terça-feira, 30 de junho de 2009

Pina Bausch

Gostosura - massa

Ravióli de beterraba assada e parmiggiano

Ingredientes:
Massa
- 800 g de farinha de trigo especial peneirada
- 200 g de farinha de grão duro peneirada
- 8 ovos caipiras bem frescos
- 4 gemas de ovos caipiras
- 2 colheres (sopa) de azeite de oliva extravirgem
- 1 colher (chá) de sal

Recheio
- 50 g de parmiggiano reggiano ralado
- 1 kg de beterraba orgânica
- 1 colher de azeite de oliva extravirgem
- 1 colher de manteiga
- 200 g de ricota fresca de baixa acidez
- pimenta-do-reino moída na hora
- sal

Cebola croustillant
- 1 xícara de azeite de oliva extra virgem
- 4 cebolas finamente fatiadas
- 1/2 xícara de broto de beterraba orgânica
- 20 g de parmiggiano reggiano
- 1 xícara de manteiga

Preparo:
- Lave e seque bem as beterrabas. Corte-as em pedaços sem retirar a casca e asse em forno médio com o azeite e a manteiga até que estejam bem macias, cerca de 20minutos.
- Coloque a beterraba, a ricota e o parmiggiano no multi-processador, tempere com sal e pimenta do reino moída na hora e utilizando a função pulsar bata com cuidado até obter uma mistura lisa.
- Aqueça todo o azeite em uma panela e doure a cebola em imersão mexendo sempre até ficar crocante e dourada. Retire e coloque imediatamente em uma peneira para escorrer.
- Coloque as farinhas misturadas em uma superfície plana e faça uma cavidade no meio deixando as bordas altas.Coloque os ovos e as gemas na cavidade do meio e bata com o garfo para misturar bem. Acrescente o azeite de oliva, o sal e misture.
- Misture a farinha com os ovos aos poucos, até formar uma massa que desgrude das mãos. Se a massa estiver muito úmida acrescente mais farinha misturada, se estiver muito seca adicione mais 1 gema de ovo até adquirir uma massa homogênea. Misture bem a massa por 15 minutos. Cubra e deixe descansar por no mínimo 1 hora.
- Abra a massa na espessura desejada, recheie com a mistura de beterraba e faça raviólis médios com a ajuda de um cortador.
- Derreta a manteiga até ficar ligeiramente queimada (cor e aroma de avelã).
- Cozinhe a massa e escorra. Disponha os raviólis no fundo dos pratos, cubra com um pouquinho de parmiggiano ralado, um fio de manteiga noisette e finalize com a cebola croustillant e os brotinhos de beterraba.

Receita de Roberta Sudbrack

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Mais sono

Dormir pode ajudar uma pessoa e resolver problemas, dizem cientistas americanos.
Eles concluíram que uma boa soneca com sonhos estimula a criatividade.
A equipe da University of California San Diego fez experimentos para verificar se "incubar" o problema aumenta as chances de soluções inspiradas.
E descobriu que sim, especialmente quando as pessoas entram na fase conhecida como REM (sigla inglesa para Rapid Eye Movement ou movimento rápido do olho), estágio do sono em que ocorrem os sonhos mais vívidos.
O trabalho foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy Of Sciences.
Na manhã dos testes, um grupo de 77 voluntários recebeu uma série de problemas para resolver. Eles foram orientandos a pensar sobre o problema até a tarde daquele dia, seja descansando sem dormir ou dormindo. Os que dormiram tiveram seu sono monitorado pelos cientistas.
Comparados aos participantes que apenas descansaram ou que dormiram sem alcançar o estágio REM, os voluntários que dormiram e atingiram o estágio REM apresentaram maior probabilidade de sucesso na resolução do problema.
O estudo revelou que o grupo que atingiu a fase REM durante o sono melhorou sua habilidade de resolver problemas criativamente em cerca de 40%.
Os resultados indicam que não são apenas o sono ou a passagem do tempo que determinam o sucesso na resolução de problemas e, sim, a qualidade do sono.
Para os autores do estudo, apenas o sono onde o estágio REM é atingido tem o poder de melhorar a criatividade.
Eles acreditam que o sono REM permite que o cérebro forme novas conexões nervosas sem a interferência de outras conexões de pensamento que ocorrem quando estamos acordados ou dormindo sem sonhar.
"Nós propomos que o sono REM é importante para a fusão de novas informações com experiências passadas para criar uma rede mais rica de associações para uso futuro", disseram os autores à revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Imagem obra de Picasso

Gostosura

Peppers with feta and almonds

Ingredients:

-8 red or yellow peppers or a mixture of both
-200g feta
-couple of squeezes lemon juice
-1 tablespoon extra-virgin oil
-75g blanched or flaked almonds
-2 tablespoons freshly chopped parsley

Method:

- Peeling peppers is a time-consuming and fiddly job, but it isn’t difficult – and this is a distinction that’s important to remember. Like most tasks of this order, culinary or otherwise, the space it takes up in your head is greater than the actual demands of the activity, but if the idea of charring and then peeling eight peppers really appals, then don’t do it. The world is not going to fall apart if you buy a jar of ready-peeled and oil-softened peppers, nor do you lose the right to occupy your own kitchen if you ignore my suggestion altogether. Make a tomato salad; buy some tabbouleh from the deli.
- But meanwhile at stately Wayne mansion, preheat the grill as hot as you can get it, and then sit the peppers on a rack below. When the skin turns black and blistery, turn them; you want to char them on every side. You can do this also, if you’ve got a gas cooker, just by holding them with a long fork over the hob, but it can get tiresome to say the least.
- When the peppers are black and charred, remove them (trying not to burn yourself) to a large bowl and cover immediately with clingfilm. Leave for 10–20 minutes.
- Then uncover and, one by one, peel and de-seed the peppers. Don’t get worried if the odd bit of skin (or indeed pip) remains. Cut or tear into wide chunks/strips (I don’t like this too dinky) and arrange on a large plate. Crumble over the feta, then squeeze over lemon juice and drizzle with oil. Scatter over the almonds and sprinkle on the parsley – and that, frankly, is it.
- Leftovers can be stuffed into pitta breads, as with lamb, but the sweet, salty mix is also lovely as a sauce for pasta (better without the almonds, though I’d bet they’d all be picked off anyway by the time you got to leftover stage). Cook some penne, reserve a coffee-cupful of the cooking water on draining, then toss the pasta back into the hot pan with half the reserved water and a small bowlful of peppers and feta. Toss around so that everything begins to cohere (but not actually cook) and turn into a bowl. Eat.

