Sem dúvida é melhor, faz o outro crescer, dá trabalho, mas é muito mais produtivo ensinar a pescar, mesmo que todos queiram receber o peixe descamado, limpo, temperado e frito, ou, um pesqueiro produtivo pronto, com peixes saudáveis em abundância e bem treinados para se cuidarem sozinhos. As possíveis diferenças entre um pesqueiro recebido pronto e outro criado com esforço pelo próprio dono, é que algum dia o primeiro pode ter todos os seus recursos esgotados e seu atual proprietário não saber o que fazer, enquanto o segundo, desde que administrado com zelo e eficiência, superará as dificuldades e tenderá ao progresso e ao sucesso constante.
Mas nessa história de pesca e pescador há uma série de circunstâncias, detalhes, particularidades que ora demandam pela real competência de ensinar do bom pescador, ora dependem da capacidade de aprendizado do aspirante a um lugar na ala dos pescadores. Saber pescar não significa saber ensinar a pescar e entre querer aprender a pescar e ter condições para ser um pescador há um universo a ser conquistado. Afinal, o ex-aspirante a pescador pode aprender e ser um excelente padeiro, carpinteiro ou o eterno dependente de outro pescador.
Os simplistas resumem os esforços em três palavras distintas: Competência, perseverança e vocação. Com a mesma simplicidade acrescento a quarta palavra: Necessidade, a mãe postiça da engenhosidade.
O que acontece quando, de repente, o pescador experiente e bem sucedido novamente se torna aprendiz? Ou está cansado demais de tantas pescas, que perdeu o entusiasmo para aprender novas técnicas e assim progredir? O que acontece quando o jovem aprendiz é tão cheio de si, considera-se perfeito, capaz e desvaloriza o ensinamento do bom pescador? Mais uma vez a real vocação para ensinar equilibrará a temporária deficiência do aprendiz, seja ele quem for. Aquele que ensina a pescar tem natureza paciente e, generosamente, compartilha toda a sua experiência. Reconhece o momento ideal, respeita o aprendiz, sabe suas limitações, recua, avança, está próximo para ampará-lo no primeiro tombo e não sonega o pulo do gato, ou melhor, o pulo do peixe. O bom pescador não desiste do outro.
Na fauna da qual fazemos parte dizem que o leão acorda com a certeza que deve correr mais do que a gazela e a gazela não dorme por conta do treino constante para correr muito mais do que o leão.
Faço minha habitual salada: Gazelas, leões, pescadores e aspirantes, todos podem coabitar em paz, trocar experiências e aproveitar os recursos naturais perenes. Neste campo, somos todos aprendizes.
Acordei com o jeito Esopo de ser.
Um comentário:
Adorei o texto.
Somos, você e eu, do tipo eternos aprendizes (pelo que já percebi): que bom, a arrogância não achou terreno em nós, gostamos de aprender.
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