quinta-feira, 2 de julho de 2009

Last chance

O que esses dois têm em comum? Salvo a eventual similaridade entre taças de chardonnay seco e algumas doses a mais de whisky, entre algum livro sempre ao alcance das mãos e a solitária vida repetitiva, ou ainda, entre a total falta de entusiasmo em seus trabalhos e a incapacidade crônica de lidarem com outras pessoas. Ah, sim, os dois estão em constante defesa emocional e mantém a mesma postura física - os braços cruzados - ela mais alta, bem mais alta, a imaginar uma cabaña rústica na Espanha e um rio perto para o banho diário (o local ideal para escrever o seu próprio livro) e ele a amargar a carreira de talentoso pianista de jazz, que não teve. Fora essas eventuais similaridades, ou totais discrepâncias, nada poderia atraí-los, a não ser a imensa insegurança que sentem e o fato de ambos serem extremamente eficazes ao boicotarem, ao máximo, suas próprias vidas.
Com um quê de Before Sunrise (1995, Richard Linklater) a considerar o encontro inesperado do viajante com a estrangeira solitária e de An Affair to Remember (1957, Leo McCarey) na ausência manjada ao encontro marcado no dia e horário que marcaria o início de suas vidas, é o humor dos dois - muitas vezes mordaz e irônico - que os torna tão especiais. Ele retirou a armadura de inapropriado e fracassado, que em algum momento da vida resolveu vestir, e a ajudou a derrubar o muro que ela mesma havia construído ao redor de si. Como começariam sua história e se seriam felizes juntos? Nem ele e tampouco ela sabem, mas ele prometeu que dariam certo e ela não teve qualquer dúvida, nem nós da platéia.
A mãe dela, uma mulher triste e acuada, que sonhava ir à Grécia com a filha solitária - sempre teremos a Grécia para irmos - e vivia assustada com as atividades suspeitas da vizinhança, além de telefonar de cinco em cinco minutos para a filha, redescobre a vida e acaba com o vizinho polonês, gentil e bem interessante, que defumava cadáveres, quer dizer, carne, na cabana de seu quintal.
Last chance Harvey (2008) de Joel Hopkins, com Emma Thompson e Dustin Hoffman, Eileen Atkins, Kathy Baker e James Brolin. Todas belíssimas, distintas e plenas, com suas rugas, seus cabelos e corpos normais.



Sou super fã de Emma Thompson desde seu tempo com Kenneth Branagh, os filmes baseados nas obras de Shakespeare, o suspense noir do casal que retoma vidas passadas e tantas outros trabalhos que fizeram juntos - Emma parecia um apêndice de Kenneth, e mais ainda do seu tempo pós-Kenneth, da Emma plena, complexa e ao mesmo tempo leve, capaz de mergulhar fundo em Carrington (1995), Sense and sensibility (1995), o genial The winter guest (1997) belíssimo trabalho realizado com sua mãe Phyllida Law, a presa política torturada de Imagining Argentina (2003), de suas brincadeiras em Harry Potter and the prisioner of Azkaban (2004) Nanny McPhee (2005) e Harry Potter and the order of Phoenix (2007), sem esquecer do interessante roteiro de Stranger than Fiction (2006) sobre a escritora em crise, no qual também contracena com Dustin Hoffman, além de Queen Latifah e Will Ferrell.

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