segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Snooky Ookums , Fred Astaire and Judy Garland, 1948



Cute cute, bizuquinho, bizuquinha, vida, benhê, mãe, moorr, bebê, duduquinho, pai, nhumy nhumy, princesa... A sofrível linguagem pseudo amorosa.

Fairy tales are full of impossible tasks

The hounds, you know them all by name.        
You fostered them from purblind whelps
At their dam’s teats, and you have come
To know the music of their yelps:

High-strung Anthee, the brindled bitch,
The blue-tick coated Philomel,
And freckled Chloe, who would fetch
A pretty price if you would sell -

All fleet of foot, and swift to scent,
Inexorable once on the track,
Like angry words you might have meant,
But do not mean, and can’t take back.

There was a time when you would brag
How they would bay and rend apart
The hopeless belling from a stag.
You falter now for the foundered hart.

Desires you nursed of a winter night -
Did you know then why you bred them -
Whose needling milk-teeth used to bite
The master’s hand that leashed and fed them?

*        *        *

The blackbird sings at
the frontier of his music.
The branch where he sat

marks the brink of doubt,
is the outpost of his realm,
edge from which to rout

encroachers with trills
and melismatic runs sur -
passing earthbound skills.

It sounds like ardor,
it sounds like joy. We are glad
here at the border

where he signs the air
with his invisible staves,
“Trespassers beware” -

Song as survival -
a kind of pure music which
we cannot rival.

*        *        *

So long I have been carrying myself
Carefully, carefully, like a small child
With too much water in a real glass
Clasped in two hands, across a space as vast
As living rooms, while gazes watch the waves
That start to rile the little inland sea
And slap against its cliffs’ transparency,
Revise and meet, double their amplitude,
Harmonizing doubt from many ifs.
Distant frowns like clouds begin to brood.
Soon there is overbrimming. Soon the child
Looks up to find a face to match the scolding,
And just as he does, the vessel he was holding
Is almost set down safely on the bookshelf. 

domingo, 10 de outubro de 2010

Maintaining ideas

"Think peace, act peace, spread peace."
"War is over (if you want it!)."

Modelo ultrapassado

É, Zé, sem dúvida é uma dona Encrenca.
Ela tem o comportamento de dona Encrenca, o engendrado raciocínio de uma legítima dona Encrenca, faz comentários de dona Encrenca, tem os excessos de quereres, frustrações, má educação e egoísmo de toda a dona Encrenca.  
Como legítima dona Encrenca é craque na manipulação, busca o controle e tem pressa; tem pressa a dona Encrenca.
Meninas, parem de seguir o ultrapassado modelo de suas mães!

Miscellanea

As plantas dos vasos que compõem minha mini jungle estavam sedentes. Mais de trinta litros de água para extinguir tanta sede. Plantas! Ah plantas!

O inverno passado teve, no máximo, cinco dias frios. Foi uma estação atípica, seca, abafada, quente. A seca insalubre que retira grande parte da nossa energia e bem estar. Em nada parecida com o duro clima seco de Brasília, a cidade feita de terra vermelha. A seca paulista é carregada de poluição.

Não, eu não redefino quem eu sou tampouco o que quero. Eu descubro quem eu sou e a partir desta descoberta eu saberei o que quero.

Novas flores surgiram no inverno. Meus lírios da paz floresceram em quantidade inédita e minhas violetas – eu havia me esquecido de suas cores – apareceram em seus vasos. Até a azaléia rebelde, este vaso cheio de folhas verdes que ganhei há três anos e cheguei a duvidar tratar-se de azaléia, apareceu. Rosa e branca, linda como ela só. Por três anos esta azaléia me ensinou a me contentar somente com suas folhas.

Na fase de quietude optei por ter um único aparelho telefônico em casa, usado o mínimo possível. Estive bem cansada com a perda de energia e tempo dos telefonemas vazios. Atualmente desenvolvo especial aversão à exposição involuntária do número do nosso telefone: Eu não quero receber ligações de “atendentes eletrônicas” (céus! Que ousadia essa, de disparar uma gravação para se comunicar conosco!), candidatos políticos, serviços de telemarketing (telemarketing e radares de trânsito deveriam ser extintos) e outras tão chatas quanto. Eu só quero receber ligações de pessoas que eu gosto, pessoas que têm algo a dizer.

