segunda-feira, 31 de março de 2008
Among crazy competitive boys
Once again among the crazy, competitive and impolite boys . Who told you, dear, not to deal with flowers, puppets, candies and non sense stuffs?
domingo, 30 de março de 2008
Mil perdões
Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais
Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim
Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)
Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair
Chico Buarque
sábado, 29 de março de 2008
Folias culinárias
Fiz questão de assistir ao primeiro programa da nova série da Nigella Lawson e observei que ela está mais prática, rápida, bonita e gordota.
E quem mais prepararia deliciosos e crocantes biscoitinhos para presentear uma amiga e, durante o percurso até a casa da amiga, os comeria sozinha? Ora, Nigella. Mas ela pode e durante a apresentação tomou sua sopa de ervilhas frescas no parque, lambuzou-se com o frango assado e a salada cole slawe, comeu pedaços e mais pedaços de doces de chocolate com nozes, além das garfadas de sua mistura de macarrão com legumes, creme de amendoim e gengibre.
Ver Nigella preparar com muita facilidade tantas coisas e deliciar-se com todas as guloseimas deixa qualquer um encantado com a arte da culinária.
Outro representante do máximo sabor com pouco esforço é Jamie Oliver, que amadureceu, continua competente e agitado, e realiza um belo trabalho com a reeducação alimentar das crianças de seu país. A salada Caesar que ele preparou em seu último programa apresentado pelo canal GNT parece divina e será a próxima folia que tentarei realizar.
Vi que Jamie também adotou o modelo plante em qualquer lugar seus próprios temperos e seja feliz.
No meio desse festival gastronômico assisti novamente aos filmes A Festa de Babette (1987), Chocolate (2000) e O Tempero da Vida (2003) e curti cada movimento tão feminino que as atrizes oferecem. Pela primeira vez pude comparar o jeito elegante e organizado que minha mãe tinha ao preparar as deliciosas e inigualáveis refeições que nos proporcionou ao longo de sua vida e o meu próprio jeito, um tantinho mais caótico e rebelde. Lena Olin, que interpreta a personagem Josephine Muscat em Chocolate, é idêntica à minha mãe na cozinha; já a vigorosa Juliette Binoche, a Vianne Rocher do mesmo filme, tem o meu jeito. Por sinal, Chocolate e O Tempero da Vida retratam bem a alquimia dos ingredientes e a pura magia de seus resultados.
Foi com esse espírito que resolvi dar uma mudadinha no cardápio e quis botar por terra os dois mais famosos pratos à grega que encontramos por ai: O camarão e o arroz.
O verdadeiro camarão à grega é preparado da seguinte maneira: Esquente a água e quando ela começar a borbulhar coloque os camarões inteiros - sim, as cabeças ficam porque conferem mais sabor - mas não deixe de limpar os dejetos desses crustáceos com um pouco de habilidade e a ponta de uma faca. É muito feio ofertar camarões com a sujeira que costumam ter. Quando ficarem rosados retire-os da água e prepare azeite de oliva extra-vigem de boa qualidade, sal e suco de limão. Bata essa mistura com um garfo e coloque os camarões descascados. Só isso. Camarões cozidos no tempo ideal e mergulhados no azeite com sal e limão. O arroz à grega também é simples e feito com azeite de boa qualidade e sal.
Volto à mini-horta de temperos e outras delícias. É muito fácil de criar, manter e curtir em qualquer lugar. Não precisa de mais nada além de mudas, terra, água e sol.
E quem mais prepararia deliciosos e crocantes biscoitinhos para presentear uma amiga e, durante o percurso até a casa da amiga, os comeria sozinha? Ora, Nigella. Mas ela pode e durante a apresentação tomou sua sopa de ervilhas frescas no parque, lambuzou-se com o frango assado e a salada cole slawe, comeu pedaços e mais pedaços de doces de chocolate com nozes, além das garfadas de sua mistura de macarrão com legumes, creme de amendoim e gengibre.
Ver Nigella preparar com muita facilidade tantas coisas e deliciar-se com todas as guloseimas deixa qualquer um encantado com a arte da culinária.
Outro representante do máximo sabor com pouco esforço é Jamie Oliver, que amadureceu, continua competente e agitado, e realiza um belo trabalho com a reeducação alimentar das crianças de seu país. A salada Caesar que ele preparou em seu último programa apresentado pelo canal GNT parece divina e será a próxima folia que tentarei realizar.
Vi que Jamie também adotou o modelo plante em qualquer lugar seus próprios temperos e seja feliz.
No meio desse festival gastronômico assisti novamente aos filmes A Festa de Babette (1987), Chocolate (2000) e O Tempero da Vida (2003) e curti cada movimento tão feminino que as atrizes oferecem. Pela primeira vez pude comparar o jeito elegante e organizado que minha mãe tinha ao preparar as deliciosas e inigualáveis refeições que nos proporcionou ao longo de sua vida e o meu próprio jeito, um tantinho mais caótico e rebelde. Lena Olin, que interpreta a personagem Josephine Muscat em Chocolate, é idêntica à minha mãe na cozinha; já a vigorosa Juliette Binoche, a Vianne Rocher do mesmo filme, tem o meu jeito. Por sinal, Chocolate e O Tempero da Vida retratam bem a alquimia dos ingredientes e a pura magia de seus resultados.
Foi com esse espírito que resolvi dar uma mudadinha no cardápio e quis botar por terra os dois mais famosos pratos à grega que encontramos por ai: O camarão e o arroz.
O verdadeiro camarão à grega é preparado da seguinte maneira: Esquente a água e quando ela começar a borbulhar coloque os camarões inteiros - sim, as cabeças ficam porque conferem mais sabor - mas não deixe de limpar os dejetos desses crustáceos com um pouco de habilidade e a ponta de uma faca. É muito feio ofertar camarões com a sujeira que costumam ter. Quando ficarem rosados retire-os da água e prepare azeite de oliva extra-vigem de boa qualidade, sal e suco de limão. Bata essa mistura com um garfo e coloque os camarões descascados. Só isso. Camarões cozidos no tempo ideal e mergulhados no azeite com sal e limão. O arroz à grega também é simples e feito com azeite de boa qualidade e sal.
Volto à mini-horta de temperos e outras delícias. É muito fácil de criar, manter e curtir em qualquer lugar. Não precisa de mais nada além de mudas, terra, água e sol.
Mansidão
Às vezes o tigre em mim se demonstra cruel
como é próprio da espécie.
Outras, cochila
ou se enrosca em afago emoliente
mas sempre tigre; disfarçado.
como é próprio da espécie.
Outras, cochila
ou se enrosca em afago emoliente
mas sempre tigre; disfarçado.
Dia leve
Percebi que algo estava meio esquisito quando perguntei o preço do carrinho de feira.
O dia começou com o passeio do cão e prosseguiu com o pastel. Pararia no pastel e no caldo de cana com abacaxi e partiria para o ar condicionado do supermercado - e sua oferta de produtos caros, passados e com baixa qualidade - se a calma que senti na feira não fosse tão intensa. No início ouvi o comentário da moça que vendia ervas e temperos: São dez horas e tudo vai bem, sem qualquer assalto, sem violência.
Não resisti às frutas e verduras que estavam tão frescas, coloridas e redescobri o prazer de comprar em feira livre.
Estive em várias barracas e não considerei uma única para as frutas e outra para os legumes e verduras (escolher uma única barraca de frutas – sempre a compra mais cara – é opção segura, pois garante a entrega de todas as compras pelo garoto que auxilia na barraca), pechinchei preços que considerei excessivos, aprendi com um senhor japonês o segredo para fritar lulas sem que virem borrachas e peixes que não fiquem encharcados, desisti de comprar um carrinho de feira que não teria qualquer resistência a algo a mais do que três dúzias de laranjas e dois quilos de batatas e comparei o preço das sacolas de lona. O avô paterno do meu garoto tinha metalúrgica que fabricava carrinhos de feira e outros produtos domésticos e nem o de pior qualidade, o mais descartável, possuía as características dos carrinhos de feira ofertados hoje. No final da folia, duas sacolas recém adquiridas bem pesadas. Ah, mocinha, e agora? Deixar tudo e buscar o carro nem pensar, por que não haveria lugar para estacionar. Aceitar a oferta dos garotos carregadores não seria prudente e seguro. Bom, e com você mesma, arregace as mangas e siga em frente.
Parei diversas vezes no percurso de três quarteirões e em cada pausa curti o cenário, reparei em novos detalhes, observei as pessoas e imaginei suas histórias. Vi o casal de idade que passeava com quatro cachorros e a senhora que segurava as guias de outros três. É cachorro demais, mesmo para quem gosta. Senti e agradeci a sincera gentileza da senhora simpática com uniforme que ofereceu ajuda para seguir mais adiante – foi uma mulher que quis dividir o peso! Lembrei dos meus três anos de idade e do quanto dificultei a vida de minha mãe durante as feiras de cada semana. Eu e meu mini carrinho de feira de madeira vermelha a querer colinho e a maneira de minha mãe contornar a situação com o colinho fracionado e delimitado por esquinas – levo você até a próxima esquina e você caminhará as duas seguintes. Eu não estava cansada, era manhosa e queria aquele colo tão gostoso. Senti saudade de minha mãe. Aliás, na barraca de peixes me surpreendi com a artimanha preciso de peixe bom para uma senhora de idade; isso foi o que falei a maior parte da minha vida: Preciso de coisas de boa qualidade para a minha querida senhora de idade.
Ao chegar ao prédio encontrei o porteiro que solicito levou as sacolas até o elevador, sem deixar de comentar sobre o peso, sobre o percurso que ele havia feito: que pena, arrodiei pela avenida e não vi a senhora descendo a rua, e sobre um carregador que roubou a senhora que morava no apartamento 81. Guardei na geladeira os produtos mais perecíveis e resolvi levar coisas para o conserto: Três pares de sapatos pretos, a haste dos óculos usados em casa, a troca das baterias de dois relógios e a alça da bolsa de pele de crocodilo de minha mãe.
O ajudante do sapateiro disse que a bolsa e o sapato de verniz não teriam conserto. Perguntei pelo sapateiro, um senhor ruivo e atencioso de quem não sei o nome, e o ajudante me disse que ele estaria tomando um lanche na padaria da esquina. De repente, o sapateiro voltou da clínica onde fez uma endoscopia para acompanhamento da cirurgia do estômago, examinou a bolsa, os sapatos, garantiu um bom serviço e cobrou barato. Eu não sei o nome desse senhor, mas sei que operou o estômago. Essa é uma das minhas características: Aprendi a ouvir o outro e a criar sincera empatia instantânea. Vá para casa descansar, meu senhor, faz o que aqui, depois de tomar anestésico por conta do exame?
Enquanto eu esperava a troca das baterias dos relógios surgiu uma senhora nascida em Nova York, magra e alta, com os olhos verdes, os cabelos compridos e grisalhos presos num coque e um sotaque irresistível a reclamar do calor. Trocamos idéias sobre aquela cidade e obtive dicas preciosas e inéditas. Fui ao supermercado e contei com o gentil e imediato acompanhamento do entregador – em detrimento das caixas de compras que lá estavam para serem entregues – apesar de já ter ultrapassado seu horário de trabalho. O cão, com minhas constantes saídas e chegadas, estava com a cara triste, se sentindo de lado e mereceu um agrado: O levei comigo para um café ao ar livre e mais diversão com a observação das pessoas e suas vidas imaginárias. Imaginar é ser livre. De lá, fomos ao petshop para o banho e a gravatinha que penduram em seu pescoço. Esperei e quis que ele me visse através da janela que separa os lavatórios da frente da loja, por conta da cirurgia que ele sofreu mês passado. Enquanto isso, apareceu um divertido lhasa, e seu dono também resolveu esperar. Ele é químico e dono de uma farmácia homeopática no bairro, ensinou-me mais sobre alimentação equilibrada e a farmacopéia natural, além das inevitáveis coincidências que ocorrem entre pessoas que engatam uma conversa sobre vários assuntos que fluem naturalmente: Ele nasceu em Poços de Caldas – cidade que gosto e onde, durante anos, passei minhas férias escolares de julho, é sagitariano e tem o tipo sanguíneo A negativo. E quem informa o tipo sanguíneo na primeira conversa? Ora, quem leu sobre a melhor alimentação de acordo com o tipo do sangue. Somente quando me despedi nos apresentamos e percebi que, às vezes, esse negócio de nome não é necessário. Paquera, pensará a mente tendenciosa. Não, em absoluto. A paquera estragaria a boa conversa. Esquecemos com facilidade que é essencial exercitar a capacidade de ouvir; e para isso, é necessário abrir-se e admirar a realidade e a verdade do outro.
O meu dia foi calmo, leve, produtivo e simples, como a vida deve ser. É fundamental uma pausa para deixar de lado a competente persona profissional e resgatar a essência humana. Pena que isso dura pouco, ou não: Será muito mais interessante retomar a maratona sem perder esse lado recém descoberto.
O dia começou com o passeio do cão e prosseguiu com o pastel. Pararia no pastel e no caldo de cana com abacaxi e partiria para o ar condicionado do supermercado - e sua oferta de produtos caros, passados e com baixa qualidade - se a calma que senti na feira não fosse tão intensa. No início ouvi o comentário da moça que vendia ervas e temperos: São dez horas e tudo vai bem, sem qualquer assalto, sem violência.
Não resisti às frutas e verduras que estavam tão frescas, coloridas e redescobri o prazer de comprar em feira livre.
Estive em várias barracas e não considerei uma única para as frutas e outra para os legumes e verduras (escolher uma única barraca de frutas – sempre a compra mais cara – é opção segura, pois garante a entrega de todas as compras pelo garoto que auxilia na barraca), pechinchei preços que considerei excessivos, aprendi com um senhor japonês o segredo para fritar lulas sem que virem borrachas e peixes que não fiquem encharcados, desisti de comprar um carrinho de feira que não teria qualquer resistência a algo a mais do que três dúzias de laranjas e dois quilos de batatas e comparei o preço das sacolas de lona. O avô paterno do meu garoto tinha metalúrgica que fabricava carrinhos de feira e outros produtos domésticos e nem o de pior qualidade, o mais descartável, possuía as características dos carrinhos de feira ofertados hoje. No final da folia, duas sacolas recém adquiridas bem pesadas. Ah, mocinha, e agora? Deixar tudo e buscar o carro nem pensar, por que não haveria lugar para estacionar. Aceitar a oferta dos garotos carregadores não seria prudente e seguro. Bom, e com você mesma, arregace as mangas e siga em frente.