Nigella Lawson's recipe

domingo, 28 de junho de 2009

Em paz

Meu filho foi à praia com a namorada, os amigos de infância e levou o cão. Decidimos que deixaríamos o cão escolher seu próprio destino deste final de semana, e assim aconteceu no começo da noite de sexta, depois que voltei do escritório: Enquanto o garotão arrumava sua mochila, o alegre e atento cão não parava um instante, abanava seu rabo, observava cada movimento, caminhava atrás dele - grudado em seus calcanhares - pela casa e aguardava o momento de segui-lo para a folia certa. Os dois viajaram um pouco depois do jantar, no final do horário do rodízio de carros, enquanto eu, serena e tranquila, suavemente retirava pedaços de coisas e sentimentos que ao longo da semana aderiram a minha pele e aos meus cabelos. O algodão embebido na loção certa retirou as impurezas do rosto, o banho demorado, cremes, carinho e a liberdade tão bem-vinda, que não me permite o entendimento da necessidade que quase todos têm de morar com alguém. As pessoas temem tanto a solidão, mas eu gosto quando me integro ao espaço e o espaço se integra em mim. Gosto desta solidão plena, criativa, amorosa e nada solitária. Dormi tão bem e descansei como há tempos não descansava.
Acordei no sábado com vontade de enfeitar a casa, ler e ouvir música. Preparei meu café da manhã e o apreciei com prazer. Fui ao shopping buscar uma encomenda e encontrei uma amiga para o café da tarde ao ar livre. Depois, ao supermercado para compras básicas e à noite, no mesmo espaço tão aconchegante, reforcei a paz. Às vezes pensei, senti e de forma serena e fluida surgiram notícias sopradas de um mundo distante, confuso, estranho e com a essência tão vazia, no qual, novamente acontecem os mesmos erros e ilusões. E se a serenidade traz consigo a sabedoria, ao identificar os mesmos passos, ações e intenções (recém justificadas pelo egoísmo; mas sempre foi pelo seu exclusivo egoísmo), eu, no único e breve momento de tênue tristeza deste final de semana, fechei os olhos e devolvi o pensamento em luz.
O domingo não alterou a deliciosa cadência. Preparei meu almoço com alegria e curto minhas leituras até a hora do café com outros amigos. Depois, a volta para o aconchego e o abraço a ser dado no filho, a folia com o cão.
Não erra quem afirma que é impossível amar alguém, sem antes aprendermos a nos amar; assim como é impossível conviver com alguém, sem antes aprendermos a conviver conosco e a gostar dessa especial e amorosa convivência.

Pandemias

Por que fazem da pandemia brincadeira e desde o começo, com extrema leviandade, fingem e querem nos convencer, que todos os lugares que compõem este mundo são cercados por barreiras intransponíveis e isolados por redomas de vidros anticépticos bactericidas e germicidas, que não permitem a propagação de qualquer vírus ou doença, de um lado para o outro, com velocidade estonteante? Por que disseram que a gripe suína não chegaria ao Brasil - será que a nossa redoma de vidro é melhor do que as outras? Por dizem que a gripe suína, que já atingiu um milhão nos Estados Unidos, matou pessoas na Argentina e no Chile, está controlada no Brasil? Por que o medicamento apontado como eficaz para essa enfermidade, desde o mês de maio deste ano, teve seu preço multiplicado por dez? Por que pessoas infectadas mantém suas atividades em ambientes coletivos e contaminam as demais? Por que?

sábado, 27 de junho de 2009

Sono

Falta de sono causa mais danos à saúde de mulheres, diz estudo.
Especialistas afirmam que a noite de sono deve ter oito horas.
Uma pesquisa britânica sugere que a falta de sono aumenta mais o risco de doenças cardíacas em mulheres do que em homens.
Dormir menos do que oito horas por noite já foi relacionado a um aumento dos riscos de problemas do coração.
Mas agora os pesquisadores do University College, de Londres, e da Universidade de Warwick descobriram que os níveis de marcadores inflamatórios, indicadores de doença cardíaca, variam de forma significativa de acordo com a duração do sono em mulheres, mas não em homens.
A pesquisadora Michelle Miller, da Universidade de Warwick, afirmou que a descoberta é mais uma prova que sugere que a duração do sono tem um papel importante na saúde do coração.
"Os resultados também são consistentes com a ideia de que dormir sete ou oito horas por noite parece ser o mais adequado para a saúde", afirmou.
Pesquisas anteriores sugeriram que pessoas que dormem menos de cinco horas por noite têm maior risco de morrer devido a doença cardiovascular, comparadas com aquelas que dormem oito horas por noite.
O estudo, publicado na revista especializada Sleep, se baseou em informações de mais de 4,6 mil funcionários públicos de Londres com idades entre 35 e 55 anos. Destes, 73% eram homens.
A pesquisa descobriu que os níveis de uma molécula chamada interleucina-6 (IL-6), que é conhecida por desencadear inflamações, foram bem mais baixos em mulheres que dormiam oito horas, comparado com aquelas que dormiam menos de sete horas.
Os níveis de outra molécula, a proteína C reativa de alta sensibilidade (hs-CRP), que está ligada a problemas cardíacos, foram mais altos em mulheres que dormiam por cinco horas ou menos.
Michelle Miller acrescentou que são necessárias mais pesquisas para descobrir exatamente a razão de a falta de sono ter, potencialmente, mais efeitos negativos em mulheres.
No entanto, a pesquisadora informou que as diferenças em níveis hormonais podem ser a chave para esta descoberta. Existem trabalhos que sugerem que os níveis dos marcadores inflamatórios são diferentes em mulheres antes e depois da menopausa.
Janet Mullington, da Harvard Medical School, afirmou que ainda existem muitas perguntas sem respostas a respeito dos efeitos da falta de sono. Ela disse que é possível que a mudança nos níveis dos marcadores inflamatórios observada em experiências que envolvem falta de sono fossem apenas reflexos a médio prazo da batalha contra a sonolência.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Plantas raras

O livro Plantas Raras do Brasil identifica 2.291 espécies de plantas que são encontradas exclusivamente no território nacional.
O trabalho, fruto de uma parceria entre a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e a ONG Conservação Internacional, é resultado de dois anos de pesquisas que reuniram 175 cientistas de 55 instituições brasileiras e internacionais.
Nas pesquisas, os cientistas também identificaram 752 áreas de relevância biológica para a conservação da flora brasileira e verificaram que 50% dessas áreas estão degradadas.
Segundo os organizadores da obra, a publicação poderá reacender uma polêmica entre cientistas e o Ministério do Meio Ambiente.
Em uma lista divulgada em setembro do ano passado, o ministério relacionou 472 espécies da flora ameaçadas. No entanto, um consórcio formado por cerca de 300 cientistas afirma que há no Brasil 1.472 espécies ameaçadas.
O professor Alessandro Rapini, da UEFS, um dos organizadores da obra, diz que a situação da flora brasileira pode ser "mais grave" do que os números oficiais apontam.
De acordo com Rapini, o que mais preocupa os cientistas no momento são espécies raras que ainda não foram detectadas. "Correm o risco de desaparecer antes mesmo de serem descritas", afirma.

Os organizadores da publicação estimam que o Brasil detenha 15% de toda a flora mundial.
As espécies raras não estão distribuídas de forma homogênea. Os Estados campeões em número de espécies raras são Minas Gerais, com 550, e Bahia, com 484, afirmam os pesquisadores.

Stired not shaken


Dry Martini is a tasty and traditional drink in which all good bartenders incorporate their own styles. It is so nice, that shows the way to unexploired wonderful places and leaves all troubles behind.
These secrets below were told by some experts, or just curious, dry Martini's lovers. Enjoy :

In order to prepare a fantastic dry Martini fill a glass shaker about 3/4 full of cracked clean ice. Put your gin into the shaker and let stand for sixty seconds. Count down from sixty to zero. Approach your shaker caution and lovingly apply the lid. Shake about fifteen vigorous diagonal shakes. Put the shaker down and get two well chilled Martini glasses. Allow the shaker to rest for about another sixty seconds. Into each glass drop two drops of vermouth, an olive and strain the very chilly gin into the glass.
 
