domingo, 31 de janeiro de 2010

Super Meryl


No final de semana passado fartei-me da arte de Meryl Streep e ri com prazer, me emocionei, fiquei ainda mais impressionada com seu talento, versatilidade e me senti em excelente companhia. Comecei com Julie & Julia, 2009, de Nora Ephron (mais um sucesso de Ephron), com Amy Adams e Stanley Tucci, baseado nas vidas e livros de Julie Powell (Julie & Julia) e Júlia Child (My life in France), duas histórias entremeadas em adorável sequência, ainda que em tempo e realidades distintas. Júlia Child nasceu em 1912, em Pasadena, na Califórnia, graduou-se em História e durante a Segunda Guerra Mundial, através do Secretaria Estratégica Americana, prestou serviços no Sri Lanka e, em 1944, na China. Foi na China que Júlia, então com 31 anos, conheceu Paul Cushing Child, nascido em New Jersey, poeta, fotógrafo, gourmet, membro do serviço diplomático norte-americano e dez anos mais velho, com quem se casou em 1946. Em 1948, Paul foi transferido para Paris e a chegada do casal Child marca o início do filme. Júlia bem mais alta (1.88m) que o marido, tem sotaque único e é justamente essa característica tão marcante que Meryl Streep assumiu com perfeição – se ouvirmos o filme e fecharmos os olhos é impossível reconhecermos a atriz. Encantada com a culinária francesa a perseverante Júlia formou-se pela Le Cordon Bleu, apesar de que com 37 anos, ela não sabia sequer preparar um ovo cozido. Por sua vez, Julie Powell mudou-se com o marido de Manhattan para o Queens, é funcionária pública, sentia-se insegura, vazia e infeliz. A ligação entre Júlia e Julie? O famoso livro de culinária de Júlia, responsável por ensinar aos norte-americanos os segredos da culinária francesa. Será que um livro de culinária pode transformar alguém? Se eu ouvisse esta pergunta há dois anos, eu riria pelo aparente absurdo, mas, sim, um livro de culinária divertido e bem escrito, no qual se compartilhem segredos, sucessos, fracassos e a vida, pode desafiar e transformar o leitor. No filme o marcarthismo, o homossexualismo, a arrogância, a esterilidade e o preconceito são tratados com nuance impressionante.
Eis alguns quotes de Julia Child:
- "But the first meal I ever cooked for Paul was a bit more ambitious: brains simmered in red wine! ... But the results, alas, were messy to look at and not very good to eat. In fact, the dinner was a disaster. Paul laughed it off, and we scrounged up something else that night."
- "Valentine cards had become a tradition of ours, born of the fact that we could never get ourselves organized in time to send out Christmas cards."
- "Paul married me in spite of my cooking."

O segundo filme, It’s Complicated (Simplesmente complicado), 2009, de Nancy Meyers, com Meryl Streep, Steve Martin, Alec Baldwin, Rita Wilson e John Krasinski é divertido e flui com inteligência e bom humor. Um advogado e a dona de um restaurante são casados há vinte e cinco anos, têm três filhos e são aparentemente felizes. O marido trai a mulher com uma jovem tatuada e mãe de um garotinho, pede o divórcio, casa-se com a amante e a dona do restaurante leva dez anos para superar o fim do casamento. Uma década depois, independente e bem resolvida, ela encontra o ex-marido e a atual mulher numa festa, ele começa a perceber o erro cometido (sim, os dois são meio lentos para superar e perceber), voltam a se encontrar na formatura do filho do meio e passam a noite juntos no hotel. Ou seja, de repente, a mulher transformou-se na outra da outra. As conversas hilárias entre as amigas, cinquentenárias e sexagenárias, o jeito sexy do gordinho e super peludo Baldwin e a sensualidade atrapalhada de Streep garantem excelente diversão. Por que não complicar um pouquinho mais? Ela reforma a casa adquirida após o divórcio, o arquiteto se interessa por ela e juntos voltam aos alegres anos sessenta após fumarem um cigarro de maconha. Com quem ela ficará? A resposta é óbvia.