Graças a Deus este é um país laico.

Não me rendi ao smartfone. Prefiro um celular burrinho, discreto e acanhado. Não vejo qualquer vantagem em estar conectada o tempo todo, disponível e onisciente dos fatos (relevantes ou não) que acontecem. Tal qual a vida, a internet demanda pausa.

Novas saias justas, ou, os diversos resultados da permanência em sites sociais: A marcação feita no facebook, que nos vincula a imagens nada, nada a ver. O que fazer? Não há a opção desmarcar e retirar a criatura da lista de amigos parece medida exagerada.

Poesia: A primeira chuva da primavera.

O chato período eleitoral deveria ser aproveitado para apresentação do planejamento feito pelos candidatos e seus assessores para a educação, a segurança pública, o sistema de saúde público e outros temas fundamentais para toda a população. Planejamento com força de ato consumado, metas e ações que serão efetivamente implantadas no período exato do mandato. Que tal um plebiscito para cada um dos demais temas?

Ninguém em sã consciência é a favor do aborto, procedimento duro, que também afeta a saúde emocional da mulher. Mas não é por sermos contrários ao aborto que ele deixará de existir, deixará de ser praticado na clandestinidade. Este não é o melhor raciocínio e está longe da perfeição. Afinal, não somos mulheres perfeitas, nem todos os homens são honestos e ideais, e nem todas as concepções/ gravidezes são planejadas e saudáveis. Qual é a efetiva solução?

Achei adorável a relação de Diane Keaton e Jack Nicholson e confirmei minha impressão ao assistir novamente Something’s gotta give (2003), de Nancy Myers. Há encantos muito especiais e exclusivos na relação amorosa da, assim dita, meia-idade.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nossa responsabilidade

Healthy eating

(Dr. Weil's anti-inflammatory food pyramid)

"The right diet can help protect against diseases that affect sight, including age-related macular degeneration (AMD), the leading cause of blindness in those over the age of 55. Researchers at the Agricultural Research Service (ARS)-funded Laboratory for Nutrition and Vision Research have found that the combination of a low-glycemic diet combined with vitamins C and E, zinc, lutein, zeaxanthin, and omega-3 fatty acids can help maintain quality of life and reduce health care costs due to sight-robbing eye diseases. The study examined dietary intake and other data from more than 4,000 men and women age 55 to 80, who had taken part in the long-term Age-Related Eye Disease Study (AREDS). The researchers ranked intake of several nutrients and then calculated a score designed to assess their combined effect on the risk of AMD.
My take? I’ve long advocated eating low on the glycemic index and have recommended increasing consumption of vitamin C, vitamin E, lutein and zinc to support vision health. I recommend these nutrients and lifestyle changes to address AMD."

Dr. Weil's daily blog

terça-feira, 5 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Existiam jardins onde a lua passeava

"Se eu fosse uma coisa, amaria ver-me
como comboio-correio. Longo e nocturno,
devassando o interior, contemplado
de fugida por pinhais e estrelas,
lobos, penhascos e embruxados.
Bom parar em todas as estações.
Cabecear de sono, beber vinho, ser
banco de campónios, crianças, contrabandistas.
Aldeã que reza, desdentada e solícita.
Em cada carruagem existe sempre
um voluntário palhaço que golfa
sua alegria: coroá-lo com o clarim
do galo. E deixar em todos os lugares
as ânforas de barro das paixões
(quase sempre mal-avindas, fortuitas,
temerosas): colaborar, encher
a inocente mala do carteiro."

*        *        *

"Não gosto deste perfil de gafanhoto.
Constante sou, trepido, usam-me,
servo da gleba. Rasgo e acamo,
tenho um veio de dolorosa, serena
transmissão. Custa levar de rojo
uma vaca à cova. Esmaguei já
uma perna. Detesto o peso do reboque.
Cinco anos e ainda não percebo estas
sujas peças que rodam em mim.
A escavadora, ao menos, uiva
(amo-a). Não me agrada a sucata."

*        *        *

" Gratidão que nem sabe
a quem deve ser grata.

Por um novilho, um poldro
vagueando na pastagem,
um farol, uma escada magirus,
uma vasilha de leite, de vinho

Por um beijo, uma sonda
que não regressa de Venus,
uma safra, uma ceifa
de amantes.

Por ser crente e descrente,
matricial e fiel
ferozmente a si próprio.

