segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Paradoxos

Ainda não identifiquei o motivo da minha recente lembrança do índio xavante Mário Juruna, deputado federal de 1983 a 1987, famoso desde a década de 70 por percorrer os gabinetes oficiais de Brasília com um gravador na mão, "para registrar tudo o que o branco diz", durante sua luta pela demarcação das terras indígenas.
Talvez eu sinta falta da coragem, de valores reais, da verdade, do respeito, da solidariedade, do jeito surpreendente, do atrevimento, do indignar-se, do não acostumar-se, do não acomodar-se em mesmice modorrenta e morna, em baixa qualidade, em efeitos nocivos e perversos que impregnam relacionamentos pessoais, amorosos, profissionais, amistosos e sociais. Chega a ser ultrapassada a lembrança de alguém que firmou seu caminho com um gravador antigo nas mãos, em tempo de super exposição, escancaramento e da desmedida facilidade com que imagens, falas, fatos, amores, vidas e mortes são registrados e divulgados em grande escala, a mídia viral em seu pior efeito. Atualmente, notícias matutinas veiculadas em meios de comunicação destituem governantes à noite; a morte de alguém famoso causa comoção mundial em poucas horas; os elementos da velocidade - deslocamento e tempo - adquirem novas acepções.
O paradoxo está em justificativas ultrapassadas, reações tacanhas, comportamentos desonestos continuos, posicionamentos e respostas (ou ausência de respostas) pré-históricas, anos-luz distantes de tamanha transformação, a nos abrir portais do tempo, progresso e retrogresso, e nos transportar ao século dezesseis, aos tortuosos caminhos percorridos por uma simples carta, que levava meses para chegar ao seu destino.
Às vezes lembramos crianças inteligentes, audazes e criativas com seus intrincados e poderosos brinquedos a criar novos mundos, visitar outros planetas, alterar costumes, mas, totalmente dependentes da mão segura do pai para atravessar a rua, comprar e engolir a habitual pizza.

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