domingo, 7 de março de 2010

Lembramos os pequenos oráculos da infância, os sonhos que são memórias

Em 1965, a garotinha completou cinco anos, o litro de leite era vendido em garrafa de vidro e o Mug fazia o maior sucesso. Na garagem o Aero Willys cor de vinho substituiu o Studebaker cinza. Na sala de leitura muitos livros, periódicos gregos, ingleses e o jornal O Estado de São Paulo, para firmar bem a gramática portuguesa dos pais. A mãe também lia A Cigarra e Manchete. As garotas mais velhas, mocinhas de dezesseis anos, imitavam a Wanderlea e ganhavam dos namorados anel feito com o brucutu do fusca. Não havia fusca com o brucutu intacto. Na televisão sem cores os festivais de música da Record faziam muito sucesso e Elis Regina emprestou sua alma ao interpretar Arrastão: ... Olha o arrastão entrando no mar sem fim / É meu irmão me traz Iemanjá pra mim / Minha Santa Bárbara me abençoai... Valha-me meu Nosso Senhor do Bonfim /  Nunca, jamais se viu tanto peixe assim. Saudosismo? Não. O tempo todo revivo todos os tempos. É apenas vontade de falar sobre coisas, com o meu olhar da época,  sem encontrar rostinhos de dúvida, nem expressões sentimentais que concluam qualquer frase com as mesmas três palavras: faz tanto tempo. Não faz tanto tempo. Foi ontem.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

Na minha casa havia revistas gregas mensais. Do resto, lembro do Aero Willys,pois um tio tinha um. Não lembro de A Cigarra, mas sim da Manchete, porque o irmão de minha mãe era editor-chefe.