domingo, 13 de dezembro de 2009

Sabemos hoje (por hábito ou fuga) que a metáfora é esta: cega tentativa em acertar nos objetos que flutuam

A Transilvânia situa-se na região montanhosa dos Cárpatos, é formada por dezesseis condados e localiza-se na área ocidental da Romênia. Antes  de Cristo fez parte da região romana da Dácia, depois, foi agregada à Hungria, sofreu invasão mongólica e no século XVI tornou-se principado otomano. No século XVII esteve sob o domínio austríaco e em 1918, os romenos da região proclamaram a adesão da Transilvância à Romênia. Sua maior fonte de renda viria do turismo movimentado pelos fãs de lendas sobre vampiros. No século XV, Vlad III, príncipe da Valáquia, também conhecido como “o empalador” e “draculea”, lutou contra o domínio otomano na região e com crueldade, a exemplo dos próprios otomanos, determinou que seus inimigos fossem empalados e seus corpos expostos para servirem de exemplo aos demais. A origem do termo drácula poderia estar ligada a seu pai, Vlad II, o "Vlad Dracul", por seu ingresso na "Ordem do Dragão" (ou seria pela figura que representaria o brasão da família?).
Em 1897, foi lançado o livro “Drácula” do escritor irlandês Bram Stocker, que não foi o primeiro a escrever sobre vampiros, mas o primeiro a conquistar grande sucesso com seu livro. É provável que Stocker tenha se inspirado em Vlad III e nas superstições romenas sobre excomungados, paganismo, o sétimo filho do sétimo filho e outras, ainda existentes por aí. Seu livro auxiliou no desenvolvimento do mito sobre vampiros e serviu de base para vários filmes do gênero, como Nosferatu, 1922, de Murnau, os filmes da década de trinta e cinquenta estrelados por Bela Lugosi e Christopher Lee, filmes de menor sucesso feitos por John Carradine, Jack Palanque e Frank Langella, ao filme de Coppola, Bram’s Stoker Dracula, de 1992.
Em 1967, Roman Polanski lançou o divertido A dança dos vampiros e as histórias sobre mortos que voltam para beber o sangue dos vivos se desenvolvem, não a partir do século XIV, mas há milênios, muitas vezes relacionadas à rituais pagãos.
Lemos e assistimos a dráculas nada atraentes, monstrengos capciosos, sedentos e violentos, que não hesitam ao mostrar seus caninos compridos afiados e suas garras horripilantes. Sensuais e sedutores? O Nosferatu original, de Murnau, está anos luz distante de ser símbolo sedutor, assim como o Nosferatu de Herzog, lançado mais tarde, em 1979. Apesar da capa elegante e do smoking, Christopher Lee e Lugosi mais assustavam do que seduziam e Gary Oldman, o drácula de Coppola, rendeu pesadelos quando seu personagem assumiu a verdadeira forma: o mais mostrengo de todos.
A sensualidade nos filmes sobre vampiros ganhou força na década de noventa, com o trio dos bonitinhos Tom Cruise (Lestat de Lioncourt), Brad Pitt (Louis de Pointe du Lac) e Antônio Banderas (o poderoso Armand, com cabelo comprido e alisado no melhor estilo chapinha) no filme Entrevista com o vampiro, 1994, de Neil Jordan, baseado no livro "Interview with the vampire: The vampire chronicles", de Anne Rice.
Anne Rice ficou famosa na década de setenta graças aos livros "Interview with the vampire" e "The vampire Lestat" e continuou na mesma linha com mais textos sobre vampiros e bruxas, além de escrever, sob pseudônimo, romances variados.
Nos anos setenta foi novidade ler os livros mais famosos de Rice e perceber o jeito diferente com o qual ela descrevia as emoções, crises e temores de seus vampiros, não menos violentos, cruéis e sanguinários que os demais, mas, mais cansados, enfadados dos séculos passados na luta pela sobrevivência. Eu não ousaria dizer que há um toque humano nos vampiros de Rice, mas, certamente, há um toque dos vampiros de Rice em alguns humanos.
Nos livros de Rice há sensualidade de sobra, além da ousadia do jornalista que entrevista Louis de Pointe du Lac, transformado em vampiro no século XVIII, pelo próprio Lestat, que arrebata multidões de adoradores como cantor de rock. Os vampiros de Rice se adequam ao tempo e, na medida do possível, convivem com os humanos sem poupá-los quando o assunto é fome.
Em 2003, Underworld (Anjos da noite) de Len Wiseman, mostra a batalha entre terríveis vampiros e cruéis lobisomens e Van Hesling, de Stephen Sommers, 2004, é o filme sobre o caçador de horríveis vampiros.
Em 2008, na série de TV True Blood, a convivência entre vampiros e humanos chega ao auge, a ponto dos vampiros lutarem por direitos civis e manterem relações amorosas com humanos, graças ao sangue sintético vendido em bares e supermercados que lhes supre a necessidade.
Em 2005, Stephenie Meyer lançou seu livro "Twilight" (Crepúsculo) sobre a jovem Bella Swan que se apaixona pelo vampiro Edward Cullen. Em 2006, Meyer lançou o segundo livro da história de Bella, "New moon" (Lua nova), seguidos por "Eclipse", 2007, e "Breaking dawn" (amanhecer), 2008. Sucessos de venda e premiados, em 2008, Crepúsculo foi transformado em filme de Catherine Hardwick e o filme Lua nova, de Chris Weitz, estreou neste ano.
No filme Crepúsculo volta a batalha entre lobisomens e vampiros, além da relação amorosa entre uma garota e um vampiro, com a sequência caracterizada pelo triângulo amoroso vampiro, garota e lobisomem. Num dos comerciais do filme mostram o diálogo entre mãe e filha adolescente, no cinema, a mãe encantada com a história de amor, o romance vivido entre a garota (tão pálida e magra quanto o vampiro) e a criatura das trevas, desejosa até em reavivar sua própria vida amorosa. Ressurge a figura do vampiro bonitinho e sedutor, mas sempre vampiro, dessa vez voltada aos adolescentes e aos não tão adolescentes assim.
Por sinal, Edward Cullen é bem ambíguo em relação à Bella porque sente que o sangue da garota lhe seria irresistível.
No filme The Jane Austen book club, 2007, de Robin Swicord, o personagem de Hugh Dancy explica ao personagem de Maria Bello sobre o real grupo de jovens vampiros, bem parecidos com os punks da década de setenta, e os gestos por eles adotados, por exemplo, os braços cruzados quando não querem falar com alguém.
Não há como desconsiderarmos a onda de vampirismo e o encanto que essas criaturas conseguem exercer em larga escala. Conhecemos sua natureza, sabemos sobre seus interesses, tememos suas reações, mas permitimos que se aproximem e nos deixamos seduzir. Preocupante. Será que nos consideramos imunes, especiais, ou pior, capazes de transformá-los de criaturas das trevas em seres da luz e do bem?
Todo esse encanto estaria na identificação que desenvolvemos com os vampiros, principalmente, com os vampiros descritos por Anne Rice? Necessidade de amar, desejo pela beleza e pela imortalidade? As imagens da transformação do personagem representado por Gary Oldman deveriam ser repetidas diversas vezes. Meninas, o moço é sedutor e pode parecer bonito, seguro, forte, protetor, valente e charmoso, mas quando se transforma naquilo que realmente é...

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