sábado, 5 de dezembro de 2009

Tantas vezes se vive de uma arrebatada noção dos contrastes mais fortes entre o bem e o mal, entre a grandeza e a abjeção, entre as rápidas peripécias de um heroísmo ansioso e o destino inexorável


Dia de exames e para mim, gata cuja vida foi poupada pela curiosidade, período antecedido por tempo adicional no escritório para compensar as horas passadas com o pessoal do avental branco. Isto também significa cansaço físico e mental. Os exames estão mais complexos, a tecnologia agrega benefícios e os procedimentos se tornam desconhecidos - como colaborar com o desconhecido? Pratico a mesma filosofia de minha mãe (hoje, senti tantas saudades suas, mamãe!) e acalmo os profissionais envolvidos, quero saber o que será feito, como será feito e participo para a obtenção do melhor resultado. Exames de imagem, ainda mais coloridas, são interessantes para quem, além da curiosidade pelo procedimento, também tem curiosidade pelo conhecimento do funcionamento do corpo humano. A curiosidade resulta no aprendizado que aumenta o respeito. Explico melhor: Ao aprender algo sobre o funcionamento do nosso corpo, respeito mais a perfeição do nosso organismo. Se houvesse um prêmio máximo para o melhor cientista, engenheiro, designer, artista e inventor, Deus seria o único ganhador pelo conjunto da obra. Nascemos para funcionar e quanto mais sabemos sobre nosso funcionamento, melhor funcionamos. Aparelho, instrumentos e líquidos reagentes, só não vale subestimar, nem simplificar reações naturais. A médica desta manhã teve a gentileza de descrever todos os procedimentos com carinho e clareza durante o exame. Não omitiu o incômodo, a dor e o sangramento. Desligou o monitor durante a curetagem para que eu não visse a coleta do material para biópsia. O desligamento do monitor acionou meu instinto correto e relaxei o quanto pude para amenizar a dor. Sabe, mamãe, você que era tão sensível, quanto resistente e tão dependente quanto valente, permitiu-me o exemplo que eu precisava para prosseguir. Somos feitas de paradoxos, mãe. Fortes e fracas. Humanas.

Mais de uma hora de espera para receber a dose do radiofármaco para os super poderes de hoje. Meus olhos ficaram azuis esverdeados, minhas unhas vermelho Chanel, foi moleza caminhar com saltos Louboutin, ter uma Kelly croco e uma Jackie bag em cada braço, uma Cartier platinum solitaire na mão direita, duas Cartier platinum uma love e outra lanière na mão esquerda e o aroma do Clive Christian nº1 Imperial Majesty. Além de todos esses “super poderes”, agora, somente Heidi Klum e eu temos músicas feitas por Seal em nossa homenagem.

Os responsáveis por este blog não receberam qualquer patrocínio da Chanel, Hermès, Gucci, Cartier e Cliven Christian. Os sapatos Louboutin foram citados, exclusivamente, pelo tamanho extremely high de seus saltos. Os responsáveis por este blog não entendem o funcionamento do centro de gravidade das pessoas que utilizam saltos tão altos. O site da Hèrmes é uma graça.

O que alguém pode fazer no tempo necessário para que a substância radioativa faça efeito? Pensei em ir ao escritório adiantar algumas coisas, mas o cansaço mental e físico é tamanho e o tempo dedicado para procedimentos médicos e o trabalho tem sido minha vida nos últimos dois meses - além do uso restrito do toilette, principalmente, se houver possibilidade de vir a ser utilizado por grávida - que decidi procurar pela dentista indicada por uma das médicas que me acompanha. A dentista não estava, mas através de sua atendente fui parar no consultório, no mesmo prédio, de outra dentista, amiga-imã da primeira, e dessa outra dentista, gentil e carinhosa, fui ao consultório da terceira dentista, também no mesmo prédio, onde estava a endodontista que é chamada pelas três quando algum paciente necessita de tratamento de canal. Ah, sim, depois do exame puxado realizado às sete horas da manhã, das horas passadas no hospital do câncer, no pouco tempo que eu teria para descansar um pouco antes de regressar para a captação, aproveitei para tratar o canal de um dente obviamente esquecido pela total falta de tempo.

Por que escrevo sobre tudo isso? Para tentar inspirar aos que enfrentam a vida de frente, a deixarem o desânimo de lado, abandonarem a aridez interna, desconsiderarem as dificuldades e, principalmente, se apegarem na fé para com leveza, bom humor e suavidade seguirem adiante.  

Agradeci por ter encontrado tantas profissionais que cuidaram de mim com tamanha competência e carinho; agradeci pela coincidência da endodontista estar naquele prédio, naquele exato momento, e ter horário para mim; agradeci por ter encontrado energia e força para mais uma mini-maratona. Baseada na fé com gratidão espero os resultados e cumpro fases. Preparo-me para no futuro próximo responder esta pergunta: O que você faz por você?

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Sabemos o que os outros podem fazer, o que esperamos que eles façam e o que eles fazem realmente por nós. Vc narrou o quanto fizeram, às vezes chegaram a te surpreender, mas o que cada um de nós pode fazer para si mesmo, ah, eis uma pergunta muito difícil. Nesses momentos intensos de angústia, aflição, medo (sim, medo), surgem forças que nem sabíamos que existiam.Você fará por você mesma tudo o que for necessário e mais ainda; afinal, eu li a palavra "fé".