliças também é importante. O ideal é cozinhá-las com casca e, de preferência, inteiras. O invólucro exterior impede a perda de vitaminas e minerais, conta Jocelem. A casca da laranja e a parte branca da melancia podem até mesmo virar ingrediente de doces.
O que sobrou de ontem, transforma-se em uma opção de prato para a refeição de hoje, por que não? O purê de batatas, por exemplo: Forme pequenas bolinhas, polvilhe com farinha de rosca e frite como croquetes, sugere a professora Jocelem Salgado. Com imaginação, você faz surgir receitas até mais saudáveis do que as preparadas na frigideira. O arroz e a salada do dia anterior dão origem a risotos e o feijão pode virar uma bela sopa.
Suflê de folhas de couve-flor: Ingredientes - 4 xícaras de folhas de couve-flor cozidas e picadas, 2 colheres de farinha de trigo, 2 colheres de manteiga, 1 colher de café de fermento em pó, 1 xícara de café de leite, 2 ovos, sal a gosto. Modo de fazer - Aqueça a manteiga, junte a farinha, o leite e misture as folhas de couve-flor, cozidas e picadas. Deixe descansar até amornar. Junte 2 gemas e o fermento. Bata as claras em neve e misture bem. Coloque em fôrma untada e leve ao forno por 20 minutos.
Se depender da iniciativa de algumas escolas infantis, em poucos anos o Brasil vai deixar de ser um campeão em desperdício. A be.Living, por exemplo, inclui em seu projeto pedagógico verdadeiras lições de sustentabilidade e cidadania. Mostramos que aproveitar os alimentos integralmente faz bem para a saúde e ajuda a diminuir a quantidade de lixo, explica a educadora ambiental Laruana Oliveira, do Instituto Verdescola, uma ONG que, entre outras iniciativas, elabora projetos desse tipo em escolas tanto públicas como privadas, realizando um trabalho pioneiro. As atividades organizadas pelo instituto incluem aulas de culinária com cascas, folhas e talos, além de oficinas que ensinam a criança a transformar em adubo tudo o que não dá para ser aproveitado na cozinha de casa.


Texto de Anderson Moço

Solteiros do novo tempo

"Solteiras são mais felizes do que homens na Europa, diz estudo

Uma nova pesquisa aponta que 35% das solteiras na Europa se sentem felizes nesta condição. Já os homens se sentem mal sem uma parceira: apenas 9% estão contentes solteiros, segundo o levantamento.
O 2º Estudo Europeu sobre Solteiros 2008, realizado pela agência de namoros Parship e pelo Instituto de Investigações de Mercado Innofact, pesquisou o perfil de homens e mulheres solteiros.
Os pesquisadores ouviram 13 mil pessoas entre 18 e 59 anos em 13 países para descrever o perfil dos solteiros do velho continente.A maioria confessou pouca experiência em namoros. Em média, duas relações sérias ao longo da vida. E nenhum relacionamento há pelo menos um ano. No máximo, responderam 70%, um encontro pouco importante nos últimos 12 meses.
Quanto às exigências, 94% das mulheres e 91% dos homens disseram que procuram pessoas com valores morais como honestidade, fidelidade e otimismo, nesta ordem. Em outros aspectos, valorizam um parceiro que tenha uma carreira profissional, generosidade, simpatia e boa aparência.
A pesquisa acaba com outro mito feminino famoso por uma música. Dos carecas, elas já não gostam mais. A maioria, 89%, rejeita os homens sem cabelos. E 74% se incomodariam com o fato do parceiro ter um aspecto descuidado, principalmente os cabelos. Resposta que coincide com a opinião dos homens (76%), que também preferem as mais vaidosas.
O casamento deixou de ser o principal objetivo para os solteiros. Os europeus querem namoros sérios, mas sem oficializar o compromisso. Apenas 33% pensam em casar. A desilusão com o compromisso começa com a dificuldade para arranjar o "namoro perfeito". Muitos (35%) admitiram ter passado por más experiências quando se apaixonaram, 30% avaliam que perdem a independência estando em um casal e 12% alegam nem ter tempo para paquerar. Há ainda os que confessam continuar solteiros porque são exageradamente ciumentos e não agüentam viver sem controlar a vida do parceiro. Outros também responderam que são tímidos demais para sair à procura de namoro. Por isso, a Internet virou um acesso à paquera: 59% pretendem encontrar a alma gêmea online, embora apenas 40% admitam já ter feito alguma tentativa na rede.
O estudo cita ainda algumas das barreiras que impedem os europeus de encontrar seus pares perfeitos. Uma é o aumento de ideologias conservadoras: três de cada quatro preferem que a outra pessoa seja de sua mesma nacionalidade, e 79% não aceitariam alguém de outra religião. Filhos de relacionamentos anteriores também são vistos como problemas para 73% dos solteiros europeus.
O estudo define os solteiros em dez grupos básicos de acordo com suas características:
- os exigentes: pedem demais e cedem pouco;
- os convencidos: acham que a vida a dois e a liberdade são incompatíveis;
- os auto-suficientes: optam pela solidão;
- os rebeldes: têm pânico de normas e rotinas;
- os falsos resignados: modernos na aparência, mas, no fundo, solitários;
- os itinerantes: descartam o amor para a vida inteira e preferem relações fugazes;
- os egoístas: vivem para si e não querem se ocupar de ninguém mais;
- os ressentidos: passaram por decepções;
- os sofredores: vivem reclamando da solidão como se fosse uma doença
- os temerosos: preocupam-se demais com o peso de criar e manter uma família. Segundo o departamento de estatística da União Européia, o Eurostat, em 2002 (último censo), os 25 países da União Européia reuniam 158 milhões de solteiros."

