sábado, 20 de março de 2010

Outono 2010

Iniciar o outono com poemas do mestre Giorgos Seféris, traduzidos por José Paulo Paes.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O último poema deste verão

Poesia sobre poesia
Pablo Neruda sobre obra de Athos Bulcão

Estou amando outra vez

O calor intenso deste verão que acaba foi alento das manhãs preguiçosas e das tardes com o corpo solto para o descanso ansiado, necessário. Sonhos, muitos sonhos trazidos por anjos que há anos eu me esqueci de ouvir. Está tudo aqui, latente.
Suor, água, brisa benvinda e travessa que entrou por todas as janelas e trouxe a brandura antecedente da paz.
Caminhadas longas sob o sol forte para desafiar os limites imaginados, sentidos e diluídos na superação das pesadas amarras invisíveis.
O rejuvenescimento de cada ruga recém descoberta e a carícia dos fios brancos escondidos entre os infinitos castanhos ousados, matizes indescritíveis a desdizer o tempo passado. Qual tempo?
O calor intenso deste verão que acaba trouxe nova paixão nunca antes sentida. Eu não só amei na estação finda: Eu me apaixonei por mim.

This is the future, we are already there and it's the same as the present

A stray dream

It’s a happy dream though in it you were
Humping some dancer in a run down gaff

A seafront hotel out of season where
I’m in a kitchen on the single bed

I’ve pulled from a drawer like the silk scarf
Of the seafront carny man who’s filling in for

ManDuck The Magician star of stage and screen
I saw earlier that day at the end of the pier

I had sheets of Belfast linen but you
Had the dancer. And had her again

While the dawn struggled to break on the sea
And break on the quick and the slow and the dead

When I woke the next morning under the bed
Dustdevils, feathers and some child’s brown shoes

*        *        *

Old skin

staggering towards me
I’ve cast you off

years ago
shrugged you off

left you, put you down at the side of the road
for ravening

by any passing predator
old skin – when your face splits open

in recognition –
you know me now

but not what bar you left me in –
what else would you say but

‘how’re ya, me oul skin’

*        *        *

Ashes

The tide comes in; the tide goes out again
washing the beach clear of what the storm
dumped. Where there were rocks, today there is sand;
where sand yesterday, now uncovered rocks.

So I think on where her mortal remains
might reach landfall in their transmuted forms,
a year now since I cast them from my hand
– wanting to stop the inexorable clock.

She who died by her own hand cannot know
the simple love I have for what she left
behind. I could not save her. I could not
even try. I watch the way the wind blows
life into slack sail: the stress of warp against weft
lifts the stalling craft, pushes it on out.  

Relações modernas, reações antigas


O tema é recidivo e eu ainda pergunto: Para quê?
Fora a abordagem medíocre da mídia: Sandra Bullock saiu de casa após descobrir a traição do marido cinco anos mais novo. O que, de fato, deve chamar nossa atenção? A traição do marido da atriz ou a diferença de idade do casal? Talvez a saída de Sandra da casa?
Na segunda notícia citaram algo sobre a “maldição do Oscar”, quem sabe, possível substituto do cansado bicho papão.
Eu li a notícia inicial, li o arrependido pedido de desculpas de Jesse G. James na revista People, vi imagens antigas do feliz casal na mesma revista (Ô, Jesse, caramba! Que fotos bonitas de vocês dois juntos – quantas tatuagens você tem, rapaz. Reparei no olhar e no sorriso de Sandra ao seu lado. Será que, realmente, valeu à pena cair na cova comum dos que traem? Traição é ato batido e feio, Jesse. Trair é coisa cansativa, desonesta e fora de moda) e vi no UOL as imagens da auto-intitulada “Bombshell” McGee, a tatuagem em formato de moça, que teria divulgado seu relacionamento de onze meses com Mr. James.
Escrevo sobre o tema porque, há quinze dias, as coisas mais comoventes ditas pela emocionada Sandra Bullock ao receber o Oscar de melhor atriz, foram sobre o incentivo constante de sua mãe e a proteção que, do céu, ela propiciou à filha para a conquista do Oscar e de James, seguido por um olhar apaixonado para o marido, que retribuiu com o semblante emocionado. Poucas horas após a entrega do Oscar, no programa especial que Oprah Winfrey fez no Kodak Theatre, para entrevistar os quatro ganhadores dos prêmios de melhor ator, atriz e coadjuvantes, Sandra reiterou seu amor pelo marido e sua preocupação com a ausência dele do trabalho para acompanhá-la: Ele é projetista, disse Sandra, e quando ele não trabalha oitenta pessoas ficam sem produzir.
Lembrei do comentário de uma amiga sobre a desfaçatez de seu diretor que, num desses sites sociais, extrapolou o bom senso e a moral ao manter em seu perfil a mulher e a amante, com quem troca mensagens, imagens, carinhos e a amante, que se desmancha em romantismo, divulga imagens suas com o moço casado, assume que o par ideal é o dela, além de detestar intromissões. A amante detesta intromissões. Com o tempo descobrimos que o absurdo também pode ser risível. Então, imaginemos que, no mundo atual e virtual, de seu perfil no Facebook (quase todos estão no Facebook) Mr. James tenha marcado encontros, criado procedimentos diários e trocado mensagens amorosas com a “Bombshell”, enquanto Sandra, bem, enquanto Sandra se empenhava para ganhar o Oscar.

domingo, 14 de março de 2010

You are a gate opening onto another gate

Colcha de retalhos

Citei rapidamente Mar adentro (2004), obra de Alejandro Amenábar ganhadora do Oscar 2005 de melhor filme estrangeiro, com a magistral interpretação de Javier Bardem e o difícil tema eutanásia, mas prometo que voltarei a abordá-lo em outro texto, com minhas sensações escancaradas, além do belo poema declamado no final do filme, que eu fiz questão de copiar entre lágrimas, o que me fez voltar o DVD inúmeras vezes para não perder uma sílaba sequer.
Não é pela luta do lúcido e coerente Ramón Sampedro que todos choram, mas pelas decisões que a vida faz questão de apresentar.
A vida desafia quem a encara e premia os mais valentes. Valentes são todos que aprendem a superar.

