segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Alimento sem desperdício

Todos sabem que o Brasil é um dos países que mais jogam comida boa na lata do lixo e esta matéria, publicada na revista SAÚDE, relembra idéias básicas.
É inadmissível o desperdício, ainda mais se considerarmos a fome que, infelizmente, ainda existe em nosso país e no mundo.

De 30 a 40% de todos os alimentos produzidos no país vão parar no lixo. Em países desenvolvidos, esse índice não chega aos 10%. Aqui, são toneladas e mais toneladas de comida perdidas diariamente.
Boa parte do desperdício ocorre logo na colheita e no transporte, mas os consumidores também têm sua parcela de responsabilidade. O brasileiro pasme! joga fora mais comida do que a que de fato leva à mesa.
Um estudo da Embrapa Agroindústria de Alimentos mostra que só em hortaliças, por exemplo, o total de perda a cada ano é de 37 quilos por habitante, enquanto a ingestão desses vegetais não passa dos 35 quilos no mesmo período de tempo.
Toda essa comida desperdiçada equivale a 12 bilhões de reais que o país despeja nas lixeiras a cada ano para se ter uma idéia, isso é quase metade do orçamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome ou 24 vezes o da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Estamos, literalmente, botando dinheiro e saúde no lixo.
Veja o que está ao seu alcance para mudar esse panorama desde a hora em que você seleciona vegetais fresquinhos na feira ou no supermercado até o momento em que os leva para a panela, e repare a porcentagem da produção de determinados alimentos que é jogada fora
NA HORA DE COMPRAR
Escolha os alimentos sem cutucá-los. Esqueça a velha mania de enfiar a unha no chuchu e quebrar a ponta da vagem para checar a qualidade dos hortifrútis. Os vegetais ficam machucados e aí quem vai querer levá-los pra casa? Sem contar que acabam se estragando mais rápido, explica o químico Antônio Gomes, da Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Na dúvida, na hora de escolher peça ajuda ao feirante ou ao repositor de estoque do supermercado. Eles entendem do riscado e podem dar uma mão na seleção dos produtos.

Dê preferência às frutas da época porque são mais frescas e duram mais, recomenda, ainda, a professora Jocelem Salgado, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, no interior paulista. Ora, se duram mais, menores são as chances de virarem lixo.
Pela mesma razão, fique atento ao prazo de validade de produtos industrializados.

Faça uma lista de compras e leve para casa somente e tão-somente o necessário, completa Jocelem. Por causa do (mau) hábito de comprar comida além da conta, uma família de classe média desperdiça aproximadamente 500 gramas de alimentos dia após dia ou incríveis 180 quilos de comida por ano! Em 20 anos, o total de perdas representaria o suficiente para alimentar uma criança na primeira década de vida.
O JEITO CERTO DE ARMAZENAR

Pequenos cuidados fazem dobrar o tempo de vida dos vegetais "Frutas, verduras e legumes devem ser colocados em sacos plásticos, transparentes e hermeticamente fechados, na prateleira mais baixa da geladeira, onde a temperatura é um pouco maior", recomenda a nutricionista Denise Meira, do Mesa Brasil, projeto do Sesc São Paulo que promove oficinas de combate ao desperdício por todo o estado. "Assim as hortaliças conservam o frescor e a umidade por mais tempo", garante.
Ah, não as lave antes de botá-las na geladeira. Acredite: a terra e outras impurezas ajudam a prolongar a vida do alimento. Além disso, gotículas que sobram da lavagem aceleram o amadurecimento. Também evite guardar os vegetais já cortados porque em pedaços ficam com maior área de contato com o ar outro fator que acelera a deterioração, alerta Denise.
Para conservar tomates por mais tempo, este truque é ótimo: passe um pouco de margarina naquele furinho que fica na parte superior do fruto. Mais uma dica: quando não for comer uma fruta inteira, ponha a outra metade dentro de um saco plástico na geladeira e consuma em até 48 horas.

Você pode também congelar os legumes frescos. Primeiro ferva 2 litros dágua. Então, mergulhe-os inteiros na panela e deixe por apenas cinco minutos. Tire-os da água e enxugue bem. Ponha em um saco plástico no congelador. Assim, eles chegam a durar mais de um mês.
APROVEITE TUDO
Utilizar os alimentos por inteiro é uma forma de diminuir o desperdício e fazer render o orçamento da casa.
Sempre que possível, aproveite cascas, folhas e talos. Muitas vezes, eles contêm mais nutrientes
do que as partes normalmente consumidas, garante a nutricionista Denise Meira. Uma pesquisa da Universidade Estadual de São Paulo, a Unesp, mostrou que a folha da couve-flor, por exemplo, concentra uma quantidade quatro vezes maior de vitamina C do que a polpa da laranja (veja a receita). Já as folhas de nabo, rabanete e beterraba são melhores fontes de cálcio, fósforo e vitaminas A e C do que a própria raiz, que é a parte mais comestível desses vegetais. As da cenoura e as da salsa são ricas em vitamina A e devem ser aproveitadas para fazer bolinhos, sopas e picadinhos. O modo de preparo de frutas e hortaliças também é importante. O ideal é cozinhá-las com casca e, de preferência, inteiras. O invólucro exterior impede a perda de vitaminas e minerais, conta Jocelem. A casca da laranja e a parte branca da melancia podem até mesmo virar ingrediente de doces.
O que sobrou de ontem, transforma-se em uma opção de prato para a refeição de hoje, por que não? O purê de batatas, por exemplo: Forme pequenas bolinhas, polvilhe com farinha de rosca e frite como croquetes, sugere a professora Jocelem Salgado. Com imaginação, você faz surgir receitas até mais saudáveis do que as preparadas na frigideira. O arroz e a salada do dia anterior dão origem a risotos e o feijão pode virar uma bela sopa.
Suflê de folhas de couve-flor: Ingredientes - 4 xícaras de folhas de couve-flor cozidas e picadas, 2 colheres de farinha de trigo, 2 colheres de manteiga, 1 colher de café de fermento em pó, 1 xícara de café de leite, 2 ovos, sal a gosto. Modo de fazer - Aqueça a manteiga, junte a farinha, o leite e misture as folhas de couve-flor, cozidas e picadas. Deixe descansar até amornar. Junte 2 gemas e o fermento. Bata as claras em neve e misture bem. Coloque em fôrma untada e leve ao forno por 20 minutos.
Se depender da iniciativa de algumas escolas infantis, em poucos anos o Brasil vai deixar de ser um campeão em desperdício. A be.Living, por exemplo, inclui em seu projeto pedagógico verdadeiras lições de sustentabilidade e cidadania. Mostramos que aproveitar os alimentos integralmente faz bem para a saúde e ajuda a diminuir a quantidade de lixo, explica a educadora ambiental Laruana Oliveira, do Instituto Verdescola, uma ONG que, entre outras iniciativas, elabora projetos desse tipo em escolas tanto públicas como privadas, realizando um trabalho pioneiro. As atividades organizadas pelo instituto incluem aulas de culinária com cascas, folhas e talos, além de oficinas que ensinam a criança a transformar em adubo tudo o que não dá para ser aproveitado na cozinha de casa.


Texto de Anderson Moço

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