Texto de Anelise Infante para a BBC Brasil

domingo, 20 de janeiro de 2008

Meditação

Quem acreditou no amor, no sorriso e na flor, então sonhou, sonhou
E perdeu a paz, o amor, o sorriso e a flor se transformam depressa demais
Quem no coração abrigou a tristeza de ver tudo isso se perder
E na solidão procurou um caminho e seguiu já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou e tanto que o seu pranto já secou
Quem depois voltou ao amor, ao sorriso e à flor, então tudo encontrou
Pois a própria dor revelou o caminho do amor e a tristeza acabou
Quem depois voltou ao amor, ao sorriso e à flor, então tudo encontrou
Pois a própria dor revelou o caminho da dor e a tristeza acabou.

São Jorge

Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem
Para que meu inimigos tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes arrebentem sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é de Capadócia








Intenções

Realizar não importa o quê, mas nunca não importa como.

O homem educado

Queremos um homem bem educado. E a boa educação sempre é acompanhada pela gentileza, pela delicadeza, pelo respeito, carinho, elegância e dedicação. Sem hipocrisia, sem quaisquer intenções e interesses. Sentimos falta de homens verdadeiramente bem educados. O mundo precisa de homens verdadeiramente bem educados.

Dia vinte de janeiro é dia de lembrar, mais ainda, de um homem verdadeiramente educado, com o qual tive o privilégio de conviver e a exclusiva vantagem de chamar de pai. Um pai com cheiro de lavanda inglesa e que gostava muito de mim.

O texto abaixo foi escrito pela Danuza Leão e publicado na Folha de São Paulo, em 20.01.08

Um avô que me ensinasse, pelo exemplo, a ser gentil,
atenta aos outros, que me desse muita atenção

