domingo, 16 de agosto de 2009

Gourmet

Eu não sabia cozinhar e não me preocupava com isso. Sempre tive várias atividades, não sobrava tempo e o preparo das refeições era mérito de minha mãe, que cozinhava divinamente. Era o carinho de mamãe, sua mão amorosa, sua dedicação, a seleção das melhores receitas e seu jeito de conseguir preciosas dicas dos melhores gastrônomos. Leveza, excelente sabor, bom gosto, minha mãe preparava refeições apreciadas por pessoas com paladar apurado. Eu poderia ter aprendido tudo e um pouco mais, mas não combinávamos muito bem na cozinha. Quer dizer, eu não tinha a paciência o esmero e o cuidado com os quais minha mãe preparava as refeições (hoje, ao cozinhar o alimento que compartilhamos, lembro de minha mãe, assumo suas atitudes, seu carinho incomparável e a sinto ao meu lado - finalmente, combinamos também na cozinha). Casei bem jovem e num dia que mamãe havia combinado almoço com suas amigas, eu convidei meu pai para almoçar em minha casa e preparei (me esforcei para preparar) algo que ele gostava: Bolinhos especiais de carne com molho de tomate. Meu pai era mal acostumado porque minha avó cozinhava bem e minha mãe melhor ainda e as duas, cada qual no seu tempo, dedicaram ao meu pai seus esforços culinários. Preciso dizer que os bolinhos estavam intragáveis, duros, horríveis e que eu mesma não consegui comê-los ? E dizer que meu pai comeu todos os horríveis bolinhos que servi e ainda por cima elogiou meu talento culinário, preciso? Meu pai era mal acostumado por ter à disposição as melhores refeições preparadas com muito amor e eu sou mal acostumada pelo privilégio de ter tido um pai tão gentil e amoroso, incapaz de praticar qualquer grosseria.

Imagem de Peter Lippmann

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