quarta-feira, 7 de março de 2012

Charlotte Gainsbourg - The Operation

Talvez não ser, é ser sem que tu sejas


Nossas crianças são todas as crianças do mundo

A gentileza e a solidariedade exercem especial e irresistível apelo sobre mim, me cativam imediata e fortemente, me emocionam. Constituem base sólida para o perdão e o acolhimento. 
Assimilamos costumes equivocados e padronizamos nosso comportamento da pior forma possível.
Falta-nos gentileza e solidariedade, por isso, a vida se apresenta dura e há tanta miséria. 
Essa, a miséria, é o auge da ausência de solidariedade e de gentileza em nós, é o não reconhecer-se no outro, a empatia atrofiada.

Sugiro a atenção voltada a este vídeo The Invisible Children (here, there and everywhere) e, se possível, sua divulgação e compartilhamento em outros blogs e sites. A notoriedade conferida aos algozes retirará seus insuportáveis e vazios poderes. Transformar a internet em instrumento para a boa mudança é conferir-lhe qualificação valiosa, é reconhecer sua abrangência ao mesmo tempo que a  capacita da criação de um mundo verdadeiramente melhor. 
Igualmente nos faz relembrar nossos próprios umbigos, os umbigos infantes e jovens diariamente explorados por adultos cruéis. A guerrilha ugandense transforma-se na metáfora do descaso que dedicamos às crianças e jovens daqui, do mundo.  

domingo, 4 de março de 2012

No vale la pena vivir para ganar, vale la pena vivir para seguir tu conciencia - Eduardo Galeano

Das minhas mãos saem acalentos





















No indispensável período de indulgência, necessário para a recuperação do corpo e da mente, em parte me inspirei nas preciosas receitas de minha mãe, em Nigella Lawson e em Annabel Langbein para o preparo de alimentos restauradores e saborosos - o perfeito equilíbrio entre o corpo e a mente, a cura.
O texto abaixo é de Nigella, sobre o seu livro “How to be a domestic goddes”, aproveitem:

This is a book about baking, but not a baking book – not in the sense of being a manual or a comprehensive guide or a map of a land you do not inhabit. I neither want to confine you to kitchen quarters nor even suggest that it might be desirable. But I do think that many of us have become alienated from the domestic sphere, and that it can actually make us feel better to claim back some of that space, make it comforting rather than frightening. 
In a way, baking stands both as a useful metaphor for the familial warmth of the kitchen we fondly imagine used to exist, and as a way of reclaiming our lost Eden. This is hardly a culinary matter, of course: but cooking, we know, has a way of cutting through things, and to things, which have nothing to do with the kitchen. This is why it matters.
The trouble with much modern cooking is not that the food it produces isn’t good, but that the mood it induces in the cook is one of skin-of-the-teeth efficiency, all briskness and little pleasure. Sometimes that's the best we can manage, but at other times we don’t want to feel like a post-modern, post-feminist, overstretched woman but, rather, a domestic goddess, trailing nutmeggy fumes of baking pie in our languorous wake.
So what I’m talking about is not being a domestic goddess exactly, but feeling like one. One of the reasons making cakes is satisfying is that the effort required is so much less than the gratitude conferred. Everyone seems to think it's hard to make a cake (and no need to disillusion them), but it doesn’t take more than 25 minutes to make and bake a tray of muffins or a sponge layer cake, and the returns are high: you feel disproportionately good about yourself afterwards.
This is what baking, what all of this book, is about: feeling good, wafting along in the warm, sweet-smelling air, unwinding, no longer being entirely an office creature; and that’s exactly what I mean when I talk about ‘comfort cooking’. Part of it too is about a fond, if ironic, dream: the unexpressed ‘I’ that is a cross between Sophia Loren and Debbie Reynolds in pink cashmere cardigan and fetching gingham pinny, a weekend alter-ego winning adoring glances and endless approbation from anyone who has the good fortune to eat in her kitchen.
The good thing is, we don’t have to get ourselves up in Little Lady drag and we don’t have to renounce the world and enter into a life of domestic drudgery. But we can bake a little - and a cake is just a cake, far easier than getting the timing right for even the most artlessly casual of midweek dinner parties.
This isn’t a dream; what’s more, it isn’t even a nightmare." 

Silence contains just words



To meet “Me”


Veer off the national highway onto the prefectural road,
turn left again onto a village road and come to he end
“Me” lives there
It’s a “Me” that is not myself


It’s a modest house
a dog barks at me
some vegetables are planted in the yard
As always I sit on the ledge of the house
a cup of roasted-leaf tea is served
no greetings are offered


I was given birth by my mother
“Me” was birthed by my words
Which is the true me?
I am sick and tired of this topic, but
as “Me” suddenly starts to wail
I choke on my tea


The shriveled breasts of a senile Mom
that’s the dead-end of my birthplace,
says “Me”, sobbing terribly
But as I gaze at the daytime moon in silence
its slowly begins to settle in my mind
that the beginning and the end go farther than that


The day has ended
Listening to frogs
we fall asleep in futons placed side by side
both “Me” and I are now ‘the sparkling dust of universe’