Eu já estava no meio do jantar quando eles chegaram e se sentaram na mesa ao lado. Ela uma senhora vaidosa, com os cabelos pintados, brincos, anéis, essas coisas que nós mulheres gostamos de usar. Ele, um senhor já bem senhor, daqueles que só se vêem na França. Um senhor daqueles bem idosos de antigamente.
Pequeno, magro, os cabelos completamente brancos cortados curtos, olhos azuis e bochechas rosadas. Como era inverno, ele, muito elegante, usava um suéter, um paletó de tweed, um cachecol e um gorrinho de lã que tirou, assim que se sentou à mesa. Dava para perceber que devia cheirar a lavanda. A pele era fina, e sem uma só ruga. O casal não tinha a rapidez da juventude; o andar era lento, os gestos, vagarosos, e as palavras, calmas. Ele ajudou-a a tirar o casaco, esperou que ela se sentasse (na banqueta ao meu lado) e só então se sentou, diante dela.
Levaram um bom tempo para escolher o que iam comer, e era comovente ver como ele procurava saber do que ela gostaria, e dando sugestões; delicado, sempre muito atento a tudo que ela dizia, e sem nenhuma impaciência ou pressa, características dos muito jovens. E falavam baixinho.
A garrafa de vinho chegou, ele provou primeiro, disse ao garçom que estava aprovada; serviu a sua dama, em primeiro lugar, depois a ele mesmo.
Pediram uma grande bandeja de frutos do mar, e a cada um que comiam, faziam um comentário; como a maioria dos franceses, eles conheciam o assunto. Deixaram para o final um siri imenso, e com toda a calma do mundo -e com pinças especiais- tiraram até o último pedacinho da carne, sempre comentando sobre o que estavam comendo. Deram toda a importância do mundo ao jantar, e depois da conta paga -sem pressa- ele se levantou, puxou a mesa para que sua companheira pudesse sair, ajudou-a a colocar o cachecol, o casaco, depois vestiu o seu, colocou o gorrinho na cabeça e saíram, ela na frente, ele atrás. Imagino que já tivessem passado há um bom tempo dos 80, mas ainda tinham o prazer da boa mesa, da boa companhia. Seriam casados?
Acho que não, velhos casais não costumam ter tantos assuntos, e raramente saem sozinhos para jantar.
Fiquei pensando em como gostaria de ter tido um avô como ele.
Um avô que me levasse a um restaurante quando eu era criança, me fizesse conhecer os mistérios das ostras, a reconhecer um bom vinho. Um avô que me ensinasse, pelo exemplo, a ser gentil, atenta aos outros, que puxasse a cadeira para mim, que me desse muita atenção, aquela que só se dá às pessoas de quem se gosta muito. Que me forçasse, delicadamente, a pedir uma sobremesa; que me perguntasse, antes de pedir a conta, se eu estava contente, e que quando saíssemos, de mãos dadas, parasse para me comprar um saquinho de chocolates, assim por nada, só porque isso é coisa de avô.
Um avô que cheirasse a lavanda como ele devia cheirar, calmo como ele, gentil como ele, com os olhos tão azuis quanto os dele, e que gostasse muito de mim. Só que aos três anos eu já não tinha mais nenhum avô, e como nunca tive, nunca me ocorreu que eles me faziam falta.
Mas nessa noite - e pela primeira vez - pensei em como seria bom ter tido um avô que gostasse muito de mim.

Megera domada

A megera domada não era megera
Geniosa era a que parecia meiga
Será que ninguém mais lê Shakespeare?

Nifes

É muito bom passar horas com amigas, ainda mais quando surgem dicas preciosas como a do filme Noivas (Nifes) dirigido pelo grego Pantelis Voulagaris e produzido por Martin Scorsese.
A encantadora música de Stamatis Spanoudakis e a belíssima fotografia de Yorgos Arvanitis merecem especial apreciação.
O filme, baseado na obra de Ioanna Karistian é primoroso, comovente e retrata com especial cuidado a difícil existência de mulheres russas, turcas, búlgaras, armênias e das ilhas gregas, que sofreram em seus países com as guerras, estupros, orfandade e a pobreza, e foram obrigadas a se tornarem noivas por correspondência de imigrantes solteiros que moravam nos Estados Unidos.
Sobre essas mulheres foram depositadas, por suas famílias, todas as esperanças e a responsabilidade pela subsistência.
Portanto, além de amedrontadas com a vida que teriam em um país distante, com um homem que jamais haviam encontrado, ainda eram responsáveis pelos seus irmãos e pais.
- Na América, minha primeira tarefa é mandar lápis de cor para minha irmã caçula. Ela tem quinze anos. Ela pinta a areia, a onda.
Tudo se inicia na ilha grega de Samotrácia, no ano de 1922, enquanto Niki Doukas aguardava o regresso de sua irmã, Eleni, dos Estados Unidos, para onde ela havia seguido para casar-se com um imigrante grego. Eleni foi uma noiva por correspondência, mas não conseguiu viver longe de sua ilha de origem. Niki, por sua vez, seria a noiva substituta da própria irmã, em acordo que foi firmado por sua madrinha, que morava nos Estados Unidos e também havia sido noiva por correspondência. Alguma vez costurei um vestido novo para ir a um encontro?
Alguma vez coloquei jasmim nos meus seios?
Alguma vez esperei o carteiro? Amor, Eleni, é para os desocupados. Estou bem sem ele. Se houvesse uma outra pessoa, uma pessoa que esperasse por mim primeiro...Vou para um país estrangeiro com o mesmo vestido de noiva e com a mesma foto que você levou no ano passado.
Em Smirne, na Turquia, o fotógrafo americano de origem irlandesa, Norman Harris (Damian Lewis), desiste de sua profissão após ter suas fotos da guerra greco-turca rejeitadas por um jornal e resolve retornar para os Estados Unidos.
Não menos do que setecentas noivas por correspondência embarcaram no transatlântico King Alexander. A cena dos barcos que levavam as jovens para o navio é belíssima, assim como o fino bordado que une suas histórias e o paralelo demonstrado entre a primeira e a terceira classe da embarcação. A crueza é tratada com sutileza e o encanto crescente entre Niki Doukas e Norman Harris, o marco amoroso do filme.
E sua bagagem Niki levou lentilhas, folhas de louro e alho - o alho americano não teria cheiro - para preparar a comida favorita de seu noivo, que teria comentado que se casaria com qualquer uma, desde que não vivesse choramingando, nem