Não citei e pretendo escrever algo sobre a depressão e seus efeitos sobre o depressivo e sobre os demais, que não a conhecem, tampouco a reconhecem grave enfermidade. A depressão pode ser incapacitante e deve ser tratada por médicos especialistas, que acompanhem os enfermos com propriedade. Prescrever antidepressivos, dopaminas e demais medicamentos que alteram a química do cérebro não é coisa simples, nem corriqueira e deve ser feita por bons psiquiatras. Escreverei sobre a palavra psiquiatra que ainda é sussurrada pelos pacientes tementes de retaliação. Meus Deus, quantos tabus!

Igualmente desenvolverei algo sobre a administração de pessoas e procedimentos, atividade complexa que, dentre diversos requisitos, exige vocação e não deveria ser desempenhada por pessoas despreparadas e incapazes para tal feito.

Por fim, algo sobre os que acreditam no real significado das palavras e nelas baseiam-se para a manutenção de diálogo honesto e produtivo. Pé é pé, não é mão, nem pescoço.

Amizade também? Relacionamentos? Plantas? Ervas aromáticas? Mulheres? Filhos? Cães?

O bom de manter um blog é compartilhar, honestamente, experiências e entendimentos. Soltar diminutos fogos de artifício capazes de colorir a visão dos que vivem as mesmas situações, para que compreendam que existe uma saída. Sempre existe uma boa saída e muito a aprender. Escrever com a alma livre como se não houvesse leitores, salvo a querida Gerana, amiga aqui encontrada, que possui generosidade, delicadeza, carinho, inteligência e lucidez infinitos. Gerana é raro e precioso tesouro grego.

No tempo da depressão brava, que deixou atenta a dedicada psiquiatra, perdi a concentração e a capacidade de devorar os livros que caiam em minhas mãos. Perdi a capacidade de ler, aos poucos readquirida através de dois mestres amantes das palavras, dos livros, dos melhores textos e um deles escreveu para mim: Opte pela vida. A única opção é a vida. Obrigada, Rodrigo. Muito obrigada querido amigo R.G.

sábado, 13 de março de 2010

Farei ainda mais um decassílabo e mais um soneto e ainda por cima invocarei, só por questão de rima, figuras mitológicas, feito Ícaro

Poesia sobre poesia
Poema de Antonio Cicero sobre obra de Athos Bulcão

Truth to tell, what frustrated composers or soloists we all are; and indeed what frustrated lovers - in spite of all the loves we may have known

Querida, por gostar tanto de você escrevo o que pede, mas confesso que daqui sairá mais uma salada um tanto confusa, incompleta e plena de dúvidas.
Vivemos estereótipos. Vou além: Somos estereótipos ambulantes a repetir comportamentos e  reforçar valores, sem o uso de nossa inteligência, que hiberna em algum recanto aconchegante de nosso maravilhoso cérebro. Alguma vez você perguntou por quê? ou para quê?  antes de apertar o botão e pegar a banana, o mesmo movimento aprendido por algum chimpanzé de laboratório?
Não precisamos retroceder muito: Há quinze dias a atriz britânica Helena Bonham Carter, mulher do cineasta Tim Burton, causou furor ao conceder entrevista sobre sua casa e alguns hábitos familiares. Algo hediondo, imoral, cruel? Não. A família habita em três casas londrinas interligadas, denominadas “territórios separados”. A casa de Helena é interconectada com a casa do marido, que é interligada com a casa das crianças e da babá, para que “todos tenham seus próprios espaços.” Cada casa tem sua própria decoração e o espaço do marido é ocupado por “esqueletos e luzes estranhas”. “É como passar da terra dos vivos à terra dos mortos. Ele pôs luzes de neón para iluminar a penumbra e acredita que o seu lado da casa é James Bond.” No natal, continuou a atriz, o marido enfeita sua árvore com “bebês mortos e coisas afins, adoráveis quando você aprecia de longe, mas quando você vê de perto é bastante macabro. E ele sempre me visita, o que é muito comovente.” Ah, sim, o marido ronca, sofre de insônia e deixa a TV ligada, enquanto a mulher precisa de silêncio para dormir.
O jornal Independent qualificou os hábitos familiares do casal Bonham Carter Burton de “apavorantes.” No meu entender seria apavorante todas as noites tentar dormir ao lado de alguém que sofre de insônia, ronca e deixa a TV ligada. Assim como apavorante seria o humor resultante das noites mal dormidas.
Se considerarmos "apavorante" uma família habitar uma propriedade composta por três casas interligadas, então, seria semi-apavorante o fato de a monarca dormir em quarto separado do marido consorte, além dos diversos castelos que os mantêm distantes durante os períodos das inúmeras atividades desenvolvidas graças aos cargos que ocupam.
Você não acha que falamos sobre a quebra de estereótipos? Por que um casal com hábitos diametralmente opostos deve dormir numa mesma cama? Concordo que o aconchego é sensacional e faz falta, mas, e se existirem desconfortos e consequentes desgastes? O que acontece quando o constante ceder de um sempre favorece ao outro? O que acontece quando a cessão cumulativa com o tempo se transforma em pesada cobrança depreciativa?
Não, não falamos sobre relacionamentos abertos ou coisas parecidas, apenas sobre respeito e espaço, sem os quais a vida fica mais complicada, no mínimo, sufocante.
Outro estereótipo? Casais com idade-padrão: cheguei ao seu calo, querida. O homem deve ser mais velho do que a mulher, ou, ambos podem ter a mesma idade. Por sermos condescendentes e magnânimos aceitamos a diferença de dois, três, quatro anos a mais para a mulher, assim como aceitamos a diferença de dez, vinte, trinta anos a mais para o homem. Aceitamos um casal composto por uma mulher de vinte anos e um homem de sessenta anos, mas a ordem dos fatores altera, e muito, o produto, se a mulher tiver quarenta e o homem vinte. Normalmente, os homens morrem antes e as senhorinhas nonagenárias ficam ao Deus dará.
A minha opinião é meio restrita por conta da minha realidade. Meu filho e eu temos vinte e um anos de diferença e eu convivi com todos os amigos pirralhos dele, uma vez que eu era a mãe mais jovem e mais disposta para os passeios. Somo a essa vivência o fato de ter sido professora universitária e ter acolhido meus alunos como pseudo-sobrinhos. Logo, eu não conseguiria manter um relacionamento com alguém que tivesse idade próxima ou a mesma idade que o garotão e acredito que meu filho também não gostaria de ter um padrasto de trinta e poucos anos. Mas, nos meus limites, não descarto a possibilidade de um relacionamento saudável, honesto, duradouro, bem estruturado, que me faça feliz e que me faça fazer feliz, com um homem alguns anos mais novo.
Não há garantia que um homem de cinquenta anos, ou mais, seja fiel, honesto, respeitoso, dedicado e me faça feliz, portanto, nesse mundo de incertezas, a idade conta bem menos do que o caráter.
Com a vida aprendo a desconsiderar, ou adaptar, os estereótipos estéreis. Bom senso, querida. Respeito aos valores que devem ser respeitados e uma consideração imensa por você mesma.

