segunda-feira, 6 de abril de 2009

Michelle Obama

Dizem que ela é plena de garra, voluntariosa, divertida e franca.
Michelle Obama não nasceu em berço de ouro e formou-se em Direito pela Harvard e Sociologia pela Princenton, duas das melhores universidades do mundo.
Ela era advogada em um renomado escritório de advocacia no centro de Chicago, quando o novo estagiário, Barak, foi designado para sua área. À época, ele a chamava de boss.
Muitos acreditam que ela terá desempenho marcante ao lado do marido na Casa Branca. Caminhos abertos e ouvidos seletivos, para dedicar a real importância aos inúmeros comentários que ela suscita, por exemplo, os relativos ao vestido sem mangas usado na fotografia oficial. Michelle Obama é muito mais do que vestidos, braços, penteados e sorrisos. E ela parece bem ciente disso.

Le Monde, 05.04.2009
Corine Lesnes

Na época de George Bush, a Casa Branca era uma fortaleza. Não vamos falar do Observatório Naval, da residência do vice-presidente Dick Cheney, de quem ninguém mais se lembraria ainda que pudéssemos visitá-lo.
Um artigo na imprensa anunciou esta semana: pela primeira vez em sete anos, o público volta a ter acesso, a partir deste final de semana aos telescópios nacionais, sendo um deles o célebre Grand Equatorial, que permitiu a descoberta das luas de Marte em 1877...
Mas voltemos à Casa Branca. Desde que a família Obama ali se instalou, o número 1600 da Avenida Pennsylvania se tornou um endereço quase banal.
Dos estudantes de culinária, convidados a observarem os preparativos do primeiro jantar de Estado, até as 180 crianças das escolas da cidade, convidadas para um concerto em celebração do mês da História Negra (em fevereiro), nunca antes tantos cidadãos comuns haviam tido acesso ao que os americanos chamam de "casa do povo".
Essa abertura é basicamente obra de Michelle Obama, a primeira-dama, que fica tão bem com uma peça de algum estilista famoso quanto com um avental de grupos de distribuição de sopa.
Quando veio visitar os monumentos de Washington, ela já havia sentido a necessidade de levantar a "tampa": "Eu queria abrir as portas, tirar o véu e dizer: eis o que se passa aqui". Ela cumpriu sua promessa.
Desde 20 de janeiro, Michelle abre as portas, abre as cortinas e compartilha sua sorte: seu entusiasmo pelo café da manhã de grits (mingau feito de fubá, típico do sul dos EUA), feito por um dos cinco chefs de cozinha. Ou o espanto de Barack diante do crescimento exponencial de seu contingente de sapatos.
"Os de ontem estavam ótimos. Você não pode usá-los até o final da presidência?", conta Michelle, imitando Barack. "Sai do meu armário", ela responde.
"Vá se preocupar com a fome no mundo". Ela não tem muitos problemas com o protocolo, assim como seu marido.
Uma trave de ginástica, digna de um subúrbio de classe média, apareceu no gramado da Casa Branca.
"Tínhamos falado de dois balanços", se desculpou o presidente, como se mais uma vez ele tivesse sido ultrapassado pela audácia de sua esposa.
No primeiro dia da primavera, Michelle pegou uma pá e foi inaugurar a nova horta orgânica da Casa Branca (brócolis, mas sem beterrabas, pois Barack detesta).
Os curiosos que passavam na E Street puderam perceber que a pá não é sua ferramenta preferida.
Mas o casal - que já tinha um cozinheiro em Chicago - cuida muito de sua alimentação. E o jardim presidencial foi por muito tempo uma reivindicação dos fundamentalistas do orgânico.
Então Michelle fez um jardim, mas à sua maneira: associando a ele crianças carentes.
Uma classe do ensino fundamental de Washington virá cuidar dele, e fazer a colheita.
Michelle já foi capa das principais revistas: "Vogue", "People", "Vanity Fair". Ela não hesita em jogar o jogo da primeira-dama vestida de Jason Wu (um jovem costureiro nascido em Taiwan) ou de Isabel Toledo (nascida em Cuba). Embaixatriz da abertura, ela usa cores arriscadas, cores do mundo, jasmin, fúcsia.
Ela fala de tudo, exceto de "relações raciais", mas é evidente que é a causa à qual ela está ligada. Em Princeton, sua tese de sociologia tratava da maneira como os negros que eram bem-sucedidos entravam nos modelos e esquemas de pensamento dos "brancos" e esqueciam sua comunidade. Ela não corre esse risco.
Ela já foi vista em um abrigo de sem-tetos, enchendo pratos. E no colégio de Anacostia, "a dez minutos do centro do poder desta nação e do mundo", mas no centro das injustiças escolares de Washington.
Sentada entre as crianças, ela lembra constantemente suas origens e o galpão de tijolos do subúrbio de Chicago onde ela cresceu. Sua mensagem é que "não há magia" nem conto de fadas, e que todo mundo pode dar certo, assim como ela.
Reticente quando seu marido se lançou à corrida presidencial, Michelle agora parece se divertir.
"Eles parecem um casal que ganhou na loteria", disse uma jovem eleitora republicana, Maxine Furlong, entrevistada pelo "Washington Post". Nesses tempos difíceis, os americanos estão gostando de ver figuras alegres.
Em 70 dias, Michelle conquistou os americanos (76% de opiniões favoráveis, contra 28% antes da eleição). E, até agora, ela conseguiu evitar as armadilhas da mídia, que caçam impiedosamente os novos penteados e as gafes.
Quando a imprensa levantou a questão de seus braços, musculosos por causa da ginástica, e nus, mesmo em pleno inverno e em pleno Congresso, ela colocou mangas, mas não entrou na polêmica. É preciso mais do que isso para desestabilizá-la.
"Ela tem essa atitude das mulheres negras, fortes. As brancas não são tão seguras de si", diz a eleitora entrevistada pelo "Washington Post".
Se as primeiras-damas costumam buscar um papel para si, ela já encontrou o seu: ser Michelle. Até agora, ela manteve um lado autêntico, natural, sem nada de fabricado. Uma "first lady orgânica", de certa forma, ainda que batata frita seja seu prato preferido.

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