domingo, 18 de abril de 2010

A benvinda e libertadora menopausa

Da série coloquem as crianças para dormir, leiam, conheçam mais e façam suas escolhas esclarecidas sobre o bicho-papão chamado menopausa. A fase que se transforma em nossa melhor aliada.

“A menopausa põe sua vida sob o microscópio: Não é segredo que as crises de relacionamento são um dos efeitos colaterais mais frequentes da menopausa. Geralmente, isso é atribuído aos efeitos alucinantes das mudanças hormonais que têm lugar no corpo da mulher nessa época de transição. O que raramente se reconhece ou se compreende é que embora essas mudanças provocadas pelos hormônios afetam o cérebro, também fazem com que a mulher perceba mais facilmente a desigualdade e a injustiça, dando-lhe ainda uma voz para falar desses problemas. Em outras palavras, dão-lhe uma espécie de sabedoria, bem como a coragem de verbalizá-la.”

Minha mãe jamais conversou comigo sobre o corpo e a sexualidade feminina e, por sorte, dez dias antes do início da minha primeira menstruação eu assisti a palestra ministrada por representantes da Johnson & Johnson na escola de sisters canadenses que eu estudava. Eu tinha dez, quase onze anos, e a partir daquele tempo eu observo como as coincidências me auxiliaram no decorrer da vida. À época, eu ganhei meu primeiro pacote de absorventes na escola e, dez dias depois, confirmado pela mamãe o início da minha "fase mocinha", eu ganhei de meu pai um pacote super luxo de absorventes que a mesma empresa costumava vender. Foi um acontecimento com direito a delicados parabéns, aconchego e a tarde passada na cama, com lanchinhos e refeições servidas na bandeja. Imenso carinho aliado ao estado de quase enferma: Durante os dias de fluxo você não pode lavar o cabelo, nem pensar em entrar na piscina. Puxa! Perder sete dias da piscina do clube todo mês era castigo demasiado, logo, desde o começo eu não gostei de ficar menstruada. Minha frustração aumentou com os comentários de minhas amigas sobre as conversas que tiveram com suas mães: Todas foram devidamente aconselhadas sobre os cuidados que deveriam adotar com as brincadeiras e os namoros com os garotos da turma, afinal, elas eram mocinhas. Eu não recebi esses conselhos. Excetuando a ausência mensal da piscina, continuei a ser a moleca alegre e desportista de sempre. Eu era uma criança e meus pais me conheciam muito bem.
Eu não sei o significado efetivo do termo tensão pré-menstrual, nem fui acometida pela fúria assassina alegada por determinadas mulheres nessa fase, mas eu sei bem o que significam coágulos, hemorragias e, em menor escala, cólicas. Por sinal, as hemorragias, as minhas hemorragias eram incapacitantes, mas eu nunca me apaguei a elas para me ausentar do trabalho um dia sequer, tampouco para diminuir o insano ritmo das atividades que eu desenvolvia. Eu passei apuros, eu me sentia insegura naqueles benditos dias, eu retirei miomas e fiz transfusão de sangue. Hoje, ah! hoje eu sou tão feliz por existir a menopausa e não entendo o motivo do seu significado no dicionário: “idade crítica da mulher”. Que horror!
Igualmente, não entendi o rostinho de pêsames da minha médica ao confirmar o fim do suplicio. Céus! Minha querida doutora, a menopausa é causa de euforia, de jubilo, é a ansiada liberdade, a piscina livre todos os dias e a desconsideração do temor de alguma gravidez não planejada. Pela primeira vez sou eu que mando e não esse fluxo insano que me limitou por tantos anos.
Quantos aos sintomas? Eu acredito não ser à toa a informação de que a menopausa não é doença. Não é. É um ciclo natural que representa o fim da capacidade de gerar um filho, mas jamais o fim da vida, muito menos o fim do prazer. Aliás, o prazer é mais intenso na menopausa.
Escrevo sobre minhas lembranças do início da menstruação para formar o paralelo com o início da menopausa: Nas duas fases a desinformação imperou. Ou melhor, a informação discutível, incompleta, sem base certa. A menopausa leva dez anos para evoluir em nosso organismo e, para mim, isto significa que no final dos meus trinta, início dos meus quarenta anos, meu corpo se preparava para a menopausa e eu não sabia. Relembro atitudes, repenso sentimentos e revivo sensações: Se há dez anos eu soubesse o que eu sei agora - e ainda tenho muito o que aprender sobre a menopausa - sem qualquer dúvida eu teria sido muito mais feliz. Encontrar o médico certo, conversar, perguntar e escolher a melhor alternativa são esforços difíceis. No meu caso, há dois anos e meio, e quase sem períodos menstruais, eu ouvi sonora negativa sobre a reposição hormonal por conta do câncer. Mas é assim que funciona? A medicina encerra o tema e descarta outras possibilidades? O que valia há dez, dois anos, não mudou? Por que temos que conhecer a orientação de um único médico? Por que alguns médicos apenas repetem o que outros médicos dizem? Por que nossas melhores amigas não comentam sobre a menopausa? Se, delicadamente, você tenta trazer o assunto para saber como é a experiência da menopausa, puxa! é muito mais fácil ouvir os mínimos detalhes sobre o relacionamento complicado com o namorado da vez, do que conversar sobre a nossa saúde. Cheia de dúvidas eu fui à livraria pesquisar algum material sobre o tema e encontrei um, apenas um livro, que se tornou verdadeiro achado: "A sabedoria da menopausa", da Dra. Christiane Northrup, que eu veementemente  recomendo. Leiam o livro, conheçam o site Northrup, discutam sobre o tema com diversos profissionais da saúde, conversem com suas melhores amigas. A menopausa não é tabu, muito menos justificativa para vida ruim. Ao contrário, a menopausa é a melhor fase da vida feminina.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Mulher é um ser muito complicado. Essa tal de TPM (vão me jogar pedras!), para mim, é modismo e um ótimo motivo para justificar loucuras.