Parei diversas vezes no percurso de três quarteirões e em cada pausa curti o cenário, reparei em novos detalhes, observei as pessoas e imaginei suas histórias. Vi o casal de idade que passeava com quatro cachorros e a senhora que segurava as guias de outros três. É cachorro demais, mesmo para quem gosta. Senti e agradeci a sincera gentileza da senhora simpática com uniforme que ofereceu ajuda para seguir mais adiante – foi uma mulher que quis dividir o peso! Lembrei dos meus três anos de idade e do quanto dificultei a vida de minha mãe durante as feiras de cada semana. Eu e meu mini carrinho de feira de madeira vermelha a querer colinho e a maneira de minha mãe contornar a situação com o colinho fracionado e delimitado por esquinas – levo você até a próxima esquina e você caminhará as duas seguintes. Eu não estava cansada, era manhosa e queria aquele colo tão gostoso. Senti saudade de minha mãe. Aliás, na barraca de peixes me surpreendi com a artimanha preciso de peixe bom para uma senhora de idade; isso foi o que falei a maior parte da minha vida: Preciso de coisas de boa qualidade para a minha querida senhora de idade.
Ao chegar ao prédio encontrei o porteiro que solicito levou as sacolas até o elevador, sem deixar de comentar sobre o peso, sobre o percurso que ele havia feito: que pena, arrodiei pela avenida e não vi a senhora descendo a rua, e sobre um carregador que roubou a senhora que morava no apartamento 81. Guardei na geladeira os produtos mais perecíveis e resolvi levar coisas para o conserto: Três pares de sapatos pretos, a haste dos óculos usados em casa, a troca das baterias de dois relógios e a alça da bolsa de pele de crocodilo de minha mãe.
O ajudante do sapateiro disse que a bolsa e o sapato de verniz não teriam conserto. Perguntei pelo sapateiro, um senhor ruivo e atencioso de quem não sei o nome, e o ajudante me disse que ele estaria tomando um lanche na padaria da esquina. De repente, o sapateiro voltou da clínica onde fez uma endoscopia para acompanhamento da cirurgia do estômago, examinou a bolsa, os sapatos, garantiu um bom serviço e cobrou barato. Eu não sei o nome desse senhor, mas sei que operou o estômago. Essa é uma das minhas características: Aprendi a ouvir o outro e a criar sincera empatia instantânea. Vá para casa descansar, meu senhor, faz o que aqui, depois de tomar anestésico por conta do exame?
Enquanto eu esperava a troca das baterias dos relógios surgiu uma senhora nascida em Nova York, magra e alta, com os olhos verdes, os cabelos compridos e grisalhos presos num coque e um sotaque irresistível a reclamar do calor. Trocamos idéias sobre aquela cidade e obtive dicas preciosas e inéditas. Fui ao supermercado e contei com o gentil e imediato acompanhamento do entregador – em detrimento das caixas de compras que lá estavam para serem entregues – apesar de já ter ultrapassado seu horário de trabalho. O cão, com minhas constantes saídas e chegadas, estava com a cara triste, se sentindo de lado e mereceu um agrado: O levei comigo para um café ao ar livre e mais diversão com a observação das pessoas e suas vidas imaginárias. Imaginar é ser livre. De lá, fomos ao petshop para o banho e a gravatinha que penduram em seu pescoço. Esperei e quis que ele me visse através da janela que separa os lavatórios da frente da loja, por conta da cirurgia que ele sofreu mês passado. Enquanto isso, apareceu um divertido lhasa, e seu dono também resolveu esperar. Ele é químico e dono de uma farmácia homeopática no bairro, ensinou-me mais sobre alimentação equilibrada e a farmacopéia natural, além das inevitáveis coincidências que ocorrem entre pessoas que engatam uma conversa sobre vários assuntos que fluem naturalmente: Ele nasceu em Poços de Caldas – cidade que gosto e onde, durante anos, passei minhas férias escolares de julho, é sagitariano e tem o tipo sanguíneo A negativo. E quem informa o tipo sanguíneo na primeira conversa? Ora, quem leu sobre a melhor alimentação de acordo com o tipo do sangue. Somente quando me despedi nos apresentamos e percebi que, às vezes, esse negócio de nome não é necessário. Paquera, pensará a mente tendenciosa. Não, em absoluto. A paquera estragaria a boa conversa. Esquecemos com facilidade que é essencial exercitar a capacidade de ouvir; e para isso, é necessário abrir-se e admirar a realidade e a verdade do outro.
O meu dia foi calmo, leve, produtivo e simples, como a vida deve ser. É fundamental uma pausa para deixar de lado a competente persona profissional e resgatar a essência humana. Pena que isso dura pouco, ou não: Será muito mais interessante retomar a maratona sem perder esse lado recém descoberto.
Imagem de Mário de Biasi.
Marcadores:
comportamentos,
folia,
idéias,
imaginação,
liberdade,
pastel; feira
quinta-feira, 27 de março de 2008
Neurociência - Nos lugar dos outros
Viver em sociedade é complicado. Pessoas diferentes têm temperamentos, gostos, histórias de vida e crenças diferentes -ainda bem, ou o mundo seria muito monótono. Conviver em harmonia nessas condições requer levar em consideração o que julgamos serem as preferências, crenças e intenções dos outros, uma habilidade que por si só já demonstra que o cérebro faz muito mais do que apenas detectar e responder a estímulos.
Como não temos como entrar na cabeça do próximo, restam ao cérebro duas possibilidades para se colocar no lugar dos outros: usar da lógica racional para processar dados disponíveis sobre o outro, ou considerá-lo como uma extensão de si mesmo, usando os próprios gostos e crenças para julgar os do outro.
Na prática, a neurociência já mostrou que as duas estratégias são usadas - mas em circunstâncias diferentes.
Quando avaliamos as intenções e os sentimentos de alguém diferente de nós, o cérebro emprega regiões dorsolaterais do córtex pré-frontal, envolvidas no raciocínio analítico, para inferir o estado mental da pessoa.
Quando, ao contrário, avaliamos o estado mental de alguém que consideramos nosso semelhante, o cérebro emprega outra área: o córtex ventromedial, que integra as emoções ao comportamento - e também responde pela introspecção sobre nossos próprios sentimentos e preferências.
Segundo um estudo recente do grupo de Adrianna Jenkins, na Universidade Harvard, não só a mesma área do ventromedial como provavelmente os mesmos neurônios são usados para estimar nossas preferências e as de uma pessoa parecida (mesmo a cobertura da pizza!), como se lhe emprestássemos nossas convicções. Ou seja: julgamos os outros automaticamente à nossa semelhança -mas só se eles forem parecidos conosco.
Enxergar nosso semelhante de nossa própria perspectiva pode ser uma ótima estratégia para manter grupos coesos - mas permite tratarmos apenas racionalmente quem não compartilha de nossas convicções. A boa notícia, no entanto, é que isso pode ter jeito. Segundo a própria Adrianna, colocar-se conscientemente no lugar do outro, escrevendo sobre ele na primeira pessoa, por exemplo, pode mudar a maneira de o cérebro avaliar suas intenções. Ah, se umas pessoas quisessem apenas tentar...
Julgamos os outros automaticamente à nossa semelhança - mas só se eles forem parecidos conosco.
Texto escrito por Suzana Herculano-Houzel e publicado em 27.03.08, na Folha de São Paulo.
Como não temos como entrar na cabeça do próximo, restam ao cérebro duas possibilidades para se colocar no lugar dos outros: usar da lógica racional para processar dados disponíveis sobre o outro, ou considerá-lo como uma extensão de si mesmo, usando os próprios gostos e crenças para julgar os do outro.
Na prática, a neurociência já mostrou que as duas estratégias são usadas - mas em circunstâncias diferentes.
Quando avaliamos as intenções e os sentimentos de alguém diferente de nós, o cérebro emprega regiões dorsolaterais do córtex pré-frontal, envolvidas no raciocínio analítico, para inferir o estado mental da pessoa.
Quando, ao contrário, avaliamos o estado mental de alguém que consideramos nosso semelhante, o cérebro emprega outra área: o córtex ventromedial, que integra as emoções ao comportamento - e também responde pela introspecção sobre nossos próprios sentimentos e preferências.
Segundo um estudo recente do grupo de Adrianna Jenkins, na Universidade Harvard, não só a mesma área do ventromedial como provavelmente os mesmos neurônios são usados para estimar nossas preferências e as de uma pessoa parecida (mesmo a cobertura da pizza!), como se lhe emprestássemos nossas convicções. Ou seja: julgamos os outros automaticamente à nossa semelhança -mas só se eles forem parecidos conosco.
Enxergar nosso semelhante de nossa própria perspectiva pode ser uma ótima estratégia para manter grupos coesos - mas permite tratarmos apenas racionalmente quem não compartilha de nossas convicções. A boa notícia, no entanto, é que isso pode ter jeito. Segundo a própria Adrianna, colocar-se conscientemente no lugar do outro, escrevendo sobre ele na primeira pessoa, por exemplo, pode mudar a maneira de o cérebro avaliar suas intenções. Ah, se umas pessoas quisessem apenas tentar...
Julgamos os outros automaticamente à nossa semelhança - mas só se eles forem parecidos conosco.
Texto escrito por Suzana Herculano-Houzel e publicado em 27.03.08, na Folha de São Paulo.
Carlos Drummond de Andrade
Oh! se te amei, e quanto!
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim
quarta-feira, 26 de março de 2008
Gibran Khalil Gibran
Aprendi sobre Gibran Khalil Gibran com o Arcebispo da Catedral Metropolitana Ortodoxa que freqüento desde que nasci. Dom Ignácio era uma pessoa ímpar e um dos meus raros mentores e paradigmas. Foi na morte do meu pai que recebi seu conselho para ler O Profeta de Gibran, de onde retirei o seguinte texto:
Então, uma mulher disse: “Fala-nos da alegria e da tristeza.
E ele respondeu:
“Vossa alegria é vossa tristeza desmascarada.
E o mesmo poço que dá nascimento a vosso riso foi muitas vezes preenchido com vossas lágrimas.
E como poderia não ser assim?
Quanto mais profundamente a tristeza cavar suas garras em vosso ser, mais alegria podereis conter.
Não é a taça em que verteis vosso vinho a mesma que foi queimada no forno do oleiro?
E não é a lira que acaricia vossas almas a própria madeira que foi entalhada à faca?
Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que vos está dando alegria.
E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constituiu vosso deleite.
Alguns dentro vós dizeis: ‘A alegria é maior que a tristeza’, e outros dizem: ‘Não, a tristeza é maior.’
Eu, porém, vos digo que elas são inseparáveis.
Vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama.
Em verdade, estais suspensos como os pratos de uma balança entre vossa tristeza e vossa alegria.
É somente quando estais vazios que estais em equilíbrio.
Quando o guarda do tesouro vos suspende para pesar seu ouro e sua prata, então deve a vossa alegria ou vossa tristeza subir ou descer.”
O Profeta foi escrito em 1923 e bem cultuado na década de sessenta. Na leitura de sua obra contemplamos a conciliação de várias correntes filosóficas com a poesia e princípios cristãos.
Nesta semana, a cidade teve vários eventos para comemorar os 125 anos de nascimento desse poeta, filósofo e pintor árabe. Segundo ele, os poetas e artistas eram mais importantes do que os políticos.
Em seu livro O Louco, percebemos o conceito sufi da sábia solidão contra um mundo cada vez mais insano:
- Dois eremitas
Numa montanha solitária, viviam dois eremitas que adoravam a Deus e se amavam um ao outro. Ora, esses dois eremitas tinham uma tigela de barro que era a única coisa que possuíam.
Um dia, um espírito mau entrou no coração do eremita mais velho, e ele procurou o mais moço e disse-lhe: “Faz muito tempo, já, que vivemos juntos. Chegou a ocasião de nos separarmos. Dividirmos nossos bens.”
Então, o mais novo entristeceu-se e disse: “Aflige-me, irmão, que tu me deixes. Mas, se tens necessidade de partir, seja assim.” E trouxe a tigela de barro e deu-a ao outro, dizendo: “Não podemos dividí-la, irmão. Que seja tua!”
Então, o eremita mais velhos disse: “Não aceito caridade. Não levarei nada que não seja meu. A tigela deve ser dividida.”
E o mais moço ponderou: “Se ela for quebrada, que utilidade terá para ti ou para mim? Se é teu desejo, lancemos antes uma sorte.”
Mas o velho eremita disse novamente: “Não quero senão justiça e o que me pertence, e não vou confiar a justiça e o que me pertence à sorte vã. A tigela precisa ser dividida.”
Então o eremita mais moço não pôde deixar de argumentar e disse: “Se é de fato teu desejo e se mesmo assim o querer, quebremos a tigela.”
Mas a face do eremita mais velho foi escurecendo excessivamente,e ele gritou: “Ó maldito covarde, não queres mesmo brigar.”
- O olho
Um dia, disse o olho: “Vejo, além destes vales, uma montanha velada pela cerração azul. Não é bela?’
O ouvido pôs-se à escuta e, depois de ter escutado atentamente algum tempo, disse: “Mas onde há qualquer montanha? Não a ouço.”
Então, a mão falou: “Estou tentando em vão senti-la ou tocá-la, e não encontro montanha alguma”E o nariz disse: “Não há nenhuma montanha. Não lhe sinto o cheiro.”
Então, o olho voltou-se para outra parte; e todos começaram a conversar sobre a estranha alucinação do olho. E diziam: “Há qualquer coisa errada com o olho.”
Gibran buscou na união da natureza com o misticismo o resgate do homem corrompido pela civilização.
Em seu livro Parábolas encontramos os seguintes conceitos:
“A generosidade não está em dar-me aquilo de que preciso mais do que tu, mas em dar-me aquilo de que precisas mais do que eu.”
“Sois realmente caridosos quando dais e, ao dar, virais a face para não ver o acanhamento de quem recebe.”