Fill a mixing glass half full with ice, add the vermouth, then the gin. Stir together and strain into a cocktail glass. Garnish with an olive or lemon twist.

Put gin into a mixing glass with ice. When properly chilled, strain the mixture into a cocktail glass. Spray a cloud of Noilly Prat on top. Be carefull that the glass has no soap residue, neither the ice is tainted.

While the liquor is chiling, put the glass in a bed of ice: Form a large mound of ice within and above the glass and mold it whit your hands until the ice melts together. Above the ice mound, drizzle a little vermouth.
Glasses chilled in the fridge often take a different odor, and odors affect flavors.

In mixing the important thing is the rythim. Always have a rythim in your shaking. A Martini you always shake to waltz time.

Some stirred their Martinis exactly three times, other stirred their Martini exactly seventeen times, then strain. Magic numbers? Who knows?

Never lose sight of the irrefutable fact that in classic terms, a Martini is a combination of gin and vermouth, garnishes with either an olive or a lemon twist.

Dorothy Parker wrote this ode to dry Martini while she had her drinks, with good and interesting company, in Algonquin :

"I love to drink Martinis,
Two at very most
Three, I’m under the table
Four, I’m under the host
."

Try Tanqueray and dry Noilly Prat. Use clean ice and glasses with no smell, neither residual soap. Two green olives. Stired not shaken. Just to have and ideia: 1 ounce = two tablespoon, or three desertspoon.

Receita para fazer azul

Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu.


Nuno Júdice

Imagem obra de Matisse

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Singular

Sem dúvida a morte faz pensar e nos permite relembrar a história dessa celebridade especialmente talentosa, quanto controversa.
Lembro da primeira vez que assisti a apresentação do grupo Jackson Five, num programa de televisão preto e branco, na década de sessenta. Lembro como fiquei especialmente impressionada com aquele garotinho que a determinada altura do show ficava à frente dos irmãos corpulentos e os superava. Era Michael Jackson. Que voz, que presença e quanto talento. Os outros quatro Jacksons limitavam-se aos passos da dança tão característica do grupo. Imaginei que nos bastidores o garotinho deveria riscar um dobrado com os irmãos, mais velhos e bem maiores, relegados à segundo plano.
Sim, é lógico que aprendi as letras de várias músicas e cantava, do meu jeito, sem sequer chegar perto da especial afinação do mini-artista e, minha voz de menina, ficava longe, muito longe da tão especial voz daquele garotinho.
Nas décadas de setenta e oitenta, dancei muito ao som da melhor fase de Michael Jackson e na década de noventa, éramos mãe e filho a conhecer o mesmo astro.
Acompanhei o crescimento da Motown, que lançou os singles I’ll be there (será que existe alguém que não tenha se emocionado com essa letra água-com-açúcar?), I want you back, ABC (...shake it, shake it, shake it, abc ooo baby, 123 ooo baby, do re mi, that’s how easy love can be) e The love you save, todos com muito sucesso.
Hoje, leio que a mistura singular de soul, R&B, funk, disco e rock tornaram Michael Jackson o maior artista do pop mundial. Ele tinha presença vocal e dançava de maneira esplendida, sem qualquer temor ao ousar de forma inédita. Os arranjos de suas músicas são especiais, o que me fazia pensar que ele era pefeccionista. A divulgação e promoção de sua arte era abrangente e eficaz. Assim, cifras astronomias foram atingidas e diversos recordes na indústria do entretenimento foram quebrados por ele.
Creio que seu encontro com mago Quincy Jones era inevitável e firmou o estilo musical do rei do pop. De primeira, em 1979, vieram os mega sucessos: Don’t stop till you get enough, She’s out of my life e Rock with you - enquanto escrevo lembro de letras e melodias.
Em 1983, foi lançado o super Thriller, o álbum mais vendido de todos os tempos. Os melhores vídeo clipes, com efeitos especiais de última geração: Michael Jackson. Vídeo clipe dirigido por Martin Scorcese? Do álbum Bad, de Michael Jackson. O auge da MTV, duetos com famosos (as músicas com Paul McCartney são especiais) e o lançamento de We are the world, que reuniu vários artistas reconhecidos em uma mesma canção. Vieram Dangerous, alguns hits como Heal the world, Black and white e os escândalos acompanhados pela mídia mundial. Foi aqui que parei, no desencanto com o que era divulgado, com o comportamento excêntrico, polêmico e as alterações tão drásticas quanto infelizes. O sucesso inigualável parecia ter ficado em segundo plano, tal qual os quatro irmãos corpulentos na década de sessenta. Surgiram justificativas sobre sua precocidade artística, os maus tratos ocorrido em família, desajustes e síndromes. Por um tempo esqueci da voz, do ritmo, da melodia e hoje, retomei parte desses encantos. Michael Jackson é o primeiro artista que mãe e filho curtiram e juntos, foram pegos de surpresa com a notícia de sua morte. E meu filho ainda comentou que em seu próximo show, que aconteceria em Londres, Michael Jackson surpreenderia e voltaria ao topo. Não duvido.

Ícone da adolescência


Será que existiu alguma garota na década de setenta, que não tenha desejado um sorriso estonteante como o da Farrah Fawcett e, principalmente, o cabelo igual ao dela? Não o cabelo da jovem texana da foto de formatura do colégio, mas da detetive Jill Munroe, que atuou apenas na primeira temporada da série Charlie’s Angel e foi sucesso mundial? Adolescente eu imaginava que o vento no cabelo volumoso recém lavado e úmido traria resultado similar - quem sabe se eu tivesse corrido na direção contrária ao vento o resultado seria melhor - e não quis acreditar no batalhão de cabeleireiros e assistentes de cabeleireiros, nas escovas e secadores, na química, nos artifícios. E como mantive minha aversão aos secadores, escovas, química, chapinha, enfim, tudo que não é natural, o cabelo igual ao de Farrah ficou no desejo e o sorriso, bom, o sorriso dela era sensacional e o meu é capaz de encantar. Fiquei triste ao ler sobre sua morte e sobre sua luta contra o câncer. Fiquei decepcionada ao ouvir sobre a recidiva do câncer ter chegado à mídia, através da desrespeitosa indiscrição de profissionais do hospital no qual ela se tratou. Fiquei encantada ao saber que o homem amado esteve ao lado dela o tempo todo e, após as negativas aos pedidos de casamento feitos ao longo dos anos, ouviu o esperado sim. Mulher-menina eternamente romântica.

Luas e anéis de Saturno

Questão antiga e por vezes esquecida - se considerarmos a velocidade dos acontecimentos importantes, pouco importantes e sem importância alguma, que formam a imensa massa de informações ofertada pela mídia a cada minuto - será que este nosso planeta é o único habitado? Habitável?
Sem qualquer apelo em prol do mistério, que muitos acreditam envolver esta questão, bem reforçado pelo jargão da série de TV famosa nos anos noventa: The truth is out of here.
A Terra é o único planeta a servir de morada para seres vivos? A resposta afirmativa acompanha pitada de arrogância terráquea... E sequer pensamos em tantas luas que existem por aí.

