segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Musa

É mais casta do que eu
e só bebe água mineral.
Furtiva, insolente, caprichosa,
às vezes desaparece-me de casa
durante meses. Apetece-me
bater-lhe. Mas talvez a culpa
seja minha. Passo tanto tempo
a coçar a cabeça ou no terraço
a ver passar os aviões.
É natural que se farte de mim,
raramente estou em casa
quando chega, prefiro dormir
a ver televisão com ela
sentada nos meus joelhos.

Amiúde me pergunto
se compensam os tormentos
a que me força.
Meteu na cabeça fazer
de mim poeta, quando
o que eu gostaria era de ser
aviador. (Mas tenho medo
das alturas, e ela sabe-o.
Aproveita-se da minha
debilidade.)

Obriga-me a ficar de olhos
abertos
durante o sono, a estudar os
caninos que a vida me mostra,
o manual dos elementos, a
história
calamitosa dos meus erros.
É preciso ter estômago
para tanta solidão. Não admira
que muitas vezes a traia
com a Helena, com o bourbon
dos amigos, com o voo violeta
do jacarandá no Largo do
Viriato.
Mas não adianta, não sente
ciúmes,
ela própria me empurra
para os braços do mundo.

É tão exigente, tão snob, tão
tinhosa. Por ela, não havia
domingos nem feriados,
não havia verão. Era sempre
toda a vida um quarto escuro
com filmes de série B e
uma banda sonora de tiros,
soluços,
gargalhadas de teatro
anatômico.
Marca-me duelos – é louca! –
com temíveis espadachins,
à vista dos quais a minha alma
treme dos pés à cabeça. Diz que
me faz bem sangrar um bocado,
que é minha amiga, talvez.

Fria, severa, calculadora,
tenta o que pode para contrariar
a minha natureza ruidosa,
paciente, sentimental.
Diz que é uma porcaria
escrever com lágrimas, recita
Mallarmé, levanta-se de noite
para me rasgar os poemas.
Não é fácil aturá-la.

Só para me irritar, muda
o nome de todas as coisas:
se vê um massacre chama-lhe
acre de terra lavrada,
vê um mendigo chama-lhe
trigo, vê uma porta
e chama-lhe susto.
Às vezes pergunto-me
se não será parva.

A verdade é que não sou feliz
com ela, apenas um pouco
mais solitário.
Mas sem ela – vejam que
tristeza, que abandono, que.

domingo, 30 de agosto de 2009

Empatia

Sim, sim eu sei. Há tempos eu sei, mas não queria acreditar. Nem sempre saber e acreditar nos guiam pelo mesmo caminho. Sempre achei exagerado o cuidado recomendado sobre o desejado. Ora, mas o desejado só pode ser o melhor pra nós. Quanto engano. De repente acordamos e fazemos as pazes com Deus e a vida, pela proteção recebida com a negativa do anelado. Tudo começa por saber bem o que queremos. Saber o que queremos e querermos o nosso bem, sem provocar o mal a ninguém. Dá até pra sentir inédito nojinho.

Dúvidas sobre a gripe suína

Infectologistas em todo o mundo estão trabalhando para responder a casos de gripe suína no México, nos Estados Unidos e no Canadá, além de suspeitas em outros países. Entenda o que é a doença e quais seus riscos.

- O que é a gripe suína?
É uma doença respiratória que atinge porcos causada pelo vírus influenza tipo A, que tem diversas variantes. Algumas das mais conhecidas são a H1N1, a H2N2 e a H3N2. O atual surto, que teve início na América do Norte, é provocado por uma versão mutante do vírus H1N1 capaz de infectar humanos e se propagar de pessoa para pessoa.

- Quais são os sintomas da gripe suína?
Os sintomas da gripe suína em humanos parecem ser semelhantes aos produzidos por gripes comuns, sazonais. Esses sintomas incluem febre, tosse, garganta inflamada, dores pelo corpo, sensação de frio e fadiga.

- Esta doença no México é um novo tipo de gripe suína?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou que alguns dos casos registrados são formas não conhecidas da variedade H1N1do vírus Influenza A.
Ele é geneticamente diferente do vírus H1N1 que vem atacando humanos nos últimos anos e contém DNA associado aos vírus que causam as gripes aviária, suína e humana, incluindo elementos de viroses europeias e asiáticas.
Os vírus da gripe têm a capacidade de trocar componentes genéticos uns com os outros, e parece provável que a nova versão do H1N1 resultou de uma mistura de diferentes versões do vírus, que podem normalmente afetar espécies diferentes no mesmo animal hospedeiro. Os porcos normalmente oferecem uma condição boa para que esses vírus se misturem.

- O quanto as pessoas devem se preocupar?
Quando um novo tipo de vírus da gripe aparece e adquire a capacidade de ser transmitido de pessoa para pessoa, é monitorado de perto para verificar seu potencial de gerar uma epidemia global, ou pandemia. A Organização Mundial da Saúde advertiu que, considerados em conjunto, os casos no México e nos Estados Unidos podem gerar uma pandemia e afirma que a situação é séria.
Porém os especialistas dizem que ainda é muito cedo para avaliar completamente a situação. Atualmente, eles dizem que o mundo está mais perto de uma pandemia do que em qualquer época após 1968. Ninguém conhece todo o impacto potencial de uma pandemia, mas especialistas advertem que poderia custar milhões de vidas em todo o mundo. A pandemia de gripe espanhola, iniciada em 1918 e também causada por um tipo de vírus H1N1, matou 50 milhões e infectou 40% da população mundial.Mas o fato de que em todos os casos registrados nos Estados Unidos os sintomas eram leves pode ser encorajador. Isso sugere que a gravidade do foco no México pode ser resultante de algum fator específico ligado à localização - possivelmente um segundo vírus não relacionado que circula na comunidade. Outra hipótese é de que as pessoas infectadas no México podem ter buscado tratamento num estágio posterior da doença.Também pode ser o caso de que a forma do vírus circulando no México seja ligeiramente diferente da registrada em outros lugares, mas isso só poderá ser confirmado por análises de laboratório. Também há a esperança de que, como os seres humanos são normalmente expostos a formas do H1N1 por meio de gripes sazonais, nossos sistemas imunológicos já estão preparados para combater a infecção.Porém o fato de que muitas das vítimas serem jovens aponta para algo incomum. As gripes sazonais normais tendem a afetar mais os idosos ou os bebês.

- O vírus pode ser contido?
O vírus parece já ter começado a se espalhar pelo mundo, e muitos especialistas acreditam que a sua contenção, numa era de viagens aéreas fáceis, deverá ser muito difícil.