Imagem de Lilian Bassman

I don't want to see you close up: I'm prehuman, a creature indifferent to calm or tempest - light in the ocean, secure as a floating plank

Imagine um homem estudioso, sábio, culto, mestre, responsável por um dos maiores centro de educação e cultura do mundo e pela melhor biblioteca do planeta, pai de duas crianças, um garoto e uma garota, criadas sem distinção - mentes e corpos saudáveis – com um único ideal: liberdade.
Imagine um pai que compartilha com seus filhos todo o seu conhecimento e lhes transmite o amor pelo saber. Um homem estudioso que faz questão que seus filhos viajem, conheçam outras culturas, aprendam outros idiomas e o ensinamento de outros mestres.
Imagine que a filha, matemática, astrônoma, filósofa e sábia, tal qual seu pai, desenvolveu o amor pelo magistério e, em 375 d.C., alunos de vários lugares iam à Alexandria para as aulas da diretora da academia e da melhor biblioteca do planeta.
Imagine que Hipatía, filha de Theon, era tão bela quanto culta e seu amor pelo saber superou o amor que hoje entendemos buscar e transformar em sinônimo de felicidade.
Imagine que Hipatía era tão respeitada e admirada pelo seu notório saber, a ponto de tornar-se conselheira de filósofos e governantes, seus ex-alunos.
Este é o cenário que o chileno multidisciplinar (músico, escritor, roteirista, ator, diretor) Alejandro Amenábar nos traz em Agora, 2009, filme ambientado na cidade egípcia de Alexandria, famosa por abrigar uma das sete maravilhas do mundo, seu farol, e pela estupenda biblioteca.
Amenábar, que impressionou com Abre los ojos (1997), Los otros (2001) e Mar adentro (2004) - o roteiro (direção e atuação de Amenábar) Abre los ojos, foi a base para o sucesso de Vanilla Sky (2001).
Pela importância de seu centro cultural, no século IV, a cidade de Alexandria influenciava o império romano.
Na academia de Alexandria, Hipatía aprendeu matemática, astronomia, filosofia, poesia, artes, oratória, retórica e na academia Neoplatônica de Atenas, ela aprimorou seu conhecimento, em especial, a lógica.
O mundo vivia sob o domínio romano, época do imperador Graciano, que nomeou Teodósio imperador romano do oriente. Após grave enfermidade Teodósio foi batizado cristão.
À época, em Alexandria, existiam grupos distintos e tradicionais: Os judeus, que há séculos habitavam a cidade, os pagãos, seguidores do politeísmo egípcio, responsáveis pela academia e pela biblioteca e os cristãos, chefiados pelo patriarca Teófilo.
Com o crescimento do cristianismo o conflito entre os três grupos aumentou e através dos parabolanis, que arriscavam suas vidas ao cuidarem de pessoas com enfermidades contagiosas, além de protegerem ao patriarca, os cristãos se insurgiam contra os demais.
A morte de Teófilo levou ao poder seu sobrinho, Cirilo de Alexandria, que assumiu o patriarcado, fortaleceu os parabolanis, orientou a expulsão dos judeus da cidade, tornou mártir o mais duro dos parabolanis, Amônio, que passou a se chamar Thaumasius e induziu à morte atroz de Hipatía.
No filme, a destruição da biblioteca é demonstrada com incrível tristeza, que resultou no empobrecimento da nossa existência.
O comportamento duro e injusto de Cirilo, ele mesmo um estudioso com formação cultural clássica, teológica e conhecedor da retórica, é totalmente contrário à efetiva manutenção do saber que não ampara crenças, tampouco dogmas religiosos. Na academia não discutiam religião, buscavam o saber constante e respostas às questões existentes.
Com a morte do pai e a destruição do centro cultural, Hipatía lecionava para crianças em sua casa, mas foi sua amizade com Orestes, prefeito de Alexandria e seu ex-aluno, que incomodou Cirilo.
Orestes deixara o paganismo e convertera-se ao cristianismo, como muitos pagãos fizeram para sobreviver às mudanças daquele tempo, mas Hipatía era sincera ao afirmar que jamais poderia seguir uma religião, que não permitisse o constante exercício do questionamento, a busca pelo saber.
Esta obra de Amenábar foi fiel à história e reafirmou o quanto desconsidero tantos 'ismos', que finalizam palavras ainda existentes.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Life loves to be taken by the lapel and told: "I'm with you kid. Let's go."

Poesia sobre poesia.
Poema de Paulo Henriques Britto sobre obra de Athos Bulcão

A estranha arte da sublimação

Por tanto sublimar, se mulheres não fossem, seriam excelentes filtros purificadores.
Sublimar é ato eminentemente feminino, praticado por todas, todo tempo.
Categoria gramatical? Verbo seletivo. Detentoras da capacidade plena de sublimar, geralmente sublimam as piores escolhas. Sim, o ato de sublimar faz parte da batida expressão faca de dois gumes - por sinal, afiadíssimos - elixir e veneno, felicidade e miséria.
As mulheres sublimam porque foram ensinadas a sublimar; sublimam porque se acreditam capazes de tudo transformar; sublimam ao desconsiderar a verdade claramente exposta; sublimam pela arrogância remanescente de carregar a criação no próprio ventre; sublimam ao elaborar a vida com o olhar romântico e desconsiderar a lógica linear. As mulheres sublimam para viver.
Por favor, acreditem nas verdades ditas, demonstradas e não tentem melhorá-las.

- Analise a atitude, querida. É tão clara a intenção!
- Eu sei, mas observe aquele olhar tão perdido e carente. A vida deve ter sido dura. Aos poucos, com jeitinho, a coisa toda muda.

