Outro dia vi belas imagens de mandalas de areia feitas na Índia, por monges tibetanos, em comemoração ao “dia do agradecimento”. Apreciei as cores, os desenhos no interior do círculo e quis aprender algo sobre esse exercício de paciência e perfeição, tão delicado e belo quanto efêmero. As belas mandalas de areia são transitórias, passageiras, como a própria vida? Como a beleza? Como o êxtase? Associei as mandalas de areia aos enfeites feitos com tanto esmero na rua atrás do clube, próximo ao antigo playground, para o dia de Corpus Christi. Várias pessoas passavam horas ajoelhadas para criar o tapete colorido feito com areia, serragem, farinha, borra de café, flores, folhas e outras coisas, das quais não faço a menor ideia, para a procissão do dia santo. Todo aquele esforço e boniteza durava um dia e acabava no final da procissão. Como foi bom, menina ainda, curtir coloridos tapetes de rua em uma cidade tão movimentada como São Paulo. Seria essa a primeira lição sobre o esforço desprendido, abnegado, pleno de bom sentimento e realizado para ser entregue ao mundo, livre, sem que nada seja retido pelo autor, salvo o prazer da realização, a gratidão pela capacidade de criar? Em outra associação lembrei de algum puzzle imenso, composto por pecinhas minúsculas, verdadeira tortura, que poderia durar um ano ou mais para ser montado para depois, a depender do autor da façanha, virar um quadro meio esquisito. O puzzle montado e emoldurado, eu imagino, seria o exercício de paciência e perseverança congelado na parede, sem nada que aproveitasse ao mundo. Segundo li, para o budismo e o tantrismo, a mandala seria um diagrama linear concêntrico, enfeitado com cores simbólicas (básicas: azul, vermelho, amarelo, verde, em três tonalidades), que reproduziria o universo concebido pela cosmogonia indiana. Acrescente a esse conceito o rito caracterizado pela dedicação, atenção, concentração, meditação e talvez dessa experiência resulte a paz, ou, o inconsciente encontre o princípio de tudo, consoante os estudos de Carl Jung sobre os arquétipos e os distúrbios emocionais. Outro texto ensinou-me que o preparo de um monge budista para tornar-se apto a criar uma mandala, o processo detalhado de criação e o resultado teriam a mesma importância. As mandalas de areia seriam desfeitas pelo vento ou varridas e a areia, considerada abençoada através do processo de realização, seria jogada sobre a terra e nos rios para proteção dos lugares. Faço outra associação, não pela semelhança, mas pela dedicada forma de meditação e recordo-me dos ícones da igreja católica ordotoxa pintados por monges, em constante oração, segundo regras bem definidas (em outra oportunidade resumirei um livro que tenho sobre a elaboração dos ícones ortodoxos, tão plenos de significados), em monastérios isolados.
Ao longo do tempo o círculo continua a ser considerado símbolo de proteção e de cura, presente na kabala (nada sei sobre a kabala) e nos vitrais rosáceos das catedrais medievais católicas romanas na Europa. Através de símbolos buscamos o sagrado que, talvez, também esteja em nós.
Um comentário:
São lindas as mandalas. Creio que os símbolos são necessários. Como vc citou Jung, digo que sempre concordei com a colocação sobre a busca inconsciente do "princípio de tudo".
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