Dois estudos publicados nesta quinta-feira na revista científica Nature discutem hipóteses sobre a existência de um oceano de água salgada – em outras palavras, condições para o desenvolvimento de vida – nas profundezas subterrâneas de Enceladus, uma das luas de Saturno.
Os dois estudos, que chegam a conclusões discrepantes, analisaram amostras de uma coluna de gases, vapor de água e minúsculas partículas de gelo que emana violentamente da superfície do corpo celeste. Os cientistas tentam encontrar explicações para as observações divergentes.
No primeiro estudo, os pesquisadores Nikolai Brilliantov, da Universidade de Leicester, na Grã-Bretanha, e Juergen Schmidt, da Universidade de Potsdam, na Alemanha, defendem a teoria de que a coluna expelida da superfície de Enceladus é alimentada por um oceano salgado subterrâneo.
A hipótese de um oceano subterrâneo já vinha sendo investigada pelos cientistas. Agora, ao analisar o material recolhido em 2005 pela sonda Cassini, eles dizem ter detectado sais de sódio entre as partículas de gelo lançadas a centenas de quilômetros no espaço.
Para Brilliantov e Schmidt, este fato corrobora as teorias atuais de que, sempre que uma lua tiver um oceano subterrâneo profundo em contato com a superfície rochosa por muitos milhões de anos, este oceano será salgado.

Vida fora da Terra: De acordo com o estudo, os resultados indicam que a concentração de cloreto de sódio neste corpo de água pode ser tão alta quanto nos oceanos terrestres.
“A Enceladus é um dos lugares com maiores chances de se encontrar vida no Sistema Solar fora da Terra”, disse à BBC o cientista John Spencer, da missão espacial Cassini.
“Estão presentes os três principais ingredientes necessários à vida – os elementos químicos básicos, os blocos básicos, uma fonte de energia, e agora achamos que existe água também. Todos os elementos estão aí. Se isto é suficiente para gerar vida ainda não sabemos, mas estamos muito interessados em saber mais.”
Enceladus está localizada no anel mais distante de Saturno, “E”. Além da Terra, de Marte e da lua de Júpiter Europa, é um dos poucos lugares nos quais astrônomos dizem ter evidências diretas da existência de água.
Entretanto, um segundo estudo publicado na edição desta quinta-feira da Nature diz não ter encontrado evidências de sódio nas partículas emanadas da coluna de vapor – o que não confirmaria a hipótese de “gêiseres” alimentados por um oceano subterrâneo.
Discrepâncias: O professor Nicholas Schneider, do Laboratório para Física Atmosférica e Espacial da Universidade de Colorado, nos EUA, disse que a diferença nos resultados pode ser explicada pela existência de cavernas profundas nas quais a água evapora lentamente.
“Só se a evaporação fosse mais explosiva, ela conteria mais sais”, afirmou Schneider.
Se for correta a hipótese das cavernas, ele raciocinou, o vapor só seria expelido violentamente no vácuo do espaço ao vazar por rachaduras na superfície gelada de Enceladus conhecidas como “listras de tigres”.
“A idéia da evaporação de um oceano profundo e cavernoso não é tão dramática quanto a que imaginamos antes, mas é possível tendo em vista os resultados até o momento”, disse o pesquisador.
Mas ele advertiu que as evidências podem também significar eventos distintos. “Pode ser gelo aquecido virando vapor no espaço. Poderia até haver locais onde a crosta fricciona em si mesma e este atrito cria água líquida que então evapora no espaço”, prosseguiu.
“Estas são hipóteses que não podemos verificar com os resultados obtidos até agora.”

terça-feira, 23 de junho de 2009

La Môme amoureuse

Le long de l'herbe
L'eau coule et fait des ronds
Le ciel superbe
Éblouit les environs
Le grand soleil joue aux boules
Avec les pommiers fleuris
Le bal, devant l`eau qui coule
Rabâche des airs de Paris
Danse, danse au bal de la chance
Danse, danse ma rêverie
Les parasols sur la berge en gestes lents
Saluent d'une révérence
Les chalands
Tandis qu'une fille danse
Dans les bras d'un marinier
Le ciel fait des imprudences
Mais l'amour n'est pas le dernier
Danse, danse au bal de la chance
Danse, danse au ciel printanier
Le vent, tournant dans les feuilles des bosquets
Avec le chant des pinsons, fait des bouquets
Mais elle n'écoute guère
Que les mots de ce garçon
Des mots d'amour si vulgaires
Qu'ils font rire au ciel les pinsons
Danse, danse au bal de la chance
Danse, danse avec ma chanson
Je pense encore à ce jour de l`an dernier
Sur mon épaule, mon rêve est prisonnier
Celà n'a ni queue ni tête
Pourtant, j'ai le coeur bien gros
Pour les marins en goguette
L'amour, ça coule au fil de l'eau
Danse, danse au bal de la chance
Danse, danse mon coeur d'oiseau

Quanto vale uma carta de amor? Para quem a escreve e muito mais para quem a recebe, uma carta de verdadeiro amor não tem preço. É coisa para ser guardada por toda a vida, lida e relida para resgatar a magia e fortalecer o sentimento.
Penso nas cartas de amor exclusivas, escritas com a alma e, por isso, imutáveis. Tal qual o verdadeiro amor: Imutável, que se firma cada vez mais com o tempo e o aprendizado pleno do outro - o lado bom e o lado ruim - ambos amados com a mesma intensidade. Quantas cartas de amor você escreveu? Quantas recebeu? Se você escreveu cartas de amor para várias pessoas, talvez tenham sido apenas cartas. Cartas simpáticas e bonitinhas.

Por Sophie Hardach - junho de 2009 - PARIS (Reuters Life!) - Dezenas de cartas de amor da cantora Edith Piaf a um ciclista francês, nas quais ela descreve suas fantasias sexuais e jura parar de beber por ele, foram vendidas por 55 mil euros (77.400 dólares) num leilão em Paris nesta quinta-feira.
Quase tão famosa por seus muitos casos amorosos e vícios quanto por suas canções, Piaf escreveu as cartas, até agora desconhecidas, ao ciclista de campeonatos Louis Gerardin em 1951 e 1952, dedicando a ele sua canção "Plus bleu que tes yeux".
A coleção também inclui telegramas, um bilhetinho e até mesmo uma carta da esposa de Gerardin, Bichette, a seu marido, descrevendo Piaf como "monstrinho".
"Meu amor, quero lhe dizer que nenhum homem me seduziu tanto quanto você, e acredito verdadeiramente que estou fazendo amor pela primeira vez", escreveu em uma das cartas a cantora, que morreu de câncer em 1963, aos 47 anos.
Em outras cartas ela promete desistir de seu estilo de vida desregrado por Girardin, seu "Sr. Maravilha", e converter-se em uma mulher "dócil".
"Jurei na igreja que, se você vier, nunca mais na vida tocarei em um copo de álcool", ela escreveu na série de cartas, que terminou com o casamento dela com outro homem, o cantor Jacques Pills.
No início do ano, uma carta de amor igualmente ardente de Piaf a um ator grego, dizendo a ele "não deixe meu coração morrer", foi vendida por 1.500 euros num leilão na Grécia.
Nas cartas a Girardin, Piaf mistura amor apaixonado com desejo sexual, fazendo louvores às coxas e nádegas do ciclista. "Quero ver você nu na cama, quero me deitar entre suas lindas coxas... e ser envolvida pelos membros normalmente usados apenas para andar e se sentar", ela escreve em uma das cartas.
"Eu gostaria de ficar ali por muito tempo, sem me mexer, e deixar meus sonhos virarem realidade".
Os fãs da voz rouca de Piaf e de sucessos dela como "La vie en rose" e "Non, je ne regrette rien" lotaram a sala de leilões da Christie's no centro de Paris. A coleção de cartas foi arrematada por um comprador francês que fez seus lances pelo telefone.
O próprio Girardin teria dito a respeito de sua amante: "Quarenta e oito horas com Piaf são mais cansativas que uma volta na Tour de France".