- No primeiro encontro ele comentou que, em momentos e brigas distintas, ele empurrou duas namoradas antigas, que caíram no chão e registraram queixa na delegacia?
- Sim, mas ele foi tão honesto comigo, explicou que empurrar não é bater e tenho certeza que ele jamais será capaz de fazer o mesmo comigo.

- Como, querida, depois dos berros histéricos, daquela grosseria toda, da saliva espumando na boca, você ainda acreditou que conseguiria conviver oito horas com a besta-fera?
- Trauma de infância, com certeza o pai foi muito severo. Algum dia muda e se acalma.

- Mas, meu bem, não houve relacionamento no qual ele não tenha traído. Ele comentou com você sobre todas as traições cometidas.
- Eu sei, mas ele não era feliz. Comigo será diferente.

terça-feira, 9 de março de 2010

Beyond the red carpet

Falta um único filme, o estrelado por Helen Mirren e Christopher Plummer, para concluir minha ideia sobre os ganhadores do Oscar 2010. Assim, limito minha opinião - não especializada – sobre as escolhas feitas pelas atrizes para o acontecimento do ano no mundo cinematográfico. Duas constatações iniciais: Foi-se o tempo no qual o nome de algum famoso e reconhecido representante da haute-coture era garantia de elegância e do melhor vestido para a mulher. Também se foi o tempo da exclusividade. Presumo que as atrizes tenham algum especialista que as auxilie na escolha do melhor modelo, afinal, o visual conta muito neste mundo de constante exposição. As mais famosas ocupam a primeira fileira dos desfiles de moda mais interessantes do mundo, local privilegiado para apreciar, aprender e todas possuem condições financeiras para adquirir o melhor. Para seus vestidos, o estilista famoso tem participação direta: imagino o próprio Valentino enérgico, aos pulinhos, a determinar o modelo, o tecido e a cor para sua cliente-atriz preferida. Como melhorar condições tão especiais? Ora, os melhores estilistas e joalheiros disputam as atrizes e oferecem suas melhores criações para a concorrência no tapete vermelho. Então, por que acontecem tantos equívocos? Decotes e fendas exageradas, repetição de modelos passados e identidade de modelos atuais. O belo modelo usado por Kate Winslet no Oscar 2009, foi reproduzido em pequena escala em 2010. Os vestidos Versace de Demi Moore e Elizabeth Banks diferiram na cor, não no modelo. Mariah Carey usou um Valentino, ao menos, essa foi a informação publicada (mas aquilo era um Valentino?). O Givenchy de Zoe Saldanha, em Zoe Saldanha, não parecia um Givenchy e nem a fashionista de carteirinha Sarah Jessica Parker conseguiu acertar com o belíssimo Chanel. Explico melhor: Para determinados vestidos algumas características físicas são fundamentais, altura, por exemplo, porte, graça. Em evidência no palco, a estatura da mignon Mrs. Parker se contrapôs ao belo vestido Chanel, que perdeu a graça, prevalecendo o comentário de Steve Martin: Ela pesa um quilo e vive pela moda. Marchesa foi responsável pelos vestidos de Sandra Bullock, de Vera Farmiga e de Gabourey Sidibe. Não reconheci Marchesa nos três modelos. Anna Kendrick, que participou do filme Crepúsculo e concorreu na categoria melhor atriz coadjuvante pelo filme Up in the air (Amor sem escalas), estava belíssima em seu Elie Saab. De repente, no palco surgiu a caçadora de aliens, Sigourney Weaver, num Lanvin esvoaçante vermelho, que conseguiu transformá-la numa semi-deusa etérea e Kate Winslet valorizou o Yves Saint Laurent e o colar Tiffany com preço indizível. A sempre elegante Helen Mirren optou por Badgley Mishka e Meryl Streep ousou na cor e mais ainda na escolha do estilista, Chris March, recém egresso do Project Runway. Você escolheria um estilista iniciante para a super noite do Oscar? Quanto aos atores, Javier Bardem, ah, Javier Bardem com a barba por fazer em seu Black Signoria Gucci superou as expectativas e o irreverente Robert Downey Jr., de quem sou fã, manteve seu estilo. Outra novidade: Mulheres com mais de quarenta, rugas e lábios sem botox voltaram a fazer sucesso. Será que seremos mais naturais?
Anna Kendrick e seu Elie Saab
Penélope Cruz e seu Donna Karan
Kathryn Bigelow (Yes, time has come! As said by Barbra Streisand) e seu Yves Saint Laurent
Sigourney Weaver e seu Lanvin
Meryl Streep e seu Chris March
Kate Winslet e seu Yves Saint Laurent
Sandra Bullock e detalhes de seu Marchesa
Sarah Jessica Parker e seu Chanel
Kate Bosworth e seu Valentino
Jennifer Lopez e seu Armani na entrega do Oscar, seu Gucci na festa da Vanity Fair. A elegância de Oprah Winfrey e Jessica Simpson
Anna Kendrick (Elie Saab), Amanda Seyfried (Armani), Cameron Diaz e seu Oscar de la Renta para a entrega do Oscar e seu Victoria Beckham para a festa Vanity Fair.
Zoe Saldanha (Givenchy), Elizabeth Banks (Versace), Diane Kruger (Chanel)

domingo, 7 de março de 2010

A crystal submarine surfaced at night when the full moon was flipping

Houve um tempo com menos marcas e muito mais conteúdo.
Dizíamos o mundo através de camisetas simples, básicas e criativas, acompanhadas por nossos velhos jeans e tênis preferidos.
Não havia tanta produção, nem ostentação, éramos mais leves.
Éramos rebeldes pacíficos, mais livres, muito mais claros e bem humorados. Nosso modo de vida era menos complicado e nossas pretensões mais puras, ao menos, bem mais realizáveis.
Havia menos pressão e falávamos a mesma língua. Houve um tempo no qual escondemos a torre de babel e escolhíamos bagagens mais leves, líamos mais livros, éramos mais saudáveis e soltos. 
O pôr-do-sol era acontecimento seguido de aplausos e nosso êxtase natural vinha da alma. Nossos sonhos eram idealistas, nossas conversas múltiplas, nossos olhares mais brilhantes.
Houve um tempo no qual nossas fases não se sobrepunham, por isso, éramos reconhecíveis e nos reconhecíamos mais.
Haverá um tempo com menos marcas e muito mais conteúdo.

