sábado, 13 de março de 2010

Truth to tell, what frustrated composers or soloists we all are; and indeed what frustrated lovers - in spite of all the loves we may have known

Querida, por gostar tanto de você escrevo o que pede, mas confesso que daqui sairá mais uma salada um tanto confusa, incompleta e plena de dúvidas.
Vivemos estereótipos. Vou além: Somos estereótipos ambulantes a repetir comportamentos e  reforçar valores, sem o uso de nossa inteligência, que hiberna em algum recanto aconchegante de nosso maravilhoso cérebro. Alguma vez você perguntou por quê? ou para quê?  antes de apertar o botão e pegar a banana, o mesmo movimento aprendido por algum chimpanzé de laboratório?
Não precisamos retroceder muito: Há quinze dias a atriz britânica Helena Bonham Carter, mulher do cineasta Tim Burton, causou furor ao conceder entrevista sobre sua casa e alguns hábitos familiares. Algo hediondo, imoral, cruel? Não. A família habita em três casas londrinas interligadas, denominadas “territórios separados”. A casa de Helena é interconectada com a casa do marido, que é interligada com a casa das crianças e da babá, para que “todos tenham seus próprios espaços.” Cada casa tem sua própria decoração e o espaço do marido é ocupado por “esqueletos e luzes estranhas”. “É como passar da terra dos vivos à terra dos mortos. Ele pôs luzes de neón para iluminar a penumbra e acredita que o seu lado da casa é James Bond.” No natal, continuou a atriz, o marido enfeita sua árvore com “bebês mortos e coisas afins, adoráveis quando você aprecia de longe, mas quando você vê de perto é bastante macabro. E ele sempre me visita, o que é muito comovente.” Ah, sim, o marido ronca, sofre de insônia e deixa a TV ligada, enquanto a mulher precisa de silêncio para dormir.
O jornal Independent qualificou os hábitos familiares do casal Bonham Carter Burton de “apavorantes.” No meu entender seria apavorante todas as noites tentar dormir ao lado de alguém que sofre de insônia, ronca e deixa a TV ligada. Assim como apavorante seria o humor resultante das noites mal dormidas.
Se considerarmos "apavorante" uma família habitar uma propriedade composta por três casas interligadas, então, seria semi-apavorante o fato de a monarca dormir em quarto separado do marido consorte, além dos diversos castelos que os mantêm distantes durante os períodos das inúmeras atividades desenvolvidas graças aos cargos que ocupam.
Você não acha que falamos sobre a quebra de estereótipos? Por que um casal com hábitos diametralmente opostos deve dormir numa mesma cama? Concordo que o aconchego é sensacional e faz falta, mas, e se existirem desconfortos e consequentes desgastes? O que acontece quando o constante ceder de um sempre favorece ao outro? O que acontece quando a cessão cumulativa com o tempo se transforma em pesada cobrança depreciativa?
Não, não falamos sobre relacionamentos abertos ou coisas parecidas, apenas sobre respeito e espaço, sem os quais a vida fica mais complicada, no mínimo, sufocante.
Outro estereótipo? Casais com idade-padrão: cheguei ao seu calo, querida. O homem deve ser mais velho do que a mulher, ou, ambos podem ter a mesma idade. Por sermos condescendentes e magnânimos aceitamos a diferença de dois, três, quatro anos a mais para a mulher, assim como aceitamos a diferença de dez, vinte, trinta anos a mais para o homem. Aceitamos um casal composto por uma mulher de vinte anos e um homem de sessenta anos, mas a ordem dos fatores altera, e muito, o produto, se a mulher tiver quarenta e o homem vinte. Normalmente, os homens morrem antes e as senhorinhas nonagenárias ficam ao Deus dará.
A minha opinião é meio restrita por conta da minha realidade. Meu filho e eu temos vinte e um anos de diferença e eu convivi com todos os amigos pirralhos dele, uma vez que eu era a mãe mais jovem e mais disposta para os passeios. Somo a essa vivência o fato de ter sido professora universitária e ter acolhido meus alunos como pseudo-sobrinhos. Logo, eu não conseguiria manter um relacionamento com alguém que tivesse idade próxima ou a mesma idade que o garotão e acredito que meu filho também não gostaria de ter um padrasto de trinta e poucos anos. Mas, nos meus limites, não descarto a possibilidade de um relacionamento saudável, honesto, duradouro, bem estruturado, que me faça feliz e que me faça fazer feliz, com um homem alguns anos mais novo.
Não há garantia que um homem de cinquenta anos, ou mais, seja fiel, honesto, respeitoso, dedicado e me faça feliz, portanto, nesse mundo de incertezas, a idade conta bem menos do que o caráter.
Com a vida aprendo a desconsiderar, ou adaptar, os estereótipos estéreis. Bom senso, querida. Respeito aos valores que devem ser respeitados e uma consideração imensa por você mesma.

Imagem de Lilian Bassman

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Adorei este texto. Penso exatamente assim. E digo também: dormir na mesma cama pode ser aconchegante, mas pode ser desgastante; portanto, para preservar uma relação saudável, sem o "tenho que ceder e me conformar" com noite após noite de martírio, nada melhor do que cada um na sua. Do contrário, surge inconscientemente uma cobrança para justificar o sacrifício. Bom senso, como diz vc. Bem dito.