quarta-feira, 25 de março de 2009

Pares e casais vazios

Em outro texto comentei sobre a triste visão de casais em restaurantes, que mal trocam uma palavra e demonstram, com imensa nitidez, o quanto são infelizes, incompletos, obrigados, enfastiados. Igualmente comentei sobre casais formal e aparentemente felizes, atores de teatro que são.
Era muito divertido frequentar restaurantes com minha mãe, porque ela tinha a exata e imediata visão e nunca errava. Minha mãe tinha a capacidade de enxergar as pessoas como realmente são e também se entristecia com tamanho vazio existente entre os casais.
Mudo um pouco o enfoque e comento sobre homens e mulheres que almoçam durante a semana em conhecido e movimentado restaurante na área de avenida Paulista.
As mulheres tratam de negócios e o fazem com extrema competência e profissionalismo. Falam, olham, agem como profissionais diretas e competentes. Os homens profissionais, em frente dessas mulheres profissionais, mantêm o olhar vazio, o comportamento autômato e a mente longe, bem longe.
Alguns, poucos, parecem que ouvem com atenção a conversa sobre as vantagens de certo produto, de certa aplicação e quando conseguem – porque elas falam sem parar – fazem algum comentário, mas possuem o nítido olhar de homens que planejam o passo seguinte à sobremesa, sem que talvez nenhum negócio tenha sido fechado.
Na semana passada fui almoçar com uma amiga e observei, comentei sobre os pares profissionais próximos, além de ter chamado minha atenção um casal que destoava de todo o cenário, do mundo atual.
Ele literalmente encantado, amoroso, carinhoso, realmente educado, dedicado de fato, só tinha olhos e braços e mãos para ela, além de uma aliança enorme no dedo anelar da mão esquerda. Ela, sem aliança alguma, mas com alguns anéis imensos (como evitar comentários tipicamente femininos?) não era bonita, tinha os cabelos pretos compridos super alisados, a pele morena, a sobrancelha bem fina e era carinhosa com ele, sua mão sempre apoiada no peito dele, no ombro dele, no braço dele. Não se sentaram de frente, mas um ao lado do outro. Serviram-se juntos no bufê, ou melhor, ele a serviu com gentileza e educação e ela não demonstrou qualquer surpresa com essa atitude (como? ainda existem homens que servem as mulheres durante a refeição, sem que sejam garçons?), o tempo todo ele esteve de verdade preocupado com o bem estar dela. Conversaram muito e o olhar de um ficou no olhar do outro, como se mais ninguém estivesse lá, ele literalmente hipnotizado por ela. Ele não era falso ou hipócrita em suas atitudes e em momento algum demonstrou qualquer desconforto por estar em restaurante conhecido e bem frequentado. Aquele homem era feliz ao lado daquela mulher e toda a sua atenção foi dedicada a ela, a ponto de minha amiga achar que estavam em lua de mel. Após o almoço pensamos pedir um curso, talvez uma palestra a moça, para que ela ensine a todas nós a arte de realmente encantar – encantar a alma. Ah, não venha me dizer que tudo se resume a sexo, porque alguns homens mantêm relação sexual satisfatória fora do insatisfatório casamento, mas nem de longe tratam as mulheres (ao menos as duas de suas vidas) como aquele homem fez. Raríssima visão.


Reli as palavras soltas aí, em cima, e parecem apologia da infidelidade. Não! Longe disso. Não acredito que enganar, mentir, desrespeitar traga qualquer mérito, muito pelo contrário. Apenas vi um homem com comportamento real e bem diferente do que há tempos vejo. Ele estava encantado, embasbacado, maravilhado. Aliás, farei outro exercício: Casados os dois saíram do restaurante e foram à joalheria retirar a aliança da moça do conserto. Pronto.
O fato é que não importa a idade, o nível social e cultural, infelizmente, a grande maioria dos homens perdeu a gentileza em algum momento entre o dia do nascimento e o dia da saída da maternidade embalados em cueiros e aconchegados nos braços de suas progenitoras.
O comportamento da maioria das mulheres auxiliou a rarear a gentileza do homem (e as progenitoras também tem considerável parcela de responsabilidade no jeito que educaram seus pimpolhos), mas na vida a tendência é a evolução, o aprimoramento, o que não acontece com os relacionamentos amorosos.
Por isso, adapto a 'frase enlatada': avô rico, pai remediado e dos netos ninguém sabe, para avô homo neanderthalensis, filho hobbit e neto australopitheco. Sobre a evolução feminina? Talvez as progenitoras também tenham errado com suas pimpolhas.

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