- A gripe suína pode ser tratada?
As autoridades americanas dizem que duas drogas geralmente usadas para tratar casos de gripe, Tamiflu e Relenza, se mostraram úteis no tratamento de casos que aconteceram até agora. Porém esses remédios devem ser ministrados nos estágios iniciais da doença para terem efeito. O uso desses medicamentos também torna mais difícil que pessoas infectadas passem o vírus para outros.
Ainda não está claro que efeito as atuais vacinas podem ter para oferecer proteção contra o novo tipo do vírus, já que ele é geneticamente diferente de outros tipos. Uma vacina foi desenvolvida em 1976 para proteger os seres humanos de um tipo de gripe suína. Porém a vacina provocou efeitos colaterais graves, com mais mortes por causa da vacina do que por causa do foco de gripe.

- O que eu devo fazer para me proteger?
Qualquer pessoa com sintomas de gripe e que podem ter tido contato com o vírus da gripe suína, como aqueles que moram em áreas afetadas do México ou viajaram para o país, devem procurar ajuda médica. Mas os pacientes não devem ir a clínicas médicas, para evitar transmitir a doença para outras pessoas. Em vez disso, elas devem ficar em casa e contactar seus serviços de saúde para receber recomendações. Nesta segunda-feira, a União Europeia recomendou aos seus cidadãos que evitem viajar às áreas afetadas pela doença.

- Que medidas posso tomar para evitar a infecção?
Evite contato com pessoas que parecem não estar bem e que tenham febre e tosse. Medidas comuns para se evitar infecções e de higiene manual podem ajudar a reduzir a transmissão de viroses, incluindo a gripe suína em humanos.
Estas medidas podem ser simples como cobrir a boca e o nariz quando tossindo ou espirrando, usar um lenço de papel quando possível e jogando-o fora logo após o uso. É importante também lavar as mãos frequentemente com água e sabão para evitar que o vírus se propague de suas mãos para a face ou para outra pessoa. Outra providência é limpar a maçaneta de portas com frequência, usando produtos normais de limpeza. Ao cuidar de uma pessoa gripada, o uso de máscara cobrindo o nariz e a boca diminui o risco de transmissão.

- É seguro comer carne de porco?
Sim, não há evidência de que a gripe suína pode ser transmitida ao se comer carne de animais infectados. Mas é essencial que a carne tenha sido cozida direito. Uma temperatura acima de 70°C mataria o vírus.

- E a gripe aviária?
O tipo de vírus da gripe aviária responsável pela morte de algumas centenas de pessoas no sul da Ásia nos últimos anos é diferente do da gripe suína. O vírus da atual gripe suína é o H1N1 e o da gripe aviária é oH5N1.Especialistas temem que o H5N1 tem o potencial de gerar uma pandemia por causa de sua capacidade de mutação rápida.Mas até agora, ela permanece de forma geral uma doença de pássaros.Os humanos infectados, sem exceção, trabalhavam em contato próximo com pássaros e casos de transmissão entre humanos são extremamente raros. Não há indícios de que o H5N1 tem a habilidade de ser transmitido facilmente de uma pessoa à outra.

Vírus dominante

A OMS alertou para uma "segunda onda" de contágios. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou nesta sexta-feira que o vírus da gripe suína agora é a variedade de vírus de gripe dominante na maior parte do mundo.


De acordo com um comunicado no site da organização, provas recolhidas em vários locais onde ocorreram epidemias do vírus A (H1N1) mostraram que ele proliferou rapidamente.
"O monitoramento pela rede de laboratórios da OMS mostra que o vírus, em todos os locais onde há surtos, permanece virtualmente idêntico. Estudos não detectaram sinais de que o vírus tenha sofrido mutações para uma forma mais perigosa ou fatal", informou a OMS em seu site.
"A grande maioria dos pacientes continua sofrendo de uma doença leve. Apesar de o vírus poder levar a uma doença muito grave e fatal também em pessoas jovens e saudáveis, o número de casos assim permanece pequeno." A OMS também advertiu que "a pandemia vai persistir nos próximos meses enquanto o vírus continua se movendo entre as populações suscetíveis".
Segunda onda: Em sua declaração, a OMS afirma há o risco de uma segunda grande onda de contaminação pelo vírus da gripe suína. "Países de clima tropical, onde o vírus da pandemia chegou mais tarde, também precisam se preparar para um aumento do número de casos."
"Países nas partes temperadas do hemisfério sul devem permanecer atentos. (...) Locais restritos com aumento de transmissão podem continuar surgindo mesmo quando a pandemia já tiver atingido seu auge no nível nacional."
A OMS também alertou que grandes números de pessoas em todos os países continuam suscetíveis à doença e que, mesmo se o padrão de uma doença menos grave continuar, o impacto da pandemia durante a segunda onda pode ser pior. "Números maiores de pessoas gravemente doentes, que precisam de cuidados intensivos, poderão se transformar no problema mais urgente para os serviços de saúde, criando pressões que podem sobrecarregar unidades de terapia intensiva e possivelmente prejudicar o fornecimento de tratamento para outras doenças."
A organização acrescentou que, como boa parte dos dados atuais a respeito da pandemia de gripe suína vem de países mais ricos, a situação nos países em desenvolvimento precisará ser monitorada com muita atenção. "O mesmo vírus que causa problemas gerenciáveis em países ricos pode ter um impacto devastador em muitas partes do mundo em desenvolvimento", informou a organização em sua declaração.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Somehow the action has at last gone beyond

Indoors for this as
his through the bark:
notice its colour – asphalt

or slate in the rain
then go inside, tasting
weather in the tree rings,

scoffing years of drought and storm,
moving as fast as a woodworm
who finds a kick of speed

for burrowing into the core,
for mouthing pith and sap,
until the o my god at the heart.

* * *

Uncertainty is not a good dog.
She eats bracken and sheep shit,
drops her litters in foxholes
and rolls in all the variables,

wriggling on her back, until
she reeks of them,
until their scents are her scents.
She takes sudden, windy routes

through hummocks, cairns and ditches
so you can't spot where she is
and acknowledge her velocity
at the same time. She’s fidgety,

but still careful to snuffle
through all the mud on the trail.
She can't see in the dark
but bumps her snout

on the overhang lapping
the path. Daylight’s no better:
she has to screw her eyes
tight against the glare

and, panting, just risk it, following
her nose across the landscape
her tongue brighter than probability,
brighter than heather, winberry and scree.

* * *

It’s a hot night. We walk the highwalk
from the tube. The concrete walls
seep warmth and we smell

garden flowers, hear city church bells,
loiter in the odd sweet spot until
the sound of water falling

tugs us on. Lakeside, we know
if there’s a muse
of concrete, she lives

here, inside these buildings
made of crushed Welsh
granite and of rain. Through

the doors and now our ears
are caves, our minds
cathedrals of flash and glow,

until we are beside ourselves and
our hearts have softened in our bodies
and when we go back out the street is silk.

