sábado, 2 de janeiro de 2010

Rapidelas prosaicas


Semanas curtas, a cidade em outro ritmo e do Natal ao ano-novo pequeno pulo, meio piscar de olhos.
No Natal, como eu pretendia, a ausência total de estresse, de pressão, do massacrante ter que. Um único dia de folga na véspera – o da véspera – e o compasso de acordo com o cansaço. Os amigos queridos compreenderam e respeitaram minha necessidade de tranquilidade.
Preparei com prazer o jantar do dia vinte e quatro e compartilhamos a refeição em paz e harmonia. Sei que meu filho e eu estamos em fase de treino, de aprendizado: Ele se prepara para a vida e a família que construirá, enquanto eu aprendo a viver com mais propriedade, a reconhecer a importância de detalhes fundamentais. O almoço do dia vinte e cinco ficou por conta do garotão, a receita por ele pesquisada na internet, deliciosa surpresa e a superação das expectativas.
Talvez esse tenha sido nosso último Natal assim, em paz, sem correrias, sem dúzias de presentinhos, sem os chatos sorteios de amigo-secreto, sem bagunça nem mesa comprida para que todos tenham lugar. Quem sabe nos próximos Natais os filhos do filho façam a verdadeira festa.

Domingo de manhã, a namorada do garotão telefonou para avisar que a avó havia falecido, o corpo levado ao IML e o pai sozinho aguardava a liberação. Nessas horas eu observo as reações de meu filho para saber o quanto ele está preparado para essas coisas tristes da vida.
O pai da namorada é dinâmico, prima pela praticidade e pelas soluções eficazes e solitárias. Mas, naquele momento, ele também era filho. Entre o não desafiar a solitária atitude e a solidariedade, prevaleceu a segunda opção e o garotão voltou no final da tarde, para buscar-me e irmos ao cemitério.
Depois, reassumo o papel de mãe e imponho a parada para o necessário alimento seguido de sobremesa doce para tirar o gosto da morte da boca. É assim que os gregos fazem nessas situações: Antes de voltarem para casa comem algo doce.

Na noite de domingo coloquei lençóis de molho na máquina de lavar, que sozinha decidiu não enxaguar, tampouco centrifugar. Não é necessário ser super dona-de-casa para imaginar como ficariam lençóis de molho durante nove dias, a perspectiva ofertada pela atendente do serviço de assistência técnica autorizada: "Técnico, minha senhora, só lá pro dia quatro de janeiro."
Durante a escolha de qualquer eletrodoméstico, não há quem deixe de lado a qualidade do serviço de assistência técnica. Resolvemos persistir e não mudar de marca, apesar de existirem apenas quatro autorizadas em São Paulo, uma delas com serviço de péssima qualidade.
Há um ano e meio, vieram dois técnicos juntos, ambos desonestos e por pouco não caímos no golpe que criaram. À época, a máquina de lavar antiga foi doada. Foi por isso que o garotão ficou bem irritado. Na manhã de segunda-feira liguei para o serviço de atendimento do fabricante, confirmei o telefone das autorizadas, perguntei o preço da visita e quis saber quais poderiam ser as causas da súbita rebeldia da máquina.
Convenci a atendente do serviço autorizado a mandar um técnico no dia seguinte, terça-feira. No segundo telefonema o garotão reduziu o "durante o horário comercial" para o "próximo da hora do almoço."
Eu estava no escritório e meu filho telefonou para comentar sobre o técnico, um senhorzinho simpático, que virou a máquina, abriu a bomba e retirou parte do recheio do edredom que havia rasgado dentro da lavadora (edredom fofinho é cama perfeita para o cão), seguido pelo comentário: "Os técnicos têm preguiça de fazer o que faço e preferem trocar a bomba de água." Como a vida é bela! Dessa vez dependemos de alguém honesto. Para concluir a folia sugeri que meu filho e a namorada preparassem nhoque e curtissem a brincadeira do dia 29 – o nhoque da sorte.
Voltei para casa, a louça lavada, nhoque gostoso na panela e a falta que senti das brincadeiras do cão. Foram todos para a praia e eu quis ficar aqui, chamar o ano-novo no canto e dizer: Esta sou eu. Sei fazer cara feia, também tenho rosto amoroso. Costumo ser corajosa, mas, às vezes, sinto medo. Não sou perfeita e quero estar melhor no final do seu período.

Imagem obra de Seurat

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Foi gostosa a leitura dessa página, tal como um diário.
Fiquei com vontade de comer nhoque.