quarta-feira, 14 de abril de 2010

Como nosso cérebro e nosso corpo de meia-idade se dispõem a curar nosso passado


pensar letras
sentir palavras
a alma cheia de dedos
Alice Ruiz



Afastem as crianças do computador. Esta conversa é dedicada às garotas adultas, independentes, mulheres que encaram a vida, seguram as rédeas, aceitam desafios profissionais e pessoais, empenham seus melhores esforços para a existência de um mundo, no mínimo, melhor.
Talvez desconsideremos as mulheres que olhem para seus próprios umbigos, ou, quem sabe, valorizemos as mulheres que conhecem seu corpo, umbigo incluso, e parte da sua psique.
Por isso, "a alma cheia de dedos", verso precioso de Alice Ruiz: É do jeito que eu me sinto agora, plena de dedos, cuidadosa, segurando a fala (a escrita) e as ideias, impondo diversos filtros entre o que penso e exponho, apesar dos cinquenta anos e cinco meses incompletos; apesar de sozinha ter cumprido responsabilidades duras; apesar de jamais ter desconsiderado qualquer demanda da vida.
Foi na madrugada de uma quarta feira qualquer que, meio insone, assisti ao início de um programa no canal GNT e comentei com meu pijama de flanela: Onde está o controle da TV? Não quero assistir a um programa erótico. Que engano, querida! O documentário "Clitóris, prazer proibido" - título em português tão limitado quanto infeliz - do original “Le clitoris ce cher inconnu”, de Michèle Dominici, realizado por Variety Moszynski e Stephen Firmin, é um concerto harmonioso e afinado composto por escritores, educadores, urologistas e psiquiatras sobre a sexualidade feminina, especificamente, o prazer e o clitóris, o órgão do nosso corpo que teria essa única função.
É frustrante, quase incapacitante, admitirmos que a sexualidade feminina seja tão pouco estudada e conhecida. Talvez porque ainda tenhamos a tendência limitada de associarmos a nossa sexualidade ao interdito, ao indevido, ao castigo e ao pecado.
Mesmo o currículo das aulas sobre sexo, a educação sexual ministrada em algumas escolas, é permeado pelo contraditório: Pretendemos que nossos filhos sejam sexualmente educados, mas, em nossas casas (ou fora delas) mantemos comportamentos equivocados ou, às vezes, invocamos o tabu; pretendemos que nossos filhos sejam sexualmente educados e entendemos que a matéria se esgota na prevenção: Meninas, não engravidem! Meninos e meninas, não contraiam doenças sexualmente transmissíveis!
Sem retirarmos a importância da fundamental profilaxia (a profilaxia é aliada da saúde, logo, da própria vida) temos que ensinar também sobre o prazer, para que a mente e o corpo mantenham diálogo são.
Neste documentário fiquei encantada com a participação da psiquiatra Leonore Tiefer, a única pessoa até agora capaz de explicar a sexualidade e o prazer com eu entendo: Simples, verdadeiro e resultado da convivência diária de boa qualidade.
Sobre a sexualidade e o prazer:  (tradução livre dos dizeres da Dra. Tiefer) “Vocês sabem o que traz prazer a uma mulher? Que o homem esteja presente ao seu lado. Que o homem se interesse pelas crianças, se lembre do aniversário da mãe dela, jogue fora o lixo... Para a mulher essas atitudes simples e ternas criam a sensação específica de segurança, de ser amada e bem cuidada, de ter um homem atencioso e verdadeiramente dedicado a ela e essa emoção, esse conhecimento imediato, intuitivo, de se sentir amada e protegida, produz na mulher o relaxamento, a tranquilidade e vários fenômenos físicos interessantes. É extremamente errado acreditar que a sexualidade é algo praticado na cama. A sexualidade é algo que nasce na relação entre duas pessoas, construída vinte e quatro horas por dia, sete dias da semana.”

2 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Exatamente como entendo: "Simples, verdadeiro e resultado da convivência diária de boa qualidade".

Bi@ disse...

Fato.