Sinais

Você não tem tempo, quer dizer, você organiza mal seu tempo, ou, você se esqueceu de dizer "não" aos que se intrometem em seu tempo. Assim, você consegue dar conta de muitas coisas, mas, sempre deixa algo de lado, para mais tarde. Muitas coisas se resolvem dessa maneira: Se o que foi deixado de lado - sem dúvida uma das formas de priorização - com o tempo assume sua real desnecessidade e ausência de importância, então, foi resultado de demanda equivocada, de idéia vã.
Na organização da sentença matemática tempo x atividade = resultado, você encontra inúmeras variáveis como: trânsito, chuva, acidente, reuniões intermináveis e aos poucos se torna mestre em equilibrar vários pratos de fina porcelana chinesa postos no alto de varetas de bambu. O segredo para a permanência dos pratos lá, no alto, para deleite do respeitável público é a movimentação constante das varetas. Você sente sono e não consegue dormir, ou, dorme e acorda de madrugada. Às vezes suas pernas incham um pouco. Um dia qualquer você sobe a escada de sempre, na velocidade habitual e no último degrau parece sufocar e o seu coração prestes a explodir. Durante a semana, do nada, surge inédita dor de cabeça insuportável e incapacitante, coincidentemente, no mesmo dia, ou um dia antes da vinda de nova frente fria a destrambelhar a temperatura da cidade. Você sente enjôo, mal estar, sono incontrolável, todos componente do kit cabeça dolorida com o brinde adicional dos olhos lacrimejantes. Após o almoço, ou no final da tarde, você percebe que a calça jeans, um pouco larga na cintura, ficou na medida exata do seu corpinho de princesa. E as super lentes multifocais resolvem desfocar algumas letrinhas, sem qualquer importância. Motivo para tudo isso? Estresse, cansaço, retenção de líquidos, nervoso por conta dessa ou daquela situação e a nova função, por você recebida, de barômetro ambulante a prever as mudanças do tempo.
Dizem que a hipertensão é silenciosa e de fato ela é. Mas a pressão alta também costuma mandar recados estridentes através dos sintomas acima descritos (e outros possíveis), por nós considerados secundários, resultados da vida corrida ou qualquer justificativa esfarrapada que costumamos assumir. No fundo, tudo vira a ‘genérica virose’ com a qual alguns médicos costumam justificar do calo no dedinho do pé à perda de memória.
O câncer também costuma ser silencioso e a percepção desse malandro astuto, depende muito do conhecimento do nosso próprio corpo e mente. O sinal sempre vem, sempre. Nós nos esquecemos de perceber, de prestar mais atenção, de valorizar nossa intuição.

Da coluna de Betty Milan - publicada na Veja há algumas semanas, sobre a atitude de Emmanuel Dreuilhe em sua luta contra a Aids - é o seguinte texto: “...encontrou suas metáforas guerreiras. Passou a raciocinar como um estrategista, saindo da condição de vítima para a condição de combatente. Só escreveu sobre a sua dor para se defender. Como se entoasse uma ária marcial contra o vírus da aids. O vírus, segundo ele, afeta menos a imunidade do que a confiança. E a falta de confiança resulta em culpa. Ela ronda não apenas o doente de aids como o de câncer. Aids e câncer são palavras que desnorteiam, marcam e fazem perder a razão
". Isso ficou tão claro na atitude de algumas pessoas ao saberem sobre o meu câncer, incapazes que foram de repetir o nome da doença e o temor de seus olhares pelo absurdo contágio. Não duvido que ao ouvirem a palavra câncer batam na madeira três vezes e entoem alguma mandinga, parecida com a do pé de pato que mangalô três vezes, que e eu não tenho ideia o que significa.

Sem dúvida o bom humor é excelente para tudo. Nesta semana estive com minha médica preferida e finalmente interpretei corretamente todos os sinais, velhos conhecidos e por mim imediatamente detectados nas crises hipertensivas de minha mãe, mas tão esquecidos para mim. Ah, lindona, por um tempinho desviou-se do acordo feito de finalmente cuidar-se e não somente cuidar dos outros. A minha hipertensão é causada por um medicamento que tomo por algum tempo, apropriadamente receitado pela outra médica preferida, cujo efeito colateral foi sabiamente detectado pela primeira. Ela aumentou a dose do medicamento x, dividiu a dose do medicamento y ao longo do dia, explicou todo o mecanismo do remédio no organismo. Aceitou a brincadeira 'não tô entendendo', respondeu que eu estava com preguiça de pensar, escreveu na caixa do remédio a dosagem diária fracionada, eu pedi para que ela desenhasse, ela quis rascunhar antes de desenhar e imitou o gesto exato de uma sexy bomb blonde girl. As divertidas brincadeiras entre um livro e outro de Karen Horney, a mim gentilmente emprestados pela médica e a edição esgotada, que encontrei num sebo, do exemplar que há anos ela havia perdido. Rir é essencial.

Sigo o conselho e por quatro dias medirei a pressão diariamente, não em casa (descartamos o medidor de pressão após a morte de minha mãe), mas na máquina instalada na drogaria (mesma máquina, horários diferentes) por mim imediatamente apelidada de discretinha. A justificativa da farmacêutica - que justo na minha vez resolveu treinar a balconista para orientar os clientes - sobre a voz extremamente alta que sai da máquina seria a surdez dos usuários idosos que necessitariam dos gritos emitidos pelo trambolho: Se você mede mais de um metro e meio aperte o botão vermelho. Após algumas indiscrições ouvidas por todos na farmácia e fora dela, o resultado saiu no papelzinho impresso. A minha experiência inicial com a discretinha foi mais interessante pela total falta de, total falta de tudo da farmacêutica, que se adiantou, pegou meu resultado, leu, olhou para mim com cara de espanto e perguntou seu eu conseguia me locomover normalmente. Garanti que sim, afinal, eu havia acabado de voltar a pé do trabalho, seguido pelo meu conselho para a aprendiz: Por favor, a não ser que lhe seja solicitado, não leia o resultado de seus clientes, tampouco faça qualquer expressão de espanto, porque há pessoas bem suscetíveis que podem passar mal aqui, na sua frente. Discretinhas.

Devemos nos cuidar.

Imagem obra de Picasso

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Alterações climáticas

Cientistas de mais de 130 países indicaram neste ano em um relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, na sigla em inglês) que é “muito possível” que a atividade humana seja a causa das mudanças climáticas. Os gráficos abaixo ilustram as previsões sobre como as temperaturas do planeta devem aumentar no próximo século. O IPCC diz que as temperaturas têm grande chance de aumentar de 1,8ºC a 4ºC até 2100. Mas há também a possibilidade de que essa variação seja de 1,1ºC a 6,4ºC. Os mapas mostram como três cenários de variações de temperatura podem afetar diferentes partes do planeta.


Os cenários A1B, A2 e B1, usados para criar os mapas acima, são baseados em dados econômicos e tecnológicos. Esses cenários consideram diferentes aumentos populacionais, o uso de combustíveis fósseis e alternativos e o conseqüente crescimento na emissão de CO2. Os resultados estão nos gráficos abaixo:

O dióxido de carbono é o principal gás do chamado efeito estufa e o aumento da sua emissão desde a Revolução Industrial é claro. A queima de carvão, o uso do petróleo e o desmatamento são atividades que liberam CO2 na atmosfera.

