sábado, 15 de março de 2008

Teatro - A Moratória



O trabalho desenvolvido por certos profissionais nos permite a criação de um vínculo leal, que jamais decepciona.
Lembro-me que em 1986, durante o curso que fiz na Aliança Francesa, conheci o grupo TAPA, Teatro Amador Produções Artísticas, que havia recém chegado a São Paulo e por quinze anos apresentou suas peças no teatro daquele instituto de idiomas.
Para mim, desde então, o competente e belo trabalho de direção de Eduardo Tolentino de Araújo tem sido referência para um bom espetáculo.
Dentre outros dramaturgos, o programa artístico do grupo TAPA incluiu obras de Nelson Rodrigues, Oduvaldo Viana Filho, Plínio Marcos, Domingos de Oliveira, Maquiavel, Ibsen, Molière, Tchekov, Shakespeare, J.B. Priestley, Bernard Shaw, Oscar Wilde e atualmente apresenta a peça A Moratória de Jorge Andrade.
Nesse trabalho, Tolentino manteve-se fiel à historicidade do texto original e sem quaisquer recursos especiais apresenta, em paralelo, dois tempos distintos: A derrocada da poderosa família de cafeicultores em 1929, e sua vida seqüencial na cidade interiorana em 1932. Todos os elementos foram trabalhados com especial sutileza, que nos permite, ao final da apresentação, o vislumbre de imagem atemporal: A perda da fazenda e a desesperança de sua retomada.
Os personagens são densos e antagônicos, visto que usufruem do poder e o exercem de modo acintoso e, posteriormente, descobrem-se incapazes de sobreviver fora da sociedade agrária. Alguns estereótipos tão conhecidos estão presentes: O pai intransigente, que herdou sua fortuna e é incapaz de geri-la; o filho beberrão e despreparado para a vida profissional; a mãe condescendente e apaziguadora e a filha destinada exclusivamente para o casamento.
Salienta-se a atitude da mãe, que sabedora da situação em momento algum desampara sua família, e da filha, que assume a responsabilidade integral pelo sustento de todos. Com A Moratória senti algo que há tempos me havia esquecido: A perfeita interação entre os atores e o público e a livre doação do grande talento de excelente diretor e atores. Esse trabalho do grupo TAPA torna-se uma raridade teatral. É imperdível.

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