Imagine um homem estudioso, sábio, culto, mestre, responsável por um dos maiores centro de educação e cultura do mundo e pela melhor biblioteca do planeta, pai de duas crianças, um garoto e uma garota, criadas sem distinção - mentes e corpos saudáveis – com um único ideal: liberdade.
Imagine um pai que compartilha com seus filhos todo o seu conhecimento e lhes transmite o amor pelo saber. Um homem estudioso que faz questão que seus filhos viajem, conheçam outras culturas, aprendam outros idiomas e o ensinamento de outros mestres.
Imagine que a filha, matemática, astrônoma, filósofa e sábia, tal qual seu pai, desenvolveu o amor pelo magistério e, em 375 d.C., alunos de vários lugares iam à Alexandria para as aulas da diretora da academia e da melhor biblioteca do planeta.
Imagine que Hipatía, filha de Theon, era tão bela quanto culta e seu amor pelo saber superou o amor que hoje entendemos buscar e transformar em sinônimo de felicidade.
Imagine que Hipatía era tão respeitada e admirada pelo seu notório saber, a ponto de tornar-se conselheira de filósofos e governantes, seus ex-alunos.
Este é o cenário que o chileno multidisciplinar (músico, escritor, roteirista, ator, diretor) Alejandro Amenábar nos traz em Agora, 2009, filme ambientado na cidade egípcia de Alexandria, famosa por abrigar uma das sete maravilhas do mundo, seu farol, e pela estupenda biblioteca.
Amenábar, que impressionou com Abre los ojos (1997), Los otros (2001) e Mar adentro (2004) - o roteiro (direção e atuação de Amenábar) Abre los ojos, foi a base para o sucesso de Vanilla Sky (2001).
Pela importância de seu centro cultural, no século IV, a cidade de Alexandria influenciava o império romano.
Na academia de Alexandria, Hipatía aprendeu matemática, astronomia, filosofia, poesia, artes, oratória, retórica e na academia Neoplatônica de Atenas, ela aprimorou seu conhecimento, em especial, a lógica.
O mundo vivia sob o domínio romano, época do imperador Graciano, que nomeou Teodósio imperador romano do oriente. Após grave enfermidade Teodósio foi batizado cristão.
À época, em Alexandria, existiam grupos distintos e tradicionais: Os judeus, que há séculos habitavam a cidade, os pagãos, seguidores do politeísmo egípcio, responsáveis pela academia e pela biblioteca e os cristãos, chefiados pelo patriarca Teófilo.
Com o crescimento do cristianismo o conflito entre os três grupos aumentou e através dos parabolanis, que arriscavam suas vidas ao cuidarem de pessoas com enfermidades contagiosas, além de protegerem ao patriarca, os cristãos se insurgiam contra os demais.
A morte de Teófilo levou ao poder seu sobrinho, Cirilo de Alexandria, que assumiu o patriarcado, fortaleceu os parabolanis, orientou a expulsão dos judeus da cidade, tornou mártir o mais duro dos parabolanis, Amônio, que passou a se chamar Thaumasius e induziu à morte atroz de Hipatía.
No filme, a destruição da biblioteca é demonstrada com incrível tristeza, que resultou no empobrecimento da nossa existência.
O comportamento duro e injusto de Cirilo, ele mesmo um estudioso com formação cultural clássica, teológica e conhecedor da retórica, é totalmente contrário à efetiva manutenção do saber que não ampara crenças, tampouco dogmas religiosos. Na academia não discutiam religião, buscavam o saber constante e respostas às questões existentes.
Com a morte do pai e a destruição do centro cultural, Hipatía lecionava para crianças em sua casa, mas foi sua amizade com Orestes, prefeito de Alexandria e seu ex-aluno, que incomodou Cirilo.
Orestes deixara o paganismo e convertera-se ao cristianismo, como muitos pagãos fizeram para sobreviver às mudanças daquele tempo, mas Hipatía era sincera ao afirmar que jamais poderia seguir uma religião, que não permitisse o constante exercício do questionamento, a busca pelo saber.
Esta obra de Amenábar foi fiel à história e reafirmou o quanto desconsidero tantos 'ismos', que finalizam palavras ainda existentes.
Um comentário:
Valeu, agora é procurar e assistir.
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