Outros dois importantes gases de efeito estufa são o metano e o óxido nitroso. Ambos estão muito menos presentes na atmosfera que o CO2, mas têm um efeito muito mais devastador e sua presença também está crescendo. O metano provoca 20 vezes mais danos que o CO2, enquanto o óxido nitroso é 300 vezes mais forte.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/11/071109_clima_graficosrg.shtml

Saúde

Dieta pobre em carboidratos danifica as artérias

A dieta rica em proteínas aumentaria riscos de arteriosclerose
Cientistas americanos sugerem que as dietas pobres em carboidratos e ricas em proteínas aumentam o risco de infartos e ataques cardíacos porque causam danos nas artérias. Os pesquisadores do Beth Deaconess Medical Center, da Universidade de Harvard, testaram três dietas diferentes em camundongos e afirmam que a alimentação rica em peixes, carnes e queijo – como as dietas de Dr. Atkins e South Beach, por exemplo – causaram danos às artérias dos roedores. Os animais foram divididos em três grupos: o primeiro recebeu uma dieta padrão, o segundo uma dieta ocidental rica em gordura e o terceiro recebeu uma dieta pobre em carboidratos e rica em proteínas.
Depois de 12 semanas, os cientistas analisaram os camundongos e identificaram que a dieta pobre em carboidratos não havia alterado os níveis de colesterol nos animais testados. A equipe identificou, no entanto, uma diferença significativa no impacto na arteriosclerose – formação de uma placa de gordura na parede arterial que pode levar a ataques cardíacos e infartos.
Segundo os resultados, publicados na edição mais recente da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, os camundongos que receberam a dieta pobre em carboidratos haviam ganhado menos peso, mas desenvolveram 15% a mais de arteriosclerose do que aqueles com a dieta padrão. O grupo que recebeu a dieta ocidental apresentou um aumento de 9% nos níveis de arteriosclerose. Os pesquisadores não explicaram as razões para esse efeito negativo nas artérias, mas sugerem que as dietas pobres em carboidratos podem afetar o modo como as células da medula óssea limpam os depósitos de gordura das artérias. As dietas ricas em proteínas e que reduzem ou cortam o consumo de carboidratos atraíram atenção e controvérsia depois de um aumento de adeptos desses regimes na década de 90.
Efeitos: Segundo o pesquisador Anthony Rosenzweig, principal autor do estudo, os resultados foram tão preocupantes que ele decidiu interromper a dieta pobre em carboidratos que estava seguindo.“Nossa pesquisa sugere que, pelo menos em animais, essas dietas podem ter efeitos cardiovasculares adversos”, disse.
“Tudo indica que uma dieta equilibrada, combinada com exercícios frequentes é provavelmente melhor para a maioria das pessoas”, afirmou o pesquisador.
Joanne Murphy, da Stroke Association, também afirmou que uma alimentação equilibrada é a melhor recomendação.“Sabemos que alimentos como a carne vermelha e produtos lácteos, ricos em proteínas, também contém altos níveis de gordura saturada que podem ficar armazenadas nas artérias”.Murphy afirmou ainda que a pesquisa da Universidade de Harvard ainda está no estágio inicial e que ela gostaria de ver mais avanços no assunto. Ellen Mason, da ONG British Heart Foundation, afirmou que é difícil aplicar os resultados em humanos, mas afirmou que as dietas ricas em proteínas “não são tão saudáveis quanto a alimentação equilibrada”.



Pipoca pode ajudar a evitar câncer

Pipoca é rica em antioxidantes, dizem cientistas
A pipoca e outros cereais matinais contém “quantidades surpreendentes” de substâncias antioxidantes conhecidas como polifenóis – que têm potencial de diminuir o risco de câncer e doenças cardíacas – normalmente encontradas em frutas e legumes. O estudo foi apresentado por cientistas da Universidade de Scranton, na Pensilvânia, durante a 238ª Reunião da American Chemical Society (ACS), em Washington. Os polifenóis são a principal razão pela qual frutas e legumes – e alimentos como chocolate, vinho, café e chá – se tornaram conhecidos por seu potencial para diminuir o risco de doenças. Até agora, acreditava-se que esses cereais eram alimentos saudáveis e ajudavam a combater o câncer e doenças cardíacas por causa de seu alto teor de fibra, mas segundo os autores do estudo, ninguém havia comprovado a alta presença de polifenóis. “Mas recentemente, os polifenóis emergiram como potencialmente mais importantes. Os cereais matinais, macarrão, biscoitos e salgadinhos feitos à base de grãos (como pipoca) constituem mais de 66% do consumo de grãos na dieta americana”, disse o químico Joe Vinson, autor do estudo. Segundo os cientistas, a quantidade de antioxidantes encontradas em cereais integrais é comparável à encontrada nas frutas e legumes, por grama. Os polifenóis são substâncias químicas encontradas em muitas frutas, legumes e outras plantas, como frutas vermelhas, nozes, azeitonas, folhas de chá e uvas. Conhecidos como antioxidantes, eles removem os radicais livres do corpo. Os radicais livres são substâncias que têm potencial de danificar células e tecidos do corpo. Os cereais integrais com maior quantidade de antioxidantes são feitos com trigo, milho, aveia e arroz, nesta ordem, segundo Vinson. Segundo o químico, farinhas integrais também tem alto teor de antioxidantes, salgadinhos de grãos integrais tem ligeiramente menor quantidade de antioxidantes do que cereais matinais e, dentre esses salgadinhos, a pipoca é a mais rica em antioxidantes.


Cortar calorias pode melhorar memória

Especialistas alertam para os riscos de seguir dieta sem médicos.
Uma pesquisa realizada na Alemanha indica que cortar em 30% a ingestão de calorias pode melhorar a memória.
Na pesquisa, voluntários, que tinham em média 60 anos de idade, foram divididos em três grupos. O primeiro seguiu uma dieta normal; o segundo teve um regime semelhante, mas com mais ácidos graxos insaturados (encontrados no azeite de oliva e nos peixes, por exemplo); e o terceiro adotou a dieta com 30% menos calorias. Depois de três meses, os dois primeiros grupos refizeram testes de memória e seus resultados foram os mesmos. Já os 50 voluntários do terceiro grupo conseguiram mais pontos após a dieta. Eles também apresentaram outros sinais de melhora física, com uma queda nos níveis de insulina.
Segundo os cientistas, essas mudanças poderiam explicar o melhor desempenho da memória, ao manter as células cerebrais mais saudáveis."As descobertas podem ajudar a desenvolver novas estratégias de prevenção e tratamento para manter a saúde cognitiva até a velhice", disseram os autores da pesquisa em um artigo publicado na revista do Proceedings of the National Academy of Sciences.
A pesquisa aumenta ainda mais o interesse nos possíveis benefícios de dietas de restrição de calorias. Pesquisas recentes com animais tinham sugerido que as dietas podem ajudar a ampliar a longevidade e a retardar o início de doenças relacionadas ao envelhecimento. Mas ainda não se sabe ao certo se esse seria o caso em humanos e se o corte nas calorias deveria ser ou não "radical".
O mecanismo que pode trazer esses benefícios ainda estão sendo investigados. Há teorias de que a redução calórica diminuiria a produção dos chamados radicais-livres, que provocam o envelhecimento celular.
Especialistas em nutrição, no entanto, alertam para os riscos de se adotar uma dieta alimentar sem acompanhamento médico. "Todos - especialmente aqueles que já estão com peso normal ou abaixo do normal - precisam ser extremamente cuidadosos ao tentar fazer uma dieta", disse à BBC uma porta-voz da British Dietetic Association."Existem outros estudos que mostram que a redução de calorias ou de refeições pode interferir na memória e nas funções cerebrais
.

