terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Perguntas da esfinge

Decididamente, este não é um tema a ser tão considerado, nem discutido – alguém descobriu a causa do câncer? Alguém? Como extinguir a fome? Como acabar com o abandono? Você aí? Nada? – mas a vida é feita disso, daquilo, daquilo outro e assim também passa o tempo.
Ao zapear os canais de TV entre a leitura de um livro e o mais novo DVD, nesta fase de quietude e mansidão para que os pontos, por enquanto, fiquem exatamente onde estão (Ai vai uma enquête relâmpago - O que você teme mais: A realização de algum exame médico, ou, o recebimento do resultado?) assisti a leitura feita por Tiger Woods do texto sobre seu arrependimento por ter traído seu casamento e causado dor, etc, etc, etc. Mas o quê ele está fazendo aí? Porque essa exposição? Afinal, do que se trata?
Não sou fanática por golfe, mas lembro bem do aparecimento daquele garoto nos campos, sua concentração e seu sucesso imediato. Precoce. Aos vinte e um anos conquistou seu primeiro Master e manteve o mesmo olhar, a mesma expressão, o entusiasmo contido. Imaginei sua criação rígida, controlada e direcionada – a gente imagina o que quer e o que não quer. E lá estava ele, na frente de jornalistas, câmeras, microfones e de sua mamãe, para a entrevista coletiva monólogo sem possibilidade de qualquer pergunta, só a leitura de um texto, no mínimo, duvidoso.
O que, afinal, fez Tiger Woods? Ah! Então, faltou uma figura típica: a esposa bem arrumada que apóia o marido famoso em sua confissão pública de adultério, preferências e condutas sempre ligadas ao sexo. Se eu tivesse que escolher a melhor figura típica do gênero, confesso que oscilaria entre Jackie O e Hilary Clinton. A primeira, não abriu a boca, nem um piu, sobre o lânguido derretimento público de Marylin Monroe; já a segunda, enquanto Mr. President semi-confessava, demonstrou seu total apoio e anuência através do balanço de sua cabeça enérgica e de seu olhar dúbio, ora pleno de admiração pelo maridão, ora pleno de ódio feminino velado a dizer: Depois eu coloco esse moço na linha e lanço minha candidatura à presidência.
Quantos ensaios, assessores, quantas palavras contadas, cortadas, refeitas, recontadas para confessar em público casos que se tornaram públicos. Mas qual é o nosso interesse nessa história toda? Mr. Woods sofre de algum vício sexual ou é, de fato, mulherengo? Isso o torna pior, ou melhor, jogador de golfe? Os resultados por ele conquistados serão afetados? E quanto ao Mr. Presidente, detentor do poder de definir o destino de milhões de pessoas? São dois pesos e duas medidas ou um peso e só uma medida?
Num mundo no qual a aparência é mais estimada do que o conteúdo e valores principais são esquecidos, confesso que me senti meio perdida com a importância conferida a essa história e, ao mesmo tempo, sem saber como responder as seguintes perguntas:
- Você confiaria num médico mulherengo?
- Você confiaria num advogado ou num juiz que sofre de compulsão sexual?
- Você gostaria que seu namorado, marido, companheiro convivesse com aquele melhor amigo, hedonista ao extremo e voltado exclusivamente à busca pelo sexo oposto (tentei não repetir a palavra mulherengo)?
- Você aceitaria o casamento de sua filha com aquele Don Juan Casanova?

Imagem de Joe Tan - figura da ópera chinesa.

Complemento: Obrigada, Gerana. Muito obrigada.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

O pior é esperar o resultado. Meu pai dizia tanto que a dúvida é o pior estado da alma, que isto acabou entrando irremediavelmente em mim.
E, sim, eu confiaria nos tipos listados. As pessoas são cheias de facetas. Pode ser recriminável em uma e excelente em outra. Lembra de Clinton? Jamais entendi tanto drama por conta daquela Monica não-sei-das-quantas, o que intressava para o mundo as necessidades sexuais dele?
Estou torcendo por você. Você sabe.