ATENAS (Reuters) - janeiro de 2009 - Uma carta apaixonada escrita pela cantora francesa Edith Piaf a um ator grego mais de meio século atrás, em que dizia "não deixe meu coração morrer", foi leiloada na Grécia. Piaf escreveu a carta ao galã grego em início de carreira Dimitris Horn em 1946, o ano em que gravou "La Vie en Rose", dois dias depois de conhecê-lo numa apresentação em Atenas.
A cantora, que teve vários amantes e passou sua vida combatendo a dependência de drogas e álcool, escreveu a carta a Horn quando já vivia um relacionamento com o ator e cantor francês Yves Montand.
De acordo com um trecho impresso no catálogo do leilão, Piaf, que chama o ator por um apelido, escreveu: "Amo você como nunca antes amei. Taki, não deixe meu coração morrer!"
Em telegrama que enviou mais tarde, ela disse a Horn que nunca amara ninguém tanto quanto a ele. "Ela disse que lhe daria tudo, que precisava dele... A carta toda é paixão e desespero", comentou o leiloeiro e colecionador de arte grego Petros Vergos. "Nenhuma mulher jamais me disse coisas assim."
Segundo Vergos, o caso não foi adiante ou porque Horn, seis anos mais jovem que Piaf, não sentia a mesma paixão por ela, ou porque ambos já tinham outros companheiros.
A carta, o telegrama e um programa do show de Piaf em Atenas foram leiloados no hotel Plaza, na capital grega. Coincidentemente, o leilão aconteceu exatamente 16 anos após a morte de Horn, em 16 de janeiro de 1998.
O filme "Piaf - Um Hino ao Amor", que no ano passado valeu um Oscar à atriz francesa Marion Cotillard pelo papel de Piaf, reviveu o interesse por sua vida e música.

Imagem de Brassai

Lembranças de inverno

Outro dia encontrei esta imagem da piscina térmica de água mineral do Palace Hotel, na cidade mineira de Poços da Caldas, onde por dez anos passei minhas férias de inverno.
A varanda do quarto dos meus pais, nesse confortável e luxuoso hotel construído na década de trinta, se abria para o lindo parque com o relógio de flores perto do prédio imponente do antigo Palace Cassino. A varanda do meu quarto se abria para a praça com o coreto construído em 1921. Do lado direito ficam as Thermas Antônio Carlos, que, à época, proporcionavam diversão extra com seus aparelhos antigos e banhos termais. Eu era a adorável garotinha paparicada por todas as moças competentes e vestidas com roupa brancas, que atendiam às senhoras que lá faziam seus tratamentos de beleza.
Lembro como eu ficava encantada com o soprar daquela massa diferente e colorida, que se transformava nos mais variados objetos de cristal, nas fábricas antigas que visitávamos. Não houve vez que eu deixasse de ganhar dos “sopradores”, normalmente senhores italianos de certa idade, bichinhos coloridos de cristal que até hoje estão guardados na cristaleira de casa.
A cachoeira véu da noiva era linda, exuberante, barulhenta e tinha água em abundância. Ir de teleférico ao Cristo Redentor, na Serra de São Domingos, era passeio que eu fazia com meu pai e cada vez a emoção se renovava: A cabine do teleférico balançava ao encontrar o vento.
A sonora fonte luminosa do parque florido e a fonte dos amores, com a bela estátua de mármore e a placa de bronze com os seguintes dizeres:
Neste recanto o amar tudo convida
Que amor é vida,
Amai! Amai!
Mas, a quem pôs aqui tanta beleza
A alma na natureza
Uma oração mandai:
Orai! Orai!
Lembro que no jantar eu ficava um pouco triste, por que as crianças tinham seu próprio restaurante e não podiam frequentar o salão principal. Esse era o momento que eu queria que passasse rápido, para reencontrar meus pais e juntos fazermos a caminhada noturna pelo parque, que sempre acabava no salão de chá do hotel.
Essa piscina era a diversão matinal minha e de meu pai. Ele definia até que ponto eu poderia ir, nadava com seu estilo elegante e rápido voltava ao meu encontro. À tarde, eu brincava nessa mesma piscina com as outras crianças, enquanto meu pai, próximo à borda, com carinho observava sua garotinha. Atento ele pularia na piscina se necessário fosse. Essa sempre foi a certeza que meu pai me passou: Ele iria onde eu estivesse para me ajudar.
Não me esqueço do trenzinho elétrico que ficava na pracinha, das carrocinhas de madeira puxadas por carneiros, que eu adorava, e da única máquina de fliperama que existia, com um volante e a simulação de ruas e obstáculos, que deveriam ser evitados pela pequena motorista.
Nesse mesmo hotel voltei com meus pais - meu pai já meio doente - e meu filho com um ano e meio de idade. O trenzinho de ferro, a máquina de fliperama, as carrocinhas de madeira, os quartos e a bela vista eram os mesmos. Adultos e crianças faziam juntos as refeições no elegante salão principal.
A cidade havia crescido e as fábricas de cristal estavam mais modernas. Nessa piscina era eu quem entrava com o meu filho de manhã e à tarde, enquanto sentado à mesa próxima, meu pai observava as brincadeiras do neto tão amado.
Com meu pai fomos de teleférico ao Cristo Redentor e o nosso garotinho, seguro e alegre sentado ao lado do avô, não sentiu o vento forte que balançava a cabine.
Da última vez que para lá fomos éramos três e meu pai estava em nossa lembrança amorosa, assim como as carrocinhas de madeira, o trem elétrico e a exuberância da cachoeira. Por sorte a vida é generosa e nos oferece momentos nos quais a magia sempre é resgatada. Abençoados momentos.

domingo, 21 de junho de 2009

Smart people


Smart people (2008), directed by Noam Murro, with Dennis Quaid (although he is always so cute, he seems like daddy-bear: unkempt, slow, bearded, ill-humoured and reticent), Thomas Haden Church, Ellen Page (baby-bear), Sarah Jessica Parker and Ashton Holmes - because even smart people have something to learn, or, smart people always learn something.

Não mais dizer adeus

Meu reino é o do silêncio, mais
que o das palavras. Nele tudo pode ser dito
e desinventado: as entrelinhas
transbordam dos meus contornos.

Minha alma, guerreira ou mendiga,
inocente menina ou bruxa perversa,
faz dessa teia de caos e luz uma viagem
como sempre um novo ponto de partida.

E desenrola infinitamente o teu nome,
que é todos os nomes, e não é miragem:
Vidaminhavidaminhavidaminha...
(E nunca mais ter de dizer adeus.)


