sábado, 13 de fevereiro de 2010

Cada lugar nos mostra uma vida clara e desmedida, enquanto o tempo oscila e nos oculta que é curto e ambíguo porque nos dá a morte e a vida

A tristeza vai transformar-se em alegria,
E o sol vai brilhar no céu de um novo dia,
Vamos sair pelas ruas, pelas ruas da cidade.
Peito aberto,
Cara ao sol da felicidade

E no canto de amor assim,
Sempre vão surgir em mim, novas fantasias,
Sinto vibrando no ar,
E sei que não é vã, a cor da esperança,
A esperança do amanhã.

Cartola e Roberto Nascimento

Filho e cão na praia e o carnaval corre solto em todas as cidades. Sábado de sol, barulho de água corrente da piscina do hotel ao lado.
Vejo a chave do carro e penso: São Paulo está com menos movimento, que tal retomar essa rédea e deixar o receio de lado? Reformulo a frase e corrijo a palavra principal: Não se trata de receio, mas de prudência, respeito e responsabilidade. No final de novembro de 2008, no Recife, após escalar os escombros de algumas casas, uma delas em demolição, para tirar fotografias dos prejuízos causados pela queda de um avião, voltei para minha terra com tendões rompidos, quistos e forte inflamação nos dois tornozelos – para espanto do primeiro ortopedista, que examinou a ressonância inicial e disse que jamais vira dois tornozelos naquele estado.
A partir daquele momento, deixei de lado o carro e me senti insegurança para caminhar: temia a forte dor, temia cair e me machucar mais.
Minha médica justificou a incapacidade que alguns de seus colegas têm para se expressarem devidamente e, aos poucos, retirou meu medo de caminhar. Caminhe, dizia ela, caminhe o quanto conseguir, no seu tempo, no seu limite, mas não deixe de caminhar. Você resolverá tudo isso com o tempo.
Desde outubro de 2009, descartada qualquer malignidade nos tornozelos e definida a necessidade de fisioterapia (que será marcada na próxima semana), passo horas a caminhar a ponto da massagista, que me atendia em 2004 e a quem procurei no mês passado, perguntar se faço musculação. Apenas caminho. Somente uso tênis e caminho. Caminho e deixo toneladas de pensamentos pelas ruas, avenidas e praças. Descubro recantos, odores, encantos e cores desta cidade, tudo no meu tempo e no meu compasso. Nas poucas vezes que meu filho caminhou ao meu lado, acompanhei seu passo e displicentemente o ultrapassei. Brinco. Sempre faço folia.
Hoje subirei a avenida próxima e seguirei pela minha avenida do coração para buscar uma encomenda que fiz, para curtir minha livraria preferida, conhecer os filmes recém lançados, tudo no meu tempo. Liberdade. A caminhada é o meu samba nos pés.
Imagem de Lilian Bassman

Complemento:
Obrigada, Gerana. Você me faz bem.

2 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Será a livraria Cultura do Conjunto Nacional? Adoro!!!

M: você ficará BOA e andará, andará e andará. Tem muito o que andar ainda. Tenha certeza, sou sensitiva.

Gerana Damulakis disse...

E vc a mim.