“Uma vez, falei do mar a um pântano, e o pântano achou que eu era um visionário. E, uma vez, falei de um pântano ao mar, e o mar achou que eu era um difamador.”
“O desejo é a metade da vida; a indiferença é a metade da morte."
Está em sua obra Jesus o texto a seguir: Jesus desprezava e escarnecia dos hipócritas, e Sua ira era como a tempestade que os flagelava. Sua voz era trovão em seus ouvidos, e Ele os intimidava. Em seu medo d'Ele, buscaram sua morte; e, qual toupeiras na terra escura, trabalharam para solapar Suas pegadas. Mas Ele não caiu em suas ciladas. Riu deles, pois bem Ele sabia que o espírito não será ludibriado, nem será levado ao abismo. Ele segurou um espelho em Sua mão e, nele, viu o lerdo e o manco e aqueles que titubeiam e caem à beira da estrada a caminho do cume. E teve piedade de todos eles. E desejava erguê-los à Sua estatura e carregar seu fardo. Não somente isso, desejava despojar sua fraqueza em Sua força. Ele não condenava sumariamente o mentiroso, o ladrão ou assassino; mas condenava, sim, o hipócrita cujo rosto está mascarado e a mão enluvada. Muitas vezes, ponderei sobre o coração que abriga a todos que vêm das terras áridas para o Seu santuário; contudo, contra o hipócrita, permanece fechado e lacrado.
Um dia, enquanto repousávamos com Ele no jardim das romãs, eu Lhe disse:
- Mestre, tu perdoas e consolas o pecador e todos os fracos e enfermos, exceto ao hipócrita.
- Escolheste bem tuas palavras ao chamares o pecador de fraco ou enfermo. Perdôo a fraqueza de seu corpo e a enfermidade de seu espírito. Pois suas falhas foram-lhe conferidas por seus antepassados ou pela ganância de seus próximos. Mas não tolero o hipócrita, porque ele próprio lança um jugo sobre aquele a quem lhe falta astúcia ou que concede. Os fracos, a quem chamas de pecadores, são como aves que, sem penas para voar, caem do ninho. O hipócrita é o abutre aguardando sobre uma pedra a morte da presa. Os fracos são homens perdidos em um deserto. Mas o hipócrita não está perdido. Ele conhece o caminho; contudo ri entre a areia e o vento. Por esta razão não o acolho.
A apreciação da obra atemporal de Gibran é de grande interesse, além de ser fonte segura para nosso constante aprimoramento.
Então, uma mulher disse: “Fala-nos da alegria e da tristeza.
E ele respondeu:
“Vossa alegria é vossa tristeza desmascarada.
E o mesmo poço que dá nascimento a vosso riso foi muitas vezes preenchido com vossas lágrimas.
E como poderia não ser assim?
Quanto mais profundamente a tristeza cavar suas garras em vosso ser, mais alegria podereis conter.
Não é a taça em que verteis vosso vinho a mesma que foi queimada no forno do oleiro?
E não é a lira que acaricia vossas almas a própria madeira que foi entalhada à faca?
Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que vos está dando alegria.
E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constituiu vosso deleite.
Alguns dentro vós dizeis: ‘A alegria é maior que a tristeza’, e outros dizem: ‘Não, a tristeza é maior.’
Eu, porém, vos digo que elas são inseparáveis.
Vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama.
Em verdade, estais suspensos como os pratos de uma balança entre vossa tristeza e vossa alegria.
É somente quando estais vazios que estais em equilíbrio.
Quando o guarda do tesouro vos suspende para pesar seu ouro e sua prata, então deve a vossa alegria ou vossa tristeza subir ou descer.”
O Profeta foi escrito em 1923 e bem cultuado na década de sessenta. Na leitura de sua obra contemplamos a conciliação de várias correntes filosóficas com a poesia e princípios cristãos.
Nesta semana, a cidade teve vários eventos para comemorar os 125 anos de nascimento desse poeta, filósofo e pintor árabe. Segundo ele, os poetas e artistas eram mais importantes do que os políticos.
Em seu livro O Louco, percebemos o conceito sufi da sábia solidão contra um mundo cada vez mais insano:
- Dois eremitas
Numa montanha solitária, viviam dois eremitas que adoravam a Deus e se amavam um ao outro. Ora, esses dois eremitas tinham uma tigela de barro que era a única coisa que possuíam.
Um dia, um espírito mau entrou no coração do eremita mais velho, e ele procurou o mais moço e disse-lhe: “Faz muito tempo, já, que vivemos juntos. Chegou a ocasião de nos separarmos. Dividirmos nossos bens.”
Então, o mais novo entristeceu-se e disse: “Aflige-me, irmão, que tu me deixes. Mas, se tens necessidade de partir, seja assim.” E trouxe a tigela de barro e deu-a ao outro, dizendo: “Não podemos dividí-la, irmão. Que seja tua!”
Então, o eremita mais velhos disse: “Não aceito caridade. Não levarei nada que não seja meu. A tigela deve ser dividida.”
E o mais moço ponderou: “Se ela for quebrada, que utilidade terá para ti ou para mim? Se é teu desejo, lancemos antes uma sorte.”
Mas o velho eremita disse novamente: “Não quero senão justiça e o que me pertence, e não vou confiar a justiça e o que me pertence à sorte vã. A tigela precisa ser dividida.”
Então o eremita mais moço não pôde deixar de argumentar e disse: “Se é de fato teu desejo e se mesmo assim o querer, quebremos a tigela.”
Mas a face do eremita mais velho foi escurecendo excessivamente,e ele gritou: “Ó maldito covarde, não queres mesmo brigar.”
- O olho
Um dia, disse o olho: “Vejo, além destes vales, uma montanha velada pela cerração azul. Não é bela?’
O ouvido pôs-se à escuta e, depois de ter escutado atentamente algum tempo, disse: “Mas onde há qualquer montanha? Não a ouço.”
Então, a mão falou: “Estou tentando em vão senti-la ou tocá-la, e não encontro montanha alguma”E o nariz disse: “Não há nenhuma montanha. Não lhe sinto o cheiro.”
Então, o olho voltou-se para outra parte; e todos começaram a conversar sobre a estranha alucinação do olho. E diziam: “Há qualquer coisa errada com o olho.”
Gibran buscou na união da natureza com o misticismo o resgate do homem corrompido pela civilização.
Em seu livro Parábolas encontramos os seguintes conceitos:
“A generosidade não está em dar-me aquilo de que preciso mais do que tu, mas em dar-me aquilo de que precisas mais do que eu.”
“Sois realmente caridosos quando dais e, ao dar, virais a face para não ver o acanhamento de quem recebe.”
“Uma vez, falei do mar a um pântano, e o pântano achou que eu era um visionário. E, uma vez, falei de um pântano ao mar, e o mar achou que eu era um difamador.”
“O desejo é a metade da vida; a indiferença é a metade da morte."
Está em sua obra Jesus o texto a seguir: Jesus desprezava e escarnecia dos hipócritas, e Sua ira era como a tempestade que os flagelava. Sua voz era trovão em seus ouvidos, e Ele os intimidava. Em seu medo d'Ele, buscaram sua morte; e, qual toupeiras na terra escura, trabalharam para solapar Suas pegadas. Mas Ele não caiu em suas ciladas. Riu deles, pois bem Ele sabia que o espírito não será ludibriado, nem será levado ao abismo. Ele segurou um espelho em Sua mão e, nele, viu o lerdo e o manco e aqueles que titubeiam e caem à beira da estrada a caminho do cume. E teve piedade de todos eles. E desejava erguê-los à Sua estatura e carregar seu fardo. Não somente isso, desejava despojar sua fraqueza em Sua força. Ele não condenava sumariamente o mentiroso, o ladrão ou assassino; mas condenava, sim, o hipócrita cujo rosto está mascarado e a mão enluvada. Muitas vezes, ponderei sobre o coração que abriga a todos que vêm das terras áridas para o Seu santuário; contudo, contra o hipócrita, permanece fechado e lacrado.
Um dia, enquanto repousávamos com Ele no jardim das romãs, eu Lhe disse:
- Mestre, tu perdoas e consolas o pecador e todos os fracos e enfermos, exceto ao hipócrita.
- Escolheste bem tuas palavras ao chamares o pecador de fraco ou enfermo. Perdôo a fraqueza de seu corpo e a enfermidade de seu espírito. Pois suas falhas foram-lhe conferidas por seus antepassados ou pela ganância de seus próximos. Mas não tolero o hipócrita, porque ele próprio lança um jugo sobre aquele a quem lhe falta astúcia ou que concede. Os fracos, a quem chamas de pecadores, são como aves que, sem penas para voar, caem do ninho. O hipócrita é o abutre aguardando sobre uma pedra a morte da presa. Os fracos são homens perdidos em um deserto. Mas o hipócrita não está perdido. Ele conhece o caminho; contudo ri entre a areia e o vento. Por esta razão não o acolho.
A apreciação da obra atemporal de Gibran é de grande interesse, além de ser fonte segura para nosso constante aprimoramento.
terça-feira, 25 de março de 2008
Tempo da delicadeza
Tempo de balanço interno não costuma ser fácil e demanda considerável dose de amenidade e auto-condescendência. Você não escolhe a data, não define o programa, nem elege a intensidade. O procedimento é lento – cada pessoa tem o seu tempo - e surge com a maturidade. Aliás, costuma resultar em mais maturidade.
Observar-se e entender-se são duas ações complicadas que devem ser praticadas com a necessária isenção. Aprendo que essa é a primeira etapa para equilibrar a energia, o corpo e a mente: Observar-se e entender-se, seguidos pelo corrigir-se e gostar-se mais.
Às vezes, a culpa transmite um sinal forte, luminoso, repetitivo e barulhento: Como eu permiti que isso acontecesse? E é nesse momento que o carinho por si deve prevalecer, para que a dureza do auto-julgamento limite-se à correção, sem penas injustas por não ter sido capaz de estancar a influência e o comportamento equivocados recebidos, por não ter dito mais nãos e bastas, por ter tentado se habituar à falta de gentileza, polidez e delicadeza, por ter temporariamente relegado certos princípios e valores.
Somente o conhecimento integral - que inclui a circunstância, a intenção e o sentimento de todas as pessoas envolvidas - fortalece o entendimento e liberta.
Esse equilíbrio demanda silêncio, olhar atento para o que vai por dentro e a sintonia apurada para não desperdiçar todas as dicas que a vida? o universo? o destino? nos manda. Ouvi frases essenciais durante esse tempo, reaprendi e aprendi mais. Muito mais. Calibrei o compasso e fiquei melhor.
Concordei com meu filho que comentou sobre meus pés flutuantes que desconhecem o que significa cuidar-se, e não mais do outro. Minha vida inteira cuidei de outras pessoas. Agora, aprendo a cuidar de mim. Opa! Aprender a fazer as coisas por nossa causa, em nosso favor, não é tarefa tão fácil. Não é. É chegado o momento de prestar mais atenção as coisas que quero para minha vida e manter-me fiel às minhas necessidades. Ser mais delicada comigo.
Observar-se e entender-se são duas ações complicadas que devem ser praticadas com a necessária isenção. Aprendo que essa é a primeira etapa para equilibrar a energia, o corpo e a mente: Observar-se e entender-se, seguidos pelo corrigir-se e gostar-se mais.
Às vezes, a culpa transmite um sinal forte, luminoso, repetitivo e barulhento: Como eu permiti que isso acontecesse? E é nesse momento que o carinho por si deve prevalecer, para que a dureza do auto-julgamento limite-se à correção, sem penas injustas por não ter sido capaz de estancar a influência e o comportamento equivocados recebidos, por não ter dito mais nãos e bastas, por ter tentado se habituar à falta de gentileza, polidez e delicadeza, por ter temporariamente relegado certos princípios e valores.
Somente o conhecimento integral - que inclui a circunstância, a intenção e o sentimento de todas as pessoas envolvidas - fortalece o entendimento e liberta.
Esse equilíbrio demanda silêncio, olhar atento para o que vai por dentro e a sintonia apurada para não desperdiçar todas as dicas que a vida? o universo? o destino? nos manda. Ouvi frases essenciais durante esse tempo, reaprendi e aprendi mais. Muito mais. Calibrei o compasso e fiquei melhor.
Concordei com meu filho que comentou sobre meus pés flutuantes que desconhecem o que significa cuidar-se, e não mais do outro. Minha vida inteira cuidei de outras pessoas. Agora, aprendo a cuidar de mim. Opa! Aprender a fazer as coisas por nossa causa, em nosso favor, não é tarefa tão fácil. Não é. É chegado o momento de prestar mais atenção as coisas que quero para minha vida e manter-me fiel às minhas necessidades. Ser mais delicada comigo.
segunda-feira, 24 de março de 2008
domingo, 23 de março de 2008
Pastel de feira
O melhor pastel de feira de São Paulo é encontrado todas as sextas feiras, atrás do Cemitério da Consolação, na esquina das ruas Mato Grosso e Sergipe. A massa leve, seca, clara e crocante; os recheios variados, diferentes, saborosos e preparados com ingredientes de boa qualidade; o asseio, o atendimento atencioso e a dona Mitiko, são as cinco razões que tornam os pastéis tão especiais. Impossível não ficar encantada com o jeito da mãe de todos da barraca, em especial com o filho, que é o único responsável pela fritura. É a “bassá” quem tira os pasteis crus das gavetas, os coloca na frigideira, seca o suor e dá água para seu filho beber, tudo com notório carinho. Carinho é o ingrediente adicional desses pastéis.
sábado, 22 de março de 2008
Antonio Cicero
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma
Em cofre perde-se a coisa à vista
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que pássaros sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que quer guardar.
* * *
Aprendi desde criança
Que é melhor me calar
E dançar conforme a dança
Do que jamais ousar
Mas às vezes pressinto
Que não me enquadro na lei:
Minto sobre o que sinto
E esqueço tudo o que sei.
Só comigo ouso lutar,
Sem me poder vencer:
Tento afogar no mar
O fogo em que quero arder.
De dia caio minha'alma
Só à noite caio em mim
por isso me falta calma
e vivo inquieto assim.
* * *
Sou seu poeta só
Só em você descubro a poesia
Que era minha já
Mas eu não via.
