quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Há praças onde esculpir um lírio, zonas sutis de propagação do azul, gestos sem dono, barco sob as flores, uma canção para ouvir-te chegar

Quero a leveza em tudo, muito mais no carregado, no insuportável.
Não é sem motivo que assumi os versos de Alice Ruiz:
"À beira do insuportável
Essa qualidade rara
Ser insubordinável"
Do mesmo modo a megera domada é diariamente editada - a que não é megera, nunca foi.
E mesmo a insubordinação de revolucionária nada tem, é mansa, baseada em valores reais, na correção, no sacrifício: o auto-sacrifício, em detrimento da saúde, do divertimento, da paz, daí o esforço constante pela leveza.
Dezembro passado eu temporariamente parei os procedimentos médicos e laboratoriais, salvo aqueles que eu podia cumprir nos sábados, para dedicar-me integralmente ao trabalho, colocar tudo em dia antes de sair em férias. Em janeiro, durante os vinte dias de férias, precisei desfazer o forte cansaço acumulado, e os médicos também se ausentaram alguns dias.
Voltei ao hospital do câncer, à fadiga, à espera, às senhas, às palavras cruzadas para distrair a mente, ao sorriso e ao olhar carinhoso dedicado aos que sofrem.
Mais “bobópsias” (termo usado pela Tia Voula no Casamento grego), mais bobópsias com parte do resultado conhecido.
Devo aprender como transformar o medo em leveza.
Devo aprender como tirar do garotão seu medo da procura e fazê-lo entender que  as descobertas precoces favorecem a vida. Devo tirar do garotão a armadura que, às vezes, ele veste, para não demonstrar o receio que tem de perder a mãe.  

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

É muito difícil transformar o medo em leveza. Que tal transformar em esperança? E seguir acreditando. Também é difícil.Creio que a única coisa que ajuda é a fé, mas para isso é preciso tê-la, sem dúvida, integralmente, sem questionar. Também é difícil.
Fácil é falar (escrever) tudo que escrevi. Fico realmente querendo passar algo positivo, sinto-me impotente.Resta dizer: estou aqui.