domingo, 29 de março de 2009

Cabelo

O cabelo faz do homem um ser misterioso que carrega na cabeça, na parte do corpo que é mais nítida e mais marcada, uma coisa rebelde como um mar e confusa como uma floresta. Está quase fora do corpo, é uma espécie de jardim privado, onde o dono exerce à vontade sua fantasia e sua desordem. É qualquer coisa que cresce e que transborda como se estivesse livre do domínio da alma.
Gustavo Corção

Marquei hora para cortar o cabelo e considerei o tempo que levaria do escritório até o salão, no dia que volto a pé por conta do rodízio do carro. Gosto de cumprir o horário, ainda mais quando marco no começo da noite e sei que todos querem encerrar suas tarefas e descansar. Só não contava com a conversa interessante, sobre um caso novo, que começou assim que o horário do expediente acabou e eu já deveria estar a caminho do salão. Mas como deixar de atender ao pedido de um colega recém chegado de reunião, que estava em dúvida sobre a caracterização da responsabilidade civil? Impossível. O jeito foi depois acelerar bem o passo e aproveitar a regra da ladeira a baixo.
Percebo que está na hora de cortar o cabelo quando comento com meu filho minha intenção e ele pergunta: Tirar o volume? Quando o prendedor que uso não consegue manter todas as mechas acima da nuca; quando sinto calor com o cabelo solto; quando deixo o cabelo secar naturalmente – sempre deixo o cabelo secar naturalmente – e seco ele adquire vontade própria e ora parece o cabelo de uma cantora de rock, ou de uma good girl with bad thoughts.
Comentei em outro texto que não me preocupo com eventuais centímetros a mais ou a menos, não faço parte da turma histérica e ameaçadora ‘cortar só as pontas' nem ligo para o jeito que será cortado. Não peço para ficar parecida com a Juliette Binoche, nem com a Lena Olin, porque sei que por mais que levem fotos, mostrem a revista, não há jeito de ficar com a cara de outra pessoa. Por isso, escolho um bom profissional, confio e não fico atenta para ver o que fazem com meu cabelo, simplesmente relaxo e aproveito para descansar. No meu caso, uma boa profissional e dona da Princesa (uma Akita elegante e toda branca), que sempre me atende com carinho, atenção e com quem solto sonoras risadas.
Gostei do resultado, meu filho gostou do resultado, meu cachorro me reconheceu e voltei a prender todas as mechas acima da nuca quando tenho vontade, além de não me preocupar se as manhãs de outono ficarem mais frias e o cabelo secar naturalmente.
Uma coisa que não consigo entender e a cabeleira solta em qualquer ocasião. Do supermercado à festa habillé, não importa se o vestido é longo, cheio de detalhes e a maquiagem mais do que caprichada, o quilométrico cabelo segue solto e não muda.
São elegantes as mulheres que se preparam para uma festa e arrumam seus cabelos com maestria: Não consideram os penteados super elaborados e tão artificiais, nem os cabelos presos sem qualquer criatividade, do mesmo velho jeito tradicional como se tivessem setenta, oitenta anos de idade. Talvez seja uma questão de estilo, quem sabe.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Acompanho seu blog desde que vc postou sobre os sobrenomes gregos no ano passado. Sou filha de grego, daí "o como" encontrei seu blog. Gosto do estilo de suas postagens. Volta e meia, aparecerei. Curta seu cabelo!