Ao início, ao que foi
expurgado, à placenta, grato."

*        *        *

"Criança que despeja um grilo,
pata a pata,
víscera a víscera,
da sua pequeníssima alma.

E não há quem refaça
o grilo e a criança."

*        *        *

" Ainda me acolho, Pai,
à tua madressilva.
Ali tens a passiflora,
não envelheceu.
O cedro grande, maior ainda.
O forno, dedadas
expungidas pelas portas.
A buganvília, não esqueço,
é preciso cortá-la.
A Mãe não está nem volta."  

*        *        *

"É triste não possuir uma casa de sementes.
Não adianta amar essas partículas ali ociosas,
nem desejar que nidifiquem sem granizo
e irrompam como a chama de uma vela.

É triste pagar um preço pelo que há-de nascer,
que o bersim perca a cor alazã penetrando na terra
e o trevo da Pérsia alimente a boca das reses.

É triste que não recusem essa densa, pródiga,
obstinada servidão, a vitalidade apaixonada pelo sol,
e não façam, como um camponês, as suas contas,
exigindo a Deus e aos homens o salário da maquinação."

Colcha de retalhos

O desencanto que eu tenho com a política em grande parte é resultado dos onze anos que vivi em Brasília.
À época o meu conhecimento técnico me rendeu convite indeclinável para trabalhar no Distrito Federal e durante aquele período, criei e gerenciei diversas áreas de empresa privada e também fui professora de Direito Civil em faculdade local.
Lá cheguei em 1993 e presenciei a mudança de Brasília durante os governos seguintes. Lá também perdi uma parte do meu idealismo, abandonei algumas ideias, só não alterei meus valores por isso fiquei mais sensível, refratária até.
A única certeza que hoje eu tenho em relação à eleição é a não obrigatoriedade do voto. Eu não sou feliz por ser obrigada a votar se não reconheço nos candidatos existentes a capacidade e a competência para serem meus representantes. O voto é direito que deveria depender da vontade do seu titular para ser exercido.
Para evitar a dura descrença e alimentar a esperança em um Brasil melhor, principalmente para os netos que um dia eu terei, eu quero acreditar que no futuro surgirão políticos competentes, capazes, eficazes e honestos, plenamente conscientes do espírito público e desinteressados nas vantagens pessoais, que administrarão este país do jeito que ele merece. Acredito que um dia aprenderemos a votar e, principalmente, deixaremos de embasar nossas escolhas em escusas pouco ou nada valorosas.

No segundo turno mais uma vez serei obrigada a votar sem ter em quem votar. Descubro que não aprecio a permanência, nem o retorno. Dedico meu especial apreço ao novo (competente, capaz e eficaz novo) que algum dia surgirá.

No tempo que solteira morei com meus pais, na São Paulo onde nasci, eu era vizinha de um dos editores do jornal O Estado de São Paulo. A cultura daquele jornalista e seu empenho no seu constante desenvolvimento e aprimoramento eram invejáveis. Era prazeroso ler suas matérias e compartilhar uma pequena parte do seu vasto conhecimento. Infelizmente e na grande maioria, os jornalistas que hoje atuam são carentes de preparo e, principalmente, de boa formação cultural. Com isso perdemos todos nós com a carência que vivemos de boas matérias, que poderiam aprimorar nosso próprio conhecimento.
Deixo este retalho na colcha que ora costuro, porque uma boa parte da responsabilidade proveniente do cenário político deste país é devida à imprensa.

Ontem à noite, no facebook, uma cineasta conceituada publicou o vídeo do show do palhaço Tiririca. Meu filho tinha acabado de chegar e enquanto eu comentava com ele sobre a inacreditável quantidade de votos conquistados pelo candidato Tiririca, principalmente em São Paulo, acessei o vídeo e meu filho acompanhou a música. Ele conhecia a letra.
Infelizmente, eu não escolhi o artista Tiririca sequer para meu entretenimento. Pelo visto estou fora da realidade.

Volto ao filho: Outra das minhas tristezas nesta eleição foi a impossibilidade de conversar com meu filho sobre as minhas escolhas.
É ruim não reconhecer a condição, a vocação e a capacidade para a nossa efetiva representação. No último domingo fomos juntos, meu filho e eu, para votar e depois apreciamos gostoso almoço em um restaurante do bairro.