Só eu sou seu poeta
Só eu revelo a poesia sua
e à noite indiscreta
você de lua.
Em cofre não se guarda coisa alguma
Em cofre perde-se a coisa à vista
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que pássaros sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que quer guardar.
* * *
Aprendi desde criança
Que é melhor me calar
E dançar conforme a dança
Do que jamais ousar
Mas às vezes pressinto
Que não me enquadro na lei:
Minto sobre o que sinto
E esqueço tudo o que sei.
Só comigo ouso lutar,
Sem me poder vencer:
Tento afogar no mar
O fogo em que quero arder.
De dia caio minha'alma
Só à noite caio em mim
por isso me falta calma
e vivo inquieto assim.
* * *
Sou seu poeta só
Só em você descubro a poesia
Que era minha já
Mas eu não via.
Só eu sou seu poeta
Só eu revelo a poesia sua
e à noite indiscreta
você de lua.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Roteiro provisório para curtir Nova York
Tenho duas queridas amigas que conheceram o mundo nas inúmeras viagens que fizeram. Há oito anos, uma delas presenteou-me com um livro que contém vários roteiros de viagens para a Índia, o Nepal e o Tibet, então, meus destinos ansiados.
Da Espanha, direto para Deli e de lá para Samode, Jaipur, Benares e Agra, com a primeira extensão possível para a Caxemira, a segunda para Katmandu, Patan, Lhasa, Potala, Sera, Shigatse, Tsedan e outros vilarejos, e a terceira para Bangkok e Bali, com a volta pela Espanha. Há outras opções igualmente interessantes, que incluem Mumbai, Calcutá, Tanjore e Udaipur, de acordo com a região do país que se pretende conhecer.
Na semana passada, ao reencontrar esse livro, pensei o quanto minha resistência mudou, e ofereci seu empréstimo a um amigo de infância do meu filho, que estuda com afinco a cultura desses países. Continuei a pensar em roteiros de viagens, percebi que se aproxima a melhor época do ano para conhecer Nova York e decidi brincar com um plano de turismo provisório para aproveitar as coisas boas que aquela cidade oferece. Chamei-o de provisório porque o apresentarei a amigos que lá estiveram e que, certamente, o complementarão com suas preciosas e pertinentes dicas.
Dizem que em NY, o verão tem calor intenso e o inverno frio insuportável, por isso, a melhor época do ano para conhecer essa cidade seria a primavera, que iniciou em março e vai até maio.
O que não perder em NY:
1- Curtir um bom jazz em algum clube do Greenwich Village.
2- Conhecer o Carnegie Hall.
3- Assistir a uma peça na Broadway, na Off-Broadway, na Off-off-Broadway, ou na Neighborhood Play-house School of Theatre.
4- Apreciar um espetáculo de balé no New York State Theatre, no Julliard Dance Theatre, ou no Radio City Music Hall.
5- Aproveitar um concerto no Lincon Center (ou somente visitar as dependências do Lincon Center), no Julliard School of Music, ou no Frick Collection.
Em NY, encontram-se ingressos com considerável desconto (25% a 50%), além de espetáculos gratuitos.
6- Assistir a uma partida de beisebol no Yankee Stadium.
7- Fazer um passeio de barco a remo, do Loeb Boathouse, no Central Park.
8- Conhecer as delícias das mercearias Zabar’s, Dean & Deluca e Balducci’s.
9- Comer os pastéis da Fung Wong.
10- Curtir um vinho na Sherry-Lehmann.
11- Tomar um drink no McSorley’s Old Alehouse, no White Horse Tavern, ou no Chumley’s.
12- Passar um tempo nas livrarias Barnes & Noble e Strand Book Store.
13- Comer frutos do mar no Union Square Café.
14- Ouvir o piano no bar do hotel Algonquin.
Delícias que fortalecem a felicidade que deve ser estar lá:
Em NY é indispensável saborear um bagel; um egg cream; um giant pretzel; um cheesecake; uma clam chowder; um dim sum e uma costeleta de porco com calda de melaço, muffins de milho, couve refogada e feijão.
Sim, sou turista! Visitar com vontade:
1- O Empire State Building.
2- A Estátua da Liberdade.
3- A Brooklyn Bridge.
4- O South Street Seaport.
5- A Ellis Island.
6- O Museum of Modern Art (MoMA)
7- O Cooper-Hewitt Museum.
8- O Metropolitan Museum of Art.
9- The Cloisters.
10- O Museum of Television and Radio.
11- A India House.
12- O Central Park.
13- As ruas, templos, restaurantes e mercados da Chinatown.
14- O Grand Central Terminal.
15- O Fred F. French Building.
É impossível desconsiderar:
1- O serviço religioso gospel da Abyssinian Baptist Chuch, no Harlem.
2- O almoço no restaurante grego Netuno, no Queens.
Para caminhar:
1- SoHo e TriBeCa.
2- Greenwich Village.
Aliás, caminhar é o melhor meio de conhecer NY.
Compras: Ah, compras! Essa cidade é um dos paraísos dos compradores, logo, evite o stress, não estrague o passeio, reserve um único dia para suas compras e aproveite os demais para conhecer o bom que NY oferece.
Imagem do filme Manhattan de Woody Allen.
Da Espanha, direto para Deli e de lá para Samode, Jaipur, Benares e Agra, com a primeira extensão possível para a Caxemira, a segunda para Katmandu, Patan, Lhasa, Potala, Sera, Shigatse, Tsedan e outros vilarejos, e a terceira para Bangkok e Bali, com a volta pela Espanha. Há outras opções igualmente interessantes, que incluem Mumbai, Calcutá, Tanjore e Udaipur, de acordo com a região do país que se pretende conhecer.
Na semana passada, ao reencontrar esse livro, pensei o quanto minha resistência mudou, e ofereci seu empréstimo a um amigo de infância do meu filho, que estuda com afinco a cultura desses países. Continuei a pensar em roteiros de viagens, percebi que se aproxima a melhor época do ano para conhecer Nova York e decidi brincar com um plano de turismo provisório para aproveitar as coisas boas que aquela cidade oferece. Chamei-o de provisório porque o apresentarei a amigos que lá estiveram e que, certamente, o complementarão com suas preciosas e pertinentes dicas.
Dizem que em NY, o verão tem calor intenso e o inverno frio insuportável, por isso, a melhor época do ano para conhecer essa cidade seria a primavera, que iniciou em março e vai até maio.
O que não perder em NY:
1- Curtir um bom jazz em algum clube do Greenwich Village.
2- Conhecer o Carnegie Hall.
3- Assistir a uma peça na Broadway, na Off-Broadway, na Off-off-Broadway, ou na Neighborhood Play-house School of Theatre.
4- Apreciar um espetáculo de balé no New York State Theatre, no Julliard Dance Theatre, ou no Radio City Music Hall.
5- Aproveitar um concerto no Lincon Center (ou somente visitar as dependências do Lincon Center), no Julliard School of Music, ou no Frick Collection.
Em NY, encontram-se ingressos com considerável desconto (25% a 50%), além de espetáculos gratuitos.
6- Assistir a uma partida de beisebol no Yankee Stadium.
7- Fazer um passeio de barco a remo, do Loeb Boathouse, no Central Park.
8- Conhecer as delícias das mercearias Zabar’s, Dean & Deluca e Balducci’s.
9- Comer os pastéis da Fung Wong.
10- Curtir um vinho na Sherry-Lehmann.
11- Tomar um drink no McSorley’s Old Alehouse, no White Horse Tavern, ou no Chumley’s.
12- Passar um tempo nas livrarias Barnes & Noble e Strand Book Store.
13- Comer frutos do mar no Union Square Café.
14- Ouvir o piano no bar do hotel Algonquin.
Delícias que fortalecem a felicidade que deve ser estar lá:
Em NY é indispensável saborear um bagel; um egg cream; um giant pretzel; um cheesecake; uma clam chowder; um dim sum e uma costeleta de porco com calda de melaço, muffins de milho, couve refogada e feijão.
Sim, sou turista! Visitar com vontade:
1- O Empire State Building.
2- A Estátua da Liberdade.
3- A Brooklyn Bridge.
4- O South Street Seaport.
5- A Ellis Island.
6- O Museum of Modern Art (MoMA)
7- O Cooper-Hewitt Museum.
8- O Metropolitan Museum of Art.
9- The Cloisters.
10- O Museum of Television and Radio.
11- A India House.
12- O Central Park.
13- As ruas, templos, restaurantes e mercados da Chinatown.
14- O Grand Central Terminal.
15- O Fred F. French Building.
É impossível desconsiderar:
1- O serviço religioso gospel da Abyssinian Baptist Chuch, no Harlem.
2- O almoço no restaurante grego Netuno, no Queens.
Para caminhar:
1- SoHo e TriBeCa.
2- Greenwich Village.
Aliás, caminhar é o melhor meio de conhecer NY.
Compras: Ah, compras! Essa cidade é um dos paraísos dos compradores, logo, evite o stress, não estrague o passeio, reserve um único dia para suas compras e aproveite os demais para conhecer o bom que NY oferece.
Imagem do filme Manhattan de Woody Allen.
Pericle's funeral oration
… For we are lovers of beauty yet with no extravagance and lovers of wisdom yet without weakness. Wealth we employ rather as an opportunity for action than as a subject for boasting; and with us it is not a shame for a man to acknowledge poverty, but the greater shame is for him not to do his best to avoid it. And you will find united in the same persons an interest at once in private and in public affairs, and in others of us who give attention chiefly to business, you will find no lack of insight into political matters.
For we alone regard the man who takes no part in public affairs, not as one who minds his own business, but as good for nothing; and we Athenians decide public questions for ourselves or at least endeavour to arrive at a sound understanding of them, in the belief that it is not debate that is a hindrance to action, but rather not to be instructed by debate before the time comes for action.
For in truth we have this point also of superiority over the men, to be most daring in action and yet at the same time most given to reflection upon the ventures we mean to undertaken; with other men, on the contrary, boldness means ignorance and reflection brings hesitation. And they would rightly be adjudged most courageous who, realizing most clearly the pains no less than the pleasures involved, do not on that account turn away from danger.
Again, in nobility of spirit, we stand in sharp contrast to most men; for it is not by receiving kindness, but by conferring it, that we acquire our friends.
Now he confers the favour is a firmer friend, in that he is disposed, by continued goodwill toward the recipient, to keep the feeling of obligation alive in him; but he who owes it is more listless in his friendship, knowing that when he repays the kindness it will count, not as a favour bestowed, but as a debt repaid. And, finally, we alone confer our benefits without fear of consequences, not upon a calculation of the advantages we shall gain, but with confidence in the spirit of liberality which actuates us…
For we alone regard the man who takes no part in public affairs, not as one who minds his own business, but as good for nothing; and we Athenians decide public questions for ourselves or at least endeavour to arrive at a sound understanding of them, in the belief that it is not debate that is a hindrance to action, but rather not to be instructed by debate before the time comes for action.
For in truth we have this point also of superiority over the men, to be most daring in action and yet at the same time most given to reflection upon the ventures we mean to undertaken; with other men, on the contrary, boldness means ignorance and reflection brings hesitation. And they would rightly be adjudged most courageous who, realizing most clearly the pains no less than the pleasures involved, do not on that account turn away from danger.
Again, in nobility of spirit, we stand in sharp contrast to most men; for it is not by receiving kindness, but by conferring it, that we acquire our friends.
Now he confers the favour is a firmer friend, in that he is disposed, by continued goodwill toward the recipient, to keep the feeling of obligation alive in him; but he who owes it is more listless in his friendship, knowing that when he repays the kindness it will count, not as a favour bestowed, but as a debt repaid. And, finally, we alone confer our benefits without fear of consequences, not upon a calculation of the advantages we shall gain, but with confidence in the spirit of liberality which actuates us…
São Paulo e os feriados
Você vai viajar? Essa foi a frase mais ouvida durante esta semana.
Necessidade? Capacidade? Obrigação?
Há algum tempo, em São Paulo, não se emendavam os dias que antecediam os feriados. Lembro que meus amigos de outros estados ligavam com a mesma pergunta: O que você está fazendo aí, em pleno feriado? Trabalho, ora.
Hoje, São Paulo pára e emenda e enforca e quem pode viaja nestes dias. Às vezes, viaja sem poder. Estranho esse comportamento.
Praia? Montanha? Cidades litorâneas e interioranas lotadas. Restaurantes lotados; mercadinhos lotados; ruas originalmente vazias e pacatas lotadas. Encontrar sempre as mesmas pessoas, sempre os mesmos programas, sempre os mesmos sempres. Diárias de hotéis mais caras. Alimentação mais cara. Tempo, o tempo perdido na estrada lotada de carros, aquele marzão sem fim de luzes contínuas tal qual árvore de natal deitada no chão. Mais stress fora daqui?- Você vai viajar?- Com amenidade e alegria sinceras respondo: Não.
Nestes dias, abençoados dias, São Paulo volta a ser minha e aproveito esta cidade como nunca. É incrível a reação de um lugar quando seus moradores se ausentam: O espaço se entrega, se alegra, fica mais colorido, muito mais calmo e leve. São Paulo é linda e querida vazia.
Parece que o fluxo contrário ainda me atrai. Você vai viajar? Eu fico.
Faço parte dos paulistanos autênticos que ficam, apesar de ser sagitariana típica, com rodinhas nos pés, asas nos braços e o espírito sempre pronto para viajar...
Quando eu mais gosto da minha cidade? Nos feriados. Adoro São Paulo nos feriados.
Necessidade? Capacidade? Obrigação?
Há algum tempo, em São Paulo, não se emendavam os dias que antecediam os feriados. Lembro que meus amigos de outros estados ligavam com a mesma pergunta: O que você está fazendo aí, em pleno feriado? Trabalho, ora.
Hoje, São Paulo pára e emenda e enforca e quem pode viaja nestes dias. Às vezes, viaja sem poder. Estranho esse comportamento.