When they find me on the cross of my death
the sky around will have reddened far beyond 
there’ll be a suspicion of sea
and, from above, in a now terrifying darkness
a white bird will recite my songs.

Miltos Sachtouris

He stared deep, deep into the well, its depth had no end in this life

Sou fã de Umberto Eco e trago seu texto publicado no The New York Times, traduzido do italiano por Alastair McEwen, do inglês por Eloise De Vylder, veiculado no espaço blog e colunas do site UOL.
A discussão é boa e encontra mais material no livro "Sete minutos", 1969, de Irving Wallace, em textos publicados por estudiosos do comportamento humano e na famosa capacidade de escolha que todos têm.

Os eleitores estavam acostumados com que a vida dos políticos fosse governada por dois princípios, o primeiro deles é melhor resumido por um apimentado ditado italiano: “Megghiu cumannari c’a fottiri”. Traduzindo de uma forma casta, isso quer dizer: “exercer o poder é melhor do que sexo”. O outro é que os homens poderosos normalmente desejavam mulheres como Mata Hari, Sarah Bernhardt ou Marilyn Monroe.
O que é espantoso é que muitos políticos ou empresários de hoje não sucumbem, digamos, à tentação de desviar dinheiro de obras públicas, mas, sim, às seduções de prostitutas de luxo que comandam somas mais altas do que as exigidas por Madame de Pompadour em sua época. E se essas garotas de programa profissionais não são de seu agrado, eles procuram outras que fornecem serviços mais especializados.
Além disso, muitos parecem buscar o poder especificamente com esperança de demonstrá-lo entre quatro paredes. Veja bem, grandes homens em toda a história não foram indiferentes aos prazeres da carne. Aqui na Itália, embora alguns líderes políticos de outrora tenham talvez observado uma certa austeridade, Júlio César ia alegremente para a cama com centuriões, nobres romanas e rainhas egípcias igualmente. Isso também vale para outros lugares: o Rei Sol tinha amantes em abundância, o rei Victor Emmanuel 2º da Itália perseguia a sua Rosina e, quanto ao presidente norte-americano John F. Kennedy... Quanto menos dissermos, melhor. Entretanto, esses homens pensavam nas mulheres (ou nos garotos) como uma espécie de descanso e recreação para um bom soldado. Em outras palavras, a ordem do dia era conquistar o país da Báctria, humilhar o chefe gaulês Vercingetorix, dominar todos os inimigos desde os Alpes até as Pirâmides, ou unir a Itália. O sexo era um bônus, como um martíni servido no final de um dia exaustivo. Por outro lado, hoje em dia, os homens no poder parecem desejar em primeiro lugar, e acima de tudo, passar uma noite festejando com dançarinas de boate, e as grandes iniciativas nunca fazem parte do cenário.
Se os heróis do passado liam Plutarco para se divertir, seus colegas modernos sintonizam certos canais de TV depois da meia noite ou entram em sites sugestivos na internet. Uma recente pesquisa para buscar informações sobre o padre e místico italiano Padre Pio de Pietrelcina na internet gerou 1,4 milhão de resultados. Nada mal. Mas uma busca por pornografia encontrou 130 milhões (sim, 130 milhões) de sites. Uma vez que “Jesus” é um termo de busca mais específico do que “pornografia”, decidi buscar a palavra “religião” para poder comparar: a busca produziu pouco mais de 9 milhões de sites como resultado – uma gota num balde se comparada à “pornografia”.
O que é possível encontrar nesses 130 milhões de sites pornográficos? As opções mais básicas respondem vividamente ao “quem, o quê, onde, quando e porque” do sexo. O restante são sites dedicados a todo tipo de coisas, desde várias formas de incesto (que deixaria Édipo e Jocasta constrangidos) até fetiches incomuns.
A pornografia pode ter uma função positiva: fornecendo uma válvula de escape para aqueles que, por algum motivo, não praticam o ato em si, ou então reacendendo a vida sexual de casais com relacionamentos mornos. Mas ela também pode iludi-lo, fazendo-o acreditar que uma garota de programa cara pode fazer coisas que Friné, a cortesã mais famosa do mundo clássico, nunca teria imaginado.
Não estou me referindo apenas aos 42% de italianos que usam a internet, de acordo com a União Internacional de Telecomunicação; todos os dias, os demais 58% podem assistir na tela de suas TVs coisas que são dez vezes mais estimulantes do que qualquer coisa que estivesse disponível a um rico empresário de Milão dos anos 40. Hoje, as pessoas estão muito mais expostas ao sexo do que seus avós estavam. Considere um pobre padre de paróquia: houve um tempo em que a única mulher que ele via era a empregada doméstica, e tudo o que ele lia era o jornal católico “L'Osservatore Romano”. Hoje há garotas com trajes mínimos na TV todas as noites.
Então, será que existe algum motivo para não pensar que esse incessante estímulo ao desejo também está afetando os funcionários do governo, causando uma mutação da espécie e modificando o próprio propósito de seu papel na sociedade?

Lembramos os pequenos oráculos da infância, os sonhos que são memórias

Em 1965, a garotinha completou cinco anos, o litro de leite era vendido em garrafa de vidro e o Mug fazia o maior sucesso. Na garagem o Aero Willys cor de vinho substituiu o Studebaker cinza. Na sala de leitura muitos livros, periódicos gregos, ingleses e o jornal O Estado de São Paulo, para firmar bem a gramática portuguesa dos pais. A mãe também lia A Cigarra e Manchete. As garotas mais velhas, mocinhas de dezesseis anos, imitavam a Wanderlea e ganhavam dos namorados anel feito com o brucutu do fusca. Não havia fusca com o brucutu intacto. Na televisão sem cores os festivais de música da Record faziam muito sucesso e Elis Regina emprestou sua alma ao interpretar Arrastão: ... Olha o arrastão entrando no mar sem fim / É meu irmão me traz Iemanjá pra mim / Minha Santa Bárbara me abençoai... Valha-me meu Nosso Senhor do Bonfim /  Nunca, jamais se viu tanto peixe assim. Saudosismo? Não. O tempo todo revivo todos os tempos. É apenas vontade de falar sobre coisas, com o meu olhar da época,  sem encontrar rostinhos de dúvida, nem expressões sentimentais que concluam qualquer frase com as mesmas três palavras: faz tanto tempo. Não faz tanto tempo. Foi ontem.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Menina, sê ardente, mas prudente

Poesia erótica traduzida por José Paulo Paes (Companhia das Letras)

Obscur et froncé comme um oeillet violet                Franzida e obscura como um ilhós violeta,
Il respire, humblement tapi parmi la mousse            Ela respire, humilde, entre a relva rociada
Humide encore d’amour que suit la rampe douce      Inda do amor que desce a branda rampa das
Des fesses blanches jusqu’au couer de son ourlet     Alvas nádegas até o coração da greta.

