sábado, 24 de outubro de 2009

Mulher é elástica

Ânimo. É preciso ânimo para a maratona médicos-exames. É preciso organização e perseverança para conseguir horários, de tal forma cadenciados, que a ida à determinado local resulte no maior número possível de procedimentos realizados. É preciso jeito para esquecer significados de palavras como sono, irritação, cansaço e em vinte e quatro horas realizar tarefas, concluir processos, ir à vários lugares, fortalecer a paciência, controlar o jejum, o mal estar, os medicamentos, manter a mente lúcida para reconhecer efeitos, a fala clara para explicar o máximo e a mente calma para entender tudo. É preciso buscar em cada especialista tudo o que puder ser aprendido e agregar o conhecimento recém adquirido de forma positiva. É preciso não se assustar, é preciso aproveitar bem os momentos de espera e, principalmente, é preciso fortalecer a fé e manter o bom humor em alta para que haja paz.
O braço roxo e dolorido pela barbeiragem da assistente do laboratório, que encheu inúmeros frasquinhos de sangue, foi compensado pela recém apresentada bomba injetora de iodo, que trouxe o brilho cintilante e multicolorido às imagens obtidas pela máquina, 2009 - uma odisséia na maca, que circulava sobre minha cabeça com luzes vermelhas em alta velocidade. Se algum contato extraordinário de grau certo aconteceu, foi naquele exato momento. Relaxei, sim. Colaboro o quanto posso, às vezes, um pouquinho mais do que realmente posso.



É preciso fôlego e concentração para priorizar o que se realiza naquele exato momento, assim, obrigações são cumpridas e minuto algum é desperdiçado ou devido. Por sorte, e isso não fez parte de qualquer planejamento, no sábado passado acordei super animada, tive fôlego e vida de gata e durante doze horas seguidas fiquei no escritório para realizar várias tarefas. A chuva forte me fez esquecer a hora do almoço, mas, à noite, quando meu filho foi me buscar antes da saída com a namorada - a ideia original era voltar a pé, esticar as pernas e a mente, entrar em alguma livraria ou cinema - eu parecia uma boneca de pano cansada e chorosa, uma criança que reclamava com o pai sobre a vida que não queria mais. Lógico que ele me coloca na linha, lógico que isso passa. E na segunda seguinte, feriado decretado pelo sindicato, mais algumas horas passadas no escritório, daquele feita não para colocar em dia, mas para adiantar a lida e acrescentar mais tempo a meu favor no invisível banco de horas.



Foi nesse meio tempo que curti e conclui o livro, A Pérola, de John Steinbeck, e aprendi mais sobre comportamentos e reações humanas. Incorporei uma parte de Kino e alimentei minha parte Juana, para sozinha virar duas, três de mim. Levei comigo o livro Doidas e Santas, de Martha Medeiros, composto por crônicas escritas entre 2005 e 2008, mais fácil de ler nos dias de várias senhas e diversos sinais sonoros emitidos por painéis eletrônicos, que nos indicam os números de guichês e consultórios, os novos lugares frequentados por esta menina que não perdeu a mania de nos dias mais puxados, desafiar o bom senso e caminhar por lugares antes nunca caminhados, para se sentir capaz? para desafiar o limite? para fazer algo diferente por escolha? não sei.



Ultrassom só faltou fazerem da minha alma e dos meus pés. Eu não sabia que faziam ultrassom nos olhos! Pois fazem, sim. A doutora não permite que dilatemos a pupila de pessoas desacompanhadas... por favor, diga a doutora para deixar de lado o preconceito social, sexual e de credo, por que não pretendo encontrar acompanhante algum nas próximas duas semanas. Olhos mais do que dilatados - os diversos colírios pingados limparam meus olhos, fizeram com que eu enxergasse mais e melhor - minhas pupilas pareciam duas jabuticabas. Posso forçar a visão, doutora? Daqui vou direto ao escritório, aumento o tamanho das letras na tela do computador, faço o que for necessário para cumprir minhas tarefas.
Com a promessa de que no máximo eu conseguiria uma dor de cabeça, naquele dia, a lida rendeu além das seis horas de dilatação e mais uma vez tirei meu filho de seus compromissos para me buscar, perto da meia noite, tendo por co-piloto o alegre cão, que mantinha a cabeça para fora da janela do carro, as orelhas compridas e peludas balançadas pelo vento. Além de outras tarefas, as várias páginas traduzidas direitinho seguiram para Londres, como deveria ser.


Neste sábado, jejum absoluto, sede - como a gente sente mais sede quando não pode beber água - foram quatro horas seguidas de exames. Exausta depois da brincadeira, no último exame soltei sonora gargalhada, tomei um baldinho de suco de melancia, um banho refrescante e dormi.





Alguém se lembra do desenho animado Os Incríveis? Não o da Pixar, que é legalzinho (só não sei por que usaram o mesmo nome), mas os três incríveis, o homem mola (que tinha a mesma voz do Batatinha), o elástico e o homem água? Não? Alguém? E Os Herculóides? Banana Split? Rin tin tin? Shazzan? Corrida maluca, Manda Chuva, Pepe legal e Mightor? Ah, do Coelho Ricochete, todo mundo lembra, né? Bob pai e bibo filho? O túnel do tempo? Perdidos no espaço? Terra de gigantes?
Alguém sabe cantar a música do Hurashimataro? E dos elefantes no Mogli? Enfim, nestas duas semanas me senti a mulher elástica. Super elástica.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, me lembro muito do desenho, ele era muito bom. Mas o nome correto do desenho era " Os impossíveis ".
Adorei seu blog. Flávia

Anônimo disse...

os Impossivies!


http://www.youtube.com/watch?v=EVpmQtdpaW4