sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Como a doce maça rubra, muito rubra, lá em cima, no alto do mais alto ramo, os colhedores não esqueceram, apenas não puderam alcançar

O texto foi escrito por Ailton Amélio da Silva, doutor em psicologia e professor da USP, em São Paulo. Há tempos assisti a entrevista desse psicólogo sobre sinais corporais e fiquei impressionada com as dicas inconscientes que costumamos transmitir aos outros. É lógico que o espanto da descoberta passou: perder a naturalidade? Jamais! Agir dessa ou daquela maneira, administrar sinais e movimentos corporais? Em tempo algum! Apesar de reconhecer a desvantagem diante das pessoas que dominam a arte de interpretar corretamente os diversos sinais e fazer bom uso deles. Regras? Será que há espaço para regras no amor verdadeiro? Não sei. Regras presumem razão, manipulação e coerção - sem coerção, quem seguiria regras?
Muito foi dito, filmado, projetado, firmado e imaginado sobre o amor e relacionamentos amorosos perfeitos, mas estamos bem distantes da verdadeira realização. Na literatura, por exemplo, Stendhal, Proust, Goethe, Shakespeare, os gregos antigos e muitos outros nos deram verdadeiras lições e continuamos no jardim da infância. Parece que dificultamos a coisa, depositamos expectativas em demasia, esquecemos da natural fluidez.
Amar presume coragem. Coragem para dar e para receber amor. Coragem para ser e estar inteiro e receber o outro inteiro.
Parei para pensar sobre a primeira condição: "Ser capaz de atrair parceiros atraentes e compatíveis". Confesso que continuo a pensar.