Des filaments pareils à des larmes de lait                Filamentos iguais a lágrimas de leite
Ont pleuré sous le vent cruel que les repousse        Choraram sob o vento atroz que os arrecada
A travers de petits caillots de marne rousse,           E os impede através de marnas arruivadas
Pour s’aller perdre où la pente les appelait.            Até perderem-se na fenda dos deleites.

Mon rêve s’aboucha souvent à sa ventouse.           Beijando-lhe a ventosa, o meu sonho o frequenta.
Mon âme, du coït matériel jalouse,                        A minha alma, do coito material ciumenta,
En fit son larmier fauve et son nid de sanglots.       Qual lacrimal e ninho de soluços usa-a.

C’est l’olive pâmée et la flûte câline,                     É a oliva evaída é a flauta agreste,
Le tube d’où descend la céleste praline,                O tubo pelo qual desce a amêndoa celeste,
Chanaan féminin dans les moiteures enclos.           Feminil Canaã em seus rocios reclusa.

Rimbaud

Rapidelas prosaicas e serenas

Hoje, resolvi tirar folga de exames, consultas, laboratórios e hospital. Com o cão ao lado (ele adora passeios extras) irei ao sapateiro e levarei sapatos para conserto, buscarei bolsa e um par de tênis consertados e, depois, levarei o cão ao merecido banho. Enquanto o cão estiver no pet-shop tomarei um café e observarei as pessoas sentadas próximas, as que passarem pela rua e lerei algumas páginas do livro recém escolhido. Prepararei jantar delicioso – pernil de cordeiro, ervas aromáticas frescas, batatas assadas e salada completa: metade folhas verdes de diversos tipos e metade com jeitinho grego (tomates, pepinos, azeitonas, queijo, orégano).
Preencherei as etiquetas compradas ontem, na volta do hospital, e organizarei exames de acordo com as especialidades, papéis importantes que serão analisados em breve, minha escrivaninha e as caixas de sapatos. Definirei a exaustiva agenda da próxima semana. Prometi sobre a palavra disciplinada. Há muito tempo não passo um dia assim, com o cão.

Deixem de lado o cigarro. Deixem o cigarro de lado para sempre. Somos persistentes, nós, os racionais humanos. Ontem, uma senhora aguardava ser atendida por um dos médicos e solicitou que sua amiga fosse ao setor de quimioterapia e avisasse ao responsável sobre o seu atraso, por conta da consulta. Aquela senhora tratava um câncer. Na saída do hospital aquela senhora fumava um cigarro. Isso quer dizer que nem o devastador impacto da notícia sobre o câncer, muito menos o medo, a depressão o tratamento e seus efeitos colaterais conseguiram fazer com que aquela senhora deixasse o cigarro de lado para sempre. Sinto por ela e fico com raiva da nossa racional espécie, a humana, capaz de criar substâncias tão viciantes. Sinto raiva da nossa impotência. Sinto raiva das escusas que habitualmente inventamos para nos auto-iludir. Não gosto de sentir raiva.

O cão ficou dois dias sem um carinho meu. Mandei-o de castigo ao quarto do garotão. O cão sentiu falta do meu carinho e atenção. Eu senti falta de fazer carinho no cão e de receber seu carinhoso e zeloso olhar. O cão transmite paz. Mas, às vezes, por mais que sintamos falta dos que amamos, é necessário manter distância e torcer para que alguma luz acenda e ilumine a mente embotada.

Cada um sabe o que vai por dentro.

Apague essa ideia!

Cigarro. Apague essa ideia.

Fumar é um péssimo negócio para sua saúde

Ter consciência sobre os malefícios do tabagismo é importante para todas as pessoas, sejam fumantes ou não-fumantes. Para as primeiras, no entanto, trata-se do passo inicial e fundamental para livrar-se do vício. Estudos médicos revelam que uma pessoa fumante vive, em média, oito anos menos do que uma não-fumante.

O tabagismo é diretamente responsável por 30% das mortes por câncer e 90% das mortes por câncer de pulmão. A cada ano, 200 mil pessoas morrem precocemente, vítimas das diversas doenças causados pelo tabagismo.

O tabaco está ligado a cerca de 50 diferentes doenças

O tabagismo está diretamente ligado a cerca de 50 diferentes doenças, sendo responsável por um em cada três casos de câncer. O hábito de fumar está relacionado ao desenvolvimento de diversos tumores malignos nas regiões da boca, faringe, laringe, esôfago, bexiga e colo do útero. O tabagismo pode, ainda, causar impotência sexual no homem, complicações na gravidez, úlcera do aparelho digestivo, infecção respiratória, trombose vascular, entre outras doenças.

O cigarro, aliado à ingestão de bebidas alcoólicas, aumenta em 150 vezes o risco de contrair câncer. Mulheres que tomam anticoncepcionais e fumam têm 10 vezes mais risco de sofrer derrame cerebral e infarto em relação às não-fumantes. De acordo com estudos médicos, o tabagismo é responsável por:

90% das mortes por câncer de pulmão

85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica

30% das mortes por câncer

25% das mortes por doença coronariana

25% das mortes por doença cerebrovascular

Fumar é inalar 4.700 substâncias tóxicas

Todos os derivados do tabaco utilizados sob a forma de inalação (cigarro, charuto, cachimbo, narghilé, etc.) fazem mal à saúde.

Ao consumir qualquer um deles, você está colocando dentro de seu organismo cerca de 4.700 substâncias tóxicas. Entre elas, a nicotina (responsável pela dependência química), o monóxido de carbono (o mesmo gás que sai dos escapamentos dos automóveis) e o alcatrão (que tem em sua constituição substâncias que causam câncer).