Praia? Montanha? Cidades litorâneas e interioranas lotadas. Restaurantes lotados; mercadinhos lotados; ruas originalmente vazias e pacatas lotadas. Encontrar sempre as mesmas pessoas, sempre os mesmos programas, sempre os mesmos sempres. Diárias de hotéis mais caras. Alimentação mais cara. Tempo, o tempo perdido na estrada lotada de carros, aquele marzão sem fim de luzes contínuas tal qual árvore de natal deitada no chão. Mais stress fora daqui?- Você vai viajar?- Com amenidade e alegria sinceras respondo: Não.
Nestes dias, abençoados dias, São Paulo volta a ser minha e aproveito esta cidade como nunca. É incrível a reação de um lugar quando seus moradores se ausentam: O espaço se entrega, se alegra, fica mais colorido, muito mais calmo e leve. São Paulo é linda e querida vazia.
Parece que o fluxo contrário ainda me atrai. Você vai viajar? Eu fico.
Faço parte dos paulistanos autênticos que ficam, apesar de ser sagitariana típica, com rodinhas nos pés, asas nos braços e o espírito sempre pronto para viajar...
Quando eu mais gosto da minha cidade? Nos feriados. Adoro São Paulo nos feriados.
quinta-feira, 20 de março de 2008
Sobre a mentira
Sócrates
Ora, se a justiça é uma capacidade da alma, quanto mais capaz a alma, mais justa ela não é? Pois foi a desse tipo, eu presumo, que para nós se mostrou superior, ótimo homem...
Hípias
Mostrou-se, realmente.
Sócrates
Mas e se a justiça é um conhecimento? Quanto mais sábia a alma, mais justa ela não é? E quanto mais ignorante, mais injusta?
Hípias
Sim.
Sócrates
Mas e se a justiça é ambas as coisas? Não é a alma que possui ambas - conhecimento e capacidade - mais justa, e mais injusta a mais ignorante? Não é forçoso que seja assim?
Hípias
Parece que sim.
Sócrates
Ora, a mais capaz e mais sábia, essa não se mostrou melhor e mais capacitada para fazer ambas as coisas, tanto o que é belo quanto o que é vergonhoso, em qualquer prática?
Hípias
Sim.
Sócrates
Quando pratica então o que é vergonhoso, pratica voluntariamente, por sua capacidade e arte - e essas coisas se mostram como próprias da justiça, ambas as duas, ou uma delas apenas.
Hípias
É de se esperar.
Sócrates
E agir errado é fazer o mal, enquanto não agir errado é fazer o bem...
Hípias
Sim.
Sócrates
Ora, a alma mais capaz e melhor, quando age errado, não age errado voluntariamente, e a mais sofrível, involuntariamente?
Hípias
Parece que sim.
Sócrates
Ora, o homem bom não é o que tem alma boa, e o mau, má?
Hípias
Sim.
Sócrates
É próprio então do homem bom agir errado voluntariamente, e do mau, involuntariamente, se é o bom que tem a alma boa...
Hípias
Mas é, realmente...
Sócrates
Aquele então que voluntariamente comete faltas e faz o que é vergonhoso e errado, Hípias, se esse alguém existe, não pode ser outro senão... o bom!
Hípias
Nisso não tenho como concordar com você, Sócrates!
Sócrates
Pois nem eu comigo, Hípias! Mas, pelo discurso, é forçoso que assim se mostre agora a nós. Como eu dizia antes, porém, ando à deriva a esse respeito - para cima e para baixo - e nunca me parece a mesma coisa... Que eu ande à deriva, ou outro homem simples, não é nada admirável, mas se vocês também vão andar à deriva - os sábios! -, isso sim é terrível para nós: nem vindo a vocês cessaremos de ir à deriva...
Ora, se a justiça é uma capacidade da alma, quanto mais capaz a alma, mais justa ela não é? Pois foi a desse tipo, eu presumo, que para nós se mostrou superior, ótimo homem...
Hípias
Mostrou-se, realmente.
Sócrates
Mas e se a justiça é um conhecimento? Quanto mais sábia a alma, mais justa ela não é? E quanto mais ignorante, mais injusta?
Hípias
Sim.
Sócrates
Mas e se a justiça é ambas as coisas? Não é a alma que possui ambas - conhecimento e capacidade - mais justa, e mais injusta a mais ignorante? Não é forçoso que seja assim?
Hípias
Parece que sim.
Sócrates
Ora, a mais capaz e mais sábia, essa não se mostrou melhor e mais capacitada para fazer ambas as coisas, tanto o que é belo quanto o que é vergonhoso, em qualquer prática?
Hípias
Sim.
Sócrates
Quando pratica então o que é vergonhoso, pratica voluntariamente, por sua capacidade e arte - e essas coisas se mostram como próprias da justiça, ambas as duas, ou uma delas apenas.
Hípias
É de se esperar.
Sócrates
E agir errado é fazer o mal, enquanto não agir errado é fazer o bem...
Hípias
Sim.
Sócrates
Ora, a alma mais capaz e melhor, quando age errado, não age errado voluntariamente, e a mais sofrível, involuntariamente?
Hípias
Parece que sim.
Sócrates
Ora, o homem bom não é o que tem alma boa, e o mau, má?
Hípias
Sim.
Sócrates
É próprio então do homem bom agir errado voluntariamente, e do mau, involuntariamente, se é o bom que tem a alma boa...
Hípias
Mas é, realmente...
Sócrates
Aquele então que voluntariamente comete faltas e faz o que é vergonhoso e errado, Hípias, se esse alguém existe, não pode ser outro senão... o bom!
Hípias
Nisso não tenho como concordar com você, Sócrates!
Sócrates
Pois nem eu comigo, Hípias! Mas, pelo discurso, é forçoso que assim se mostre agora a nós. Como eu dizia antes, porém, ando à deriva a esse respeito - para cima e para baixo - e nunca me parece a mesma coisa... Que eu ande à deriva, ou outro homem simples, não é nada admirável, mas se vocês também vão andar à deriva - os sábios! -, isso sim é terrível para nós: nem vindo a vocês cessaremos de ir à deriva...
O homem moral e o moralizador
Moralizador é quem impõe ferozmente aos outros os padrões que ele não consegue respeitar
Eliot Spitzer era governador do Estado de Nova York até sua resignação na semana passada.
Sua fortuna política e sua popularidade eram ligadas à sua atuação prévia como procurador agressivo e inflexível contra os crimes financeiros e contra as redes de prostituição e seus clientes.
Ora, descobriu-se que ele era freguês de uma rede de prostituição de luxo e que também recorria a artimanhas financeiras para que seus pagamentos -substanciais: US$ 80 mil (R$ 140 mil)- não fossem identificados.
Esse fato de crônica (no fundo, trivial) foi para a primeira página dos jornais do mundo inteiro -aparentemente, pela surpresa que causou: quem podia imaginar tamanha hipocrisia? Esse "espanto" geral foi, para mim, a verdadeira notícia da semana.
Começou no dia em que Spitzer deu sua primeira declaração pública, reconhecendo os fatos e a culpa, ao lado de sua mulher, impávida.
No programa "360", da CNN, o âncora, Anderson Cooper, convocou dois comentaristas. Um deles, uma mulher, psicóloga ou psiquiatra, ofereceu imediatamente uma explicação correta e óbvia. Ela disse, mais ou menos: é muito freqüente que um moralizador raivoso castigue nos outros tendências e impulsos que são os seus e que ele não consegue dominar. Cooper (que já passeou pelos piores cenários de guerra e catástrofes naturais) quase levou um susto e cortou rapidamente, acrescentando que essas eram, "claramente", suposições, hipóteses etc. Não é curioso?
Em regra, prefiro as idéias que são propostas, justamente, como hipóteses ou sugestões que cada um pode testar no seu foro íntimo.
Mas, hoje, considerar a dita declaração da especialista como uma suposição parece ser uma hipocrisia pior (e mais perigosa) do que a de Spitzer.
Afinal, depois de um bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas, estamos certos disto: o moralizador e o homem moral são figuras diferentes, se não opostas. 1) O homem moral se impõe padrões de conduta e tenta respeitá-los; 2) O moralizador quer impor ferozmente aos outros os padrões que ele não consegue respeitar.
Na mesma primeira declaração, Spitzer confessou, contrito, que ele não conseguira observar seus próprios padrões morais. Tudo bem: qualquer homem moral poderia confessar o mesmo. Mas ele acrescentou imediatamente que, a bem da verdade, esses eram os padrões morais de quem quer que seja.
Aqui está o problema: o padrão moral que ele se impõe, mas não consegue respeitar, é considerado por ele como um padrão que deveria valer para todos. Com que finalidade? Simples: uma vez estabelecido seu padrão como universal, ele pode, como promotor ou governador, impô-lo aos outros, ou seja, ele pode compensar suas próprias falhas com o rigor de suas exigências para com os outros.
Quem coloca ruidosamente a caça aos marajás no centro de sua vida está lidando (mal) com sua própria vontade de colocar a mão no pote de marmelada. Quem esbraveja raivosamente contra "veados" e travestis está lidando (mal) com suas fantasias homossexuais. Quem quer apedrejar adúlteros e adúlteras está lidando (mal) com seu desejo de pular a cerca ou (pior) com seu sadismo em relação a seu parceiro ou sua parceira.
O exemplo da adúltera, aliás, serve para lembrar que a psicologia dinâmica, no caso, confirma um legado da mensagem cristã: o apedrejador sempre quer apedrejar sua própria tentação ou sua culpa.
A distinção entre homem moral e moralizador tem alguns corolários relevantes. Primeiro, o moralizador é um homem moral falido: se soubesse respeitar o padrão moral que ele se impõe, ele não precisaria punir suas imperfeições nos outros. Segundo, é possível e compreensível que um homem moral tenha um espírito missionário: ele pode agir para levar os outros a adotar um padrão parecido com o seu. Mas a imposição forçada de um padrão moral não é nunca o ato de um homem moral, é sempre o ato de um moralizador.
Em geral, as sociedades em que as normas morais ganham força de lei (os Estados confessionais, por exemplo) não são regradas por uma moral comum, nem pelas aspirações de poucos e escolhidos homens exemplares, mas por moralizadores que tentam remir suas próprias falhas morais pela brutalidade do controle que eles exercem sobre os outros. A pior barbárie é isto: um mundo em que todos pagam pelos pecados de hipócritas que não se agüentam.
Texto escrito por Contardo Calligaris e publicado em 20.03.08, na Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2003200829.htm
Eliot Spitzer era governador do Estado de Nova York até sua resignação na semana passada.
Sua fortuna política e sua popularidade eram ligadas à sua atuação prévia como procurador agressivo e inflexível contra os crimes financeiros e contra as redes de prostituição e seus clientes.
Ora, descobriu-se que ele era freguês de uma rede de prostituição de luxo e que também recorria a artimanhas financeiras para que seus pagamentos -substanciais: US$ 80 mil (R$ 140 mil)- não fossem identificados.
Esse fato de crônica (no fundo, trivial) foi para a primeira página dos jornais do mundo inteiro -aparentemente, pela surpresa que causou: quem podia imaginar tamanha hipocrisia? Esse "espanto" geral foi, para mim, a verdadeira notícia da semana.
Começou no dia em que Spitzer deu sua primeira declaração pública, reconhecendo os fatos e a culpa, ao lado de sua mulher, impávida.
No programa "360", da CNN, o âncora, Anderson Cooper, convocou dois comentaristas. Um deles, uma mulher, psicóloga ou psiquiatra, ofereceu imediatamente uma explicação correta e óbvia. Ela disse, mais ou menos: é muito freqüente que um moralizador raivoso castigue nos outros tendências e impulsos que são os seus e que ele não consegue dominar. Cooper (que já passeou pelos piores cenários de guerra e catástrofes naturais) quase levou um susto e cortou rapidamente, acrescentando que essas eram, "claramente", suposições, hipóteses etc. Não é curioso?
Em regra, prefiro as idéias que são propostas, justamente, como hipóteses ou sugestões que cada um pode testar no seu foro íntimo.
Mas, hoje, considerar a dita declaração da especialista como uma suposição parece ser uma hipocrisia pior (e mais perigosa) do que a de Spitzer.
Afinal, depois de um bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas, estamos certos disto: o moralizador e o homem moral são figuras diferentes, se não opostas. 1) O homem moral se impõe padrões de conduta e tenta respeitá-los; 2) O moralizador quer impor ferozmente aos outros os padrões que ele não consegue respeitar.
Na mesma primeira declaração, Spitzer confessou, contrito, que ele não conseguira observar seus próprios padrões morais. Tudo bem: qualquer homem moral poderia confessar o mesmo. Mas ele acrescentou imediatamente que, a bem da verdade, esses eram os padrões morais de quem quer que seja.
Aqui está o problema: o padrão moral que ele se impõe, mas não consegue respeitar, é considerado por ele como um padrão que deveria valer para todos. Com que finalidade? Simples: uma vez estabelecido seu padrão como universal, ele pode, como promotor ou governador, impô-lo aos outros, ou seja, ele pode compensar suas próprias falhas com o rigor de suas exigências para com os outros.
Quem coloca ruidosamente a caça aos marajás no centro de sua vida está lidando (mal) com sua própria vontade de colocar a mão no pote de marmelada. Quem esbraveja raivosamente contra "veados" e travestis está lidando (mal) com suas fantasias homossexuais. Quem quer apedrejar adúlteros e adúlteras está lidando (mal) com seu desejo de pular a cerca ou (pior) com seu sadismo em relação a seu parceiro ou sua parceira.
O exemplo da adúltera, aliás, serve para lembrar que a psicologia dinâmica, no caso, confirma um legado da mensagem cristã: o apedrejador sempre quer apedrejar sua própria tentação ou sua culpa.
A distinção entre homem moral e moralizador tem alguns corolários relevantes. Primeiro, o moralizador é um homem moral falido: se soubesse respeitar o padrão moral que ele se impõe, ele não precisaria punir suas imperfeições nos outros. Segundo, é possível e compreensível que um homem moral tenha um espírito missionário: ele pode agir para levar os outros a adotar um padrão parecido com o seu. Mas a imposição forçada de um padrão moral não é nunca o ato de um homem moral, é sempre o ato de um moralizador.
Em geral, as sociedades em que as normas morais ganham força de lei (os Estados confessionais, por exemplo) não são regradas por uma moral comum, nem pelas aspirações de poucos e escolhidos homens exemplares, mas por moralizadores que tentam remir suas próprias falhas morais pela brutalidade do controle que eles exercem sobre os outros. A pior barbárie é isto: um mundo em que todos pagam pelos pecados de hipócritas que não se agüentam.