O amor é míope e o namoro, um bom par de óculos
Ao contrário do que muita gente pensa, o grau de sucesso para iniciar relacionamentos amorosos não se mede apenas pela quantidade de parceiros que são atraídos, pela quantidade de encontros que são marcados ou mesmo pela habilidade para desenvolver este tipo de relacionamento. Este sucesso também depende do grau de acerto na escolha de um parceiro atraente e compatível.
Condições necessárias para iniciar um bom relacionamento
Geralmente são necessárias várias tentativas para achar um parceiro compatível e é necessário um bom tempo para conhecer esse parceiro. As seguintes condições são necessárias para realizar estas duas atividades com eficiência:
(1) Ser capaz de atrair parceiros atraentes e compatíveis.
(2) Estar apto para tomar iniciativas amorosas e responder eficientemente a estas iniciativas quando elas são tomadas por parte de possíveis parceiros interessantes.
(3) Estar disposto a conviver com o parceiro em diversos tipos de situações e por um tempo razoável para conhecê-lo melhor antes de assumir um compromisso muito sério.
(4) Ser capaz de absorver da melhor forma possível os términos de relacionamentos que aconteceram por iniciativa dos parceiros.
(5) Ser capaz de terminar na hora certa e com o menor desgaste possível os relacionamentos que se mostram inviáveis.
(6) Ter condições para desenvolver relacionamentos satisfatórios e duradouros.
Neste artigo vamos nos concentrar na terceira destas condições: namorar até conseguir “enxergar” bem o parceiro e, desta forma, fazer boas escolhas. As outras condições serão abordadas em outros artigos.
Os inícios de relacionamentos amorosos podem ser encarados como períodos de experiência. Os principais objetivos desta fase do relacionamento são permitir que os parceiros se conheçam melhor, e verificar se há atração e compatibilidade entre eles. Os estudiosos do comportamento animal afirmam que todas as espécies que têm relacionamentos conjugais prolongados (por exemplo, a arara azul geralmente fica com o mesmo parceiro durante toda a vida) também têm uma fase longa de cortejamento antes da primeira cópula. Um dos motivos para este “namoro prolongado” é a necessidade de escolher bem o parceiro, porque os resultados desta escolha têm tremendas conseqüências. Dela depende, por exemplo, o desempenho sexual do casal e a coordenação eficaz de múltiplas atividades diárias como construir o ninho, encontrar comida e defender os filhotes contra predadores. Devido a estas grandes conseqüências, testar a compatibilidade com o parceiro antes de se vincular com ele de forma profunda, ampla e duradoura é essencial.
São necessárias várias tentativas para encontrar um parceiro compatível
Não é razoável esperar que um ótimo parceiro seja encontrado logo na primeira tentativa. Pelo contrário, é comum que as pessoas não se casem com o primeiro amor, com o primeiro namorado e, muito menos, com a primeira pessoa com quem flertaram. Muitos parceiros que parecem adequados à primeira vista, se mostram indesejáveis ou incompatíveis durante o namoro: à medida que vão se sentindo mais seguros e mostrando como realmente são (é comum só mostrar as qualidades e omitir os defeitos nos inícios dos relacionamentos) ou vão tendo que lidar com diversos tipos de situações que só aparecem durante um relacionamento mais duradouro (características indesejáveis ou incompatíveis com o outro parceiro vêm à tona). Um levantamento que realizei recentemente com 368 universitários mostrou que eles, em média, já haviam se apaixonado quatro vezes, ficado com 26 parceiros diferentes, praticado sexo com cinco parceiros sexuais e namorado três pessoas diferentes. Em cada um destes acontecimentos amorosos, houve uma troca de parceiro, ou seja, um relacionamento foi iniciado e terminado ou um sentimento nasceu e se extinguiu ou não foi correspondido. Este estudo confirma, portanto, que fazer várias tentativas é uma experiência comum para a maioria da pessoas antes que elas iniciem um relacionamento mais duradouro e compromissado.
Para conhecer o parceiro é necessário conviver com ele
Para conhecer bem o parceiro é necessário uma boa dose de convivência com ele em diversos tipos de situações. A necessidade desta convivência foi confirmada por um estudo que verificou que os casamentos precedidos por namoros breves demais ou longos demais tinham menor chance de dar certo do que aqueles precedidos por namoros que duravam um tempo razoável.
O que é um namoro “breve demais” ou “longo demais”? Não existe uma resposta simples para esta pergunta. É mais fácil pensar nos motivos da influência do tempo de namoro no sucesso do relacionamento posterior. O motivo provável para a menor chance de sucesso dos namoros muito breves é que eles não permitem que os parceiros se conheçam o suficiente antes do casamento, o que aumenta as chances de o casal descobrir posteriormente muitas incompatibilidades graves. A menor chance de sucesso daqueles casamentos que são precedidos por namoros que se prolongam demais é que esta demora pode indicar que um ou ambos os parceiros estão hesitantes, não se amam o suficiente, estão com motivação insuficiente para dar este passo. É claro que este prolongamento também pode acontecer por motivos alheios às suas vontades (por exemplo, ambos os parceiros ainda não têm idade e condições econômicas para assumir um compromisso) e, neste caso, isto não influi nas chances de sucesso do casamento
Outro motivo para a maior chance de sucesso daqueles que já se conheciam ou que foram apresentados antes do início do namoro é que eles são mais cautelosos para iniciar este tipo de relacionamento amoroso. Isto acontece porque eles correm o risco de estragar o relacionamento que já havia entre eles anteriormente e podem criar constrangimentos para o convívio posterior, caso o namoro não dê certo. Aqueles que foram apresentados, geralmente também pertencem ao mesmo círculo de relacionamentos. Além disso, eles também têm o afiançamento daquele que os apresentou e, por isso, devem se portar de modo a não decepcioná-lo ou a trair a sua confiança.
No entanto, conhecer o parceiro ou ter sido apresentado para ele anteriormente não é uma garantia de que o relacionamento vai dar certo. Cada tipo de relacionamento implica em tipos especiais de interação que não podem ser bem testados em outros tipos de relacionamento. Por exemplo, um ótimo amigo pode ser um péssimo parceiro romântico ou sexual.
O tempo necessário para conhecer o parceiro e testar a compatibilidade com ele no campo amoroso depende de diversos fatores, tais como:
• Quão bem já conhecia o parceiro antes do início do relacionamento amoroso. Quanto melhor já o conhecia e gostava dele antes do início do namoro, menor a chance de decepção nas áreas já conhecidas.
• Oportunidades de convivência. Quantas vezes e por quantas horas os parceiros se vêem por semana? Em que situações eles se encontram? Por exemplo, quem só se encontra nos fins de semana para fazer programas agradáveis vai conhecer menos o parceiro do que alguém que o vê no dia-a-dia em diversos tipos de situações.
• Grau de exposição aos diversos círculos de relação. Observar o parceiro desempenhando diversos papéis (por exemplo: amigo, filho, profissional) é muito mais informativo do que apenas conhecê-lo como parceiro amoroso em momentos de lazer. Além disso, as informações fornecidas por outras pessoas que o conhecem também são muito valiosas. A permissão e o incentivo para participar destes círculos, na condição de parceiro amoroso, é um forte sinal de comprometimento por parte do parceiro.
Uma boa escolha de parceiro deve acontecer durante o período de namoro e não depois, durante a união estável ou o casamento, quando os custos da separação podem ser bem maiores devido aos investimentos já realizados e aos compromissos já assumidos.
Escolha bem aquele que pode ser o seu companheiro pelo resto da vida e viva feliz!

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