sábado, 11 de abril de 2009

Mitos gregos

Gostamos e fazemos questão dos nossos almoços semanais, que costumam ser tranquilos e em paz, sem notarmos o relógio, com boa conversa para colocarmos a vida, os sentimentos, as ideias em dia, lembrarmos de pessoas e acontecimentos, trocarmos experiência e aprendermos, porque mãe também aprende muito com filho. Encerramos nosso almoço com cappuccino gostoso em um de nossos lugares de infância (da minha e da infância do meu filho).
Sabemos que estamos em nova e tão ansiada fase que passará, como dizem que tudo passa, porque a mãe terá outras atenções e não é eterna e o filho também terá outras atenções, formará seu próprio diálogo com seus filhos, sua mulher, além de concordarmos que os almoços familiares obrigatórios de todos os domingos, em restaurantes lotados ou em casa, são chatíssimos, desgastantes e cansativos.
Enquanto tomávamos café e meu filho conversava com o pai ao telefone, fui à livraria bem próxima em busca de um livro rápido, que lemos em uma sentada, para espairecer e aliviar a mente. Algo com humor inteligente.
Do jeito que as livrarias estão abarrotadas, imensas, com inúmeras seções e subseções, encontrar algum livro ao acaso tornou-se pequena aventura e considerável exercício de paciência, ainda mais no final de semana. Encontrei um livro de Nora Ephron, com adorável capa com ilustração dos anos sessenta. Li na contracapa a bem humorada relação entre a torta de mirtílio e o linóleo do piso, pesquisei o preço e descobri que o livro custava menos do que uma revista semanal recheada de fofocas e sem qualquer conteúdo.
Gosto de assistir as entrevistas de Nora Ephron – ela é rápida e inteligente nas respostas, além de exercer com maestria e excelente humor a autocrítica (antes que os outros o façam) e sou fã de três de seus roteiros: Silkwood (1983), Heartburn (1986) e When Harry met Sally (1989). Voltei para casa feliz e já me aconchegava no meu canto preferido quando descobri que eu lera o livro que acabara de comprar. Sinal dos tempos, ou, a mudança de editora me levou ao equívoco?
Voltei à livraria e decidi que queria um livro sobre mitologia - há tempos tenho vontade de aprender mais sobre mitologia, mas daquela vez contaria com o auxílio do vendedor mais experiente, por que eu não tinha a mínima noção onde estariam os livros sobre mitologia - na seção de filosofia ( ) ? Antropologia ( )? Religião (X)? Nenhuma das anteriores ( )? - e decididamente, eu não queria um livro de mitologia grega que descrevesse os feitos de Minerva, Diana e Baco. Danilo, o super vendedor da seção religiosa, encontrou dois volumes de um autor nacional (dois volumes? Dois volumes de um total de três?!), mostrou-me um outro livro sobre mitologia greco romana e acertou em cheio com Mitos gregos de Robert Grave. Nova consulta pelo scanner resultou na conta do menos, menos, menos (menos desconto da livraria, menos valor do livro trocado, menos valor correspondente à quantidade de pontos acumulados) mais minha fase de quietude aconchegada para energizar a alma. Contente com o livro que só poderei ler sentada e com o apoio de uma almofada, graças às 880 páginas, gostei do comentário que ouvi no caixa ao lado: Um pai, acompanhado pelo filho e por uma amiga, teve reação exagerada ao conhecer o preço do livro que o pimpolho escolhera (o exagero não foi pelo valor do livro, mas pela possibilidade do guri ler um livro: você não prefere comprar agora, uma camiseta nova do Corinthians?) seguido do comentário da amiga: Considere um investimento. Livro sempre é um investimento. Só podemos gostar de um comentário desses e ficarmos felizes que ele continua a ser feito.

Leitura rápida, leve, bem humorada e um livro sobre mitologia grega? A edição original é de 1955, e apresenta a visão inovadora sobre o tema de um professor de poesia em Oxford, pesquisador e tradutor de obras gregas. Sua ideia sobre a famosa ambrosia e o néctar dos deuses (sinônimos de iguaria sofisticada e apetitosa, que elevaria o espírito) largamente consumida pelos deuses mitológicos, principalmente, por Dionísio, pelas mênades, centauros e sátiros, nada mais seria do que um cogumelo alucinógeno, que provocaria reações agradabilíssimas.

Imagem obra de Gustav Klimt

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