O cigarro prejudica todos que estão a sua volta

O fumante também está prejudicando a saúde de quem está perto dele, os chamados fumantes passivos. Estudos revelam que a fumaça aspirada pelo não-fumante apresenta níveis oito vezes maiores de monóxido de carbono, o triplo de nicotina, e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas que a fumaça tragada. Isso porque a fumaça que sai da ponta do cigarro, diferentemente da que entra pela boca do fumante, não passa pelo filtro.

Dessa forma, os fumantes passivos têm um risco 23% maior de desenvolver doença cardiovascular e 30% mas chances de ter câncer de pulmão. Crianças expostas à fumaça do tabaco podem desenvolver doença cardiovascular quando adultas, infecções respiratórias e asma brônquica. A fumaça também prejudica aos animais domésticos.

Bebês fumantes

Ao fumar durante a gravidez, todas as substâncias tóxicas inaladas pela mãe chegam ao bebê por intermédio da placenta, colocando em risco a saúde de ambos. As substâncias presentes no cigarro podem causar, entre outros malefícios, aborto espontâneo, nascimento prematuro, bebês de baixo peso, mortes fetais e de recém-nascidos. Além disso, complicações com a placenta e episódios de hemorragia ocorrem com mais freqüência entre as grávidas que fumam.

Os riscos para a gravidez, o parto e a criança também existem quando a gestante é obrigada a viver em ambiente poluído pela fumaça do cigarro. Nesse caso, ela absorve as substâncias tóxicas da fumaça, que passam para o feto pelo sangue da mãe. Outro fator de alto risco é fumar durante o período de amamentação porque a nicotina é absorvida pela criança por meio do leite materno.

Sempre vale a pena parar

Independentemente de sua idade ou quanto tempo você fuma, a decisão de livrar-se do vício sempre traz benefícios para seu organismo.

Tão logo você parar de fumar, a saúde de seu corpo começa a reagir de maneira positiva. Confira o que acontece após:

20 minutos sem fumar, sua pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.

2 horas, já não há mais nicotina circulando em seu sangue.

8 horas, o nível de oxigênio de seu sangue volta ao normal.

12 a 24 horas, seus pulmões começam a funcionar melhor.

2 dias, seu olfato e paladar melhoram.

3 semanas, sua respiração torna-se mais fácil e a circulação melhora,

1 ano, você reduz em 50% o risco de morte por infarto do miocárdio.

5 anos, redução de 50% na possibilidade de desenvolver câncer de pulmão, boca, garganta e esôfago.

20 anos, o risco de desenvolver câncer de pulmão passa a ser igual ao de quem nunca fumou.

Para quem deseja parar de fumar

Consciência, força de vontade e atitude são os pilares que sustentarão você na batalha contra o tabagismo. É preciso vencer a etapa inicial de abstinência. As opções de tratamento variam de acordo com a pessoa e levam em consideração diversos aspectos, como, por exemplo, o nível de dependência.

Mas existem algumas dicas que podem ajudar a todos. Confira:

- Cada vez que tiver vontade de fumar, tome um ou dois copos de água.

- Adore uma rotina de exercícios físicos: caminhadas, natação, ginástica, etc. Escolha atividade de que você goste.

- Evite qualquer estímulo que lembre o cigarro.

- Livre-se de cinzeiros e isqueiros.

- Terminada a refeição, deixe a mesa imediatamente e escove os dentes.

- Fora do horário das refeições, caso sinta fome, dê preferência a alimentos saudáveis (frutas, barras de cereais, sucos naturais, etc.)

- Lembre-se sempre de todas as razões que o fizeram tomar a atitude de parar de fumar.

- Procure o auxílio especializado de um grupo de apoio.

O texto acima, faz parte da campanha "Cigarro. Apague essa ideia" promovida pelo Hospital do Câncer de São Paulo (Hospital A.C.Camargo e Fundação Antônio Prudente) e encontra-se em um dos inúmeros prospectos distribuídos por aquela instituição hospitalar.

Imagem inicial de Enrique De la Osa ("enroladora de charutos Cohiba"); segunda, terceira e quarta imagens, reproduções pesquisadas na internet; quinta imagem criação.

terça-feira, 2 de março de 2010

More and more people wanting to get involved

Ventriloquy

I walk into the wrong room
And miss my own wedding.
Through the only hole in the wall I see
All proceeding perfectly: The groom in white
The bride with flowers in her hand, the rites
The vows, the kiss
Turning my back on it: fate, the ventriloquy
I've worked so long and hard at
(tongue, that warm aquatic creature,
squirms domestic in its tank)
And the creature says: I do.

*        *        *

Fusion kitsch

When did it all begin
This bucolic and pan-incestuous atmosphere
Was it not always there in the selfsame family album
Lovers fallen to the status of kin
Animals fallen to the condition of lovers
Nor let us forget the repressive inclinations
In the animistic discourse to which
All romances arrive in the end

A pouca luz da sala determina a ilusão

O texto abaixo, publicado dia primeiro de março, no site da BBC  Brasil, é dedicado aos meninos. Mas as meninas também podem ler.

Estudo liga infidelidade masculina a QI mais baixo

Homens que traem as esposas e namoradas tendem a ter QI mais baixo e ser menos inteligentes, segundo um estudo publicado na revista especializada Social Psychology Quarterly.
De acordo com o autor do estudo, o especialista em psicologia evolutiva da London School of Economics, Satoshi Kanazawa, “homens inteligentes estão mais propensos a valorizar a exclusividade sexual do que homens menos inteligentes”.
Kanazawa analisou duas grandes pesquisas americanas a National Longitudinal Study of Adolescent Health e a General Social Surveys, que mediam atitudes sociais e QI de milhares de adolescentes e adultos.
Ao cruzar os dados das duas pesquisas, o autor concluiu que as pessoas que acreditam na importância da fidelidade sexual para uma relação demonstraram QI mais alto.
De acordo com o estudo, o ateísmo e o liberalismo político também são características de homens mais inteligentes.
Evolução
Kanazawa foi mais longe e disse que outra conclusão do estudo é que o comportamento "fiel" do homem mais inteligente seria um sinal da evolução da espécie.
Sua teoria é baseada no conceito de que, ao longo da história evolucionária, os homens sempre foram “relativamente polígamos”, e que isso está mudando.
Para Kanazawa, assumir uma relação de exclusividade sexual teria se tornado então uma “novidade evolucionária” e pessoas mais inteligentes estariam mais inclinadas a adotar novas práticas em termos evolucionários – ou seja, a se tornar “mais evoluídas”.
Para o autor, isso se deve ao fato de pessoas mais inteligentes serem mais “abertas” a novas ideias e questionarem mais os dogmas.
Mas segundo Kanazawa, a exclusividade sexual não significa maior QI entre as mulheres, já que elas sempre foram relativamente monogâmicas e isso não representaria uma evolução.