Inverno



Poema de Paulo Leminski

sábado, 20 de junho de 2009

Disputa

Imagine aqueles sapatos maravilhosos, saltos altíssimos a desafiar o equilíbrio, a saúde, os conselhos dos melhores ortopedistas, pernas mais longas, corpo mais magro, unhas recém pintadas com esmalte vermelho berrante, a correntinha envolta do tornozelo, sapatos fechados para melhor abrigar os dedos meio tortos dos pés, que carecem de beleza, o joanete proeminente, o calcanhar sofrido com aquele ossinho super desenvolvido a formar um ovinho estranho onde não deveria haver ovinho algum - não se engane, tudo resultado de anos seguidos, escolhidos e sofridos de saltos altos diários, horas a fio, para ficar alta, mais alta, muito mais alta. Mulheres altas também usam salto alto. Andam pelas calçadas irregulares e esburacadas e não perdem o rebolado, sobem escadas, descem ladeiras, saltitam ao atravessar a rua com o sinal aberto. Ficam horas em pé, mais horas sentadas e os saltos altos firmes a acompanhar a movimentação. As articulações agradecem, os tendões em júbilo se esticam, as cartilagens estremecem. A mulher que usa saltos altos se sente de fato enaltecida.
Imagine uma corrida de mulheres com saltos altos - mesmo as que não usam saltos se inscreverão para o fantástico desafio. Na véspera, passarão horas no salão para cortar as cutículas, pintar as unhas das mãos - se for o caso, mais vermelho berrante - fazer depilação, clarear o buço e os pelos dos braços, tirar a sobrancelha, hidratar os cabelos, pintá-los, alisá-los, puxá-los, puxá-los mais, escova e chapinha para conseguir as madeixas artificiais e lisas, que a natureza negou. Não importa se bico fino, quadrado ou redondo; camurça, couro e até plástico, as mulheres estão perfiladas, extasiadas, assanhadas e delirantes atrás da faixa de largada com seus melhores sapatos. Cotovelos sobram, é claro, comentários enciumados também, como podemos imaginar. As mulheres são muito mais cruéis do que os homens e conhecem com maestria a melhor forma de dissimular; sonsas, coitadas, no começo parecem perfeitas. Parecem. Decoraram a relação de cada passo, cada ação, cada palavra para encantar. O prêmio, o tão cobiçado prêmio dessa incrível disputa, ah, melhor não comentar...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ritual de dispersão

Como é horrível o vazio que fica quando o relacionamento acaba, quando o convívio se torna forçado, pesado e sem sentido. A agonia que se arrasta por comodismo, por insegurança. Pelo medo da solidão e do recomeço.
Como é horrível quando o aconchego se perde, quando o prazer fica vazio - mesmo se o prazer experimentado pelo casal era pouco e comum, esse quase nada deixa de existir.
Quanta diferença do tempo que se dedicava para agradar a pessoa amada: O perfume certo, a maciez da pele, o banho demorado para compartilhar todo o frescor. Tão distante do tempo que se dedica ao afastamento, para viver sem conviver, para ocupar espaço sem nada compartilhar.
Somos enganados, enganamos ao outro e a nós mesmos. Somos solitários, embora não vivamos sozinhos.
A vida não é assim. Os bons relacionamentos não são assim. Não são.
Leveza, alegria e suavidade nascem dentro de nós e se fortalecem ao serem compartilhados com o ser verdadeiramente amado.
O segredo para evitar a rotina, ser e fazer o outro de fato feliz é simples. Muito simples.
O que acontece? Quando ainda estão no carro, voltando de um jantar com amigos, já aparecem os comentários: "Bebi muito"; "Deu um sono"; "Amanhã tenho um dia tão difícil..." E nem deu meia-noite. É o código. Hoje não rola. Como ontem, como antes...
Cruzam a garagem rapidamente, atacados pela corrente de vento gelado. Nem encaram o porteiro. No elevador, cada um num canto. Ele quem aperta o botão do andar. Sempre é ele quem aperta, ela reparou. Ele que comanda. Gosta de. Ele quem dirige, atende ao interfone, pega o jornal às manhãs, decide as férias, se está frio, se devem trocar de carro, de aparelhos de tevê, DVD, MP3.
Não estão nada bêbados. Poucas taças. Entram em casa e se separam. Cada um tem o seu ritual de dispersão, encerrar o dia, organizar, recolocar. Ela checa os emails e a ração para os gatos. Ele lista os afazeres da empregada, fica pouco tempo no banheiro, se joga na cama e liga a tevê.Ela ainda toma um banho. Gasta alguns minutos se lambuzando com cremes. Checa cutículas indesejáveis, passeia os olhos pelo espelho de corpo inteiro: a frente e as costas, os cotovelos e as pernas. Seca o cabelo com um secador barulhento - o síndico irá reclamar um dia.
Entra no quarto. Ele dorme com o controle remoto na mão. Ela desliga apertando o botão da própria tevê, desliga o abajur, vai para o seu lado da cama e se deita no escuro. Coloca um travesseiro entre as pernas. Escuta um caminhão ao longe. Amanhã tem feira. A criança do vizinho chora, e um alarme dispara. Um está de costas para o outro. Dorme? Não, porque ele ainda diz: "Boa noite." Ela responde com um grunhido simpático, fica ainda um bom tempo de olhos abertos. E se pergunta: O que acontece?
Acontece que, estranhamente, ela precisa de colo. Que ela não sente mais aquele frisson quando cruza a garagem do prédio. Porque não o provoca mais no elevador, ignorando a câmera, desabotoando a camisa dele, esfregando o joelho nele, apalpando-o, assim que ele aperta o botão. Acontece que eles não se beijam mais quando entram em casa, não escutam uma música no escuro, que ela não senta no colo dele diante do computador, nem tomam banhos juntos. Acontece que ela não olha mais para o espelho para checar o que irá mostrar daqui a pouco, nem planeja como entrar no quarto, para se oferecer enrolada numa toalha, engatinhar pela cama, roçar o nariz na perna dele, lamber do umbigo até a boca, deitar sobre ele como um cobertor, morder o seu pescoço, sua nuca, seu ombro. Acontece que ela não apagaria aquela tevê, nem a luz, nem a noite. E ele nem diria boa noite, mas bem-vinda. E depois de tudo, sim, dormiriam pesadamente; nenhum alarme, criança ou caminhão seriam notados.
Acontece que ela acordaria, e ele estaria ainda na cama. Acontece que ele não comenta mais a cor da sua calcinha, do seu esmalte, dos seus olhos. Acontece que ele não a elogia mais, não surpreende, não desafia, nem provoca, não confunde as palavras, nem engasga quando ela aparece de toalha, não corre mais atrás dela, não a acorda em cima dela, como uma manta, não abraça como uma toalha, não abriga como água quente.
Acontece que ele já saiu, quando ela se levantou da cama de manhã. Nenhum post está fixado, com algum carinho escrito. Nem rascunho de bilhete existe. Ele não irá mandar um torpedo do trabalho, nem um email. Hoje em dia, quando viaja, não liga para dizer se houve turbulência, se o hotel é legal, se está nevando ou um sol de rachar.
Acontece que há tempos não repartem um cigarro, não se perdem por uma estrada de terra, não discutem se o que veem é um disco voador ou um satélite espião russo. Acontece que ele não a espia mais pelo buraco da fechadura, não tira fotos dela se enxugando no espelho, não dá sustos quando ela tem soluços, não beija os seus pés, não conta as suas pintinhas, não canta em voz alta pela casa, não a acorda lambendo a orelha dela.
Acontece que há muito não saem os dois sozinhos, e entram num filme sem saber o que a crítica achou. Sem lerem os créditos, sentados na última fileira, se tocando, se beijando. Acontece que eles não repartem mais a pipoca, o refrigerante zero, o drops. Acontece que o diferente virou eventual, a rotina, habitual. Que todo desconhecido já se revelou, que a surpresa é predita, que o consumado é fato, o previsível, farto, e o pressuposto, preposto.
O que acontece é que ela sente falta de ser notada e elogiada dentro de casa. De ter calafrios. De sentir a pele esquentar. Acontece que ultimamente ela se veste para ninguém. Que ela nem liga mais rádio do carro. Que não a comove o xaveco no elevador do escritório. Que só troca emails de trabalho. Que ela almoça massa, se entope de pão e ainda se delicia com sorvete com caldas. E agora costuma pedir chantilly no café.
O que acontece com ela, que nem tinge mais o cabelo, falta à natação, não corre com as amigas, não compra sapatos, não troca a lente dos óculos riscada, não recebe mensagens românticas pelo celular?
Acontece que o incêndio se acomodou. Ela não se pergunta se é assim que tem que ser. Acontece. É cíclico, ouviu dizer. Pode ser que melhore. Por que perder o fôlego toda vez que o encontra? Já passou. Viva outra fase. Afaste essa vaidade. Não seja carente. Encare os fatos. A vida é assim. É?