Eu não estudei sociologia, antropologia, tampouco psiquiatria. Acho que por isso eu sou incapaz de analisar o comportamento dos eleitores. Eu não sei o que significam mais de 10% de votos brancos e nulos na votação para governador do estado de São Paulo, assim como não sei, no mesmo estado, o que significam os percentuais 27,35% na escolha de senadores, 15,77% na escolha dos deputados federais e 16,12% de votos brancos e nulos na escolha dos deputados estaduais. Todos percentuais, a meu ver, bastante elevados.

Houve um tempo no qual o número do nosso telefone, nosso endereço e email eram protegidos. Atualmente, parece que esses dados se tornaram públicos e disponíveis a qualquer um. Eu não sei como alguns candidatos ao senado foram capazes de utilizar o meu telefone para mensagens gravadas a pedir o voto. O serviço de telefonia oferece essa possibilidade?

Adoraria ser convencida que estes meus pensamentos soltos estão errados.

Swing Time, Rogers and Astaire

Olé! A criatividade em alta

Elizabeth Gilbert on nurturing creativity Video on TED.com

Bully, bullying, ou nossa incapacidade de definir e respeitar limites

Lembrei-me de uma frase comum, pouco usada por mim, talvez a mais apropriada para descrever a condição existente e não exercida de poupar o mundo de mais um terrível bully: “É de pequeno que se torce o pepino.”
O bully é o destemperado, valentão, brigão e agressivo, que amedronta e intimida os demais por meio da ameaça, da agressividade, da violência e de ardis utilizados para conseguir o que deseja. É considerado perverso e incapaz de exercer a empatia, manipulador, egoísta e, sobretudo, covarde em sua essência. Ao bully falta respeito, sensibilidade e a convivência com um bully, homem ou mulher, é insuportável.
O bullying é o assedio agressivo exercido continuadamente por aquele que se encontra, ou se posiciona, em determinada circunstância de poder; logo, compreende a violência (física/emocional/verbal) repetida, gera angústia, temor e acentua o desequilíbrio das diversas relações.
Ultimamente conferimos especial importância ao bullying escolar, sem dúvida perturbador, e cada vez mais confirmamos a total incapacidade de pais e escolas para a solução desse antigo fenômeno. É grande o despreparo e a ineficiência para a criação de prole saudável e respeitadora dos limites essências para a vida em sociedade. O bully é o pepino torto não consertado pelos pais, em conjunto com educadores e terapeutas, que contamina todas as relações de sua vida.
A agressividade do bullying não se limita à violência física, mas, sobretudo, encontra-se no comportamento ardiloso, agressivo e intimidador de determinadas chefias no ambiente de trabalho, de alguns companheiros, vizinhos e cada vez mais constata-se no cyberbullying e em outras diversas formas de expressão depreciativas que ferem a dignidade, a confiança e tolhem a liberdade das vítimas. Aquele que se relaciona com um bully não é livre, quanto muito se adéqua ao agressor.
A desmedida necessidade de controle, a rigidez, o comportamento obsessivo e colérico, além da personalidade autoritária do bully, são resultantes das atitudes deterioradas não corrigidas na infância.

sábado, 2 de outubro de 2010

Alphaville, Jean-Luc Godard

Entusiasmo eleitoral

Na véspera da grande eleição persevero e ainda tento encontrar entusiasmo. Não sei se foram os onze anos de Brasília que me deixaram refratária à política ou se é o desencanto com os candidatos existentes. Fico bem triste com o despreparo e  a confusão que continuam a fazer entre o público e o privado.
A única certeza que tenho é contrária ao voto obrigatório. Nós que esperamos tanto para votar, não deveríamos ser obrigados a exercer nosso direito se não existem candidatos que mereçam nosso voto. É triste, eu sei. Para piorar eu estou impressionada com as diversas justificativas das escolhas que ouço, nenhuma delas caracterizada pela condição meritória dos candidatos, em sua maioria desprovidos da natureza, da vocação e da capacidade para a nossa efetiva representação.

Reproduzo o texto de Ivan Lessa publicado na bbc. Bom humor é e sempre será essencial.

" As eleissão

Peço vênia para discordar. De uma porção de coisas, feito um candidato a deputado.