fosse preguiçosa.
O primeiro diálogo entre Niki e Norman foi sobre fotografias:
- Você rasgou fotografias? Se tiver mais fotografias, não as rasgue. Dê-as para mim.
- O que fará com elas?
- Mesmo fotografias de estranhos são muito boas para decoração.
- Sua casa dever ser cheia de fotografias.
- Somente uma.
- Do casamento de seus pais?
- Não. Do meu pai no caixão.
- Sinto muito.
- Sim... Meu pai em seu caixão e toda família reunida em volta dele. Na minha ilha, só assim as pessoas conseguem ter sua foto. Quando morrem. Que tipo de fotografias fazia?
- Fotos incomuns. Gosto de fotografar coisas que os outros não percebem. Detalhes, coisas pequenas.
Niki sabia costurar, auxiliava as demais noivas com seus vestidos e sugeriu que Norman fotografasse as jovens de sua ilha, o que fez com que ele resgatasse o prazer de fotografar. No meu baú tenho um vestido de noiva que já cruzou o Atlântico várias vezes, indo e vindo, indo e vindo. 1909, com minha madrinha, 1921 e, agora, 1922. Um vestido bastante azarado. Indo e vindo, indo e vindo.
No diálogo de Niki com o capitão do navio a comparação da rota das estrelas com o destino dos imigrantes que partiram para o Novo Mundo:
- A primeira a aparecer será Vênus. Depois, Sírius. Após, Órion. E quando o céu ficar iluminado, limpo e escuro, você conseguirá ver até as menores estrelas. Todas elas viajam juntas para o oeste. Todas as estrelas vêm do leste.
- As estrelas vêm do leste para o oeste. Assim como nós.
E as lembranças de algumas características de povos imigrantes:
- Gregos morrem sem o mar.
- Minha avó irlandesa sempre falava das ondas batendo nas rochas em Cork
No começo, ela era nostálgica; depois, ficava melancólica.Quando estava nostálgica, fazia comida salgada. Se melancólica fazia bolos. Você entende?
- Nostalgia e melancolia são palavras gregas.
- Niki, my darling, I thought about you all last night. Se agapo.
- Não.
- Não consigo evitar.
- Não me ame.
- Mas eu amo!
- Sou grega.
- E daí?
- Pare!
Assim ficou a tristeza do verdadeiro amor não vivido para que a tradição se mantivesse.
- Você jamais o esquecerá e esta será sua punição.
- Não é punição lembrar de alguém que se ama. A punição é esquecê-lo.
Em menos de um instante os olhos encararão uma vida que passará e nunca será esquecida.
Eis parte do texto de Celso Sabadin sobre o filme:
O jornalista Fernando Morgado, meu editor na época em que eu trabalhava na finada Folha da Tarde, uma vez me disse uma frase que eu jamais esqueci: "Existem filmes que são distribuídos e existem filmes que escapam". Definitivamente, Noivas é um filme que acaba de escapar. Produzido em 2004 e exibido para a imprensa paulista uma única vez em agosto de 2006, Noivas estréia de surpresa, num circuito minúsculo e praticamente sem divulgação. Com Martin Scorsese assinando como um dos produtores e um pano de fundo baseado em fatos reais (sempre me pergunto se um filme pode ser baseado em "fatos irreais"), Noivas ganhou cinco prêmio do Festival de Tessalônica (Grécia) e participou da mostra competitiva de Moscou. Tem tudo para agradar a um público que prefere narrativas mais clássicas.

