domingo, 23 de agosto de 2009

Allegretto


Corre-corre, várias coisas complexas realizadas ao mesmo tempo, cansaço. Ufa! Como o final de semana foi bem-vindo. A noite de sexta foi ansiada e bendita pelo descanso previsto, pelo despertador desligado, pelo acordar me aconchegar e dormir sem hora para o novo acordar, pelo tempo com o filho e o cão, pela quebra da rotina. Comumente recebemos mais carinho, boa energia e atenção de nossos animais de estimação, do que dedicamos a eles.
No meio da semana recebi email inesperado e carinhoso de amiga convidando-me para o concerto da Orquestra Experimental de Repertório, às 10h e 30 min de domingo, no Teatro Municipal.
Pensei o quanto seria bom reencontrá-la, colocar a vida em dia, ouvir suas novidades, elogiar suas conquistas e assistir a concerto ao lado dela, vocacional e talentosa musicista.
Por um lado fiquei feliz e também senti ansiedade pelo cansaço sentido: Como acordar domingo de manhã, sem a ajuda do despertador? Como evitar a sensação do não vou conseguir acordar, que comumente não nos deixa dormir? Resolvi que iria a pé ao Teatro para me animar mais. Sugeri ao filho que me acordasse no dia seguinte, mas a adorável risada dele confirmou que a noite de sábado seria animada e longa. Não treinei o cão para me acordar na hora certa. Ultimamente, o despertador toca e eu volto à dormir com incrível facilidade. Que coisa é essa, capaz de tornar o agradável lazer em incomoda ansiedade. Cansaço. Cansaço além do normal.
Domingo acordei sozinha, com calma me preparei e encontrei minha amiga no horário combinado. Ela tinha dois convites para o camarote da lateral direita. Sem dúvida aquele lugar privilegiado nos fez imaginar outro tempo e mundo.
Reparei cada detalhe do friso de mármore sobre o palco, das poltronas, do lustre central com lâmpadas inapropriadas, das imagens e palavras gregas pintadas no teto, do público apreciador de música clássica. Fiquei triste com o cuidado insuficiente, com o odor de mofo, com o esplendor que dependeu da imaginação para ser revivido. Aquele teatro deveria ser mais cuidado, seu restauro mais eficaz.
Entram os músicos me encanto com a harpa e estranho o acordeão. Também estranho a juventude que forma a Orquestra Experimental de Repertório e acarinho minha condescendência para ofertá-la a cada um daqueles jovens, iniciantes estudantes de música, presumo. Tolinha. César Franck surgiu com vigor impressionante, tal qual lufada plena de energia. Era exatamente desse vento forte que eu precisava. Desse acordar por dentro, vibrar, deixar-se levar por toda aquela magia.
Querida, obrigada pela lembrança, pelo convite e pela excelente energia da boa música. Lembre-se de nossos ditos sobre filhos, pais, trabalhos, casamentos, vida. Lembre-se de que uma pitadinha de egoísmo não desanda a receita, nem faz mal à saúde. Lembre-se de alimentar sua auto-estima e de cuidar-se. Principalmente, lembre-se de que a dedicação extrema em seu detrimento, querida, é coisa de alto preço que não encontra contrapartida.
O maestro Jamil Maluf criou tenda de milagres e os prepara em forma de jovens virtuosos que distribuem graça, excelente energia, vida.


A Orquestra Experimental de Repertório (OER) foi criada, em 1990, por Jamil Maluf e pela Lei 11.227 de 1992, tornou-se parte integrante do Departamento de Teatros da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo. É composta por aproximadamente cem músicos e tem por principais objetivos: A formação de profissionais de orquestra da mais alta qualidade, além da difusão de repertório abrangente e diversificado.

César Franck (1822 - 1890)
Sonata para Violino e Piano (versão para violino e orquestra de Jamil Maluf)
I. Allegretto ben moderato
II. Allegro
III.Recitativo-Fantasia: Bem moderato
IV.Allegretto poco mosso
Sinfonia em Ré Menor
I. Lento - Allegro non troppo
II. Allegretto
III. Finale: Allegro non troppo.

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