quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Quero um erro de gramática que refaça na metade luminosa o poema do mundo, e que Deus mantenha oculto na metade noturna o erro do erro, alta voltagem do ouro, bafo no rosto


Um espelho em frente de um espelho: imagem
que arranca da imagem, oh
maravilha do profundo de si, fonte fechada
na sua obra, luz que se faz
para se ver a luz.

Hoje meu filho faz aniversário, vinte e nove anos para ser exata. Talvez este número esclareça o motivo da minha constante afirmação que estamos em fase de teste para a vida futura que teremos: Ele com a família que construirá e eu a encarar a vida com muito mais leveza e suavidade. É a soma da missão cumprida e da responsabilidade integralmente assumida e correspondida. Somos mãe e filho, filhos únicos,  com vinte e um anos de diferença, que nos conferem igualdade em determinadas situações e nos aproximam cada vez mais. Somos parceiros, cúmplices, respeitosos e presentes. Em meu filho vejo a mistura fina da minha melhor parte com a melhor parte do pai, meu ex-marido. E neste dia, desde 1981, relembro cada detalhe da véspera e do seu nascimento. Lembro das pessoas, dos sentimentos, dos procedimentos e do rosto pleno de amor e orgulho de meu pai, de quem meu filho recebeu o nome e a quem eu havia dito que o neto seria o melhor e mais precioso presente de aniversário. Meu pai de vinte de janeiro e meu filho de quatorze. Alguém mais deu neto de presente de aniversário? Os dois capricornianos xarás são as pessoas que eu mais amei na vida e com as quais eu mais me identifico.
Hoje, meu filho, eu não acordei com vontade de recordar cada detalhe de seu nascimento. Apenas sinto o mesmo amor incondicional que lhe dediquei desde que soube de sua existência em mim. E com carinho amparo em meus braços estendidos suas lindas asas, para que você tenha vôo bem sucedido. Fique com Deus e Nossa Senhora sempre.

Poema de Herberto Helder

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Lindo, lindo, lindo. Está até difícil digitar, eu sou uma boba que chora. Parabéns para seu filho. Vou devolver algo que você escreveu para mim: que o avô dele o proteja (estando, ou já não estando aqui).

Identifiquei-me bastante. Tenho uma filha, 21 anos. Amor incondicional.