segunda-feira, 10 de março de 2008

Punção e tireoidectomia

A seguinte entrevista feita com o dr. Orlando Parise, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, encontra-se no site do médito Drauzio Varella http://drauziovarella.ig.com.br/entrevistas/ntireoide5.asp

Drauzio – Existe relação entre o aparecimento de nódulos na tireóide e eventos como obesidade, dieta ou estilo de vida?

Orlando Parise – Não existe. No entanto, hoje se observa que as pessoas andam mais ansiosas do que eram antigamente, ansiedade que interfere na conduta diante dos nódulos. Por exemplo, uma jovem de 25 anos vai ao ginecologista que pede um ultra-som de tireóide e verifica a presença de um nódulo. Imediatamente, é indicada uma punção para complementar o diagnóstico e acaba havendo a indicação exagerada de tireoidectomias.

Drauzio – Você poderia definir as palavras punção e tireoidectomia?

Orlando Parise – Tireoidectomia é a remoção terapêutica - parcial ou total - da tireóide e punção, o exame padrão que se realiza para conhecer o tipo de células que constituem o nódulo. A punção pode indicar que se trata de um nódulo maligno e a indicação, nesse caso, é cirúrgica; ou que é francamente benigno e a postura recomendada é observá-lo periodicamente pelo ultra-som. No entanto, muitas vezes, o resultado que deveria dar tranqüilidade para o paciente gera muita ansiedade e são tomadas atitudes mais radicais e desnecessárias.

Drauzio – Como é feita a punção?

Orlando Parise – Para fazer a punção, o paciente não precisa de anestesia geral. No máximo, pessoas mais sensíveis recebem anestesia na pele. O exame consiste em introduzir uma agulha no nódulo e aspirar seu conteúdo com seringa especial para analisar sua celularidade. Esse exame dá informação sobre o conteúdo do nódulo, mas não sobre sua arquitetura. Isso é um problema, porque para distinguir as doenças malignas das benignas é necessário conhecer a arquitetura da glândula e não apenas a celuridade do nódulo, uma vez que ela pode dar indícios, mas não permite fechar o diagnóstico. Por essa razão, muitas vezes, é indicada uma cirurgia para esclarecer as dúvidas geradas pela punção.

Drauzio – Em nódulos grandes, palpáveis, é fácil introduzir a agulha para realizar a punção. Todavia, se medem 4mm ou 5mm, como o médico faz para localizá-los?

Orlando Parise – Ele é guiado pelo ultra-som. Na verdade, o exame resulta da combinação de dois métodos. Ao mesmo tempo em que realiza o ultra-som, o médico posiciona a agulha para ter certeza de que está dentro do nódulo. Isso representa uma vantagem e uma desvantagem. Como já mencionei, 10% das pessoas possuem microcarcinomas e a polêmica quanto à conduta a ser tomada diante do achado é muito grande. Se os nódulos forem muito pequeninos, a tendência é não fazer nada, nem mesmo a punção. Por quê? Porque microcarcinomas de tireóide, com 1mm, 2mm, 3mm, não têm a menor relevância clínica e a pessoa, provavelmente, jamais irá desenvolver a doença.

Drauzio – Por isso, é preciso eleger um critério de seleção. Nódulos muito pequenos não devem ser puncionados. Os maiores, a partir de que tamanho a punção devem ser feita?

Orlando Parise – Geralmente, a partir de 1cm. Esse é um número mágico, pois outros fatores também devem ser considerados. Nódulos malignos costumam ter consistência mais endurecida. Portanto, nódulo único de 0,9mm, mas de consistência endurecida, surgimento rápido ou crescimento acelerado, merece sempre mais atenção do que a presença de vários nódulos, todos pequenos e de palpação inocente.Um dos critérios de tratamento mais usados é não precipitar a indicação da cirurgia, mas aguardar a evolução do nódulo em termos de tamanho. Colocar a glândula em descanso por meio de hormônios é uma estratégia válida. Teoricamente, a supressão hormonal congela a atividade proliferativa da glândula. Se o nódulo continuar crescendo na vigência desse tratamento, é motivo para preocupação.

Drauzio – Nódulos de consistência firme, que crescem com maior rapidez, são candidatos à punção porque podem ser malignos?

Orlando Parise – Nódulos celulares causam maior preocupação do que os nódulos císticos com líquido em seu interior. O exame de ultra-som permite estabelecer a diferença entre um tipo e outro.

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