sábado, 26 de dezembro de 2009

Se você quer ver-me novamente, procura-me sob seus pés, dificilmente você saberá quem sou e o que significo


As pessoas abandonadas, principalmente idosas e crianças, sempre me entristeceram. O abandono é terrível, é o descaso, o desinteresse e desamparo, o total desrespeito, o nada que corações duros sabem ofertar. O abandono é um dos piores castigos.
Em Brasília, no começo da década de noventa, minha redoma de cristal ficou mais trincada com realidade antes desconhecida de jovens que se divertiam com a queima de mendigos que dormiam no CONIC do SDS (centro comercial popular localizado no setor de diversões sul) e em outros locais da cidade. Na realidade, os cinco jovens que, à época, viraram notícia, ofertaram exatamente essa escusa ao queimarem o índio Pataxó, Galdino Jesus dos Santos, de quarenta e quatro anos, que dormia no ponto de ônibus de uma pracinha na avenida W 3 sul: "Pensávamos que era um mendigo." Antes de ficar inconsciente Galdino perguntou aos médicos que o atenderam: Por que fizeram isso comigo? Treze anos depois, ainda não sabemos a resposta. Jovens que voltavam para casa o socorreram e o levaram ao hospital. Alguns jovens queimam, enquanto outros socorrem.
O número de pessoas que vivem na rua é cada vez maior. São dois parâmetros que observo e me entristeço: Aumenta o número de pessoas com câncer, assim como aumenta a quantidade de pessoas sem local para morar. Não há relação alguma entre essas duas grandezas, salvo a de entristecer profundamente.
Caminhar mais me permite observar as pessoas e perceber que as características dos moradores de rua mudaram. Quando eu era menina e passeava com minha mãe, eu tinha medo das pessoas raramente encontradas, que moravam na rua. Lembro o quanto chamou minha atenção um senhor sentado na calçada que, durante anos, pedia esmolas e expunha as feridas de suas pernas. Numa tarde, eu o vi arrancando as casquinhas de suas próprias feridas. Comentei com meu pai e recebi uma das inúmeras lições que ele costumava me dar e tornar meio cinzento o mundo cor-de-rosa que ele mesmo construiu para mim: As feridas daquelas pernas eram o meio de ganhar o troco do dia.
Como é duro ver uma pessoa dormindo na rua, mais ainda com seus sapatos arrumados lado a lado. São gestos e jeitos de pessoas não habituadas a viveram nas ruas. São olhos envergonhados, rostos marcados e sofridos, mãos que aceitam algum auxílio com dignidade, vozes que agradecem com respeito. Há mulheres com olhares desesperados, movimentos de corpos arredios. À noite, na rua de baixo, a chamada louca do bairro dorme sentada na calçada, próximo ao ponto de taxi, seus braços a abraçar suas pernas. Na rua de casa, desde o ano passado, outra senhora  passa as noites sentada na calçada a falar sozinha, prantear sua vida sem aceitar qualquer auxílio. Há dois dias, seus longos cabelos foram cortados, praticamente raspados e ela passou a carregar seus poucos pertences em um balde de plástico branco. Será meu delírio a interpretação que faço dos olhares dessas duas mulheres e das expressões de seus corpos?
Os moradores de rua são vulneráveis a todos os tipos de agressões e maldades. E nós, o que fazemos? Fechamos os olhos, tapamos nossos narizes? Fingimos que não os vemos? Não queremos nos envolver? Não queremos ser incomodados? Perdemos a capacidade de ficarmos indignados? Perdemos nosso verbo junto aos governantes que nada fazem, ao contrário, só prejudicam? Perdemos nossas próprias ações? Esquecemos o significado da palavra caridade, sinônimo maior do amor.

Na Inglaterra o Príncipe William dormiu uma noite na rua para chamar a atenção sobre os desabrigados.   

Prince William sleeps out on London's streets to raise awareness

Prince William sleeps out on London's streets in freezing temperatures to raise awareness of Centrepoint's work with homeless young people.
At a dinner Prince William attended in March 2009 to support Centrepoint, the Prince, our Patron, threw down the gauntlet for us to work towards ending youth homelessness by our 50th anniversary. In accepting that challenge, I invited him to share, for one night, the experience a young person sleeping rough on the streets of London might have. It did not occur to me that he would pick up that gauntlet. But he did! He was determined, as he has always been, to understand deeply the full range of problems a homeless young person might face.
And so it was that on the eve of our 40th anniversary (on the night of 15th December 2009), I found myself accompanying Prince William and his private secretary, Jamie Lowther-Pinkerton, as we bedded down for the night on cardboard boxes around Blackfriars bridge, London. For me, it was a scary experience. Out of my comfortable bed. Out there in the elements. Out there on an extremely cold night, with temperatures down to minus 4oC. And it was the same for Prince William. But he was determined to do it as Patron in order to raise awareness of the problem and to be able to understand a little better what rough sleepers go through night after night.
We took as much precaution as possible – finding a relatively secluded spot in an alleyway, shielded partly by a collection of wheelie bins. But there was no shielding from the bitter cold, or the hard concrete floor, or the fear of being accosted by drug dealers, pimps or those out to give homeless people a 'good' kicking. One of the hairiest moments occurred when we were almost run over by a road sweeper which simply didn’t see our small group huddled together, which just goes to show how vulnerable rough sleepers are. I have never been happier to welcome the break of dawn!
At dawn, Prince William and I walked with another colleague through some of the streets of the West End so he could see with his own eyes many of the ‘invisible’ men and women who are rough sleepers in the buzzing centre of London. Prince William understood, as I did, that what he experienced was but a fraction of what it means to be truly homeless and afflicted. He knew that a young homeless person who has to sleep rough will not then have in the morning the choices we had in Centrepoint’s Greek Street hostel – a warm shower, a change of clothes, a decent breakfast. Homeless young people often face terrible dependency problems with drugs or alcohol, mental illness, poverty, family breakdown and many other issues, all of which are experiences that we simply cannot begin to share after sleeping rough for just one night. But sleeping rough for the night brought home, as no ‘story-telling’ can possibly do, the nightmare and incredible vulnerability of being homeless night after night.
Prince William said: 
"I cannot, after one night, even begin to imagine what it must be like to sleep rough on London's streets night after night. Poverty, mental illness, drug and alcohol dependancy and family breakdown cause people to become and then stay homeless. Centrepoint's work - along with many other organisations' - in tackling these fundamental causes is desperately important if we are ever to end homelessness in this country. I hope that by deepening my understanding of the issue, I can help do my bit to help the most vulnerable on our streets."
After the night on the streets, Prince William went on to visit one of Centrepoint's accommodation services, on Greek Street, Soho, to mark the charity’s 40th birthday and to meet some of the young people supported by the charity. In the evening, a thanksgiving service took place in the birthplace of the charity, St. Anne's church, Soho, attended by its founder Ken Leech. Over the last four decades, Centrepoint has helped more than 70,000 young people.

Na imagem, Príncipe William e Seyi Obakin, CEO do Centrepoint 

Um comentário:

Gerana disse...

Não são delírios seus, não. Quando observamos (porque a maioria sequer observa), é exatamente assim que vemos e sentimos.

Estou aqui via um site americano que permite acesso aos blogs brasileiros do blogspot.