terça-feira, 7 de abril de 2009

Contra o vício, contra o verdadeiro mal do tabagismo

Sei bem o que é fumar, não conseguir parar de fumar, adoecer, definhar, morrer. Foi essa a sequência de atos que meu pai sofreu. Ele era sábio, valente, forte, mas se enganava ao optar pelo cigarro “free” (vendido com o apelo de conter menos porcarias) e ao diminuir a quantidade de cigarros por dia.
Morreu hemiplégico, por conta dos derrames, e com câncer na pleura.
Meu filho fuma. Suga o cigarro do jeito que meu pai sugava. Não é o fumar meio besta de quem precisa manter um cigarro entre os dedos, para se sentir mais seguro, ou, acha charmoso o ato de fumar.
Meu filho fuma e gosta, ou acha que gosta, e cada vez mais perde a briga pelo controle de sua saúde. Por enquanto, o cigarro ganha e a saúde dele perde.
Na semana passada eu quis comprar um maço de cigarros. Enquanto caminhava eu pensava, ora, um maço só, que durará um ano e tirará essa vontade repentina de fumar – cheguei a sentir o cheiro do cigarro – e sem dúvida seria um cigarro ou dois, por que eu não gosto de fumar, estou na fase de exames e pesquisas pós câncer e ainda não perdi o juízo; mas, o que foi aquela repentina vontade de fumar? Conversei com meu filho, que também fuma em casa.
O cardiologista comentou sobre o remédio caro e eficaz para quem quer parar de fumar e sobre o programa do HCor (psicólogos, pneumologistas, cardiologistas, fisioterapeutas, toda a estrutura voltada para auxiliar os fumantes a deixarem de fumar) e perguntou: Mas ele quer parar de fumar? Por que ele fuma?
Você quer parar de fumar, meu filho? Por que realmente você fuma?
O cigarro vicia, mata e qualquer um compra maços de cigarros na banca de jornal da esquina. Quem fuma é viciado e quem é viciado precisa de ajuda. Muita ajuda.
Procurei na mídia o texto da tão falada lei. Ponto para o Estadão, que além de comentar sobre mais essa aparente novidade e realizar sua enquete, como todos os demais jornais fizeram, também publicou a pérola que está aí, em baixo.
Há onze anos, essa mesma medida foi adotada em Brasília. Garçons sem jeito tentaram ingressar nas trincheiras antitabagistas, alguns realmente acreditaram que o cigarro desapareceria, mas de nada adiantou. Ao contrário, tal qual a chamada 'lei seca', que não é cumprida por que não existem fiscais para evitar que a garotada bêbada dirija de volta para algum lugar (e também evitar que adultos bêbados dirijam, apesar da velha história do exemplo), a 'lei antifumo' terá eficácia vazia.
Li o texto e veio à minha mente a palavra atrevimento. O fundamento é fraco, carece de dados inéditos e presume interpretação limitada de texto específico. Ao citar o Tratado Internacional de Saúde Pública, expande o local fechado de trabalho, os meios de transporte e lugares públicos, para ambientes fechados, sem distinção: “Como se vê, esse tratado … em ambientes fechados..."
Cita os direitos básicos do consumidor, mas se esquece dos direitos básicos do cidadão, os fundamentos constitucionais da cidadania e da dignidade da pessoa humana (art.1º, incisos II e III, Constituição da República Federativa do Brasil); os objetivos fundamentais desta República: construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 2º, incisos I, III e IV, Constituição da República Federativa do Brasil).

Há certo exagero na premissa “trata-se, enfim, de passo decisivo no sentido de propiciar melhores condições da saúde à população paulista” e impressiona ao citar “qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco”, uma vez que fumígeno significa “que produz fumo ou fumaça”, incluindo, portanto, o turíbulo das igrejas greco ortodoxas e os incensários de tantas religiões e crenças, cujos usuários somente estariam isentos da prática de ato delituoso e contrário a essa lei, se ficarem restritos “aos locais de culto religioso em que o uso de produto fumígeno faça parte do ritual”. Logo, por exemplo, se um padre ortodoxo abençoar um escritório, ou, uma fábrica e além da água benta usar o turíbulo, agirá contra a lei.
E se equivoca ao afirmar que a lei contra o fumo não se aplica “às residências”, visto que esse diploma legal não teria competência para legislar sobre residências.
Os fumantes que querem parar de fumar não encontram medicamentos apropriados nos postos de saúde, nem tratamento público disponível para esse fim. Relembro: São viciados.
A notícia veiculada hoje, no Estadão, sobre a contratação de centenas de fiscais para que o rigor dessa lei seja cumprido, me fez pensar sobre os milhões de brasileiros famintos, sem residência, sem saúde, sem trabalho, sem esperança e sem futuro.

Por favor, meu filho adulto fuma cigarros comprados na banca de jornal da esquina. A mãe dele não fuma, teve câncer e todos sabem que a genética não se rende aos olhares bonitos, nem aos sorrisos encantadores. Meu filho fuma e não precisa de uma lei que o impeça de fumar. Ele precisa de ajuda para abandonar esse vício. A mãe dele precisa de ajuda para que ele abandone esse vício.

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