quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Coffee time

Era para ser uma coisa boba, as imagens que surgissem, sem muita procura, para suavizar a coisa toda e ficou uma coisa boba com jeito de coisa minha. Minha mãe sabia preparar delicioso café grego, maravilhosos doces gregos e era capaz de reconhecer e interpretar as imagens formadas na xícara pela borra do café.
Mamãe tinha múltiplas qualidades: Além de ser inteligente, culta, corajosa, cativante, verdadeira e natural, ela preparava delícias, reconhecia de imediato a verdade de cada um e ainda via o futuro na xícara de café. Quantos sabiam sobre essa capacidade? Somente nós, ela não divulgava seus méritos.
- Veja, minha filha, aqui está o sol e perto do sol está a cadeira... Mas tem certeza que você não consegue ver essas imagens, minha filha?
Por outro lado, o café grego que meu pai mais gostava era preparado por mim, a garotinha amada dele, porque eu caprichava na espuma (kaimaki) que ficava no topo
da xícara. Eu apenas acertava o tempo exato de tirar o brik (panelinha especial para preparar o café grego) do fogo.
Doces, deliciosos doces preparados com massa finíssima, amêndoas, nozes, pistaches, amanteigados com glaçúcar por cima e os preparados com mel. Figos verdes em calda. Maravilhosos. Além do grego básico, as palavras que todos conhecem, com a explicação dos significados e significâncias.
Aqui, continua a ser amoroso o lugar. Foi assim que transformei o punch coffee no café mais desejado que poderia existir, ao trazer meus pais de volta, os doces gregos, a harmonia, a alegria e a imensa dedicação de cada ato, para sair da mesmice e do vazio que nada trazem, nada mudam e não fazem bem.
Ao trazer esta herança divina que me foi outorgada, limpo intenções, equilibro energias e deixo no ar suave perfume de jasmim.
O resto é piada, imagens tolas com dizeres bem humorados para deixar mais à
vontade a vontade que não evolui. O café grego é moído bem fino, muito fino, na hora.
Obturação, é da amarela que eu ponho.
Pimenta e cravo,
mastigo à boca nua e me regalo.
Amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de música de presente,
conhecer vários tons pra uma palavra só,
Espírito, se for de Deus, eu adoro,
se for de homem, eu testo
com meus seis instrumentos.
Fico gostando ou perdoo.
Procuro sol, porque sou bicho de corpo.
Sombra terei depois, a mais fria.
* * *
Estou alegre e o motivo
beira secretamente à humilhação,
porque aos 50 anos
não posso mais fazer curso de dança,
escolher profissão,
aprender a nadar como se deve.
No entanto, não sei se é por causa das águas,
deste ar que desentoca do chão as formigas aladas,
ou se é por causa dele que volta
e põe tudo arcaico, como a matéria da alma,
se você vai ao pasto,
se você olha o céu,
aquelas frutinhas travosas,
aquela estrelinha nova,
sabe que nada mudou.
O pai está vivo e tosse,
a mãe pragueja sem raiva na cozinha.
Assim que escurecer vou namorar.
Que mundo ordenado de bom!
Namorar quem?
Minha alma nasceu desposada
com um marido invisível.
Quando ele fala roreja
quando ele vem eu sei,
porque as hastes se inclinam.
Eu fico tão atenta que adormeço
a cada ano mais.
Sob juramento lhes digo:
tenho 18 anos. Incompletos.
Adelia Prado

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