sábado, 5 de dezembro de 2009

Dos seus ouvidos e do olfato, de tudo o que se ramifica entre os timbres, os perfumes, o ritmo interior, uma parcela do cosmo

Eu gosto do aroma de determinados perfumes e conheço as notas que mais me agradam. O perfume certo pode alterar nosso humor e é um dos componentes sutis da atração. 

Segundo Clive Christian seus pefumes são os mais caros  do mundo. Essa qualificação é resultado do trabalho de excelentes perfumistas, da considerável qualidade dos ingredientes e da alta concentração, além da produção bem limitada, sinônimo de exclusividade.

1872 For Men by Clive Christian cria vínculo olfativo que transporta a lugar encantador

Segundo o Livro Guiness de Recordes, o perfume mais caro do mundo é a edição limitada No. 1, de Clive Christian, ao custo de 250 mil dólares o frasco de 50ml. E quem se importa? Eu faria uma fragrância mais cara ainda ao encher um frasco com raiz pura de íris florentina, pó de platina e álcool e o agradável sintético amadeirado Iso-E Super (que custa tanto quanto um chiclete), e depois cobraria um milhão por ele.
Christian trabalha com preços proibitivos. Até aí tudo bem, mas o que realmente importa é se suas fragrâncias são boas ou não. Tirando o No. 1 Imperial Majesty (US$215.000 por 500ml) e o Monogram (US$14.500 por 30ml), temos então três masculinos de Clive Christian, todos levemente fora do padrão e muito bons.
X For Men, criado pela talentosa perfumista Geza Schoen sob a direção criativa de Christian e lançado em 2001, tem uma das mais estranhas evoluções que já pude experimentar. Começa como um perfume agradável e retrô e nos remete aos pós-barbas usados há décadas em barbearias italianas - um pinho delicioso e aromático com pedaços de canela no fogo. Cerca de cinco horas depois daquela queimada, a fragrância que resta ali é um hálito humano neutro, morno e estranho - incrível e quase perturbadoramente íntimo. O barbeiro está a poucos centímetros, a ponto de ficar quase vesgo, enquanto apara suas costeletas. Se você achar que ele está perto demais, simplesmente reaplique depois de algumas horas e o pinho dos anos 50 vai ressurgir e perdurar.
Mais interessante é o No. 1 For Men da perfumista Patricia Choux, nem que seja somente porque quase ninguém o identificaria como um masculino - uma caracterização que talvez deva estar no topo da lista das qualidades obrigatórias de um masculino. Na verdade, Choux faz sua criação nos moldes de um Chanel, com o talco aldeídico do No. 5 e com aquele maravilhoso toque sombrio e condimentado de Coco. Há uma sutil inclinação em direção ao homem, na forma de uma interação que se aproxima da menta, e é muito bom.
O melhor destes perfumes: 1872, novamente de Shoen. É um gourmand, e tenho uma verdadeira fraqueza por perfumes que se enquadram nesta classificação. Mas, sendo justo, ele é muito bem construído. Perfumes similares já foram lançados antes, mas poucos foram comercializados para os homens, e a maioria deles não foi muito bem estruturada. Benjoim do Laos, um incenso doce da Ásia, nos remete à tepidez, e o yuzu japonês, uma fruta cítrica deliciosa, com notas de limão e tangerina, evoca sua característica aromática, quase comestível. O que quer que Shoen tenha usado, aquele vínculo olfativo nos transporta a um lugar encantador de se estar.

Texto de Chandler Burr, crítico de pefumes, publicado no "The New York Times" e traduzido por Erika Brandão. Burr é autor dos livros: "The emperor of scent", " Separate creation: The search for the biological origins of sexual orientation", "The perfect scent: A year inside the perfume industry in Paris and New York" e "You or someone like you".

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