terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Rede ao vento se torce de saudade sem você dentro


Há alguns dias, enquanto eu mudava os canais em busca de algo interessante, ouvi uma frase que chamou minha atenção e assisti ao filme Mulheres Sexo Verdades Mentiras, 2007, de Euclydes Marinho, com Júlia Lemmertz.
Não sei bem se recomendo esse filme. A personagem de Júlia é uma cineasta recém separada, que se encontra esporadicamente com um homem que a satisfaz sexualmente. Empolgada com o prazer sentido, ela decide realizar um documentário sobre sexo e entrevista inúmeras mulheres de diferentes classes sociais, idades e profissões. Reconheço que ri com algumas situações, fiquei impressionada com determinados depoimentos, concordei inteiramente com outros e achei algumas entrevistadas exageradas, meio agressivas, mulheres que assumiram a maneira de pensar e atitudes típicas de alguns homens.
O depoimento da mulher de um rabino e do próprio rabino foi, no mínimo, inusitado: Segundo o casal estaria definido, em contrato, que os maridos devem satisfazer suas mulheres duas, três vezes por semana, caso contrário, a mulher pode pedir o divórcio.
No filme existem mulheres liberadas, exageradas e sem qualquer temor ou cuidado, enquanto outras mantêm comportamento recatado. Há as que tentam parecer liberadas, mas não são. Algumas mulheres acompanham seus maridos, mas são infelizes por não apreciarem o que fazem. Há as que sequer sabiam responder o por que de alguma situação e para essas, o pra que estaria totalmente fora de questão. As entrevistas afetam a cineasta, que passa a querer um relacionamento amoroso com seu parceiro sexual, ao invés dos encontros ocasionais e sem compromisso. Surge a frase que os malandros ouvem e costumam fugir, a sensação de vazio, mas com o tempo Júlia e o amante resolvem a situação da melhor maneira e assumem seus sentimentos.
Enquanto Júlia conversava com a melhor amiga sobre seu casamento morno e a paixão por outro, surgida durante o casamento, as duas admitiram o quanto a internet facilita o contato entre os amantes. Através do PC ou de algum celular como o Blackberry, a internet exclui obstáculos. Se parássemos para pensar, sem dúvida enlouqueceríamos: É impossível viver em constante vigília, invadir a privacidade do outro e desrespeitar os limites da vida a dois, apesar de muitos utilizarem a internet para burlar o comportamento correto e esperado dos que mantêm um relacionamento sério e residem com seus parceiros ou companheiros. Por outro lado, impressiona a leviandade dos que mantêm algum tipo de conexão com pessoas comprometidas, e desconsideram o mínimo de honestidade, educação e delicadeza, primordiais em situações desagradáveis como são as baseadas em traições, mentiras e engodos. Se bem que delicadeza e honestidade nunca combinaram com traição. É forçoso admitir que através da internet diversas pessoas se qualificam de maneira equivocada, desnecessariamente expõem detalhes, provocam, trazem para si toda a atenção em franca desconsideração aos demais. Há pouquíssimo tempo, uma mulher que mantivesse relacionamento com um homem comprometido, não exporia essa situação. Por ele, por ela própria e pelas pessoas envolvidas. Enfim, sexo, mentiras, verdades e a internet criaram fórmula explosiva e, fatalmente, reincidente pela facilidade existente.
O final do filme surpreende pelas entrevistas feitas com alguns homens: Românticos e sonhadores acreditam na fidelidade e no amor. Há alguma coisa estranha no ar.

Imagem de Avedon e Hai-Kai de Alice Ruiz

Um comentário:

Gerana disse...

Resta repetir (concordando, talvez; indagando um pouco): "Há alguma coisa estranha no ar".
Ótimo texto.