sábado, 17 de abril de 2010

Adagas suspensas enfeitadas com flores

Esta semana foi gostosa, corrida, do jeito que eu aprecio, com descobertas de novos rumos, longas caminhadas, bolhas nos pés e superações.
Três consultas realizadas com especialistas distintas, o descarte de uma nova malignidade (inicialmente afirmada e reafirmada, durante a retirada do material para biópsia – Ah! o jeito certo de tratar o paciente), outras pesquisas a serem feitas, a solicitação de exames complementares e o carinho de ser reconhecida pelas médicas do Hospital do Câncer.
Eu sei que o histórico está na tela do terminal sobre a mesa, mas eu também sei que algumas informações e detalhes não foram inseridos no sistema e ouvi-los, daquelas médicas, apesar da quantidade imensa de pessoas que vão ao Hospital do Câncer de São Paulo, foi alento. Na doença é fundamental que a relação médico – paciente também seja composta pela atenção, pela lembrança.
Quanto ao câncer meu filho diz uma frase tão cruel quanto verdadeira: “Quem procura acha”. Eu prometo que farei o meu melhor para alterar a intenção, amenizar a conotação, retirar o temor e o sentimento desta frase filial.
Quem ouviu o diagnóstico de câncer aprende diariamente: As lições são sobre a recidiva, os cuidados necessários e o manejo da própria psique. Há uma adaga afiada que paira sobre as nossas cabeças e a qualquer momento uma célula desanda, convence as demais e inicia a festa de arromba. Após dois anos e onze meses de convivência com esta adaga eu fiquei ousada: Eu lhe mostro a língua, eu a enfeito com flores, eu ignoro sua existência ou eu fico encolhida no canto com medo.
Mais do que responder se eu estou bem (agora, esta resposta parece ser tão temporária), eu quero ver o espanto nos rostos das pessoas que, por algum motivo, descobrem que eu ouvi o diagnóstico câncer. Mais do que aprender a vida anti-câncer e a valorizar a prevenção, eu quero que todos aprendam a lidar com o temor.
Sobre o câncer de tireóide e o leviano irresponsável comportamento de alguns profissionais da saúde, que afirmam tratar-se de câncer que poderia ser escolhido, caso houvesse a possibilidade dessa cruel seleção: Falamos sobre a região da cabeça e do pescoço e sobre glândula fundamental, praticamente uma bomba-relógio ativada em nosso corpo. Falamos sobre câncer. Logo, encerrem a irresponsável leviandade e ensinem sobre a necessidade de cuidados, inclusive, sobre a realização de exames periódicos, laboratoriais e físicos: O oncologista deve apalpar, minuciosa e periodicamente, o pescoço do paciente, observar a gengiva, a garganta, os olhos e, principalmente, a região periférica (paratireóides, glândulas e tantas outras coisas que compõem nosso organismo). Eu garanto que foi a irresponsável leviandade com a qual tratam nossas tireóides, como se as diversas síndromes e enfermidades que a acometem fossem corriqueiras e sem importância, que propiciou o aumento da incidência do câncer nessa região (os sapos engolidos também ajudam bastante). Assim, baseados na irresponsabilidade de determinados médicos, alguns pacientes desconhecem que a adaga está lá, e  não realizam dois exames laboratoriais fundamentais: Tireoglobulina e Anti-tireoglobulina. Por favor, não os desconsiderem. Não se desconsiderem.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Vc não terá mais nada. Repita, repita e repita.