Alzheimer dá sinal no cérebro décadas antes de se manifestar
Pesquisa britânica sugere que jovens adultos com uma variação genética que aumenta o risco do Mal de Alzheimer apresentam mudanças na atividade cerebral décadas antes dos sintomas da doença aparecerem. O estudo fornece pistas para que os cientistas
compreendam a razão pela qual algumas pessoas desenvolvem a doença e pode significar a criação de exames que indiquem pessoas em risco. Diferenças na região do cérebro que envolve a memória, conhecida como hipocampo, já foram mostradas em pessoas de meia idade e idosas que possuem uma variação do gene APOE4. Mas a pesquisa britânica é a primeira a mostrar hiperatividade no hipocampo em pessoas jovens e saudáveis e a primeira a mostrar que o cérebro de quem possui esta variação genética se comporta da forma diferente, mesmo durante o descanso. Já se sabia que uma pessoa que tem uma variação do gene APOE4 tem quatro vezes mais risco de desenvolver a doença, pessoas que têm duas cópias do gene apresentam dez vezes mais risco de sofrer de Alzheimer, mas nem todas as pessoas que carregam a variante do gene vão desenvolver a doença. Os pesquisadores destacam até que a maioria dos que têm o APOE4 não vão desenvolver a doença. A pesquisa, realizada pela Universidade de Oxford e pelo Imperial College de Londres, foi publicada na revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences. O estudo usou exames de ressonância magnética (fMRI) realizados na Universidade de Oxford para comparar a atividade dentro dos cérebros de 36 voluntários, entre 20 e 35 anos, sendo que 18 deles possuíam pelo menos uma cópia do gene APOE4. Os pesquisadores observaram como os cérebros dos voluntários se comportavam enquanto eles estavam descansando e enquanto eles realizavam uma tarefa relacionada à memória. Mesmo quando os que possuíam o gene APOE4 estavam descansando, os pesquisadores observaram padrões diferentes de atividade cerebral entre os que tinham o gene e os que não tinham. Os exames mostraram diferenças visíveis na forma como o hipocampo se relacionou com o resto do cérebro. "Mostramos que a atividade cerebral é diferente em pessoas com esta versão do gene, mesmo décadas antes do desenvolvimento de qualquer problema de memória", disse Clare Mackay, do Departamento de Psiquiatria e Centro de Ressonância Magnética do Cérebro da Universidade de Oxford, uma das líderes do estudo. "Também mostramos que esta forma de ressonância magnética, na qual a pessoa apenas se deita sem fazer nada, é sensível o bastante para pegar estas mudanças. Estes são os empolgantes primeiros passos em direção à perspectiva de que um simples exame será capaz de distinguir quem vai desenvolver Alzheimer", acrescentou.
Cérebros exaustos : "Nossos cérebros são sempre ativos - nossas mentes vagam mesmo quando não estamos realizando tarefas específicas", disse Christian Beckmann, outro autor do estudo, da Divisão de Neurociência e Saúde Mental do Imperial College de Londres. "Ficamos surpresos de ver que mesmo os voluntários com o gene APOE4 que não estavam fazendo nada, tinham a parte da memória no cérebro trabalhando mais do que nos outros voluntários. Nem todos os portadores do APOE4 vão desenvolver o Mal de Alzheimer, mas faria sentido se em algumas pessoas, a parte do cérebro relativa à memória ficasse exausta com o excesso de trabalho e isto contribuísse para a doença", acrescentou. "Esta teoria tem como apoio estudos que descobriram o padrão oposto em pessoas que desenvolveram o Mal de Alzheimer, com estas pessoas mostrando menos atividades do que o normal na parte do cérebro relativa à memória." Mas, para o neurocientista da Universidade de Cambridge, Peter Nestor, é preciso ver o estudo com cautela. "As descobertas deste estudo são interessantes, mas não devem ser mal interpretada para significar que o Mal de Alzheimer já começa a se desenvolver neste grupo de voluntários saudáveis e jovens. Será um desafio para pesquisas futuras observar se as diferenças observadas naqueles com o gene APOE4 podem oferecer uma pista para descobrir o que torna alguns cérebros mais suscetíveis ao Alzheimer."
Solidão pode ser tão nociva quanto o cigarro
O isolamento social prejudica a saúde e pode ser tão nocivo quanto fumar, de acordo com o pesquisador John Cacioppo, professor de psicologia da Universidade de Chicago e um dos mais renomados pesquisadores sobre solidão dos Estados Unidos. Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Chicago indica que a solidão afeta o comportamento das pessoas e a forma como seus cérebros funcionam. A pesquisa, apresentada durante a conferência anual da American Association for the Advancement of Science (AAAS), utilizou exames de ressonância magnética (fMRI) para estudar as conexões entre isolamento social e atividade cerebral. Os especialistas verificaram que, em pessoas mais sociáveis, uma região do cérebro conhecida como estriato ventral ficou muito mais ativa quando elas observavam imagens de pessoas em situações agradáveis. O mesmo não ocorreu nos cérebros de pessoas solitárias. O estriato ventral, crucial para o aprendizado, é uma região importante do cérebro, ativada por estímulos que os especialistas chamam de recompensas primárias (como a comida) e recompensas secundárias (como o dinheiro). A convivência social e o amor também podem ativar a região.
