quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Mosaico

Pensei sobre meu atraso ao assistir Elegy há pouco, o mesmo em relação à peça de Clarice Niskier. Busco as datas das duas estréias, atualizo minhas leituras, assisto a outros filmes, troco mais palavras, mais energia e aos poucos, com calma, coloco a vida em dia. Seria impossível assistir Elegy no ano passado, assim como seria impossível apreciar a adaptação da alma imoral há dois anos. É impossível no vapt-vupt refazer mosaico tão precioso, com o pedaço de cerâmica da diuturna assistência à pessoa tão querida com Alzheimer, tampouco a concha da exumação do pai, o pedaço de mármore do enterro da mãe, o caco de vidro da tristeza do total desamor, o pedaço de pedra das mentiras descobertas, a lasca de cerâmica do câncer e o desenho do mosaico vazio dentro da gente, esquecido num canto para não atrapalhar a retomada, alguma retomada. Amorosamente as tesselas preenchem os vazios e o desenho adquire forma. Belíssima forma.

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