Como todo mundo sabe (é, vocês quatro) em matéria de votar, eu sou menos que principiante apesar da idade avançada. Nunca votei em minha vida. Porque era obrigatório. Proibiam de pastar na grama da praça, eu ia lá e me fartava. Proibiam de conversar com o motorista do ônibus, eu vivia puxando papo. A juventude é rebelde e eu era jovem.
Com os anos, a conjuntura do país viu que votar não estava mesmo com nada e deixaram essa frescura para lá. Só aí me deu vontade de votar. O moleque em mim amadurecera mas não aprendera nada. Deixaram-me, os “homi”, 21 anos sem pedir minha presença diante de uma urna eleitoral, por mais modesta que fosse.
A vida é dura. Por mais que a gente faça, acabamos aceitando suas sacanagens. Não é assim que se faz? Não é pra votar? Tudo bem. Entraram na minha. Não voto mesmo. De repente, como no esplêndido soneto do Vinícius, de repente, não mais que de repente, como quase tudo que se passa em nossa torrão, deram de novo para votar.
Aí a colher de chá virou chuá, conforme se dizia, na época de Getúlio e depois dos generais. Não se podia sair de casa sem uma escrutinização tendo lugar em plena via pública. Só dava altissonante alto-falante, cartaz na parede, discurso na esquina, digressões nos meios de comunicação e, principalmente, opinião. Opinião, opinião, opinião. Argumentos? Pouquíssimos. Palpite? Assim, ó, à beça!
Daí que chegamos a 2010. Eleição seguiu-se a eleição, com um pequeno impeachment no meio, feito a azeitona no martini seco. Pela parte que me toca, nada me tocou. Mudei de casa, estado, país. Não votando. Talvez para matar saudades da juventude perdida, aquela propalada aurora de nossa vida, nem passei perto de urna, presidente, mesário, esses bibelôs todos.
Agora, nesta quinta-feira, no dia em que digito estas mal informatizadas linhas, leio na primeira página virtual de nossas folhas que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não se decidiu se será necessário ou não para o eleitor levar, além do título, um documento made in Brazil que estampe foto do indivíduo que vai cumprir seu deverzinho cívico.
Parece que a indecisão é só pra me chatear. O negócio é complicar. Deve dar um dinheirão. A paranóia ronda aqueles de minha idade e em tudo vejo complôs e intentonas pessoais. Eu ia até o consulado brasileiro aqui, no domingo, dia 3, para votar. Só porque descobri, com um imenso atraso, confesso, que os analfabetos não só podem mas como são obrigados a votar. Minha alma é incapaz de um bê-a-bá. Ao dever cívico, pois, raciocinara este vosso criado.
Sim, no Brasil, o voto é obrigatório. Conto o fato para dois ou três amigos ingleses no pub, mostro o recorte da propaganda eleitoral da Mulher-Pera. Faço o maior sucesso. Dizem, em sua língua arrevesada, que eu sou “um pândego” e um “tremendo gozador”, que, em inglês, são duas expressões bem mais divertidas do que minha tradução.
Agora, quando, depois do sucesso de meu anedotário e da foto da Mulher-Pera, assim que me pagaram o próximo pint de lager, eu vou em frente e, sempre com base em nossa altaneira realidade (cada vez mais próxima de uma cadeira no Conselho de Segurança das Nações Unidas), procuro abafar ainda mais e revelo: sim, votar é obrigatório, agora bacana mesmo é que analfabeto vota, mas não pode ser candidato. Impossível descrever a reação de Tom, Dick e Kevin. Viraram os olhos vermelhos, caíram do banco, entornaram a cerveja. Mas, e isso é importantíssimo, a próxima rodada me sai inteiramente grátis.
Não é culpa minha, não é safadeza, não é falta de patriotismo. É bebida fermentada de graça e vontade de agradar. Uma espécie de cartão-postal do Rio com o Corcovado e o Pão de Açúcar pelos quais optei como ilustração.
Agora, o que eles pedem para ver de novo é a Mulher-Pera. Só para ser diferente, tiro do bolso a outra foto que guardo para ocasiões especiais: a do palhaço Tiririca, acompanhada de minhas devidas elucidações. Palhaço aqui é coisa séria. Tom, Dick e Kevin, com uma inesperada frieza, se despedem e vão cuidar de suas vidas.
Onde foi que errei? Onde foi que erramos todos?"

Imagem obra de Saul Steinberg