quarta-feira, 21 de abril de 2010

Meninas cinquentenárias

Somos duas meninas com a mesma idade. Fomos companheiras-irmãs, Brasília e eu, de 1993 a 2004.
Desde o ano passado eu venho fazendo as pazes com o Distrito Federal e permitindo que a fluidez natural da vida expurgue todos os temores, os fantasmas, as dores e os pesares, principalmente, aquele olhar interno que tanto nos diferencia do meio e dos demais, além da vontade incrivel de lá não estar.
Venho fazendo as pazes com um monte de coisa que vale a pena e este estado é resultado da leveza readquirida e da sábia liberdade, que por um tempo esteve perdida num emaranhado de coisas ruins. Faço as pazes com a vida, com determinados lugares, com as pessoas realmente queridas e que sabem querer bem.
Quando a imensidão do planalto central me sufocava (terra plana a perder de vista, sem monte ou montanha que quebre a paisagem, sufoca a gente por dentro) era no céu de Brasília que eu me reencontrava. Nas cores incríveis daquele céu que não reconhece mandos, nem desmandos. Todos dos dias a beleza do céu de Brasília desafia a impunidade e relembra sobre a ética. Nas madrugadas da década de noventa, naquela cidade fantasma vazia de tudo nos últimos dias da semana, era muito bom dirigir veloz e prudentemente - sem qualquer paradoxo - a mente lúcida, o corpo são, pelas avenidas amplas, sem fim, retas e convidativas do Distrito Federal. Era a liberdade vinda com vento fresco que entrava pela janela do carro, com a música, com o ar limpo que ampliava os pulmões sufocados pela solidão e pela tristeza de estar em uma terra que não era minha.
Mas os gananciosos engessaram a cidade com as máquinas de fazer dinheiro chamadas radares e com os condomínios atrevidos e poluidores das nascentes de água mineral.
O que vale mesmo, em Brasília, é a faixa de pedestres. Tal qual na Suíça, é no Distrito Federal que todos os carros param para os pedrestres que atravessam na faixa; os mesmos pedestres que não têm muitas calçadas para caminhar.
Os prédios de seis andares da Asa Sul e seus pilotis livres permitiam que cortássemos o caminho entre árvores e construções similares. Em baixo de cada edifício um pomar. É dessa qualidade de vida e do céu de Brasília que eu sinto falta.
Eu sinto falta dos meus poucos recantos e encantos da região centro-oeste, lugares próximos da Capital, tão amados, ansiados e nos quais eu deixei uma boa parte de mim. Por isso, ousada, ah, retiro a ousadia: por isso, honestamente, cada um daqueles recantos me possui e é meu.
Parabéns, Brasília, menina bonita! Que o cinturão envolvente não a sufoque de vez e tire toda a sua beleza, e que seu interior a respeite mais, muito mais

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Sou louca para conhecer Brasília!