Relaxar é mais eficaz que dieta para emagrecer

Relaxar pode ser uma forma mais eficaz de perder peso do que fazer dieta, sugeriu um estudo da Universidade de Otago, na Nova Zelândia.
A pesquisa acompanhou por dois anos o progresso de 225 mulheres com o peso acima da média e obesas que, divididas em três grupos, participaram de programas diferentes que incluíam meditação e visualização positiva; exercício físico e nutrição e folhetos com informações nutricionais. Cada programa tinha a duração de dez semanas. O primeiro grupo foi o que teve mais sucesso na perda de peso - uma média de 2,5 quilos. "Nós descobrimos que a intervenção mais bem sucedida envolveu o intenso treinamento em técnicas de relaxamento ao mesmo tempo em que equipamos as mulheres para reconhecerem e evitarem estresse que leva (uma pessoa) a comer", disse a co-autora da pesquisa, Caroline Horwath, do Departamento de Nutrição Humana.
Longo prazo: Horwath disse que o fato de os programas "terem sucesso em impedir o aumento do peso por 12 meses é um resultado muito positivo".
A pesquisa mostrou que a abordagem dietética tradicional de restringir tanto calorias quanto tipos de alimento traz poucos resultados em se conseguir a perda de peso no longo prazo, afirmou Horwath. "Dentro de cinco anos, várias pessoas em dieta recuperaram o peso que perderam e acabam mais pesadas do que quando começaram. Elas também tendem a desenvolver atitudes muito insalubres em relação a comida e perdem sua habilidade natural para reconhecer quando estão com fome ou saciadas." A abordagem sem dieta se concentra em melhorar o estilo de vida para reforçar a saúde independentemente da perda de peso, disse a pesquisadora. "Todos os três tipos de intervenção no estudo encorajaram mulheres a se libertarem de dietas crônicas e a fazerem mudanças sustentáveis no seu estilo de vida. Isto incluiu prestar atenção na sensação de fome e saciedade, ao invés de se concentrar na perda de peso." "Nós fornecemos ferramentas para ajudá-las a lidar com pensamentos, emoções e atitudes para encorajá-las a recuperar o prazer de comer como uma atividade natural ligada à fome ao invés de ao estresse." O programa, adaptado de um desenvolvido pelo Harvard Mind-Body Medical Institute, mostrou uma melhoria significativa na redução de sintomas psicológicos como ansiedade e depressão e sintomas médicos como dor, fadiga e insônia, concluiu Horwath. O estudo foi divulgado no American Journal of Health Promotion.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Cinquentinhas

Sintético

"A ciência não pode parar. Ela vive correndo. Como se disputasse uma maratona com a humanidade. Não há dia que passe que a ciência não dê mais uma corridinha em direção... em direção a quê? Não se sabe. Pouco importa."

"Como nas maratonas e outros esportes, o importante é competir. Lá está ela de novo se preparando para mais uma volta olímpica. Desta vez, foram ao busílis da coisa. Estão mexendo com aquilo que, desde o primeiro filme do monstro criado pelo Dr. Frankenstein, ficou provado, para qualquer cinéfilo ou mero espectador interessado, ser mais do que desaconselhável: tentar criar vida artificial. Corrijo-me, vida de verdade. Vida pra valer. De artificial, bastam as flores e frutas que pessoas pobres e de gosto dúbio gostam de botar em cima da mesa.
Cientistas revelaram que, pela primeira vez, células-tronco foram usadas para a criação de esperma sintético. Genuíno, quase. Que um leigo ou uma leiga não saberiam dizer se há diferença entre um e outro. Feitos esses adoçantes artificiais que de uns anos para cá podem ser encontrados nas boas farmácias do ramo. Sem entrar em detalhes (embora louco para entrar em detalhes), a notícia levanta as mais doidas, as menos criteriosas possibilidades. Estamos em pleno mundo da ficção científica. Philip K. Dick, chega-te pra lá. Eu e você, companheiro, tornamo-nos, assim sem mais nem menos, de um dia para o outro, absolutamente dispensáveis. Num futuro não muito distante, bastará à senhora ou senhorita chegar no devido estabelecimento comercial - e alguém tem dúvida de que o precioso sêmen será prontamente industrializado? - e fará suas compras. Já entreouço o diálogo:
- Moço!
- Pois não, minha senhora.
- Senhorita, se faz favor.
- Perdão. Senhorita.
- É aqui que tem esperma pra vender?
- Precisamente. Mas nós preferimos chamar de "Preparado X".
- Eu gostaria de ver um.
- Ver não dá. Posso apenas mostrar alguns resultados e os depoimentos de clientes satisfeitas.
- Ocá. Taca ficha.
- O "Preparado X" não pode ser tacado nem tem ficha. Ele é aplicado na feliz compradora aqui mesmo. Num desses cubículos à sua esquerda. Aliás, cubículos de luxo dispondo das mais modernas facilidades.
- Leva tempo?
- Uns nove meses.
- Eu digo, para fazer a... a... aplicação.
- Absolutamente. Dez minutinhos e, em menos de um ano, a senhorita terá o bebê que preferir seu, todo seu e de mais ninguém.
- É caro?
- Pouquinho. Mas compensa.
- Dão garantia?
- Só de parto. Garantimos a sopa genética. Depois, é com a senhorita e a vida.
- A gente pode escolher o... ahn ... sexo do bebê? E algumas características de sua personalidade?
- Com toda certeza. No momento, as meninas estão tendo mais saída que os meninos. Quanto às características pessoais, perto de 60% do escolhido é tiro e queda, se me perdoa a expressão.
- Então tá. Eu vou querer uma menina. Loirinha. Mais para a engraçadinha que a gostosona. Nem muito burra nem muito inteligente. Assim-assim. Que dê para o gasto. Mais para a virtuosa que a fútil. Religiosa só um pouquinho. Bem dotada nas prendas domésticas. Que goste de cinema, rock e esportes, com preferência no tênis. Que...
Sou capaz de jurar que já tem gente - senhoras e senhoritas, sem dúvida - querendo saber quando é que a novidade chega à praça."