O perdão




Alteramos a máxima cartesiana “penso, logo, existo” para “penso, logo, incomodo” e, às vezes, através de nossos pensamentos nos tornamos  eficientes no auto-incomodo.
Este tema surgiu em conversa entre amigas queridas, mestras da fluidez, da leveza, do ânimo e do entusiasmo e, também, exímias provocadoras de libertadoras catarses - o perdão. 
Parece fácil, não? Afinal, perdoar presume vontade e querer perdoar deveria ser suficiente, mas não é.
Em primeiro lugar considere o indivíduo e seus amalgamas, seus valores e limitações, suas crenças, sua totalidade complexa. O senso comum ou o bom-senso tem sua importância, porém, entre a ofensa ou tristeza recebida e a capacidade de perdoar pode haver um abismo.
Todos sabem que o impacto do mal recebido é proporcional à intimidade permitida e quanto mais íntimo o agressor, mais contundente sua atitude negativa e mais complexo o perdão.
Em segundo lugar considere o arrependimento de quem causou o mal e projete o pior cenário: O causador do mal é incapaz de sentir empatia e não reconhece o prejuízo por ele causado, logo, não sente qualquer arrependimento. 
Ora, se a ofensa foi causada por pessoa íntima incapaz de sentir-se arrependida, o perdão pode situar-se anos luz de distância e para acontecer exigiria os empenhos e desprendimentos da Madre Teresa e da Irmã Dulce somados. 
Como se vê, perdoar pode não ser fácil.
É necessário perdoar? Sim, e esta é afirmação plena de “se" e “depende". Regra geral perdoar é necessário para libertar-se e seguir adiante, embora, é possível seguir adiante sem perdoar. 
Em particular ao cristão que professa a oração primária e nela acredita, a incapacidade de perdoar, no mínimo, gera a incongruência no momento do perdão solicitado: “perdoai as nossas ofensas, assim como perdoamos aos nossos ofensores”, opa! Mas aquela ofensa é imperdoável, então, Senhor, por favor perdoe todo o mal que eu causei e desconsidere a minha incapacidade de perdoar o mal recebido, pedido que poderia ser complementado com a mágoa nossa de cada dia nos dai hoje, pois não? Não é à toa que a incapacidade de perdoar pode prejudicar a própria fé e aumentar ainda mais a abrangência negativa da ofensa recebida: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mateus, 6:14-15) - os que têm fé necessitam do perdão do divino, necessitam perdoar para serem perdoados.
Assim, o dilema persiste e se amplia: Como perdoar quem não se arrepende e como não perdoar se também peço perdão?
O perdão é libertador: Libera o ofendido e lhe retira o mal recebido (ou deveria retirar-lhe o mal recebido) e libera o agressor da culpa. No entanto, o perdão presume o total esquecimento? Ele é incondicional? E a questão inicial: Como perdoar quem não se arrepende? O perdão pode ser confundido com tolerância ou permissão? 
Cá entre nós, se já não bastasse toda a tristeza recebida, você ainda assume a incumbência de resolver todos os dilemas correlatos e as questões filosóficas e éticas que há milênios afligem a humanidade?
Simplifique sua vida e apazigue sua mente com solução solitária e eficaz: Perdoe a você mesmo e liberte-se. Liberte-se da culpa e de todo o sofrimento inútil. Liberte-se. Imagine a quantidade imensa de pessoas que deixam irmãos, amigos, filhos, pais, amantes desaparecem de suas vidas antes de trocarem preciosas palavras de clemência e absolvição, imagine a quantidade imensa de assuntos mal resolvidos que poluem nossa vida emocional, liberte-se. Você mesma pode terminar todos os assuntos dentro de si e isso é essencial. Trata-se de um ritual libertador: Represente mentalmente uma conversa entre almas, o acerto e o perdão celebrado em outra dimensão, ofereça e peça perdão e aos poucos você se sentirá eximida e fora desse acerto, você perceberá que a sua participação no relacionamento negativo findou e com ele terminaram todas as tristezas inacabadas e ocas. E se no futuro surgirem pensamentos e sentimentos tristes, é para o local desse ritual libertador que você os mandará. É para isso que existem os rituais, com eles criamos lugares seguros nos quais descansam nossos sentimentos mais profundos de alegria ou trauma, sentimentos que não precisamos carregar.

Oliver Sacks

sábado, 3 de março de 2012

Padrão de beleza


Em janeiro deste ano, fiquei encantada com a quebra de absurdos parâmetros da foto de capa do magazine M, do Le Monde, feita por Martin Schoeller, de Clint Eastwood com suas rugas, manchas na pele, cabelos e sobrancelhas brancas.
O padrão de beleza e de aceitação atual é, no mínimo, cruel e impõe qualificações pouco ou nada valorosas. Já era tempo de desconsiderar a frivolidade vigente. 


sexta-feira, 2 de março de 2012

Ton Koopman and Jordi Savall - Bach

She faced herself at last, the story runs



A sheet of ocean

I have memories of
buying a sheet of beautiful ocean.
In a market with a ceiling of blue sky
I happened to see a man selling oceans
who, like a carpet merchant, was spreading them out and rolling them up, spreading them out and rolling them up,
though like a landscape seen in an afternoon nap
I can’t clearly remember what the market was like.

I was able to 
go to the ocean, without drowning, balanced,
because like a vessel just launched
I had a brilliantly drawn waterline.
But that lasted only for a while.
When we moved, I rolled it up again
and put it in the shed behind our new house
along with junk and forgot about it.

From the crack by the door of the shed a seagull
suddenly flew up this morning, flapping its wings, to my consternation.
Reviving at this late date — what can I do?
What can I do with the ocean
that has started flooding the backyard
without even giving me time to redraw the waterline that has peeled off?

Kazue Shinkawa