Marcelo Rubens Paiva

Bons frutos

Não, não, não. Não repita mais o cansativo e desgastado como pude me enganar tanto, porque de fato você não se enganou. Seu ouvir ficou seletivo, seu olhar limitado, sua mente foi deixada de lado e assim você quis.
Não se trata de engano, mas de escolha. Como você pode escolher tão errado em nada mais resulta, além de aprendizado. Talvez a culpa pela escolha errada, mas, nessa, você teve parceria. Sobrou indução, faltou dedução.
A crença e a boa vontande não regeneram nem alteram essências aproximadas, apenas demonstram a necessidade de seu próprio aprimoramento. Evitar até a intenção de potenciais parcerias prejudiciais. Igual a um belo jardim feito com boa terra, no qual crescem inúmeras flores, árvores, plantas, frutas, verduras, mas nenhuma praga, erva daninha ou qualquer outra coisa capaz de estragar um belo jardim. A boa terra não permite. Você começa a entender os sinais de pessoas especiais que não surgiram em sua vida à toa. Parece que nada é à toa. Fazem parte da cerca que todo bom jardim deve ter. Fecunda. A vida é dada para sermos fecundos até o fim. Somente bons frutos.

Abobrinhas geométricas

A propedêutica e a geometria:

A geometria surgiu da necessidade básica de estudar o espaço e as figuras que podem ocupá-lo. A análise propedêutica da geometria leva ao seguinte questionamento básico: Uma situação bem ruim, insuportável, pode transformar-se em outra muito pior e inimaginável? Segundo as teorias naturais da evolução das espécies, do aprimoramento da vida, da capacitação e do desenvolvimento da inteligência, do aprimoramento dos relacionamentos, da salubridade e da sustentabilidade, não. Em hipótese alguma.

As figuras geométricas rudimentares:

A reta, traço que segue a mesma direção, é e sempre será o menor e melhor caminho entre dois pontos. Para ir do primeiro X ao segundo, ou, do segundo X ao primeiro, você não se perderá no emaranhado de ruas, esquinas, sinais, carros, pessoas e prédios; não encontrará calçadas apinhadas de camelôs ou terá sua carteira furtada por algum trombadão; não sentirá qualquer estresse ou angustia por estar perdido; nem distraído pisará no coco do cachorro ou cairá no buraco do metrô. Você tampouco passeará no bosque a espera de algum lobo simpático e famélico, mais famélico do que simpático ou nada simpático. Para ir de um X ao outro siga a reta. É simples, claro e seguro. Sem complicação. De um ponto ao outro.


O triangulo é um polígono formado por três lados desiguais, que entre si formam ângulos agudos e totalmente obtusos. O triangulo pode ser constituído de forma tal, que seus lados representem a resistência e a reatância, enquanto sua hipotenusa representa a impedância, cuja relação é facilmente compreendida pelo teorema de Pitágoras. A reatância parte da impedância total de um circuito e não é devida à resistência pura, mas à capacitância e à indutância associadas ao circuito. A impedância provoca a inércia pela pouca elasticidade do meio transmissor e a capacitância gera a diferença de potencial, além de relacionar-se com a impedância que se comporta como um condensador de um único circuito. Em 1920, C.K.Ogen e I.A. Richards revolucionaram o conceito do triangulo ao apresentarem o modelo da relação triádica entre conceitos, símbolos e referências, na qual o primeiro tem uma relação direta com os dois últimos, os quais, por sua vez, só se relacionam entre si através do primeiro.

O quadrado é um polígono formado por quatro lados e ângulos desiguais entre si e na relação que mantém com o espaço exterior, cuja seção transversal quadrangular do sólido, seja ele prismático ou piramidal, cria áreas antagônicas. O quadrado endurece de tal forma a vida, que conceitualmente define a formação tática na qual os jogadores se movimentam sobre o adversário e sobre a área que pretendem conquistar. Como o espaço tipográfico tem largura maior que a do quadratim, cria variação entre dois e quatro cíceros e entre três quitérias e um cícero, para completar as linhas que se quebram e abrir algum clarão na composição. Baseadas nesses conceitos as derivações figuradas do quadrado significam: Pessoa com o corpo disforme, mal educada, rude e retrograda, cuja mentalidade é pouco evoluída, além do local de habitação dos escravos nas antigas fazendas.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Moça tecelã

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Abobrinhas reincidentes

Às vezes, o que interessa, o que verdadeiramente interessa, para que os mesmos erros não se repitam até o final dos tempos (parece que em matéria de erros não somos nada criativos) é a eficaz administração dos pés, das mãos e das jacas.












Imagens adaptada e original do dicionário ilustrado de expressões idiomáticas

terça-feira, 16 de junho de 2009

Aprender nomes e sintomas. Conhecer-se.

