domingo, 13 de janeiro de 2008

Referências de vida - pediatria

Meu filho telefonou na manhã de ontem, feliz por ter encontrado matéria sobre seu pediatra – nosso pediatra – numa edição da Veja: Os médicos que os médicos indicam. Quem são os especialistas de 21 áreas escolhidos por 110 autoridades da medicina paulista.Veja São Paulo convidou 110 profissionais de reconhecido renome para eleger os craques de 21 especialidades.
E lá está nosso querido e admirado doutor Antranik, sentado na sala de brinquedos que faz parte de seu consultório localizado na rua Arthur Ramos, travessa da avenida Faria Lima. Seu consultório anterior ficava na minha rua, praticamente ao lado de um dos meus lugares preferidos para um café com bom papo e a uma quadra do prédio no qual continua nosso querido neurologista.
Mas o que significa exatamente isso? Resgate. Reavivar boas memórias, ficar muito feliz com mais um merecido reconhecimento, matar saudade e ver que aos oitenta e três anos ele está próximo e ainda é uma de nossas fundamentais referências.
Falei com o dr. Antranik, pelo telefone, no ano passado. Bastou meu nome para que nossa conversa fluísse sem o intervalo de quinze anos passados desde a última consulta de meu filho. Ele também foi meu pediatra e, antes de mim, de minha prima que morou com meus pais, no Brasil, no início da década de cinqüenta – à época ele era recém formado. Portanto, são muitos anos de convivência, de confiança e de visitas em casa, posto que nas raras enfermidades desta criança, meu pai o chamava para consultas domiciliares. O ateniense e o armênio conversavam muito e se respeitavam.
Busquei nele algumas respostas e guardei com muito cuidado duas frases essenciais que ele me disse em nosso último contato. Aliás, foi nelas que me apeguei para superar. Não haveria mais alguém capaz de permear fato, verdade, honestidade com carinho e poucas perguntas diretas, claras e essenciais, manifestação de alguém realmente interessado, humano e racional. Quem lhe contou e como você está.
Aos 83 anos, o pediatra Antranik Manissadjian é um poço de boas histórias. Mesmo as que gostaria de esquecer, como a morte de todos os seus seis irmãos durante a I Guerra Mundial num episódio que ficou conhecido como genocídio armênio, conta com uma riqueza de detalhes de impressionar. Nascido em Alepo, na Síria, veio com os pais para o Brasil em dezembro de 1930. Disposto a dar o seu melhor à cidade que o acolheu, tornou-se médico. Entrou na Faculdade de Medicina da USP em 1944. Trinta anos depois virou professor titular da disciplina pediatria, cargo que exerceu até a sua aposentadoria em 1994. Também foi diretor clínico do Hospital das Clínicas durante doze anos. Recebe mães aflitas no consultório há exatos 55 anos. O que mudou no comportamento delas em meio século? Nada. Uma continuam me obedecendo cegamente e outras continuam fazendo o que as amigas sugerem diz ele, que responde a cerca de vinte ligações por dia. A ansiedade das mães tem que ser aliviada.

Eu fui uma das mães que o obedeciam cegamente, assim como minha mãe agiu. Lembro que minha confiança era tamanha que se ele me dissesse: jogue seu filho pela janela, eu o faria. Durante a infância do meu garoto – por ele apelidado de capitão - sem considerar a marcação de consulta, telefonei uma única vez por conta de uma febre alta que havia surgido em plena manhã de sábado, e a reação do meu bebê, que não conseguia segurar a Novalgina liquida. A resposta foi tão querida para uma mamãe bem aflita: Calma, nega, dê um banho morno e supositório de Magnopirol.
Manissadjian faz parte do corpo clinico do Hospital Sírio-Libanês e atendfe no consultório particular quatro vezes por semana. Tem uma teoria pouco prática em relação ao preço de suas consultas: Vai de zero a infinito. Depende de quanto a pessoa pode pagar. Com quatro filhos e sete netos, o professor de grande parte dos profissionais que atuam hoje em pediatria diz que não é preocupado com a forma física; Só faço alongamento no chuveiro, conta Manissadjian, que teve apenas duas intercorrências médicas mais sérias ao longo dos seus 83 anos: uma fratura exposta na perna depois de um atropelamento em 1994 e uma apendicite aguda em 1942. Na época fui operado com anestesia de clorofórmio, diverte-se.
Quero que o senhor continue por muito mais tempo, pois faço questão que meus netos também sejam seus pacientes. Sei que meu filho quer o mesmo. Quanto às sopinhas preparadas em casa com ingredientes naturais – ainda tenho a relação de verduras e legumes - passadas na peneira e as fraldas lavadas na mão, fervidas e passadas, e a eventual praticidade das novas mamães, me comprometo que garantirei a plena obediência porque conheço os resultados. Salve!

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