Algoritmos do amor

Algoritmos do amor ajudariam na busca do parceiro perfeito

Os dois estudantes do sul da Califórnia acabaram de ser apresentados durante uma experiência para testar a sua "química interpessoal". O homem, um estudante de pós-graduação, obedientemente perguntou à estudante de graduação quais eram as áreas de concentração dos seus estudos.
"Espanhol e sociologia", respondeu ela.
"Interessante", disse ele. "Eu também fiz disciplinas de sociologia. O que você vai fazer com isso?"
"Você pergunta demais".
"É verdade".
"A minha paixão sempre foi espanhol, tanto a língua quanto a cultura. Adoro viajar e conhecer novas culturas e lugares".
Não se tratava de uma dupla do tipo Bogart e Bacall. Mas Gian Gonzaga, um psicólogo social, pôde enxergar possibilidades para este casal, ao assistir à conversa gravada em uma tela de televisão.
Eles estão concordando e sorrindo simultaneamente, e a mulher sacudiu os cabelos e lambeu rapidamente os lábios - sinais positivos de alquimia amorosa que serão sistematicamente registrados nessa experiência no laboratório do eHarmony. Ao comparar os resultados com as respostas do casal a centenas de outras questões, os pesquisadores esperam chegar mais perto de um novo e extremamente lucrativo objetivo - emparelhar indivíduos formando o casal perfeito.
Antigamente, a descoberta de um parceiro ou parceira era algo considerado muito importante para ser deixado a cargo de pessoas sob a influência de hormônios efervescentes. Os pais, às vezes auxiliados por astrólogos e casamenteiros, supervisionaram os namoros até que os costumes mudaram no Ocidente, devido àquela que foi chamada de revolução Romeu e Julieta. Adultos, deixem as crianças em paz.
Mas agora alguns cientistas sociais redescobriram as vantagens da supervisão por parte de adultos - contanto que os adultos possuam doutorados e uma grande quantidade de dados psicométricos. A busca de parceiros on-line se transformou em uma indústria de crescimento explosivo enquanto cientistas rivais testam os seus algoritmos para encontrar o amor.
A líder neste campo é o eHarmony, empresa que foi a pioneira do sistema "não-tente-isto-você-próprio" oito anos atrás, ao recusar-se a deixar os seus clientes on-line procurarem os seus próprios dados. Exige-se deles que respondam a um teste de personalidade de 258 questões, e a seguir a empresa seleciona os potenciais parceiros. A companhia calcula, com base em uma pesquisa nacional Harris que encomendou, que esse sistema foi responsável por cerca de 2% dos casamentos ocorridos nos Estados Unidos no ano passado, o que significa quase 120 casamentos por dia.
Uma outra companhia, a Perfectmatch.com, está usando um algoritmo criado por Pepper Schwartz, um sociólogo da Universidade de Washington em Seattle. O Match.com, que tornou-se o maior serviço de encontros on-line ao deixar que as pessoas procurassem os seus próprios parceiros, criou um novo serviço de busca da cara-metade, o Chemistry.com, usando um algoritmo criado por Helen E. Fisher, antropóloga da Universidade Rutgers, que estudou a química neural das pessoas apaixonadas.
Enquanto as firmas especializadas em busca de parceiros competem por clientes - e atacam a metodologia usada pelos concorrentes - a batalha intriga pesquisadores acadêmicos que estudam esse jogo da busca do par perfeito. Por um lado eles mostram-se céticos, já que os algoritmos e os resultados não foram publicados para possibilitar a revisão por parte da comunidade acadêmica. Mas eles também percebem que essas companhias on-line proporcionam aos cientistas uma oportunidade notável de coletar uma quantidade enorme de dados e testar as suas teorias em campo. O eHarmony diz que mais de 19 milhões de pessoas preencheram o seu questionário.
O algoritmo da firma foi criado uma década atrás por Galen Buckwalter, um psicólogo que anteriormente foi professor e pesquisador da Universidade do Sul da Califórnia. Baseando-se em evidências anteriores de que similaridades de personalidade prevêem felicidade em um relacionamento, ele submeteu centenas de questões relativas à personalidade a 5.000 casais (casados) e fez correlações entre as respostas e a felicidade conjugal dos casais, baseados nas medições feitas com um instrumento chamado de escala de ajustamento diádico.