A batalha é dura, demanda gente valente, persistente, que encontra esperança em pequenas coisas, em sinais imperceptíveis, em gestos comedidos. O inimigo se apodera aos poucos da parte interna e se torna o outro dentro de alguém, a consumir a vontade, a capacidade, a própria vida.
Outro dia uma amiga comentou sobre os resultados perfeitos de todos os exames laboratoriais e perguntou: mas por que me sinto assim?
Hoje, é especialmente difícil encontrar um bom médico, que oferte seu tempo, conhecimento, vocação e dedicação para entender-nos por inteiro. Que saudade imensa do Dr. Edwin Castello!
Pouco sabemos sobre a tireóide, essa glândula com super poderes, capaz de transformar nossas vidas sem que percebamos. Responsável pelo metabolismo, a tireóide enferma apresenta uma série imensa de sintomas certos e incertos: Insônia ou sono excessivo; rapidamente engordamos ou emagrecemos; aumento da quantidade de nosso suor ou da nossa sensibilidade ao frio; altera nossa pele; enfraquece e quebra nossas unhas; é um dos motivos de mudança da estrutura e da queda dos cabelos; afeta nosso sistema nervoso; altera nossa imunidade; influencia nosso humor; nos faz sentir tontura; nos torna mais emotivos e sensíveis; afeta nossa pressão arterial; agrava a depressão... Assim, só podemos nos sentir inseguros.
Quando a nossa tireóide está lenta, o metabolismo é alterado, o colesterol aumenta e surge a esteatose (gordura no fígado). Então, o hepatologista se limitará a sua especialidade e dirá que é necessário emagrecer para curar a esteatose, apesar do emagrecimento não estar nos planos de sua tireóide descontrolada, que fará com que você engorde mais. O endocrinologista - desde que seja competente - conseguirá calibrar os hormônios sintéticos para equilibrar a bomba relógio em forma de glândula e verificará se você é diabético, ou, se você tem propensão para vir a ser, mas não dará muita atenção ao seu coração, nem a mancha atípica que cresce na sua pele, bem embaixo do seu nariz. Pedirá para que você faça exames laboratoriais e analisará a dosagem dos seus hormônios tireoidianos, apalpará sua garganta em busca de algum nódulo, verificará sua reação ao pedir que você fique em pé com seus olhos fechados, pedirá que você estique os braços e confirmará se seus pés e pernas estão inchados. O exame sanguíneo que indica a dosagem dos hormônios tireoideanos pode não ser suficiente, por isso, não deixe de lado o ultrassom e, se caso, pergunte sobre a real necessidade da punção, cuja eficácia é discutida.
A mamografia seria suficiente para deixar qualquer mulher tranquila? Parece que não. Além da mamografia, exame físico, laboratorial e mais ultrassom.
Volto à minha amiga, que teve a sorte de encontrar bons médicos e realizar os exames corretos, com resultados perfeitos. Mas por que ela se sente desse jeito? Sua memória falha, a mente fica confusa, o choro vem fácil. Tornou-se comum que ela sinta medo, incapacidade e insegurança. Qualquer pessoa ou ação, que lhe faça lembrar a parte desagradável do passado, desencadeia avalanche emocional que a deixa soterrada. Sente tristeza inexplicável e incontrolável, além de inquietação. Oscila entre a ansiedade e a prostração. Ela é capaz de ficar dias inteiros jogada na cama, sem tomar banho, nem cuidar da saúde, esquecida da vida. Às vezes, ela não consegue falar com ninguém e se afasta de todos, sem exceção. Até das pessoas que ela mais ama. Seus filhos, seu marido, suas amigas mais próximas não entendem e a criticam. Ela é incapaz de ler pela total falta de concentração e ora dorme profundamente, ora passa noites inteiras acordada. Come sem perceber o que come, nem o quanto come. Come sem vontade de comer. Seu rosto está marcado, sua pele perde o viço, seus olhos perdem o brilho. Seu cabelo enfraquecido fica mais fino e ela toda está mais fraca. Sua imunidade baixa abre a porta para as infecções de praxe. E o mal da minha amiga contamina os menos avisados. Ele sofre de depressão. Aprendeu sobre depressão desde garota, com a mãe depressiva - a tal da depressão realmente contamina. O cenário depressivo é ruim. Na depressão não há espaço para claridade, música, alegria, e cor. Para o depressivo o sol brilhante é um acinte. Minha amiga está amarga, triste, infeliz, ensimesmada e, às vezes, agressiva. Sente-se a vítima das vítimas. Minha amiga não tem frescura, nem está naqueles dias que, infelizmente, parecem tudo justificar. No fundo, o que ela quer mesmo é que a vida pare, que o mundo pare, para que ela fique um tempo, ao menos um tempo, longe de problemas e de determinadas situações. Minha amiga está doente e precisa de médico e remédio bem receitado. O pior, minha amiga se sente culpada por estar assim.
A exemplo da tireóide maltratada e incompreendida, que afeta a vida de inúmeros jovens, idosos, mulheres e homens, considerável quantidade de pessoas no mundo sofre de depressão. Estão doentes e não sabem. Não raro são alvos de pechas e cobranças injustas, além de, a cada dia, se superarem para conseguirem levar uma vida mais ou menos normal. Aprender mais sobre a doença é o primeiro passo. Reconhecer os sintomas o segundo. Procurar ajuda o terceiro. Evitar coisas e pessoas que a deixem deprimida é o quarto passo desse caminho.

Imagem de Otto Stupakoff

domingo, 14 de junho de 2009

Coerente harmonia

Há tantas diferenças entre a obviedade e a coerência. Outro dia ouvimos o seguinte conselho instantâneo, apregoado como verdade irrefutável: Fujam dos coerentes. E como quase todas as palavras destituídas de conteúdo e proferidas por ávido disputante de poder chinfrim - carente de qualquer carisma e pleno de más intenções - em meio a grupo heterogêneo e aparentemente subordinado, mas de fato beirando à hostilidade, fez-me pensar o contrário: prefiro evitar os óbvios.
O coerente longe de ser exato, uniforme, previsível, intrasigente, severo ou o principal representante da chatice, é aquele que busca o nexo, a harmonia, a ligação entre as suas ideias, suas ações, seus sentimentos e a vida.
O coerente prima pelas relações honestas, pertinentes, congruentes e age com especial ânimo e critério para evitar o indesejável para todos. Acima de tudo, o harmônico coerente envolve e desenvolve sua inteligência, afinal, a harmonia provém do aprendizado, da empatia e da compreensão de si, do outro e do ambiente.
Dificilmente o coerente age com incerteza, mas, se o faz, não gera consequências ruins, nem prejudiciais. A harmoniosa ação do coerente visa a paz, a concórdia e produz sensações agradáveis e prazerosas. O coerente é naturalmente acordante e equânime. Se pudéssemos escolher um sinônimo para a coerência, esse seria o equilíbrio.
O óbvio é trivial, fácil de ser percebido, identificado e entendido. A obviedade basea-se no costume adquirido, na atitude repetida, na ideia mantida e não desenvolvida, no banal. O óbvio por vezes é paradoxal, pois, pela própria natureza e abundância de vulgaridade, tornar-se confundível: Não é raro emprestarmos à obviedade significados mais elevados, valorosos e distantes de sua realidade, tal qual a projeção romântica que fazemos no outro, da nossa melhor parte.
O óbvio é o sapo nascido no pântano, papa-inseto, gosmento e babão, que coaxa como sapo, age como sapo, quer o que todo sapo quer, mas a romântica e carente credulidade feminina o eleva à categoria de príncipe encantado.
Imagem obra de Matisse

Viático

De noite, conhecem-se pela voz, pela
respiração, por um negro afeto de braços;
conhecem-se devagar, como se nunca se
tivessem encontrado, nem trocado as palavras
estranhas de uma despedida;
conhecem-se pelo desespero da ignorância, que
a uns e outros rouba o sentimento, deixando-os
entregues à secura de um reflexo.

Vinde: desse cais que o inverno devastou,
que os barcos não procuram, nem as aves, nem
a mais louca das antigas prostitutas; e
trazei convosco um refúgio de sombras nos
lábios, uma infecção de alma no cansaço
dos corpos, o fardo de um brilho na obscuridade
dos olhos.

Comungai comigo na desordem da vida,
na indecisão dos caminhos,
na feira de um silêncio por onde escorrem,
como as imagens de um sonho,
um riso amado, outrora, e
o teu rosto sem idade.

Poema de Nuno Judice. Imagem obra de Picasso