Texto escrito por Contardo Calligaris e publicado em 20.03.08, na Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2003200829.htm
Ciclo astrológico
Conheço pouco sobre astrologia, por isso, apenas copiei a matéria publicada hoje, no site da UOL.
Com o tempo aprendi a fazer associações - divertidas ou não – e, às vezes, a pensar: Xiiiiii!
Sinto que algumas experiências macularam certos signos zodiacais. Será?
A vida poderia ser melhor se somente conhecêssemos os melhores representantes de cada signo.
Enfim, acredito que considerável parte do todo a ser realizado está em nossas mãos e estereótipos existem para serem desafiados, ou não.
Um novo ano inicia-se para a astrologia em 20/3. Veja, abaixo, as tendências dominantes no mapa do céu e os panos de fundo que se configuram para cada um dos 12 signos.
Áries
O Ano-Novo Astrológico será regido por Marte, planeta que domina o signo e promete mais animação na vida social. O ascendente em Aquário, signo que rege as amizades e os projetos, indica período propício para o investimento nestas áreas. As esperanças terão papel preponderante em suas decisões. A vida familiar pode sofrer algumas oscilações ao longo do período. A Lua em Virgem, conjunta a Saturno, sugere uma vida doméstica estável e demonstra a importância de não contrair dívidas, especialmente em agosto e setembro próximos.
Touro
Ambição, imagem pública e carreira estarão em destaque neste novo ano do astral. Conquistar um lugar ao sol e alcançar uma situação mais estável, dentro de suas avaliações realistas, são o grande tema do ciclo. No mapa do céu do novo ciclo, o planeta regente Vênus denota que seus talentos naturais irão se sobressair. A arte também é um campo a ser explorado. O amor será fonte de alegrias e traz a possibilidade de um enlace sério. A vida financeira pode melhorar, se houver mais ousadia.
Gêmeos
O mapa do céu deste ano astrológico mostra o caminho do ouro para você: expanda sua visão de mundo, viaje, estude e conheça lugares novos. Marte em Câncer domina o período astral e indica sensibilidade e popularidade no uso de dons inatos, assim como aponta que a família e a vida doméstica podem consumir a maior parte dos recursos - será preciso tomar cuidado para não perder o pé em junho e julho. Mudanças radicais no modo de vida terão efeito poderoso sobre a saúde neste ano astral. O amor segue bem, com chances especiais em fevereiro e março de 2009.
Câncer
O ano astrológico de 2008 começa sob o signo de Aquário e Escorpião, que dominam o céu de março. Para você, o desafio é ser objetivo ao lidar com as pessoas. Você terá de abrir mão de algo em que deposita segurança para dar um salto no seu desenvolvimento pessoal. Marte em seu signo comanda o ano astral, enfatizando sua vontade de vencer e de se superar. A Lua em conjunção a Saturno demonstra a importância da organização e do rigor. Os estudos e a comunicação estarão em alta, mas, se for displicente, pode ter problemas com estes assuntos. Viagens em abril e setembro de 2008 e em março de 2009 podem levá-lo ao encontro do amor mágico.
Leão
Ano-Novo Astrológico sob regência de Marte, com ascendente em Aquário e Meio Céu em Escorpião: ética, viagens, estudos complexos e filosofia constituem o pano de fundo do seu signo. Você será levado a estes temas pela mão de parceiros ou de rivais. Suas relações terão um grande peso neste ano astrológico. Lua e Saturno conjuntos requerem organização do orçamento - não se permita gastos inúteis. Você precisa testar seu valor e experimentar seus limites para confiar mais em si. Novembro será um mês decisivo para assuntos profissionais. O amor fica mais para a amizade e, em maio e junho de 2008, algo pode mudar seu cenário afetivo.
Virgem
Muitas mudanças neste ano astrológico. Oscilações afetivas, emocionais e alterações familiares que podem mexer com você e seu senso de segurança. O ano astral promete trazer desavenças com amigos e rompimentos na área social e amorosa. Lua e Saturno em seu signo falam da popularidade entre as pessoas com quem você conta e também da responsabilidade que isso lhe traz. Deverá cuidar da saúde da melhor forma que puder. Mude sua rotina para isso acontecer de verdade. Você ganhará mais percepção, mas terá de se comprometer com causas sociais ou pessoas necessitadas.
Libra
Alegrias e boas surpresas em competições, concursos, torneios e esportes no novo ano astral. Filhos e amores estarão em destaque e prometem ser assuntos relevantes. Você precisará ter senso de propósito em relação a dinheiro. As finanças dependerão de inspiração bem canalizada para atividades rotineiras. Seu trabalho será feito com sensibilidade, empatia e boa relação com o público e com clientes. Ter capacidade de gerar riqueza material será um assunto crucial nos primeiros seis meses. Lua e Saturno em Virgem falam de mais responsabilidades com a família. Momento de expansão em casa nos meses de dezembro de 2008 e janeiro de 2009.
Escorpião
Você estará em destaque de muitas maneiras e em vários momentos do ciclo astral. O seu signo ocupa lugar proeminente no céu do novo ano e mostra que seus dotes naturais serão ressaltados e sua participação na vida das pessoas será decisiva. Este será um ciclo para batalhar por suas ambições e para vencer por sua integridade e correção. Algumas esperanças serão afastadas e alguns amigos partirão de sua vida: Lua e Saturno conjuntos falam de encerramento de etapas e mais responsabilidades entre agosto de 2008 e março de 2009. A vida doméstica destaca-se por todo o ano astral com mudanças e transformações.
Sagitário
Ciclo astral dedicado ao crescimento pessoal, à autoconsciência e ao altruísmo. Delineiam-se transformações benéficas, embora, em alguns momentos, elas possam chatear você - eis a promessa do ano astral. A expressão e a comunicação serão de extrema importância - você terá de falar a respeito do que se passa dentro de si. Julho, agosto e novembro de 2008 serão meses decisivos neste sentido. Um ciclo termina em sua vida profissional e, embora você se preocupe, seu regente Júpiter sinaliza estabilidade nos assuntos ligados a imóveis e à agricultura. Muito afeto por parte da família e dos mais íntimos traz paz de espírito e aconchego. Marte em Câncer sinaliza perdas financeiras em junho se você for impulsivo.
Capricórnio
O relacionamento amoroso é assunto em pauta neste ciclo solar. Também é importante o destaque que ganham as relações familiares neste contexto: não deixe que se intrometam em sua vida afetiva. Viagens com amigos podem finalmente acontecer, especialmente aquelas longamente planejadas. Projetos sociais serão estimulantes e você poderá dar vazão a muitos sonhos ao participar deles. Mudanças espirituais podem ocorrer.
Aquário
Você recebe os holofotes neste ciclo astral. Neste sentido, o bom ou o mau uso de seus talentos será relevante. Saiba aplicar o que sabe em algo que seja positivo. Só assim, sua vida atual mudará para melhor. Marte em Câncer anuncia problemas de saúde devido a emoções represadas, insatisfação afetiva em casa ou falta de apoio de familiares. Poupe seu dinheiro e não faça investimentos arriscados. Os amores estão mutáveis e delicados.
Peixes
Neste ciclo, você será chamado a se retirar da vida social para descobrir outras formas de liberdade e criatividade. A espiritualidade terá um papel preponderante neste ano astrológico. Quem tem fé se dará melhor e descobrirá facilmente sentidos e significados. Escorpião é o signo que rege sua fé e, neste ciclo, ele domina, apelando para seu poder de transformar a vida e o entendimento das coisas através da visão interior. Marte em Câncer fala de oscilações afetivas e co-responsabilidade amorosa. Você terá sucesso em trabalhos voltados para a natureza, para a infância e para o lar.
Com o tempo aprendi a fazer associações - divertidas ou não – e, às vezes, a pensar: Xiiiiii!
Sinto que algumas experiências macularam certos signos zodiacais. Será?
A vida poderia ser melhor se somente conhecêssemos os melhores representantes de cada signo.
Enfim, acredito que considerável parte do todo a ser realizado está em nossas mãos e estereótipos existem para serem desafiados, ou não.
Um novo ano inicia-se para a astrologia em 20/3. Veja, abaixo, as tendências dominantes no mapa do céu e os panos de fundo que se configuram para cada um dos 12 signos.
Áries
O Ano-Novo Astrológico será regido por Marte, planeta que domina o signo e promete mais animação na vida social. O ascendente em Aquário, signo que rege as amizades e os projetos, indica período propício para o investimento nestas áreas. As esperanças terão papel preponderante em suas decisões. A vida familiar pode sofrer algumas oscilações ao longo do período. A Lua em Virgem, conjunta a Saturno, sugere uma vida doméstica estável e demonstra a importância de não contrair dívidas, especialmente em agosto e setembro próximos.
Touro
Ambição, imagem pública e carreira estarão em destaque neste novo ano do astral. Conquistar um lugar ao sol e alcançar uma situação mais estável, dentro de suas avaliações realistas, são o grande tema do ciclo. No mapa do céu do novo ciclo, o planeta regente Vênus denota que seus talentos naturais irão se sobressair. A arte também é um campo a ser explorado. O amor será fonte de alegrias e traz a possibilidade de um enlace sério. A vida financeira pode melhorar, se houver mais ousadia.
Gêmeos
O mapa do céu deste ano astrológico mostra o caminho do ouro para você: expanda sua visão de mundo, viaje, estude e conheça lugares novos. Marte em Câncer domina o período astral e indica sensibilidade e popularidade no uso de dons inatos, assim como aponta que a família e a vida doméstica podem consumir a maior parte dos recursos - será preciso tomar cuidado para não perder o pé em junho e julho. Mudanças radicais no modo de vida terão efeito poderoso sobre a saúde neste ano astral. O amor segue bem, com chances especiais em fevereiro e março de 2009.
Câncer
O ano astrológico de 2008 começa sob o signo de Aquário e Escorpião, que dominam o céu de março. Para você, o desafio é ser objetivo ao lidar com as pessoas. Você terá de abrir mão de algo em que deposita segurança para dar um salto no seu desenvolvimento pessoal. Marte em seu signo comanda o ano astral, enfatizando sua vontade de vencer e de se superar. A Lua em conjunção a Saturno demonstra a importância da organização e do rigor. Os estudos e a comunicação estarão em alta, mas, se for displicente, pode ter problemas com estes assuntos. Viagens em abril e setembro de 2008 e em março de 2009 podem levá-lo ao encontro do amor mágico.
Leão
Ano-Novo Astrológico sob regência de Marte, com ascendente em Aquário e Meio Céu em Escorpião: ética, viagens, estudos complexos e filosofia constituem o pano de fundo do seu signo. Você será levado a estes temas pela mão de parceiros ou de rivais. Suas relações terão um grande peso neste ano astrológico. Lua e Saturno conjuntos requerem organização do orçamento - não se permita gastos inúteis. Você precisa testar seu valor e experimentar seus limites para confiar mais em si. Novembro será um mês decisivo para assuntos profissionais. O amor fica mais para a amizade e, em maio e junho de 2008, algo pode mudar seu cenário afetivo.
Virgem
Muitas mudanças neste ano astrológico. Oscilações afetivas, emocionais e alterações familiares que podem mexer com você e seu senso de segurança. O ano astral promete trazer desavenças com amigos e rompimentos na área social e amorosa. Lua e Saturno em seu signo falam da popularidade entre as pessoas com quem você conta e também da responsabilidade que isso lhe traz. Deverá cuidar da saúde da melhor forma que puder. Mude sua rotina para isso acontecer de verdade. Você ganhará mais percepção, mas terá de se comprometer com causas sociais ou pessoas necessitadas.
Libra
Alegrias e boas surpresas em competições, concursos, torneios e esportes no novo ano astral. Filhos e amores estarão em destaque e prometem ser assuntos relevantes. Você precisará ter senso de propósito em relação a dinheiro. As finanças dependerão de inspiração bem canalizada para atividades rotineiras. Seu trabalho será feito com sensibilidade, empatia e boa relação com o público e com clientes. Ter capacidade de gerar riqueza material será um assunto crucial nos primeiros seis meses. Lua e Saturno em Virgem falam de mais responsabilidades com a família. Momento de expansão em casa nos meses de dezembro de 2008 e janeiro de 2009.
Escorpião
Você estará em destaque de muitas maneiras e em vários momentos do ciclo astral. O seu signo ocupa lugar proeminente no céu do novo ano e mostra que seus dotes naturais serão ressaltados e sua participação na vida das pessoas será decisiva. Este será um ciclo para batalhar por suas ambições e para vencer por sua integridade e correção. Algumas esperanças serão afastadas e alguns amigos partirão de sua vida: Lua e Saturno conjuntos falam de encerramento de etapas e mais responsabilidades entre agosto de 2008 e março de 2009. A vida doméstica destaca-se por todo o ano astral com mudanças e transformações.
Sagitário
Ciclo astral dedicado ao crescimento pessoal, à autoconsciência e ao altruísmo. Delineiam-se transformações benéficas, embora, em alguns momentos, elas possam chatear você - eis a promessa do ano astral. A expressão e a comunicação serão de extrema importância - você terá de falar a respeito do que se passa dentro de si. Julho, agosto e novembro de 2008 serão meses decisivos neste sentido. Um ciclo termina em sua vida profissional e, embora você se preocupe, seu regente Júpiter sinaliza estabilidade nos assuntos ligados a imóveis e à agricultura. Muito afeto por parte da família e dos mais íntimos traz paz de espírito e aconchego. Marte em Câncer sinaliza perdas financeiras em junho se você for impulsivo.
Capricórnio
O relacionamento amoroso é assunto em pauta neste ciclo solar. Também é importante o destaque que ganham as relações familiares neste contexto: não deixe que se intrometam em sua vida afetiva. Viagens com amigos podem finalmente acontecer, especialmente aquelas longamente planejadas. Projetos sociais serão estimulantes e você poderá dar vazão a muitos sonhos ao participar deles. Mudanças espirituais podem ocorrer.
