domingo, 2 de agosto de 2009

Cantando e sambando na lama de sapato branco

Duas amigas moradoras de outras cidades, uma na região sudeste e a outra na região nordeste, me fizeram a mesma pergunta, na mesma semana e me deixaram sem jeito, sem que eu soubesse o que responder, como se eu fosse uma garotinha de três anos perdida e envergonhada. Nem o habitual bom humor, tampouco a irreverência me salvaram. Uma delas, mais direta, ligou à noite e na quinta pergunta - dispostas consoante as importâncias dos temas - pacientemente ouviu a resposta complementar do segundo questionamento e a metade de novo assunto para o qual, sem êxito, eu tentei mudar. Ela repetiu a pergunta, fez seu comentário espirituoso e exigiu resposta. Me envergonhei pelo posicionamento cujo enredo não criei, sequer tenho responsabilidade, não participo e jamais imaginei; pela vida e um monte de coisas fundamentais desperdiçadas; pela mão estendida para a fictícia palmatória; pela minha incapacidade de fazer piada, apesar de ser excelente mote e, mais ainda, me entristeci com o carinhoso comentário complementar: era previsível, querida. O tempo todo ela foi coerente, manteve o mesmo posicionamento e é dela um dos mantras repetidos para afastar assombração, espinhela, joanete, verruga, azia e celulite.
Para a amiga que inseriu a pergunta dentre outros escritos de seu email, além da vergonha pelo posicionamento com características tão surreais, ainda terei que me desculpar pela demora da minha mensagem. Enquanto eu escrevo penso: por que sentir vergonha? Deve ser coisa de princípio.

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