sexta-feira, 2 de abril de 2010

Cleaning up the messy

A escrivaninha rebelde

Finalmente, a escrivaninha ocupa o lugar merecido e empertiga-se entre o espelho e o baú, a mostrar todos os seus lados de madeira trabalhada, diante da janela aberta com vista para os prédios que ocupam uma quadra da avenida e ruas adiante, até um ponto que a visão alcança, sem concreto nem outras janelas, só o céu meio nublado desta Sexta-Feira Santa.
Foi ousada esta escrivaninha, de perninhas finas e elegantes, encontrada sem prévio planejamento em uma loja de Brasília, na tarde de passeio com uma querida amiga. À época, com a escrivaninha fez par a poltrona de madeira com rodinhas e desenho de coisa antiga e também veio o banquinho com cobertura de gobelin florido, para apoio das pernas um pouco inchadas pela idade de minha mãe.
São sete as suas gavetas e uma delas, a maior de todas, sem dúvida era a mais atrevida e rebelde, pois insistia em ficar trancada a desafiar a desrespeitosa curiosidade de quem quer que fosse. Alguém já viu gaveta com vontade própria, que se tranca à toa? Gaveta sem qualquer conteúdo importante, muito menos comprometedor, apenas repleta de papéis desordenados e sem valor, que ocupavam espaços livres de um móvel cuja dona não tinha tempo para mais nada além de trabalhar, trabalhar e trabalhar um pouquinho mais. Como foi maltratada esta escrivaninha. Agora, as coisas boas prevalecem e graciosa ela está no lugar merecido, organizada, com o cheirinho bom do líquido que limpa e preserva a matéria da qual é feita, todas as gavetas livres e alegremente destrancadas.


Às vezes, gavetas trancadas apenas servem para aguçar a curiosidade abusada dos que não têm traquejo algum para conversar sobre qualquer coisa que incomode – por menos que incomodasse e por menos importante que fosse. Somente aguçam e repetem: Que atitude foi aquela, de invadir de tal forma agressiva o que lhe foi confiado.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Momento precioso, colocando as coisas nos lugares.