Aquário
Você recebe os holofotes neste ciclo astral. Neste sentido, o bom ou o mau uso de seus talentos será relevante. Saiba aplicar o que sabe em algo que seja positivo. Só assim, sua vida atual mudará para melhor. Marte em Câncer anuncia problemas de saúde devido a emoções represadas, insatisfação afetiva em casa ou falta de apoio de familiares. Poupe seu dinheiro e não faça investimentos arriscados. Os amores estão mutáveis e delicados.
Peixes
Neste ciclo, você será chamado a se retirar da vida social para descobrir outras formas de liberdade e criatividade. A espiritualidade terá um papel preponderante neste ano astrológico. Quem tem fé se dará melhor e descobrirá facilmente sentidos e significados. Escorpião é o signo que rege sua fé e, neste ciclo, ele domina, apelando para seu poder de transformar a vida e o entendimento das coisas através da visão interior. Marte em Câncer fala de oscilações afetivas e co-responsabilidade amorosa. Você terá sucesso em trabalhos voltados para a natureza, para a infância e para o lar.
quarta-feira, 19 de março de 2008
terça-feira, 18 de março de 2008
Kazantzakis
Quantas vezes você se casou, Zorba?
Sobressaltou-se. Dessa vez havia escutado e, agitando sua manopla:
- Oh! - respondeu - que assunto foi buscar! Afinal, sou homem. Eu também cometi a grande besteira. É assim que eu chamo o casamento. Que os casados me perdoem. Cometi, pois, a grande besteira: casei-me.
- Bem, quantas vezes?
Zorba coçou nervosamente o pescoço. Pensou um instante.
- Quantas vezes? - disse enfim. - Honestamente, uma vez só, uma vez para sempre. Mais ou menos honestamente, duas vezes. Desonestamente, mil, duas mil, três mil vezes. Como se pode calcular?
- Contar o quê? Isso não são coisas que se contem, patrão! As uniões legais, essas não têm gosto; são pratos sem pimenta. Contar o quê? Que não há prazer algum em beijar quando os ícones estão olhando para você e dando bênçãos?
Que serenidade! Que doçura! Ao sol poente, as paredes brancas de cal coloriam-se de rosa. A igrejinha, acolhedora, pouco iluminada, tinha cheiro de vela. Homens e mulheres moviam-se numa nuvem de incenso e cinco ou seis monjas, em hábitos pretos, entoavam com vozes fraquinhas e amenas Senhor Todo Poderoso. Ajoelhavam-se a cada instante e o frufru de suas vestes parecia um bater de asas. Havia muitos anos eu não ouvia os cânticos à Virgem. A revolta da primeira juventude me fizera passar diante das igrejas cheio de desprezo e cólera. O tempo me abrandara e cheguei a ir, algumas vezes, a festas solenes: Natal, as Vigílias, a Ressureição. Regozijava-me vendo ressuscitar a criança que subsistia em mim. O sentimento místico de outrora se transformara em prazer estético. Os selvagens crêem que, quando um instrumento musical não serve mais para os ritos religiosos, perde sua força divina e emite então sons harmoniosos. Assim a religião se tinha degredado em mim: tornara-se arte.
É preciso vinho para a castanha e mel para a noz,
Para o homem uma mulher e para a mulher um homem.
Esse homem, pensei, nunca foi à escola, e seu cérebro não foi desarrumado. Viu de tudo, seu espírito abriu-se e seu coração alargou-se, sem perder a audácia primitiva. Todos os problemas complicados, insolúveis para nós, ele os resolve com um golpe de espada, como seu compatriota, Alexandre, o Grande. É difícil que ele tombe sobre um lado, pois apóia-se inteiramente na terra, dos pés à cabeça. Os selvagens da África adoram a serpente porque todo o seu corpo toca a terra e conhece, assim, os segredos do mundo. Ela os conhece com seu ventre, com sua cauda, com sua cabeça. Ela a toca, mistura-se, faz-se uma só, com a mãe Terra. O mesmo ocorre com Zorba. Nós, as pessoas instruídas, somos senão passarinhos bobocas no ar.
Nikos Kazantzakis
Sobressaltou-se. Dessa vez havia escutado e, agitando sua manopla:
- Oh! - respondeu - que assunto foi buscar! Afinal, sou homem. Eu também cometi a grande besteira. É assim que eu chamo o casamento. Que os casados me perdoem. Cometi, pois, a grande besteira: casei-me.
- Bem, quantas vezes?
Zorba coçou nervosamente o pescoço. Pensou um instante.
- Quantas vezes? - disse enfim. - Honestamente, uma vez só, uma vez para sempre. Mais ou menos honestamente, duas vezes. Desonestamente, mil, duas mil, três mil vezes. Como se pode calcular?
- Contar o quê? Isso não são coisas que se contem, patrão! As uniões legais, essas não têm gosto; são pratos sem pimenta. Contar o quê? Que não há prazer algum em beijar quando os ícones estão olhando para você e dando bênçãos?
Que serenidade! Que doçura! Ao sol poente, as paredes brancas de cal coloriam-se de rosa. A igrejinha, acolhedora, pouco iluminada, tinha cheiro de vela. Homens e mulheres moviam-se numa nuvem de incenso e cinco ou seis monjas, em hábitos pretos, entoavam com vozes fraquinhas e amenas Senhor Todo Poderoso. Ajoelhavam-se a cada instante e o frufru de suas vestes parecia um bater de asas. Havia muitos anos eu não ouvia os cânticos à Virgem. A revolta da primeira juventude me fizera passar diante das igrejas cheio de desprezo e cólera. O tempo me abrandara e cheguei a ir, algumas vezes, a festas solenes: Natal, as Vigílias, a Ressureição. Regozijava-me vendo ressuscitar a criança que subsistia em mim. O sentimento místico de outrora se transformara em prazer estético. Os selvagens crêem que, quando um instrumento musical não serve mais para os ritos religiosos, perde sua força divina e emite então sons harmoniosos. Assim a religião se tinha degredado em mim: tornara-se arte.
É preciso vinho para a castanha e mel para a noz,
Para o homem uma mulher e para a mulher um homem.
Esse homem, pensei, nunca foi à escola, e seu cérebro não foi desarrumado. Viu de tudo, seu espírito abriu-se e seu coração alargou-se, sem perder a audácia primitiva. Todos os problemas complicados, insolúveis para nós, ele os resolve com um golpe de espada, como seu compatriota, Alexandre, o Grande. É difícil que ele tombe sobre um lado, pois apóia-se inteiramente na terra, dos pés à cabeça. Os selvagens da África adoram a serpente porque todo o seu corpo toca a terra e conhece, assim, os segredos do mundo. Ela os conhece com seu ventre, com sua cauda, com sua cabeça. Ela a toca, mistura-se, faz-se uma só, com a mãe Terra. O mesmo ocorre com Zorba. Nós, as pessoas instruídas, somos senão passarinhos bobocas no ar.
Nikos Kazantzakis
Quietude
Tagarelas alegres são emissários do demônio - com suas palavras tolas eles nos tiram das águas profundas
O vento frio, aos golpes, anunciava que o inverno estava se aproximando. Nuvens cinzentas cobriam os Alpes, como navios que navegavam velozes, levadas pelo vento. Era um velho mosteiro de freiras que praticavam o silêncio, costume abençoado que libertava as pessoas da obrigação de conversar com os vizinhos às mesas de refeições. Não ser obrigado a conversar é uma felicidade.
É raro que as pessoas entendam isso. Eu iria dar uma fala, faltava ainda meia hora e procurei um lugar escondido onde pudesse ficar quieto com os meus pensamentos. Achei-o sob uma escada, quase invisível e ali me escondi. Foi então que uma pessoa delicada me viu ali sozinho e bondosamente pensou: "O professor Rubem Alves está abandonado..." Dois minutos depois meu refúgio estava cheio de pessoas falantes que destruíram a minha solidão... Os tagarelas alegres são emissários do demônio porque com suas palavras tolas eles nos tiram das águas profundas em que nos encontrávamos. Deus é o Grande Mar. A alma é um peixe. Os poetas sabem disso.
T.S. Eliot escreveu: "Nosso olhar é submarino. Olhamos para cima e vemos a luz que se fratura através das águas inquietas..."Hóspede naquele mosteiro, eu deveria obedecer aos horários e participar dos eventos. Um deles me horrorizou: participar das celebrações litúrgicas às 6h, às 12h e às 18h.
O santuário era um velho celeiro de madeira octogonal, muito grande e escuro, sem janelas. Os arquitetos, para pôr luz nas sombras, abriram buracos nas paredes, cobrindo-os com vidros coloridos. A luz do sol, entrando pelos orifícios e atravessando os vidros coloridos, faziam desenhos no espaço vazio, desenhos que se deslocavam à medida em que o sol caminhava pelo céu.
Os bancos, poucos, seguiam três lados do octógono; a mesa, iluminada com velas, tinha no seu centro um ícone de Jesus ao estilo bizantino. Cheguei no horário. Poucas pessoas. Os mosteiros não são lugares que atraiam turistas.
Fiquei à espera do início da liturgia, que deveria iniciar-se suiçamente ao repicar dos sinos às 6h da manhã. Os sinos repicaram mas nada aconteceu, nenhuma reza, nenhum hino, nenhuma leitura bíblica.
Pus-me a examinar o espaço e as luzes que se entrecruzavam. O exercício de simplesmente ver tem o efeito de fazer parar o pensamento. Alberto Caeiro já dizia que "pensar é estar doente dos olhos..."
Os pensamentos, produtos internos da cabeça, são perturbações que distorcem a pureza da visão.
Aí, ao misticismo do ver seguiu-se o misticismo do ouvir. O vento descia furioso das montanhas, em golpes, lufadas que torciam a estrutura de madeira, provocando aqueles ruídos típicos de navios à vela batidos pelo vento. Ao lado do santuário havia uma plantação de macieiras nuas, o vento havia arrancado suas folhas todas, somente seus galhos pelados ficaram. Quando o vento sacudia a galharia era como se houvesse um mar enraivecido quebrando ondas. Aí os sons e as cores começaram a invocar poemas ancestrais.
"E a terra era um abismo sem forma e o vento de Deus soprava violentamente sobre a superfície das águas... E disse Deus: "Haja luz..." E aí meus pensamentos foram possuídos pela poesia.Mas e a liturgia? Já eram 6h20. Percebi então que a liturgia havia começado às 6h, quando os sinos tocaram... Só silêncio...
Texto escrito por Rubem Alves e publicado em 18.03.08, na Folha de São Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1803200803.htm
O vento frio, aos golpes, anunciava que o inverno estava se aproximando. Nuvens cinzentas cobriam os Alpes, como navios que navegavam velozes, levadas pelo vento. Era um velho mosteiro de freiras que praticavam o silêncio, costume abençoado que libertava as pessoas da obrigação de conversar com os vizinhos às mesas de refeições. Não ser obrigado a conversar é uma felicidade.
É raro que as pessoas entendam isso. Eu iria dar uma fala, faltava ainda meia hora e procurei um lugar escondido onde pudesse ficar quieto com os meus pensamentos. Achei-o sob uma escada, quase invisível e ali me escondi. Foi então que uma pessoa delicada me viu ali sozinho e bondosamente pensou: "O professor Rubem Alves está abandonado..." Dois minutos depois meu refúgio estava cheio de pessoas falantes que destruíram a minha solidão... Os tagarelas alegres são emissários do demônio porque com suas palavras tolas eles nos tiram das águas profundas em que nos encontrávamos. Deus é o Grande Mar. A alma é um peixe. Os poetas sabem disso.
T.S. Eliot escreveu: "Nosso olhar é submarino. Olhamos para cima e vemos a luz que se fratura através das águas inquietas..."Hóspede naquele mosteiro, eu deveria obedecer aos horários e participar dos eventos. Um deles me horrorizou: participar das celebrações litúrgicas às 6h, às 12h e às 18h.
O santuário era um velho celeiro de madeira octogonal, muito grande e escuro, sem janelas. Os arquitetos, para pôr luz nas sombras, abriram buracos nas paredes, cobrindo-os com vidros coloridos. A luz do sol, entrando pelos orifícios e atravessando os vidros coloridos, faziam desenhos no espaço vazio, desenhos que se deslocavam à medida em que o sol caminhava pelo céu.
Os bancos, poucos, seguiam três lados do octógono; a mesa, iluminada com velas, tinha no seu centro um ícone de Jesus ao estilo bizantino. Cheguei no horário. Poucas pessoas. Os mosteiros não são lugares que atraiam turistas.
Fiquei à espera do início da liturgia, que deveria iniciar-se suiçamente ao repicar dos sinos às 6h da manhã. Os sinos repicaram mas nada aconteceu, nenhuma reza, nenhum hino, nenhuma leitura bíblica.
Pus-me a examinar o espaço e as luzes que se entrecruzavam. O exercício de simplesmente ver tem o efeito de fazer parar o pensamento. Alberto Caeiro já dizia que "pensar é estar doente dos olhos..."
Os pensamentos, produtos internos da cabeça, são perturbações que distorcem a pureza da visão.
Aí, ao misticismo do ver seguiu-se o misticismo do ouvir. O vento descia furioso das montanhas, em golpes, lufadas que torciam a estrutura de madeira, provocando aqueles ruídos típicos de navios à vela batidos pelo vento. Ao lado do santuário havia uma plantação de macieiras nuas, o vento havia arrancado suas folhas todas, somente seus galhos pelados ficaram. Quando o vento sacudia a galharia era como se houvesse um mar enraivecido quebrando ondas. Aí os sons e as cores começaram a invocar poemas ancestrais.
"E a terra era um abismo sem forma e o vento de Deus soprava violentamente sobre a superfície das águas... E disse Deus: "Haja luz..." E aí meus pensamentos foram possuídos pela poesia.Mas e a liturgia? Já eram 6h20. Percebi então que a liturgia havia começado às 6h, quando os sinos tocaram... Só silêncio...
Texto escrito por Rubem Alves e publicado em 18.03.08, na Folha de São Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1803200803.htm
domingo, 16 de março de 2008
Galochas
Comprarei um par de galochas enfeitadas para os dias de chuva. Pode não ser fácil andar com elas porque meus pés têm o formato fino, e receio que dancem dentro da forma larga que as galochas parecem ter. Talvez um bom par de meias grossas resolva, não sei.