Ivan Lessa
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/08/090828_ivanlessa_tp.shtml

Imagem de Athar Hussain

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Double ring

Abobrinhas kits

Kits para auxiliar corações (e mentes) perdidas, da linha de produtos bom humor é essencial






















Kit3: Rex, Bilú e Cheiroso, os três cães guias

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Abrobrinhas casamenteiras

Por natureza o casamento é complicado. Duas pessoas criadas de formas distintas, com experiências e vivências próprias, manias, costumes, complexos, traumas, neuroses desenvolvidas desde a gestação no útero materno, resolvem deixar parte das diferenças de lado (ou fingir que deixam parte das diferenças de lado) para investir sentimento, tempo, energia, dedicação na vida a dois. Vida a três, quatro, cinco, seis, sete, filhos, parentes, amigos, vizinhos e a coisa se complica cada vez mais. Semana passada li sobre o fim do casamento de Robin Wright e Sean Penn - o terceiro fim desse casamento - e lembrei como Penn tinha a cara e o jeito de enfant terrible, de criaturinha difícil e indomável, até que em 1985 se casou com Madonna e com ela ficou por quatro anos. Em 1989 a relação com Robin se tornou pública, Penn e Robin se casaram em 1996 e discutem a divisão dos bens em 2009. No tempo de Madonna havia desagradáveis manchetes sensacionalistas sobre agressões físicas, só não me lembro quem teria batido em quem. De qualquer maneira era claro que Robin já andava pelo pedaço, do mesmo jeito que agora, escrevem sobre Natalie Portman.
Que Sean Penn se tornou ótimo ator e excelente diretor não existe qualquer dúvida. Que o povo de Hollywood parece gostar do moço, também não se discute. De tudo isso, marcou a frase que Robin teria dito em entrevista para a revista More: “Eu peguei a estrada há um tempo. Para Robin (ela apontou para si mesma), o discurso de ‘eu não sei o que quero’ estava acendendo luzes de neon”. “Eu não sei o que quero” é tão esquisito quanto “eu estou perdido”. Esquisito e infantil. Normalmente, o moço sabe exatamente o que quer manter, o que quer acrescentar e o que quer deixar de lado, mas ainda não tem coragem ou não conquistou condição financeira suficiente, para criar o harém de seus sonhos. Confuso? Mesmo? Será? O que as pessoas normais fazem ao se sentirem confusas? Se afastam, saem de cena, conversam com seus botões, ouvem a própria razão e emoção, se centram e decidem. Por respeito, por consideração, por honestidade, não se tornam frágeis vítimas apoiadas no desconhecimento de suas próprias vontades e sentimentos. Sem dúvida é complicado e não há quem diga que possa ser fácil. Não é.

Imagem obra de Picasso

Abobrinhas virtuosas

Abobrinhas cinematográficas que compõem parte do diminuto intervalo de lazer sem conteúdo que temos, entre nosso imenso esforço para acabar com a fome no planeta e a realização de nossos planos de paz mundial. Afinal, a vida não se limita aos temas muito importantes, importantes e semi-importantes, mas, às vezes, surgem na primeira página do site da uol manchetes como esta "Angelina Jolie teria dito que Brad Pitt fuma maconha por causa de Jennifer Aniston", no melhor estilo: Meu amor, veja só o mal que ela ainda lhe faz, ou, tiro o cara da moça, moro com ele, faço filhos com ele e falo dele pra todo mundo saber. Interessantíssimo. E como o "teria dito" deixa margem mais do que suficiente pra dúvida, não cabe qualquer comentário sobre eventuais excentricidades anteriormente praticadas pela própria super star.
 
http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/celebridades/2009/08/26/218055-angelina-jolie-teria-dito-que-brad-pitt-fuma-maconha-por-causa-de-jennifer-aniston

Caleidoscópio

No café trazem-me um copo com água
como se ele resolvesse todos os meus problemas.
É ridículo – penso – não há saída.
No entanto, depois de beber a água
fico sem sede.
E a sensação exclusiva do organismo
acalma-me por momentos.
Como eles sabem de filosofia – penso –
e regresso, logo a seguir, à angústia.

Gonçalo Tavares

* * *

Dizia
que viajar é poder partir-se para o lugar
em frente,
que cada lugar só impressiona porque sugere
a visibilidade do próximo.
E que no fim, quando abandonamos tudo
e já não ouvimos senão o repique dos sinos,
as paisagens deixam de existir para não
passar do que a respiração liberta.
“O que nos conduz é podermos sepultar o
corpo noutro lugar;
porque em todos os sítios passados deixamos o corpo
à vista do lugar mais próximo.”
Percebi, sem que mostrasse algum temor,
que havia descoberto a transparência do mundo,
que fora auxiliado pela face
suspensa dos viajantes.
E lembrei-me como o tempo havia de ensinar,
desde a juventude à velhice,
que onde a beleza assola habituamo-nos a uma pausa nos
olhos, nas mãos e nos olhos que são o que nos diz do
pouco do que nos fica sempre.

Rui Coias

* * *

Amo-te no intenso tráfego
Com toda a poluição no sangue.
Exponho-te a vontade
O lugar que só respira na tua boca
Ó verbo que amo como a pronúncia
Da mãe, do amigo, do poema
Em pensamento.
Com todas as ideias da minha cabeça ponho-me no silêncio
Dos teus lábios.
Molda-me a partir do céu da tua boca
Porque pressinto que posso ouvir-te
No firmamento.


Daniel Faria

* * *

aprende a falar – diz
a rosa: escreve de noite
e que o meu múltiplo sol
te guie inúmeros
os caminhos. põe-te numa sala
com a luz apagada
onde chegue acesa
a de uma outra, e
frágil,

ao papel que para ela
voltas. Então falas
das paixões, da pétala
que cai no interior
do coração
e navega na sombra do
sangue, de assombro em
assombro.

Manuel Gusmão

* * *

Pergunto-me a mim mesmo – tão curioso
como a criança a ser-se adolescente

que mal se entende em como os corpos agem –
a que diversos jogos ou não-jogos
se dão intimidade estes que vejo
inteiramente nus no areal da praia
entre uma escarpa que os esconde e o mar
que tudo aceita em ondas sucessivas.
Deitados no saber de ao sol queimarem
o mais oculto de si mesmos são
dois jovens e uma jovem misturados.
Um dos rapazes se recosta contra o corpo
do outro rapaz que alonga dorso e pernas,
enquanto neste se debruça e dobra,
pendendo os frescos seios e os cabelos,
o corpo feminino associado aos de ambos.
Mas nada indica excitação nos machos
de quem se pousa o sexo ou distendido pende
em de sereno indiferente como
a só vazia ausência de mistério
que a corpos dava um fervor quente e humano.