Imagem de Doisneau

Leões, gazelas, peixes e salada

Sem dúvida é melhor, faz o outro crescer, dá trabalho, mas é muito mais produtivo ensinar a pescar, mesmo que todos queiram receber o peixe descamado, limpo, temperado e frito, ou, um pesqueiro produtivo pronto, com peixes saudáveis em abundância e bem treinados para se cuidarem sozinhos. As possíveis diferenças entre um pesqueiro recebido pronto e outro criado com esforço pelo próprio dono, é que algum dia o primeiro pode ter todos os seus recursos esgotados e seu atual proprietário não saber o que fazer, enquanto o segundo, desde que administrado com zelo e eficiência, superará as dificuldades e tenderá ao progresso e ao sucesso constante.
Mas nessa história de pesca e pescador há uma série de circunstâncias, detalhes, particularidades que ora demandam pela real competência de ensinar do bom pescador, ora dependem da capacidade de aprendizado do aspirante a um lugar na ala dos pescadores. Saber pescar não significa saber ensinar a pescar e entre querer aprender a pescar e ter condições para ser um pescador há um universo a ser conquistado. Afinal, o ex-aspirante a pescador pode aprender e ser um excelente padeiro, carpinteiro ou o eterno dependente de outro pescador.
Os simplistas resumem os esforços em três palavras distintas: Competência, perseverança e vocação. Com a mesma simplicidade acrescento a quarta palavra: Necessidade, a mãe postiça da engenhosidade.
O que acontece quando, de repente, o pescador experiente e bem sucedido novamente se torna aprendiz? Ou está cansado demais de tantas pescas, que perdeu o entusiasmo para aprender novas técnicas e assim progredir? O que acontece quando o jovem aprendiz é tão cheio de si, considera-se perfeito, capaz e desvaloriza o ensinamento do bom pescador? Mais uma vez a real vocação para ensinar equilibrará a temporária deficiência do aprendiz, seja ele quem for. Aquele que ensina a pescar  tem natureza paciente e, generosamente, compartilha toda a sua experiência. Reconhece o momento ideal, respeita o aprendiz, sabe suas limitações, recua, avança, está próximo para ampará-lo no primeiro tombo e não sonega o pulo do gato, ou melhor, o pulo do peixe. O bom pescador não desiste do outro.
Na fauna da qual fazemos parte dizem que o leão acorda com a certeza que deve correr mais do que a gazela e a gazela não dorme por conta do treino constante para correr muito mais do que o leão.
Faço minha habitual salada: Gazelas, leões, pescadores e aspirantes, todos podem coabitar em paz, trocar experiências e aproveitar os recursos naturais perenes. Neste campo, somos todos aprendizes.
Acordei com o jeito Esopo de ser.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Abobrinhas rápidas

Primeiro de março, teoricamente começou a brincadeira do ano novo de fato, posterior ao réveillon e ao carnaval. Essa ideia comum, essa condescendente elasticidade da folga nunca funcionou para mim. Não há folga prolongada, nunca houve. E para sentir um teco a mais de ansiedade, eu percebo que a ida ao supermercado ridiculariza de vez nossa precária noção de tempo: 2009 terminou há cinquenta e nove dias, os enfeites e as ofertas de natal foram recolhidas, ainda existem panetones, frutas secas e cerejas a preço de banana e os ovos de páscoa já estão expostos, pendurados bem próximos de nossas cabeças. Decididamente, o comércio acelerou nosso envelhecimento.

Outro dia li artigo sobre a maternidade nos moldes antigos e a repercussão desse movimento. Céus! Um mês e meio após a comemoração dos meus vinte e um anos o pimpolho nasceu e eu tive que esquecer os temores característicos das mães inexperientes e, literalmente, arregaçar as mangas para lavar no tanque previamente esterilizado as fraldas de algodão (o pediatra, que foi meu pediatra, proibiu o uso da máquina de lavar), fervê-las em balde reservado para as roupas do bebê, passá-las, ferver as mamadeiras, os bicos das mamadeiras e tudo mais utilizado para chazinhos, sucos e papinhas. Liquidificador era outro utensílio desconsiderado: Os ingredientes frescos e recém cozidos das papinhas eram passados na peneira previamente escaldada com água fervente. Lembro o quanto eu me sentia esterilizada com tudo isso e também grata pela ausência de chupeta, senão seria uma coisa a mais para ser fervida. Durante quatro meses eu dormia três horas por dia, porque justo no penúltimo ano do curso de Direito, as aulas começaram quatorze dias depois do nascimento do garotão. Lógico que meu leite se foi com todo o cansaço. Os bebês das minhas amigas usavam fraldas descartáveis, papinhas da Nestlé, as mamadeiras e as chupetas caiam no chão e eram reutilizadas sem qualquer frescura, quanto muito uma sopradinha ou o passar da mão da zelosa mãe. Todas as crianças cresceram e todas as mães sobreviveram.
Sabemos que a maioria das mulheres posterga a maternidade em prol da carreira escolhida. A maternidade nos moldes antigos pressupõe mães em tempo integral e pais participativos. Caso contrário, será mais uma forma de aumentar nossa atávica culpa.

Tristeza. Cada vez que leio quem serão os candidatos sinto tristeza e penso no trabalho que terei para ir ao posto eleitoral e não votar. Por favor, não me tomem por exemplo, eu não sirvo pra coisa. Não consigo votar no “menos pior” e não dissocio vida pessoal, histórico dos feitos e vivências, das aspirações políticas dos candidatos. Para mim, o voto no Brasil não deveria ser obrigatório.
Tenho capacidade danada para perceber os recursos utilizados para aprimorar aparências e condutas. Eu não voto em aparências, nem em promessas.

Imagem de Lilian Brassman