Uma única vez usei galochas e fiquei feliz com o gentil carinho dito e supostamente feito - o tempo tão ansiado da delicadeza - para poupar meus tênis - afinal, no lamaçal, perdi um par de tênis brancos que eu gostava muito - e sequer achei estranho os meus dedinhos ficarem dobrados. Somente hoje entendo que aquelas galochas não eram do meu número.
Por falar em dedinhos pensei em pés e não entendo a mania de tirar fotos de pés, ainda mais se são esquisitos. Só os pés bonitos mereceriam cuidadosas fotos. Belas, suaves, desprovidas de vulgaridade.
Frio e chuva na capital de São Paulo. Meus confortáveis pijamas de flanela sairão da gaveta de minha cômoda. Essa deliciosa brincadeira, que desafia preocupações tão feminas: Galochas de dia e pijamas de flanela à noite. Também conhecidos como libertária folia.
Uma única vez usei galochas e fiquei feliz com o gentil carinho dito e supostamente feito - o tempo tão ansiado da delicadeza - para poupar meus tênis - afinal, no lamaçal, perdi um par de tênis brancos que eu gostava muito - e sequer achei estranho os meus dedinhos ficarem dobrados. Somente hoje entendo que aquelas galochas não eram do meu número.
Por falar em dedinhos pensei em pés e não entendo a mania de tirar fotos de pés, ainda mais se são esquisitos. Só os pés bonitos mereceriam cuidadosas fotos. Belas, suaves, desprovidas de vulgaridade.
Frio e chuva na capital de São Paulo. Meus confortáveis pijamas de flanela sairão da gaveta de minha cômoda. Essa deliciosa brincadeira, que desafia preocupações tão feminas: Galochas de dia e pijamas de flanela à noite. Também conhecidos como libertária folia.
Cultivo
Amor, dedicação e carinho nunca são demais. Fui escolhida, muito amada e criada com esmero que reconheço e pelo qual sou grata, e que também é de conhecimento de todos que acompanham minha trajetória. Meus pais foram especiais e com eles aprendi a ser mãe. Até hoje, meu filho, homem feito, tem a garantia do meu amor e dedicação, recebe meus carinhos e sabe que estarei sempre próxima sem, no entanto, sufocá-lo. Por vezes o amor pode sufocar. A fantástica relação pais e filhos é base para nossas vidas e através dela exercemos nossas ações e reações. Por isso, enfatizo que amor, dedicação e carinho nunca são demais. Não há manual que nos ensine a sermos bons pais, nem a sermos bons filhos e podemos nos perder nesses papéis tão importantes que desempenhamos. O verdadeiro amor é fundamental e é o que permanece.
Para um filho, os pais devem amá-lo sobre todas as coisas e dedicar todos os momentos de sua vida a ele
Não é preciso muita coisa para que a gente se sinta rejeitado. A tendência natural é pensar que ninguém gosta da gente, ou pelo menos não tanto quanto se precisa. E disso se precisa muito. Começando pelo básico: alguém acha que é -ou foi- amado suficientemente pelo pai e pela mãe? Claro que não. E aquele dia em que os dois saíram para jantar fora e ir ao cinema? Você, com cinco anos e resfriado, queria que eles ficassem a seu lado, contando uma história, e dessa noite nunca se esqueceu. É a maior prova de que eles jamais gostaram de você. E quando eles se separaram, a culpa não foi toda sua? E quando o pai, já separado, foi convidado para aquele fim de semana de sonho, e propôs trocar o tal fim de semana que ia passar com o filho; ele se sentiu tão rejeitado e abandonado quanto um menino de rua, e o pai vai passar o fim de semana -e o resto da vida - massacrado pela culpa.
As crianças vão para o analista se queixar dos pais, os pais vão para o analista para dizer que foram péssimos pais, e assim la nave va. Mas um dia essas crianças crescem, se casam, têm seus filhos, se separam, se apaixonam e agem com seus filhos exatamente como seus pais agiram com ele. Vão todos para o analista, claro, e aos 50, 60 anos, continuam se queixando; um de ter sido rejeitado, o outro sofrendo por não ter dado mais atenção aos filhos. Todos têm razão, claro, mas querer que um pai ou uma mãe aos 25, 30 anos, em plena juventude, com os hormônios explodindo, passem as noites em casa contando histórias para os filhos na hora de dormir é contra qualquer lei da natureza, e um dia eles vão entender.
Qual seria a solução? Ter filhos aos 40, depois de ter feito todas as loucuras? Não sei. Para um filho, os pais devem amá-lo sobre todas as coisas, e dedicar todos os momentos de sua vida a ele. Eu conheço um que, aos 45, leva a namorada para a praia para vê-lo surfar, e ai dela se se virar para pegar um sol nas costas. E ai daquele pai que uma noite não pode passar uma hora jogando um joguinho na televisão porque precisa entregar um trabalho no dia seguinte. Se tiver marcado um cinema, esse filho, aos 40, ainda vai lembrar do assunto, achando que seu pai e sua mãe não foram como deveriam ter sido - e sofrendo, claro. Queremos atenção total dos que nos cercam, sobretudo quando somos crianças, e quando envelhecermos é que vamos saber o que é falta de atenção de verdade. Para que isso não aconteça, é preciso ter vida própria, e desde cedo. Mas quantos momentos teriam sido tão bons, se mãe e filho pudessem se dizer francamente "naquele dia quase te matei, de tanta raiva", e darem uma boa risada, lembrando. Porque isso acontece, entre pessoas normais. E falar também dos momentos, jamais verbalizados, em que a mãe amou -e ama- esse filho loucamente, mais que qualquer coisa na vida, e que depois que ele cresceu nunca mais disse, porque não faz parte da nossa cultura fazer declaração de amor a filho grande, até porque ele é o primeiro a não querer ouvir essas coisas depois que cresce, olha que mundo mais louco. Ah, se a gente pudesse botar eles no colo quando desconfia que estão tristes, e abraçar, apertar, cobrir de beijos, como quando eram pequenos; mas como eles cresceram, não se pode. Mas ah, se eles soubessem; ah, se a gente conseguisse dizer
Texto escrito por Danuza Leão e publicado em 16.03.08, na Folha de São Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1603200806.htm
Para um filho, os pais devem amá-lo sobre todas as coisas e dedicar todos os momentos de sua vida a ele
Não é preciso muita coisa para que a gente se sinta rejeitado. A tendência natural é pensar que ninguém gosta da gente, ou pelo menos não tanto quanto se precisa. E disso se precisa muito. Começando pelo básico: alguém acha que é -ou foi- amado suficientemente pelo pai e pela mãe? Claro que não. E aquele dia em que os dois saíram para jantar fora e ir ao cinema? Você, com cinco anos e resfriado, queria que eles ficassem a seu lado, contando uma história, e dessa noite nunca se esqueceu. É a maior prova de que eles jamais gostaram de você. E quando eles se separaram, a culpa não foi toda sua? E quando o pai, já separado, foi convidado para aquele fim de semana de sonho, e propôs trocar o tal fim de semana que ia passar com o filho; ele se sentiu tão rejeitado e abandonado quanto um menino de rua, e o pai vai passar o fim de semana -e o resto da vida - massacrado pela culpa.
As crianças vão para o analista se queixar dos pais, os pais vão para o analista para dizer que foram péssimos pais, e assim la nave va. Mas um dia essas crianças crescem, se casam, têm seus filhos, se separam, se apaixonam e agem com seus filhos exatamente como seus pais agiram com ele. Vão todos para o analista, claro, e aos 50, 60 anos, continuam se queixando; um de ter sido rejeitado, o outro sofrendo por não ter dado mais atenção aos filhos. Todos têm razão, claro, mas querer que um pai ou uma mãe aos 25, 30 anos, em plena juventude, com os hormônios explodindo, passem as noites em casa contando histórias para os filhos na hora de dormir é contra qualquer lei da natureza, e um dia eles vão entender.
Qual seria a solução? Ter filhos aos 40, depois de ter feito todas as loucuras? Não sei. Para um filho, os pais devem amá-lo sobre todas as coisas, e dedicar todos os momentos de sua vida a ele. Eu conheço um que, aos 45, leva a namorada para a praia para vê-lo surfar, e ai dela se se virar para pegar um sol nas costas. E ai daquele pai que uma noite não pode passar uma hora jogando um joguinho na televisão porque precisa entregar um trabalho no dia seguinte. Se tiver marcado um cinema, esse filho, aos 40, ainda vai lembrar do assunto, achando que seu pai e sua mãe não foram como deveriam ter sido - e sofrendo, claro. Queremos atenção total dos que nos cercam, sobretudo quando somos crianças, e quando envelhecermos é que vamos saber o que é falta de atenção de verdade. Para que isso não aconteça, é preciso ter vida própria, e desde cedo. Mas quantos momentos teriam sido tão bons, se mãe e filho pudessem se dizer francamente "naquele dia quase te matei, de tanta raiva", e darem uma boa risada, lembrando. Porque isso acontece, entre pessoas normais. E falar também dos momentos, jamais verbalizados, em que a mãe amou -e ama- esse filho loucamente, mais que qualquer coisa na vida, e que depois que ele cresceu nunca mais disse, porque não faz parte da nossa cultura fazer declaração de amor a filho grande, até porque ele é o primeiro a não querer ouvir essas coisas depois que cresce, olha que mundo mais louco. Ah, se a gente pudesse botar eles no colo quando desconfia que estão tristes, e abraçar, apertar, cobrir de beijos, como quando eram pequenos; mas como eles cresceram, não se pode. Mas ah, se eles soubessem; ah, se a gente conseguisse dizer
Texto escrito por Danuza Leão e publicado em 16.03.08, na Folha de São Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1603200806.htm
sábado, 15 de março de 2008
Braços duros de torcer
House Calls (1978), de Howard Zieff, com Walter Matthau e Glenda Jackson.
Para mim, o melhor parceiro que Walter Matthau teve na telas foi Jack Lemmon.
The Only Thrill (1997) de Peter Masterson, com Diane Keaton e Sam Shepard.
Os adoráveis Before Sunrise (1995) e Before Sunset (2004) são de Richard Linklater, com Julie Delpy e Ethan Hawke.
Quatro filmes encantadores e sem quaisquer efeitos especiais, que primam pelo perfeito entrosamento entre os atores e pelos diálogos ágeis, inteligentes e agradáveis, e expõem a queda de braço, ou melhor, a temporária dureza de braços que desconhecem o torcer básico em prol da felicidade e da prevalência do verdadeiro amor.
Anthony Quinn era o mexicano mais grego que jamais vi, graças a sua genial interpretação de Zorba. Foi divertido assistí-lo como um esquimó, no filme The Savage Innocents de 1960, que hoje seria o horror de ecologistas, ambientalistas e da sociedade protetora dos animais. Um ou outro ficaria chocado com a cena da senhora esquimó - por sinal, seu inglês era o melhor - que foi deixada no meio da imensidão gelada para servir de alimento para o urso polar, que posteriormente serviria de alimento para sua família. Enfim, foi divertido assistir a Anthony Quinn esquimó, às vezes, sorridente demais, ingênuo e meio bobão, a contracenar com o jovem e desajeitado Peter O'Toole, com quem depois esteve em Lawrence of Arabia de 1962.
Anthony Quinn era o mexicano mais grego que jamais vi, graças a sua genial interpretação de Zorba. Foi divertido assistí-lo como um esquimó, no filme The Savage Innocents de 1960, que hoje seria o horror de ecologistas, ambientalistas e da sociedade protetora dos animais. Um ou outro ficaria chocado com a cena da senhora esquimó - por sinal, seu inglês era o melhor - que foi deixada no meio da imensidão gelada para servir de alimento para o urso polar, que posteriormente serviria de alimento para sua família. Enfim, foi divertido assistir a Anthony Quinn esquimó, às vezes, sorridente demais, ingênuo e meio bobão, a contracenar com o jovem e desajeitado Peter O'Toole, com quem depois esteve em Lawrence of Arabia de 1962.
Teatro - A Moratória
O trabalho desenvolvido por certos profissionais nos permite a criação de um vínculo leal, que jamais decepciona.
Lembro-me que em 1986, durante o curso que fiz na Aliança Francesa, conheci o grupo TAPA, Teatro Amador Produções Artísticas, que havia recém chegado a São Paulo e por quinze anos apresentou suas peças no teatro daquele instituto de idiomas.
Para mim, desde então, o competente e belo trabalho de direção de Eduardo Tolentino de Araújo tem sido referência para um bom espetáculo.
Dentre outros dramaturgos, o programa artístico do grupo TAPA incluiu obras de Nelson Rodrigues, Oduvaldo Viana Filho, Plínio Marcos, Domingos de Oliveira, Maquiavel, Ibsen, Molière, Tchekov, Shakespeare, J.B. Priestley, Bernard Shaw, Oscar Wilde e atualmente apresenta a peça A Moratória de Jorge Andrade.
Nesse trabalho, Tolentino manteve-se fiel à historicidade do texto original e sem quaisquer recursos especiais apresenta, em paralelo, dois tempos distintos: A derrocada da poderosa família de cafeicultores em 1929, e sua vida seqüencial na cidade interiorana em 1932. Todos os elementos foram trabalhados com especial sutileza, que nos permite, ao final da apresentação, o vislumbre de imagem atemporal: A perda da fazenda e a desesperança de sua retomada.
Os personagens são densos e antagônicos, visto que usufruem do poder e o exercem de modo acintoso e, posteriormente, descobrem-se incapazes de sobreviver fora da sociedade agrária. Alguns estereótipos tão conhecidos estão presentes: O pai intransigente, que herdou sua fortuna e é incapaz de geri-la; o filho beberrão e despreparado para a vida profissional; a mãe condescendente e apaziguadora e a filha destinada exclusivamente para o casamento.
Salienta-se a atitude da mãe, que sabedora da situação em momento algum desampara sua família, e da filha, que assume a responsabilidade integral pelo sustento de todos. Com A Moratória senti algo que há tempos me havia esquecido: A perfeita interação entre os atores e o público e a livre doação do grande talento de excelente diretor e atores. Esse trabalho do grupo TAPA torna-se uma raridade teatral. É imperdível.
Assinar:
Postagens (Atom)