São, como deuses, animais sem cio?
Ou são, como animais, humanos que se aceitam?
Ela é de quem? De um deles só, dos dois?
Um deles será dela mas também do outro?
Será cada um dos três dos outros dois?
Ambos os machos serão fêmeas do outro?
Ou só um deles? Qual dos dois? O que
sentado se recosta? O que deitado
aceita contra o seu o corpo recostado?
Os três são muito belos, e não só
daquela de escultura juvenil audácia
cifrada em curvas duras de suaves linhas,
mas igualmente da pureza límpida
que só em torno ao sexo se enegrece um pouco.
Quem se pergunta como eu me pergunto

confessa claramente que distância
existe entre o passado e este presente
assim deitado ao sol à beira de água
como estes três se deitam ou recostam
sem que sequer com as mãos os sexos toquem,
senão o de outrem, mesmo o de si mesmos.

Jorge de Sena


Imagem Nijinski

domingo, 23 de agosto de 2009

Allegretto


Corre-corre, várias coisas complexas realizadas ao mesmo tempo, cansaço. Ufa! Como o final de semana foi bem-vindo. A noite de sexta foi ansiada e bendita pelo descanso previsto, pelo despertador desligado, pelo acordar me aconchegar e dormir sem hora para o novo acordar, pelo tempo com o filho e o cão, pela quebra da rotina. Comumente recebemos mais carinho, boa energia e atenção de nossos animais de estimação, do que dedicamos a eles.
No meio da semana recebi email inesperado e carinhoso de amiga convidando-me para o concerto da Orquestra Experimental de Repertório, às 10h e 30 min de domingo, no Teatro Municipal.
Pensei o quanto seria bom reencontrá-la, colocar a vida em dia, ouvir suas novidades, elogiar suas conquistas e assistir a concerto ao lado dela, vocacional e talentosa musicista.
Por um lado fiquei feliz e também senti ansiedade pelo cansaço sentido: Como acordar domingo de manhã, sem a ajuda do despertador? Como evitar a sensação do não vou conseguir acordar, que comumente não nos deixa dormir? Resolvi que iria a pé ao Teatro para me animar mais. Sugeri ao filho que me acordasse no dia seguinte, mas a adorável risada dele confirmou que a noite de sábado seria animada e longa. Não treinei o cão para me acordar na hora certa. Ultimamente, o despertador toca e eu volto à dormir com incrível facilidade. Que coisa é essa, capaz de tornar o agradável lazer em incomoda ansiedade. Cansaço. Cansaço além do normal.
Domingo acordei sozinha, com calma me preparei e encontrei minha amiga no horário combinado. Ela tinha dois convites para o camarote da lateral direita. Sem dúvida aquele lugar privilegiado nos fez imaginar outro tempo e mundo.
Reparei cada detalhe do friso de mármore sobre o palco, das poltronas, do lustre central com lâmpadas inapropriadas, das imagens e palavras gregas pintadas no teto, do público apreciador de música clássica. Fiquei triste com o cuidado insuficiente, com o odor de mofo, com o esplendor que dependeu da imaginação para ser revivido. Aquele teatro deveria ser mais cuidado, seu restauro mais eficaz.
Entram os músicos me encanto com a harpa e estranho o acordeão. Também estranho a juventude que forma a Orquestra Experimental de Repertório e acarinho minha condescendência para ofertá-la a cada um daqueles jovens, iniciantes estudantes de música, presumo. Tolinha. César Franck surgiu com vigor impressionante, tal qual lufada plena de energia. Era exatamente desse vento forte que eu precisava. Desse acordar por dentro, vibrar, deixar-se levar por toda aquela magia.
Querida, obrigada pela lembrança, pelo convite e pela excelente energia da boa música. Lembre-se de nossos ditos sobre filhos, pais, trabalhos, casamentos, vida. Lembre-se de que uma pitadinha de egoísmo não desanda a receita, nem faz mal à saúde. Lembre-se de alimentar sua auto-estima e de cuidar-se. Principalmente, lembre-se de que a dedicação extrema em seu detrimento, querida, é coisa de alto preço que não encontra contrapartida.
O maestro Jamil Maluf criou tenda de milagres e os prepara em forma de jovens virtuosos que distribuem graça, excelente energia, vida.


A Orquestra Experimental de Repertório (OER) foi criada, em 1990, por Jamil Maluf e pela Lei 11.227 de 1992, tornou-se parte integrante do Departamento de Teatros da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo. É composta por aproximadamente cem músicos e tem por principais objetivos: A formação de profissionais de orquestra da mais alta qualidade, além da difusão de repertório abrangente e diversificado.

César Franck (1822 - 1890)
Sonata para Violino e Piano (versão para violino e orquestra de Jamil Maluf)
I. Allegretto ben moderato
II. Allegro
III.Recitativo-Fantasia: Bem moderato
IV.Allegretto poco mosso
Sinfonia em Ré Menor
I. Lento - Allegro non troppo
II. Allegretto
III. Finale: Allegro non troppo.

Saudade

sábado, 22 de agosto de 2009

Agapi

Plan to be surprised

Dan in real life (2007) de Peter Hedges é um filme delicioso, com elenco afinado e duas atrizes que eu gosto muito: Juliette Binoche e Dianne Wiest.
Uma família numerosa criada por um casal adorável, seus filhos, noras, genros, netos e as inevitáveis confusões amorosas. Durante o filme é impossível não querer fazer parte daquela turma unida, animada, criativa, naquele cenário, com toda a alegria e as habituais invasões que os familiares costumam exercer na vida de seus parentes. As cenas do blind date arranjado pela mãe para Dan e a espera por Ruthie cara-de-porquinha Draper são hilárias. Por sorte essa vontade dura exatamente o tempo do filme - seria demais aquela convivência diária.
A trilha sonora de Sondre Lerche é ótima e vale a compra do CD importado por R$ 79,90 ou por USD 12,90 nos sites de compra on-line. Baixar a trilha sonora de sites específicos? À disposição. É absurdo e incompreensível o preço desse CD no Brasil.
Três atores do filme participaram da última temporada do seriado da HBO In treatment: Dianne Wiest, John Mahoney e a excelente Alison Pill, no comovente papel de uma adolescente com câncer. Juliette Binoche, como sempre, adorável.
Por sorte recentemente a TV exibiu Dan in real life.


