quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A trajetória de Dante

Paraíso, Purgatório e Inferno são as três partes que compõem a Divina Comédia, de Dante Alighieri, obra baseada no conceito medieval do universo formado por círculos concêntricos. Durante a trajetória do Inferno ao portal do Paraíso, Dante contou com o auxílio e a companhia de Virgílio, seu escritor preferido.
A leitura da Divina Comédia é interessante para firmarmos nosso conhecimento sobre o entendimento medieval dos erros e acertos, pecados e virtudes, louvores e castigos, atenuantes e agravantes, dolo e culpa, persistente e ainda identificado nas ideias, ensinamentos e atuações religiosas (paixão, desejo, pecado), na
tipificação dos crimes e na aplicação das penas - a dosagem da pena - pelo Estado, através de seus representantes. Na escrita de Alighieri encontramos ideias de Aristóteles (os conceitos aristotélicos estão presentes em quase tudo que estudamos) e de Santo Agostinho, além de complexa gradução dos pecados, categorias por assim dizer, a definir em qual círculo a alma pecadora passaria o resto do tempo - afinal, qual tempo seria esse?
O inferno de Alighieri, espaço do anjo desobediente e arrogante caído do céu, é composto por nove círculos descendentes, três vales, dez fossos e quatro esferas localizadas no interior da Terra.
Os círculos mais profundos comportam os pecados mais graves, sendo o mais grave de todos a traição, por ser praticada contra indefeso, que confia no malfeitor - a traição contra parentes, conhecidos, benfeitores e a pátria.
Nessa intrincada classificação a heresia é considerada mais amena do que a intriga e a adulação mais grave do que a tirania. Gastadores, pródigos, sedutores, simoníacos, maus conselheiros, heréticos, gulosos, rufiões, fraudadores, traidores, sedutores, aduladores, magos, adivinhos, tiranos, devassos, blasfemadores, ladrões, violentos, corruptos, lisonjeadores, falsários, avaros, rancorosos, sodomitas, usurários, todos e mais alguns, pecadores condenados aos círculos infernais.
O homem de bem, conceito aristotélico posteriormente reiterado por Santo Agostinho, deve evitar a malícia (fraude), a incontinência e a bestialidade (violência) em suas ações. A alma incontinente é culpada e seus pecados considerados menos graves do que os praticados pela alma guiada pelo dolo, pela vontade deliberada de pecar. A vontade de pecar caracterizada pela manifestação de natureza animal seria menos grave do que a vontade premeditada, ardilosa, fruto da inteligência. Praticar o mal contra um desconhecido capaz de se defender é menos grave do que prejudicar alguém conhecido e indefeso por confiar no malfeitor.
A confusão excessiva existente no Inferno de Alighieri atrapalha a alma e a torna incapaz de encontrar o caminho, assim, ao pecador são apresentadas duas alternativas para lidar com suas próprias faltas: enxergá-las no ambiente externo como feras, demônios e obstáculos a serem transpostos, ou, mantê-las em seu interior, o caos seguido pela aridez, a morte interna.
O arrependimento em vida e o conhecimento estão presentes na obra de Dante: Quanto mais o homem sabe, mais graves são os pecados por ele cometidos. Quanto mais idoso o homem (logo, mais sábio) mais graves são os pecados por ele cometidos, se comparados aos pecados do jovem incapaz de difer
enciar o certo e o errado. O homem é dotado do livre-arbítrio para escolher em vida entre o pecado e a correção, entre o inferno e o céu. Mas nada é totalmente claro ou escuro, branco ou preto, pois Dante descreveu a zona cinzenta, o vestíbulo ou ante-inferno, espaço destinado às almas covardes e indecisas, mantidas em constante corrida e atormentadas por vespas e moscas.
No Inferno Dante conhece os lugares nos quais estão os personagens de tragédias, escritores e filósofos gregos, Semiramis, Cleópatra, Bruto, Saladino, Galeno, Átila, políticos e religiosos.
O arrependimento em vida levaria a alma à expiação de seus pecados no Purgatório, composto por círculos ascendentes correspondentes aos sete pecados capitais: Soberba, inveja, preguiça, avareza, ira, gula e luxuria.
No início, teriam sido relacionados oito pecados capitais, a vaidade dentre eles, retirada dessa lista no final do século treze início do século quatorze. A vaidade considerada a necessidade do homem de ser admirado e o direcionamento de sua atenção ao que os outros pensam sobre ele, contrária, portanto, da arrogância, caracterizada pelo egocentrismo e pela importância que o homem dedica ao seu próprio entendimento, desconsiderando Deus. No Paraíso Dante encontra sua amada Beatriz, aprende sobre os sete céus móveis - cada céu correspondente a um planeta e a lua - e os três céus fixos. No Paraíso Dante conta com a ajuda de São Bernardo e, finalmente, encontra Deus.

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