O resultado foi um algoritmo que, presumivelmente, emparelha pessoas com base em 29 "traços centrais", como estilo social ou temperamento emocional, e "atributos vitais" como habilidades para relacionamento (para detalhes veja o site http://tierneylab.blogs.nytimes.com/).
"Não estamos procurando clones, mas os nossos modelos enfatizam similaridades em personalidade e valores", diz Buckwalter. "É bem comum que as diferenças possam ser a princípio atraentes, mas elas não atraem tanto após dois anos de relacionamento. Se você encontra alguém do Tipo A e que seja realmente ativo, é melhor emparelhar essa pessoa com alguém do mesmo tipo. É bem mais fácil para as pessoas se relacionarem quando não têm que negociar todas essas diferenças".
E o método realmente funciona? Em tese, graças aos milhões de clientes e as mensalidades que estes pagam (de até US$ 60), o eHarmony possui dados e recursos para realizar pesquisa de ponta. A companhia conta com um comitê de assessoria composto por cientistas sociais proeminentes e um novo laboratório com pesquisadores atraídos do meio acadêmico, como Gonzaga, que anteriormente trabalhava em um laboratório de pesquisa do casamento na Universidade da Califórnia em Los Angeles.
Até o momento, exceto por uma apresentação em uma conferência de psicólogos, a companhia não apresentou muita evidência científica de que o sistema funciona. Ela deu início a um estudo longitudinal comparando os casais do eHarmony com um grupo de controle, e Buckwalter afirma que a firma está decidida a publicar os resultados da pesquisa para avaliação acadêmica, sem entretanto divulgar detalhes do seu algoritmo. O segredo pode ser uma jogada empresarial inteligente, mas faz do eHarmony um alvo de críticos da comunidade científica, isso para não mencionar as empresas rivais.
Na batalha dos casamenteiros, o Chemistry.com vem publicando comerciais que criticam a eHarmony por se recusar a encontrar parceiros gays (a eHarmony diz que não é capaz de fazer isso porque o seu algoritmo baseia-se em dados relativos a heterossexuais), e o eHarmony solicitou ao Departamento por Melhores Negócios que impeça o Chemistry.com de alegar que o seu algoritmo foi cientificamente validado. O departamento concordou que não há provas suficientes, e o Chemistry.com concordou em parar de fazer propaganda dizendo que o método de Fisher baseia-se na "mais recente ciência da atração".
Agora Fisher diz que a pressão feita contra ela no ano passado fazia sentido porque à época o seu algoritmo ainda era um trabalho em andamento, enquanto ela fazia correlações entre medidas sociológicas e psicológicas, e avaliava indicadores vinculados a sistemas químicos no cérebro. Mas agora, ela diz ter evidências obtidas a partir dos usuários do Chemistry.com para validar o método, e pretende publicá-lo juntamente com os detalhes do algoritmo.
"Acredito em transparência", afirma Fisher, dando uma cutucada no eHarmony. "Quero compartilhar os meus dados de forma que possa contar com avaliação acadêmica".
Até que cientistas externos dêem uma boa olhada nos números, ninguém poderá saber até que ponto tais algoritmos são efetivos, mas uma coisa já está clara. As pessoas não têm muito talento na hora de escolher seus próprios parceiros on-line. Os pesquisadores que estudaram relacionamentos baseados na Internet descobriram que os clientes geralmente acabam saindo com menos de 1% das pessoas cujos perfis estudaram, e que esses encontros freqüentemente acabam em tremendas decepções. "As pessoas fazem listas impossíveis no que diz respeito àquilo que desejam em um parceiro", explica Eli Finkel, psicólogo que estuda encontros amorosos no Laboratório de Relacionamentos da Universidade Northwestern.
"Essas pessoas acham que sabem o que querem", diz Finkel. "Mas encontrar alguém que possui as características que essas pessoas alegam ser tão importantes é algo bem menos inspirador do que elas prevêem".
As novas empresas especializadas em encontros podem ou não contar com a fórmula certa. Mas pelo menos os computadores delas sabem algo mais do que simplesmente fornecer às pessoas aquilo que elas dizem que querem.

Texto de John Tierney, publicado no The New York Times, traduzido e veiculado na Folha de São Paulo, em janeiro de 2008.