The moment has come to face the truth
I'm wide awake, and so are you
Do you have a clue what this is? (I don't know)
Are you everything that I miss? (I don't hope so)
We'll just have to wait and see (Wait, and see)
If things go right we're meant to be
The surface is gone, we scratched it off

We made some plans, and let them go
Do you have the slightest idea (No, I don't)
Why the world is bright with you here? (Oh, is that so?)
Stay a while and wait and see (wait, and see)
If things go right we're meant to be Oh, what a world this life would be
Forget all your technicolour dreams
Forget modern nature
This is how it´s meant to be
The time is here for being straight

It´s not too early and never too late
People say I should watch my pace (What do they know?)
"Think how you spend all your days" (They all say so)
They´ll just have to wait and see (Wait, and see)
If things go right they´ll have to agree
Oh, what a world this life would be

Forget all your technicolour dreams
Forget modern nature
This is how it´s meant to be
Do you have the slightest idea (No, I don't)
Why the world is bright when you here? (Oh, is that so?)
Stay a while and wait and see (wait, and see)
If things go right we're meant to be Oh, what a world this life would be
Forget all your technicolour dreams
Forget modern nature
This is how it´s meant to be
Forget modern nature

This is how it´s meant to be

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Beleza variada

Essas seriam as palavras ditas por Umberto Eco ao explorador do futuro que viesse ao século XX para descobrir o que era considerado belo: “Você será obrigado a render-se diante da orgia de tolerância, de sincretismo total, de absoluto e irrefreável politeísmo da Beleza''.
Segundo Eco, os conceitos do belo no século XX são os mais contraditórios e criaram o “sincretismo da beleza”.



A beleza não presume unanimidade e seus ícones são variados, muito mais ao pensarmos na beleza masculina (temos conceitos mais abrangentes, maleáveis e generosos, relativos aos diversos padrões do homem belo) se comparado ao padrão de beleza feminina.
A beleza considerada, amplamente divulgada e imposta pela mídia ganha cada vez mais espaço e em larga escala gera parâmetros duvidosos e difíceis (mas não impossíveis) de serem contrariados. Assim, comumente ouvimos as expressões “ditadura da felicidade” e “juventude eterna” em detrimento de valores essenciais e até mesmo da saúde integral (corpo e mente).
Não precisamos mais do pó de pirlimpimpim, da fada Sininho, para chegarmos à Terra do Nunca (onde ninguém envelhece) porque há anos vivemos ao lado de Peter Pan, mergulhados na fonte de Ponce de Leon.
A bilionária indústria cosmética, os inúmeros criativos tratamentos de beleza e as cirurgias estéticas desafiam o bom senso e a natureza.
No presente, a beleza padronizada, artificial e produzida limita e define características rígidas aliadas a sacrifícios corpóreos, mentais e pecuniários.
O tempo necessário ao culto do corpo para a obtenção dos resultados estéticos ansiados e padronizados, não é possível aos que dedicam oito horas habituais, ou mais, ao trabalho e têm vida normal; o uso de substâncias químicas, ingeridas ou injetáveis, prejudicam a saúde física, mental e ao longo do tempo podem causar severos efeitos colaterais; as banalizadas cirurgias estéticas para a retirada de gordura localizada, colocação de implantes e demais práticas existentes, traumatizam órgãos, trazem desconforto e demandam consideráveis sacrifícios; para as mulheres que pretendem seguir esses e outros rituais, sem a garantia do resultado pretendido e muito menos a certeza da pertinência do resultado obtido, restam os consultórios de psicólogos, psiquiatras e medicamentos adicionais para o combate à depressão e ansiedade para, quem sabe, finalmente entenderem que a beleza não reside na inexistência de rugas, nos lábios e seios volumosos, nos longos e lisos cabelos artificiais, no corpo esculpido, na altura certa, mas na sabedoria, no auto-respeito e na auto-estima para receber, com graça e harmonia, cada sinal que o tempo traz.
A grande questão parece ser o nosso correto entendimento sobre as efetivas razões do
implacável padrão atual de beleza.
A arte é o mais importante meio de documentação do ideal de beleza e estética ao longo da história e é através dela, que assimilamos os diversos conceitos que existiram.
Nos primórdios da humanidade a estética feminina estava ligada à fertilidade.
É do filósofo Aristóteles a percepção inicial e lógica dos conceitos de ordem, simetria e proporcionalidade aliados à beleza.
Enquanto Platão associava o belo à bondade e à verdade, Aristóteles conferiu à beleza ideal valores objetivos e claros, sem, no entanto, desconsiderar a subjetividade existente, por exemplo, na beleza única do corpo amado vista sob o ponto de vista do amante.
O rosto e o corpo bonitos deviam ser simétricos e proporcionais, parâmetros posteriormente seguidos por artistas da Antiguidade, da Idade Média, do Renascimento e encontrados atualmente na rebeldia contra à padronização.
O conceito de “beleza grega” da época clássica é representado pela estátua de Afrodite (Vênus de Milo) do século II a.C.: nariz desenhado, perfil perfeito, cabelos ondulados, corpo harmonioso, ordem, simetria, proporção e medidas exatas.
Na Idade Média a beleza física era considerada reflexo da boa alma e do comportamento devoto. O padrão da época compreendia lábios finos, corpo longilíneo, seios pequenos, ombros estreitos e ventre saliente.
No Renascimento encontramos a proporcionalidade e simetria com o acrescimo do naturalismo, logo, o padrão de beleza é demonstrado pelo corpo roliço, os seios fartos, os ombros e os quadris mais largos e arredondados. À época os aspectos habituais do corpo feminino como celulite, gordurinhas localizadas e ondulações eram reproduzidos e considerados ideais de volúpia e nobreza, resultados da prosperidade e da alimentação farta.
Aos poucos, a simetria e a proporcionalidade são reforçadas pela graça, característica subjetiva, aliada à espiritualidade e às emoções.
Com o Romantismo surgiu o dualismo: ingênuo e fatal, rude e sofisticado. A mistura de características paradoxais criou o padrão da beleza intensa, emocional, por vezes vinculada ao onírico, ao mistério e ao caótico. A beleza daquele tempo incluía a deformidade e o exotismo. O padrão de beleza clássico e a aparência saudável não eram
valorizados.
No Modernismo, com o cubismo, o expressionismo e a abstração, prepondera o padrão geométrico e a descontinuidade, o passo anterior ao padrão de beleza atual, que prima pela juventude eterna, pela magreza excessiva e pela felicidade obrigatória, aspectos reforçados pela mídia e pela evolução da indústria cosmética, além de fundamentais para a aceitação e o sucesso social, profissional e pessoal.
Apesar do componente subjetivo presente no conceito de beleza, nas imagens encontramos mulheres belas, ícones de décadas anteriores e isentas da atual padronização e artificialidade. Havia algo a mais, o élan, o glamour, o encanto que as retirou do campo das celebridades relâmpagos e as mantêm divas perenes.
Há nelas o feminino natural, aprazível, invulgar e não padronizado. A beleza de Audrey Hepburn não se compara à estética de Katharine Hepburn ou à beleza de Ava Gardner e de Lana Turner. Sophia Loren era diferente de Ingrid Bergman, que em nada se parecia com Greta Garbo.
Por outro lado, o sacrifício dedicado à manutenção da juventude e à conquista do atual ideal de beleza artificial e padronizada, resulta em alteração comportamental importante: Longevos e com os tratamentos estéticos atuais, prolongamos nossa fase produtiva, o maior aproveitamento da vida e postergamos a inatividade. Situações impensáveis nas décadas anteriores.