Empatia: Os especialistas também verificaram que uma outra região do cérebro, associada à capacidade de empatia com o próximo, ficou muito menos ativa entre os solitários do que nos mais sociáveis quando observavam imagens de pessoas em situações desagradáveis. "Devido aos sentimentos de isolamento social, indivíduos solitários podem ser levados a buscar um certo conforto em prazeres não sociais", disse Cacioppo. O professor cita como exemplos comer ou beber demais. De acordo com reportagem sobre o estudo publicada pelo jornal britânico Daily Telegraph, a solidão prejudica a imunidade, provoca depressão, aumenta o estresse e a pressão sanguínea e também aumenta as chances de uma pessoa desenvolver o Mal de Alzheimer. Indivíduos solitários tendem a ter menos motivação e menos perseverança, o que dificulta a adoção de dietas mais saudáveis e a prática de exercícios. Segundo Cacioppo, um em cada cinco americanos sente solidão. O especialista é um entre cinco autores de um artigo publicado na edição mais recente da revista científica Journal of Cognitive Neuroscience. Como parte do estudo, 23 estudantes do sexo feminino foram testadas para determinar quão solitárias elas eram. Depois, enquanto seus cérebros eram monitorados com exames de ressonância magnética, as participantes observaram imagens de situações desagradáveis (como conflitos humanos) e de situações agradáveis (pessoas felizes). Entre as voluntárias classificadas como solitárias, verificou-se uma menor probabilidade de atividade intensa no estriato ventral quando elas observavam pessoas se divertindo. Embora a solidão possa influenciar a atividade cerebral, a pesquisa também sugere uma relação inversa, ou seja, que a atividade no estriato ventral pode levar a sentimentos de solidão, segundo o pesquisador Jean Decety, outro autor do estudo. "O estudo levanta a possibilidade intrigante de que a solidão pode ser o resultado de uma redução na atividade associada à recompensa no estriato em resposta a estímulos sociais", disse Decety. Ao tentar explicar as razões por trás de um mecanismo como esse nos seres humanos, Cacioppo mencionou as teorias do biólogo britânico Charles Darwin: a necessidade de conexão com o outro teria suas raízes na evolução da espécie. Para sobreviver e criar seus filhos, humanos tiveram de se unir, diz o pesquisador. Altruísmo e cooperação ao longo da evolução humana permitiram que a espécie florescesse. A solidão, como a dor física, teria evoluído nos humanos de forma a produzir uma mudança no comportamento. Esse mecanismo, de acordo com Cacioppo, sinaliza a necessidade ancestral do homem de se agregar socialmente.
Viver sozinho na meia-idade agrava risco do Alzheimer
Um estudo sueco sugere que pessoas que possuem uma variante genética específica e vivem sozinhas na meia-idade estão no grupo de maior risco de sofrer de demência. Dois mil homens e mulheres no leste da Finlândia participaram da pesquisa do instituto Karolinska, em que os estudiosos analisaram o estado conjugal dos participantes e verificaram a presença ou não da variante quatro do gene apolipoproteína E (apoE). A presença dessa variante é considerada o fator genético de risco mais comum para o desenvolvimento de doenças como o mal de Alzheimer. A primeira observação dos pesquisadores suecos foi feita quando os voluntários tinham cerca de 50 anos e a segunda, 21 anos depois. A conclusão foi que pessoas que vivem sozinhas na meia-idade correm duas vezes mais risco de desenvolver a demência do que aquelas que moravam com seus parceiros. Já para as viúvas e viúvos, esse risco mostrou ser três vezes maior. Os pesquisadores concluíram que a chance de desenvolver demência é maior principalmente em pessoas com a variante 4 da apoE que se separaram ou ficaram viúvas antes dos 50 anos de idade e viviam sozinhos.
Desafios cognitivos: O estudo foi divulgado em um artigo da publicação científica British Medical Journal. Krister Hakannson, que liderou o grupo de pesquisadores, afirmou que os resultados do estudo são importantes para prevenir a demência e a debilidade cognitiva. “Viver em um relacionamento com um parceiro pode implicar em desafios cognitivos e sociais que têm um efeito de proteção contra a debilidade cognitiva na velhice”, disse ele. Segundo Hakannson, a “intervenção de apoio” às pessoas que perdem os parceiros pode ajudar na prevenção da doença. Em um editorial também publicado no British Medical Journal, a pesquisadora Catherine Helmer, da Universidade Victor Seglen, em Bordeaux, na França, afirma que a hipótese dos efeitos negativos da viuvez ainda não foi provada. Ela acredita que mais estudos precisam ser feitos para provar a vulnerabilidade genética como um elo entre a viuvez e a demência. Além disso, a pesquisadora afirma ainda que a relação entre demência e a presença da variante 4 do apoE precisa ser tratada com “cautela”, já que a pesquisa é um estudo epidemiológico que observou a incidência da doença em apenas um tipo de pessoas e precisa ser confirmada com outras pesquisas. Em 2005, cerca de 25 milhões de pessoas sofriam de demência ao redor do mundo. Esse número deve subir para 81 milhões até 2040.
Imagem obra de Modigliani
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